As nove 'geringonças' possíveis para Costa ter maiorias

14-10-2019
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António Costa faz esta quarta-feira uma ronda pelos cinco partidos que no domingo desafiou para uma nova 'geringonça'. A repetição do acordo de 2015 é improvável nos mesmos termos, e uma geringonça alargada ao PAN e ao Livre é ainda mais. Seria um conforto, mas não deverá acontecer. Embora com menos margem de manobra, há outras combinações que podem garantir maioria ao PS no Parlamento. Algumas são mesmo por uma unha negra, e ainda dependem de quanto deputados o PS consiga eleger nos círculos da emigração, cujas contas só serão conhecidas no dia 16.

Nota: entre parentesis aparecem as contas caso o resultado dos dois círculos da emigração seja de 2+2 deputados para PS e PSD. Exceção feita para o Cenário 6, em que são considerados vários cenários para os resultados da emigração.

Cenário 1: a velha geringonça reeditada

PS+BE+PCP+PEV = 137 (podem ser 139)

A repetição da geringonça daria, desta vez, uma margem ultra-confortável a António Costa: no total, foram 122 deputados nos últimos quatro anos, e agora seriam 137, e quando forem contados os votos da emigração podem ser 139 - caso o PS consiga eleger um deputado pelo círculo da Europa e outro por Fora da Europa (este é o cenário mais expectável, tendo em conta que há quatro anos o PS só conseguiu um deputado pela emigração, no círculo da Europa; este ano, a presença do ministro Augusto Santos Silva como candidato pelo resto do mundo dá boas perspetivas de que os socialistas consigam um lugar por essa circunscrição). Pequeno problema: um acordo como o de 2015 não é provável, nem que seja porque o PCP já declarou que não quer repetir o acordo escrito a que só acedeu há quatro anos por pressão de Cavaco Silva.

Cenário 2: a geringonça.2019

PS+BE+PCP+PEV+PAN+Livre = 142 (144)

A proposta feita por António Costa no domingo à noite foi até mais ambiciosa do que uma mera reedição do acordo de 2015: aos três parceiros de há quatro anos, Costa quer agora acrescentar mais dois, o PAN e o Livre. Em 230 lugares do hemiciclo, daria 142 (ou 144, com a emigração) do lado do Governo. Problema: se com três já é quase impossível, com cinco, por maioria de razão, é ainda mais.

Cenário 3: meia geringonça

PS+BE = 125 (127)

O BE foi, até agora, o único partido a mostrar disponibilidade para um entendimento escrito com o PS, para durar toda a legislatura. Basta isso para uma maioria confortável de 125 lugares, mesmo sem os deputados da emigração.

Cenário 4: a outra meia geringonça

PS+CDU = 118 (120)

O mesmo exercício do cenário anterior, mas desta vez feito com os votos favoráveis a CDU, dá igualmente a António Costa uma maioria tranquila. E é irrelevante, para o caso, se o PEV vota alinhado com o PCP (como costuma acontecer) ou se têm sentidos de voto distintos.

Cenário 5: geringonça abstencionista

PS = 106 (108); direita toda = 84 (87)

O PS já tem 106 deputados, e conta chegar aos 108 graças aos votos da emigração (até pode chegar aos 109, se conseguir garantir os dois lugares pelo círculo da Europa, embora isso não seja fácil). Ou seja, sozinho já vale mais do que a direita toda junta (PSD+CDS+IL+Chega somam 84 cadeiras, e no máximo podem chegar às 87 se o PSD mantiver os três lugares da emigração). Ou seja, os socialistas nem precisam do apoio explícito dos parceiros desta legislatura; basta que BE e CDU se abstenham e qualquer iniciativa do PS ou do Governo tem aprovação garantida, e com folga. E nestas contas nem é preciso incluir o Livre ou o PAN.

Cenário 6: BE abstencionista

PS = 106 (108); BE = 19; restantes partidos = 101 (104)

O cenário exposto acima mantém-se válido se o PS contar com a abstenção apenas do BE. Imagine-se uma coligação negativa que, por absurdo, juntasse CDU, PSD, CDS, IL, Livre e Chega: se o BE não entrasse nessa coligação negativa, abstendo-se, o PS venceria sempre essa votação. Ainda que o PSD recolha mais três deputados da emigração, essas forças todas somadas ficariam pelo 104 deputados.

