Garfadas on line: A Farinha Alimentícia Serpentina

20-07-2018
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Na procura de informação sobre os licores açorianos fui alertada por amigos[1] para a publicidade à «Farinha Serpentina».

Foi precisamente Ezequiel Moreira da Silva (1893-1974), um dos pioneiros na produção de licores de maracujá, quem iniciou também a produção deste tipo de farinha, nos Açores.

Ainda hoje as Papas de Serpentina, uma sobremesa preparada com farinha extraída de uma planta de nome Serpentina, são um dos doces típicos da freguesia de Ribeira Chã. Mas vejamos o que é a serpentina que eu desconhecia. O seu nome científico é Arum italicum Mill. subsp. neglectum e o nome vulgar: jarro, alho-dos-campos, arrebenta-boi, bigalhó, candeias, sapintina, serpentina e jarro-dos-campos. É sob este último nome que é mais conhecida no continente. 

Basilius Bessler, Hortus Eystettensis, 1640

O género Arum L. pertence à família botânica das Aráceas e é constituído por cerca de 26 espécies das quais duas crescem espontâneamente em Portugal. Embora seja mais conhecida como planta ornamental, este tipo de jarro tem sido usado na alimentação, mas apenas o rizoma (caule subterrâneo), porque as restantes partes da planta são tóxicas. Mesmo os rizomas, habitualmente transformados em farinha[2], que pode ser utilizada para fazer pão[3], devem apenas ser usados cozinhados.

A planta foi usada como produto medicinal para tratamento das perturbações gástricas. O facto de ser utilizada para os mesmos fins nos Açores, em Portugal continental e na América no Sul, segundo alguns investigadores, indica uma relação com povoamento das ilhas na época dos Descobrimentos.

Ezequiel Moreira ao centro, com alguns alunos do colégio que possuía, cerca de 1920.

Quando Ezequiel Moreira da Silva decidiu implementar a utilização desta farinha divulgou no arquipélago a cultura desta planta. Os agricultores cultivavam-na e vendiam os rizomas ao empresário que a transformava em farinha e a vendia em Lisboa nos Estabelecimentos Jerónimo Martins. Com o tempo, estes pensaram que podiam ganhar mais dinheiro moendo eles a serpentina. Mas a qualidade ressentiu-se e Ezequiel Moreira da Silva veio a Lisboa comunicar que suspendia a produção e acabou a produção de Serpentina.

Nas memórias de seu filho, com o mesmo nome, publicadas no jornal «Correio dos Açores» e acessíveis na internet, ficamos a saber que foi o próprio fundador quem escreveu as quadras «Cravos e Alcachofras», que compõem um folheto de oito páginas, que acompanhava a publicidade à Farinha Serpentina, ainda nos tempos áureos da sua produção.

[1]  Agradeço a informação ao Afonso Oliveira que nos Açores contactou o neto de Ezequiel Moreira, Rui Coutinho, que completou a informação sobre a antiga actividade e me facilitou a fotografia do avô.

[2] Os ingleses extraiem dos rizomas uma fécula que é conhecida como Sagu de Portland.

[3] Foi sobretudo usada em tempo de dificuldades. Em França, durante a revolução francesa, fazia-se com ela pão e uma espécie de bolos.

Na procura de informação sobre os licores açorianos fui alertada por amigos[1] para a publicidade à «Farinha Serpentina».

Foi precisamente Ezequiel Moreira da Silva (1893-1974), um dos pioneiros na produção de licores de maracujá, quem iniciou também a produção deste tipo de farinha, nos Açores.

Ainda hoje as Papas de Serpentina, uma sobremesa preparada com farinha extraída de uma planta de nome Serpentina, são um dos doces típicos da freguesia de Ribeira Chã. Mas vejamos o que é a serpentina que eu desconhecia. O seu nome científico é Arum italicum Mill. subsp. neglectum e o nome vulgar: jarro, alho-dos-campos, arrebenta-boi, bigalhó, candeias, sapintina, serpentina e jarro-dos-campos. É sob este último nome que é mais conhecida no continente. 

Basilius Bessler, Hortus Eystettensis, 1640

O género Arum L. pertence à família botânica das Aráceas e é constituído por cerca de 26 espécies das quais duas crescem espontâneamente em Portugal. Embora seja mais conhecida como planta ornamental, este tipo de jarro tem sido usado na alimentação, mas apenas o rizoma (caule subterrâneo), porque as restantes partes da planta são tóxicas. Mesmo os rizomas, habitualmente transformados em farinha[2], que pode ser utilizada para fazer pão[3], devem apenas ser usados cozinhados.

A planta foi usada como produto medicinal para tratamento das perturbações gástricas. O facto de ser utilizada para os mesmos fins nos Açores, em Portugal continental e na América no Sul, segundo alguns investigadores, indica uma relação com povoamento das ilhas na época dos Descobrimentos.

Ezequiel Moreira ao centro, com alguns alunos do colégio que possuía, cerca de 1920.

Quando Ezequiel Moreira da Silva decidiu implementar a utilização desta farinha divulgou no arquipélago a cultura desta planta. Os agricultores cultivavam-na e vendiam os rizomas ao empresário que a transformava em farinha e a vendia em Lisboa nos Estabelecimentos Jerónimo Martins. Com o tempo, estes pensaram que podiam ganhar mais dinheiro moendo eles a serpentina. Mas a qualidade ressentiu-se e Ezequiel Moreira da Silva veio a Lisboa comunicar que suspendia a produção e acabou a produção de Serpentina.

Nas memórias de seu filho, com o mesmo nome, publicadas no jornal «Correio dos Açores» e acessíveis na internet, ficamos a saber que foi o próprio fundador quem escreveu as quadras «Cravos e Alcachofras», que compõem um folheto de oito páginas, que acompanhava a publicidade à Farinha Serpentina, ainda nos tempos áureos da sua produção.

[1]  Agradeço a informação ao Afonso Oliveira que nos Açores contactou o neto de Ezequiel Moreira, Rui Coutinho, que completou a informação sobre a antiga actividade e me facilitou a fotografia do avô.

[2] Os ingleses extraiem dos rizomas uma fécula que é conhecida como Sagu de Portland.

[3] Foi sobretudo usada em tempo de dificuldades. Em França, durante a revolução francesa, fazia-se com ela pão e uma espécie de bolos.

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