Narrativas que não se esgotam

22-05-2019
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Li por estes dias a entrevista do actual presidente da concelhia social-democrata, Alberto Fonseca (AF), ao Correio da Trofa. Como qualquer outra pessoa, concordei com algumas coisas, discordei de outras. Mas confesso que não estava à espera de, logo na primeira resposta, ser confrontado com uma daquelas boas velhas narrativas que não ouvia (lia) desde o tempo das autárquicas. Confrontado com a pergunta “Como vê a evolução do concelho nos últimos 15 anos?”, AF falou (e bem) da desilusão de não estarmos onde possivelmente nos imaginaríamos, falou em oportunidades perdidas, mas não hesitou no momento de apontar baterias ao anterior executivo, aparentemente responsável pelos 4 anos mais dramáticos de uma história de 15 anos de desastre orçamental. AF não ficou por aqui e afirmou mesmo que “Não se criou nada de novo e destruiu-se o que existia antes.”. Quando leio este tipo de declarações vindas de um social-democrata trofense, ainda para mais com responsabilidades políticas, que parece ignorar por completo a hecatombe financeira criada pelo seu próprio partido durante 8 anos à frente dos destinos do concelho, fico sempre surpreso. Só não fico chocado porque já estou habituado à narrativa em questão.

Mas se estou em total desacordo com o que citei em cima, não poderia estar em maior concordância com o líder concelhio do PSD quando este refere que vê “a situação actual do concelho com alguma frustração” ou que “Tínhamos condições e expectativas para estarmos muito melhor”. Bem verdade! Mas sinto-me forçado a repetir o que já disse em cima: as expectativas frustradas são fruto, antes de mais nada, de 8 anos de governação irresponsável, de uma dívida acumulada de dezenas de milhões de euros e de gastos excessivos nas diferentes rubricas autárquicas, muitas delas reduzidas drasticamente já no tempo da governação do PS. Como é possível ignorar a realidade que agora nos obriga a estar preso a medidas de austeridade tão pesadas como o facto de termos todos os impostos municipais no máximo por imposição legal?

Mais à frente, AF faz referência a dois problemas que impedem o progresso no concelho da Trofa: a variante e o metro. Ora se a variante ainda no outro dia era um projecto no topo da lista de prioridades do governo que por acaso até tem a mesma cor que o executivo trofense, projecto que acabou por cair uma vez mais, o metro chegou a ser uma realidade, digamos, virtual, para um PSD que, pouco antes das autárquicas de 2009, anunciava com um cartaz pomposo que esta era uma questão “resolvida”. Aqui o conceito de “resolvido” assumiu o mesmo nível fiabilidade que o conceito de “irrevogabilidade” da Paulo Portas. Mas, mesmo assim, AF volta a surpreender referindo que “há 4 anos o metro era uma certeza, hoje não. É verdadeiramente surpreendente a facilidade como que se profere uma inverdade destas. AF devia saber que, por esta altura, a esmagadora maioria dos trofenses sabe perfeitamente que o metro nunca foi realidade em lado algum que não fosse num papel, sem qualquer valor aparente. O mesmo se aplica a qualquer variante. Puras e simples manobras eleitorais. Se o PS é culpado por estas obras não serem uma realidade, o PSD não o é menos.

O ataque não ficou por aqui. AF afirma, mais à frente, que nada de bom foi herdado do anterior executivo. Não é que tenhamos herdado grande coisa em termos de “obra”, mas assim de repente estou a lembrar-me da já referida redução das despesas correntes da CMT, do OPJ, do arranque das obras do parque (ainda que em condições envoltas em neblina, de resto nada que não se passasse já antes do PS chegar ao poder) ou do Parque das Azenhas, obra importante que só pecou pelo “aceleramento” que sofreu com a entrada em cena das necessidades eleitoralistas do PS. Mas vamos lá ver: de 8 anos e mais de 50 milhões de dívidas, teremos herdado assim tanto do executivo anterior ao de Joana Lima? Quem olha para esta Trofa sabe bem que não.

O resto da entrevista não me diz respeito pois não milito no PSD. Noto sem surpresa a ambição do líder pretender reforçar a militância, em queda há alguns anos, fruto da desacreditação global dos partidos políticos, com destaque para aqueles que formam o bloco central. Parece-me uma visão positiva aquela que apresenta para a militância que pretende para o PSD ainda que não perceba o conceito num contexto em que a estrutura a que preside apoia abertamente o actual governo, marcado negativamente pelas constantes mentiras e contradições. Se Shakespeare estivesse vivo, poderia actualizar a frase substituindo a palavra “sorriso” por “mentira“. Tem sido bastante eficaz.

Existem narrativas que não se esgotam. Não é que eu não concorde com AF sobre temas como a ALET ou as irregularidades que marcam as obras da união dos parques ou do Parque das Azenhas. De igual forma tiro o meu chapéu ao vê-lo admitir que a renovação da imagem institucional do concelho é legado do executivo anterior (afinal sempre houve qualquer coisa…), ainda que muitos trofenses a associem ao actual. Mas “mundos e fundos” foram também prometidos por Bernardino Vasconcelos e o resultado é aquele que se vê. O PS também “apagou muitos fogos” e a história não pode ser ignorada por mero tacticismo político.