Cenário 7: CDU abstencionista

PS = 106 (107/109); CDU: 12; restantes partidos = 108 (109/111)

As contas ficam mais complicadas se, em vez do BE, for a CDU o parceiro do PS pela abstenção. Aí, tudo depende mesmo da distribuição dos deputados da emigração. No pior cenário para o PS (manter a situação de 2015, elegendo só um lugar pela emigração), de nada serve a CDU abster-se; se toda a restante oposição alinhar numa coligação negativa, são 111 deputados das oposições contra 107 do PS. No cenário intermédio (PS elege dois pela emigração, que provável), os socialistas continuam a perder (108/110). Só se os socialistas conseguirem inverter os resultados da emigração, elegendo três deputados, e o PSD apenas um, é que a abstenção da CDU terá algum efeito - mas não faz maioria. Nesse caso, o PS teria 109 votos, e as oposições unidas (menos a CDU) os mesmos 109. O que acontece quando há empate nas votações? A votação é repetida e, se se mantiver o empate, o texto em causa é rejeitado. Ou seja, se uma coligação negativa propuser alguma lei em que a CDU se abstenha, essa proposta é chumbada e o Governo consegue uma vitória; mas se a iniciativa em causa for do Governo, os socialistas têm uma derrota.

Cenário 8: geringonça verde/rubra abstencionista

PS = 106 (107/109); CDU+PAN = 16; restantes partidos = 103

A abstenção de PCP e PEV (ou seja, da CDU) só dá garantias se o PS conseguir também a abstenção do PAN. Nesse caso, com o PS de um lado, e a abstenção da CDU e do PAN, a restante oposição nunca consegue vencer qualquer votação, independentemente de quantos lugares os socialistas ainda consigam na emigração.

Cenário 9: PAN e poncha

PS+PAN+PSD-Madeira = 113 (no limite, 116)

É o cenário mais estrambólico de todos, bastante inesperado, altamente volátil, longe de ser o ideal do ponto de vista do PS, e sem maioria absoluta garantida. Enfim, quase só tem contras. Mas nunca se sabe, e quem já viu um Orçamento limiano, está preparado para tudo. O vice-presidente do Governo Regional da Madeira, Pedro Calado, admitiu ontem ao Expresso que os três deputados do PSD regional podem votar ao lado do Governo, caso a Madeira retire vantagens daí. Seriam sempre acordos pontuais, nomeadamente para o Orçamento do Estado, e com um grande senão - ao contrário do que aconteceu no passado, com outros governos de maioria relativa do PS, desta vez os deputados do PSD-Madeira não chegam para garantir a maioria absoluta. Para isso, seria preciso juntar a esse arranjo os quatro deputados do PAN. Tudo somado, e admitindo que o PS consiga dois deputados pela emigração, dá 115 deputados; falta um para a maioria absoluta - a soma PSD+PAN+PSD-Madeira só será interessante se o PS conseguir eleger 3 deputados pela emigração, o que não é impossível, mas é improvável. Caso contrário, mesmo essa estranha coligação precisaria sempre pelo menos de mais uma abstenção para garantir maioria (podia ser o Livre… mas talvez essa mixórdia se torne indigesta).

(Artigo atualizado às 17h14, acrescentando o Cenário 4 que, por lapso, não foi incluído no texto original)

António Costa faz esta quarta-feira uma ronda pelos cinco partidos que no domingo desafiou para uma nova 'geringonça'. A repetição do acordo de 2015 é improvável nos mesmos termos, e uma geringonça alargada ao PAN e ao Livre é ainda mais. Seria um conforto, mas não deverá acontecer. Embora com menos margem de manobra, há outras combinações que podem garantir maioria ao PS no Parlamento. Algumas são mesmo por uma unha negra, e ainda dependem de quanto deputados o PS consiga eleger nos círculos da emigração, cujas contas só serão conhecidas no dia 16.

Nota: entre parentesis aparecem as contas caso o resultado dos dois círculos da emigração seja de 2+2 deputados para PS e PSD. Exceção feita para o Cenário 6, em que são considerados vários cenários para os resultados da emigração.

Cenário 1: a velha geringonça reeditada

PS+BE+PCP+PEV = 137 (podem ser 139)

A repetição da geringonça daria, desta vez, uma margem ultra-confortável a António Costa: no total, foram 122 deputados nos últimos quatro anos, e agora seriam 137, e quando forem contados os votos da emigração podem ser 139 - caso o PS consiga eleger um deputado pelo círculo da Europa e outro por Fora da Europa (este é o cenário mais expectável, tendo em conta que há quatro anos o PS só conseguiu um deputado pela emigração, no círculo da Europa; este ano, a presença do ministro Augusto Santos Silva como candidato pelo resto do mundo dá boas perspetivas de que os socialistas consigam um lugar por essa circunscrição). Pequeno problema: um acordo como o de 2015 não é provável, nem que seja porque o PCP já declarou que não quer repetir o acordo escrito a que só acedeu há quatro anos por pressão de Cavaco Silva.

