o problema é o césar, não tanto a sua mulher

26-08-2018
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o problema é o césar, não tanto a sua mulher

Ao invés do que aqui escreve o Carlos Guimarães Pinto, com quem estou quase sempre de acordo, não me parece que o problema maior da Iniciativa Liberal seja o de um dos seus fundadores, e actual vice-presidente, ter sido apoiante e colaborador de José Sócrates e de António Costa. É que liberalismos há vários, e, inclusivamente, existe uma tradição histórica liberal portuguesa que foi muito mais próxima do socialismo fabiano do que do liberalismo clássico de livre-mercado, pelo que nada haveria a dizer sobre a evolução do seu vice-presidente, se fosse por aí que a IL se posicionasse. O problema, para mim, é que tudo, ou quase tudo, na Iniciativa Liberal cheira a fake, isto é, a um produto de mero oportunismo político, que tem vindo a evoluir ao sabor das críticas que lhe são feitas, de modo a tentar reparar as asneiras e imprudências anteriores. Veja-se, a título de exemplos meramente figurativos, a evolução da Declaração de Princípios para o Programa, ou a introdução de temas sobre a redução do estado no discurso dos seus dirigentes, que anteriormente nem afloravam o assunto.

Mas também é verdade que, quando se funda um partido para ir a votos, esses votos pedidos servirão para que algumas pessoas recebam e exerçam poder em nosso nome. Donde, obviamente, mais importante do que votar em «ideias» é conhecer as pessoas a quem vamos dar esse poder. Nesse pressuposto, mais do que saber donde veio e por onde andou o vice-presidente actual da IL, parece-me muito mais importante saber donde vieram todos os seus fundadores e dirigentes, que não me lembro de nenhum que, nos últimos vinte anos, tenha escrito um artigo ou um livro, mantido ou participado num blog ou numa revista, dado uma conferência ou uma entrevista em defesa do tal «liberalismo» que agora perseguem. Donde vieram estas pessoas que, de repente, começaram a aparecer nos meios de comunicação social, reuniram 7.500 assinaturas e fundaram um partido para «tornar o estado mais pequeno»? Como se lhes revelou, tão subitamente, um credo liberal que nunca antes lhes ouvimos pregar? Não sei, mas gostaria de saber.

Posto isto, um esclarecimento fundamental: eu não faço críticas à IL; faço perguntas e espero respostas. A democracia, felizmente, permite-nos e obriga-nos a isso. Mas até neste aspecto a IL não esteve bem, visto que se empertigou furiosamente contra quem, num exercício democrático e obrigatório para qualquer espírito liberal, procurou escrutinar as suas origens e intenções. E acusou quem inquiria de se tratarem de «teóricos de sofá», de «velhos do Restelo», quando eles – coitados! – andavam com a cruz do liberalismo às costas, para nos conseguirem o tal «estado menor» que tanto os molesta.

Falta de autenticidade, liberais e liberalismo de geração espontânea e pouco espírito democrático e crítico são os problemas que a Iniciativa Liberal transporta consigo. O Alexandre Krauss e a evolução da sua página no Facebook – do socialismo de Costa a um novo partido liberal – são apenas sintomas mais visíveis desses outros problemas. Que não se ficam pela mulher de César, mas pelo César em si mesmo.

o problema é o césar, não tanto a sua mulher

Ao invés do que aqui escreve o Carlos Guimarães Pinto, com quem estou quase sempre de acordo, não me parece que o problema maior da Iniciativa Liberal seja o de um dos seus fundadores, e actual vice-presidente, ter sido apoiante e colaborador de José Sócrates e de António Costa. É que liberalismos há vários, e, inclusivamente, existe uma tradição histórica liberal portuguesa que foi muito mais próxima do socialismo fabiano do que do liberalismo clássico de livre-mercado, pelo que nada haveria a dizer sobre a evolução do seu vice-presidente, se fosse por aí que a IL se posicionasse. O problema, para mim, é que tudo, ou quase tudo, na Iniciativa Liberal cheira a fake, isto é, a um produto de mero oportunismo político, que tem vindo a evoluir ao sabor das críticas que lhe são feitas, de modo a tentar reparar as asneiras e imprudências anteriores. Veja-se, a título de exemplos meramente figurativos, a evolução da Declaração de Princípios para o Programa, ou a introdução de temas sobre a redução do estado no discurso dos seus dirigentes, que anteriormente nem afloravam o assunto.

Mas também é verdade que, quando se funda um partido para ir a votos, esses votos pedidos servirão para que algumas pessoas recebam e exerçam poder em nosso nome. Donde, obviamente, mais importante do que votar em «ideias» é conhecer as pessoas a quem vamos dar esse poder. Nesse pressuposto, mais do que saber donde veio e por onde andou o vice-presidente actual da IL, parece-me muito mais importante saber donde vieram todos os seus fundadores e dirigentes, que não me lembro de nenhum que, nos últimos vinte anos, tenha escrito um artigo ou um livro, mantido ou participado num blog ou numa revista, dado uma conferência ou uma entrevista em defesa do tal «liberalismo» que agora perseguem. Donde vieram estas pessoas que, de repente, começaram a aparecer nos meios de comunicação social, reuniram 7.500 assinaturas e fundaram um partido para «tornar o estado mais pequeno»? Como se lhes revelou, tão subitamente, um credo liberal que nunca antes lhes ouvimos pregar? Não sei, mas gostaria de saber.

Posto isto, um esclarecimento fundamental: eu não faço críticas à IL; faço perguntas e espero respostas. A democracia, felizmente, permite-nos e obriga-nos a isso. Mas até neste aspecto a IL não esteve bem, visto que se empertigou furiosamente contra quem, num exercício democrático e obrigatório para qualquer espírito liberal, procurou escrutinar as suas origens e intenções. E acusou quem inquiria de se tratarem de «teóricos de sofá», de «velhos do Restelo», quando eles – coitados! – andavam com a cruz do liberalismo às costas, para nos conseguirem o tal «estado menor» que tanto os molesta.

Falta de autenticidade, liberais e liberalismo de geração espontânea e pouco espírito democrático e crítico são os problemas que a Iniciativa Liberal transporta consigo. O Alexandre Krauss e a evolução da sua página no Facebook – do socialismo de Costa a um novo partido liberal – são apenas sintomas mais visíveis desses outros problemas. Que não se ficam pela mulher de César, mas pelo César em si mesmo.

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