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Li por estes dias a entrevista do actual presidente da concelhia social-democrata, Alberto Fonseca (AF), ao Correio da Trofa. Como qualquer outra pessoa, concordei com algumas coisas, discordei de outras. Mas confesso que não estava à espera de, logo na primeira resposta, ser confrontado com uma daquelas boas velhas narrativas que não ouvia (lia) desde o tempo das autárquicas. Confrontado com a pergunta “Como vê a evolução do concelho nos últimos 15 anos?”, AF falou (e bem) da desilusão de não estarmos onde possivelmente nos imaginaríamos, falou em oportunidades perdidas, mas não hesitou no momento de apontar baterias ao anterior executivo, aparentemente responsável pelos 4 anos mais dramáticos de uma história de 15 anos de desastre orçamental. AF não ficou por aqui e afirmou mesmo que “Não se criou nada de novo e destruiu-se o que existia antes.”. Quando leio este tipo de declarações vindas de um social-democrata trofense, ainda para mais com responsabilidades políticas, que parece ignorar por completo a hecatombe financeira criada pelo seu próprio partido durante 8 anos à frente dos destinos do concelho, fico sempre surpreso. Só não fico chocado porque já estou habituado à narrativa em questão.

Mas se estou em total desacordo com o que citei em cima, não poderia estar em maior concordância com o líder concelhio do PSD quando este refere que vê “a situação actual do concelho com alguma frustração” ou que “Tínhamos condições e expectativas para estarmos muito melhor”. Bem verdade! Mas sinto-me forçado a repetir o que já disse em cima: as expectativas frustradas são fruto, antes de mais nada, de 8 anos de governação irresponsável, de uma dívida acumulada de dezenas de milhões de euros e de gastos excessivos nas diferentes rubricas autárquicas, muitas delas reduzidas drasticamente já no tempo da governação do PS. Como é possível ignorar a realidade que agora nos obriga a estar preso a medidas de austeridade tão pesadas como o facto de termos todos os impostos municipais no máximo por imposição legal?

Mais à frente, AF faz referência a dois problemas que impedem o progresso no concelho da Trofa: a variante e o metro. Ora se a variante ainda no outro dia era um projecto no topo da lista de prioridades do governo que por acaso até tem a mesma cor que o executivo trofense, projecto que acabou por cair uma vez mais, o metro chegou a ser uma realidade, digamos, virtual, para um PSD que, pouco antes das autárquicas de 2009, anunciava com um cartaz pomposo que esta era uma questão “resolvida”. Aqui o conceito de “resolvido” assumiu o mesmo nível fiabilidade que o conceito de “irrevogabilidade” da Paulo Portas. Mas, mesmo assim, AF volta a surpreender referindo que “há 4 anos o metro era uma certeza, hoje não. É verdadeiramente surpreendente a facilidade como que se profere uma inverdade destas. AF devia saber que, por esta altura, a esmagadora maioria dos trofenses sabe perfeitamente que o metro nunca foi realidade em lado algum que não fosse num papel, sem qualquer valor aparente. O mesmo se aplica a qualquer variante. Puras e simples manobras eleitorais. Se o PS é culpado por estas obras não serem uma realidade, o PSD não o é menos.

O ataque não ficou por aqui. AF afirma, mais à frente, que nada de bom foi herdado do anterior executivo. Não é que tenhamos herdado grande coisa em termos de “obra”, mas assim de repente estou a lembrar-me da já referida redução das despesas correntes da CMT, do OPJ, do arranque das obras do parque (ainda que em condições envoltas em neblina, de resto nada que não se passasse já antes do PS chegar ao poder) ou do Parque das Azenhas, obra importante que só pecou pelo “aceleramento” que sofreu com a entrada em cena das necessidades eleitoralistas do PS. Mas vamos lá ver: de 8 anos e mais de 50 milhões de dívidas, teremos herdado assim tanto do executivo anterior ao de Joana Lima? Quem olha para esta Trofa sabe bem que não.

O resto da entrevista não me diz respeito pois não milito no PSD. Noto sem surpresa a ambição do líder pretender reforçar a militância, em queda há alguns anos, fruto da desacreditação global dos partidos políticos, com destaque para aqueles que formam o bloco central. Parece-me uma visão positiva aquela que apresenta para a militância que pretende para o PSD ainda que não perceba o conceito num contexto em que a estrutura a que preside apoia abertamente o actual governo, marcado negativamente pelas constantes mentiras e contradições. Se Shakespeare estivesse vivo, poderia actualizar a frase substituindo a palavra “sorriso” por “mentira“. Tem sido bastante eficaz.

Existem narrativas que não se esgotam. Não é que eu não concorde com AF sobre temas como a ALET ou as irregularidades que marcam as obras da união dos parques ou do Parque das Azenhas. De igual forma tiro o meu chapéu ao vê-lo admitir que a renovação da imagem institucional do concelho é legado do executivo anterior (afinal sempre houve qualquer coisa…), ainda que muitos trofenses a associem ao actual. Mas “mundos e fundos” foram também prometidos por Bernardino Vasconcelos e o resultado é aquele que se vê. O PS também “apagou muitos fogos” e a história não pode ser ignorada por mero tacticismo político.

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