Cenário 2: a geringonça.2019

PS+BE+PCP+PEV+PAN+Livre = 142 (144)

A proposta feita por António Costa no domingo à noite foi até mais ambiciosa do que uma mera reedição do acordo de 2015: aos três parceiros de há quatro anos, Costa quer agora acrescentar mais dois, o PAN e o Livre. Em 230 lugares do hemiciclo, daria 142 (ou 144, com a emigração) do lado do Governo. Problema: se com três já é quase impossível, com cinco, por maioria de razão, é ainda mais.

Cenário 3: meia geringonça

PS+BE = 125 (127)

O BE foi, até agora, o único partido a mostrar disponibilidade para um entendimento escrito com o PS, para durar toda a legislatura. Basta isso para uma maioria confortável de 125 lugares, mesmo sem os deputados da emigração.

Cenário 4: a outra meia geringonça

PS+CDU = 118 (120)

O mesmo exercício do cenário anterior, mas desta vez feito com os votos favoráveis a CDU, dá igualmente a António Costa uma maioria tranquila. E é irrelevante, para o caso, se o PEV vota alinhado com o PCP (como costuma acontecer) ou se têm sentidos de voto distintos.

Cenário 5: geringonça abstencionista

PS = 106 (108); direita toda = 84 (87)

O PS já tem 106 deputados, e conta chegar aos 108 graças aos votos da emigração (até pode chegar aos 109, se conseguir garantir os dois lugares pelo círculo da Europa, embora isso não seja fácil). Ou seja, sozinho já vale mais do que a direita toda junta (PSD+CDS+IL+Chega somam 84 cadeiras, e no máximo podem chegar às 87 se o PSD mantiver os três lugares da emigração). Ou seja, os socialistas nem precisam do apoio explícito dos parceiros desta legislatura; basta que BE e CDU se abstenham e qualquer iniciativa do PS ou do Governo tem aprovação garantida, e com folga. E nestas contas nem é preciso incluir o Livre ou o PAN.

Cenário 6: BE abstencionista

PS = 106 (108); BE = 19; restantes partidos = 101 (104)

O cenário exposto acima mantém-se válido se o PS contar com a abstenção apenas do BE. Imagine-se uma coligação negativa que, por absurdo, juntasse CDU, PSD, CDS, IL, Livre e Chega: se o BE não entrasse nessa coligação negativa, abstendo-se, o PS venceria sempre essa votação. Ainda que o PSD recolha mais três deputados da emigração, essas forças todas somadas ficariam pelo 104 deputados.

Cenário 7: CDU abstencionista

PS = 106 (107/109); CDU: 12; restantes partidos = 108 (109/111)

As contas ficam mais complicadas se, em vez do BE, for a CDU o parceiro do PS pela abstenção. Aí, tudo depende mesmo da distribuição dos deputados da emigração. No pior cenário para o PS (manter a situação de 2015, elegendo só um lugar pela emigração), de nada serve a CDU abster-se; se toda a restante oposição alinhar numa coligação negativa, são 111 deputados das oposições contra 107 do PS. No cenário intermédio (PS elege dois pela emigração, que provável), os socialistas continuam a perder (108/110). Só se os socialistas conseguirem inverter os resultados da emigração, elegendo três deputados, e o PSD apenas um, é que a abstenção da CDU terá algum efeito - mas não faz maioria. Nesse caso, o PS teria 109 votos, e as oposições unidas (menos a CDU) os mesmos 109. O que acontece quando há empate nas votações? A votação é repetida e, se se mantiver o empate, o texto em causa é rejeitado. Ou seja, se uma coligação negativa propuser alguma lei em que a CDU se abstenha, essa proposta é chumbada e o Governo consegue uma vitória; mas se a iniciativa em causa for do Governo, os socialistas têm uma derrota.

Cenário 8: geringonça verde/rubra abstencionista

PS = 106 (107/109); CDU+PAN = 16; restantes partidos = 103

A abstenção de PCP e PEV (ou seja, da CDU) só dá garantias se o PS conseguir também a abstenção do PAN. Nesse caso, com o PS de um lado, e a abstenção da CDU e do PAN, a restante oposição nunca consegue vencer qualquer votação, independentemente de quantos lugares os socialistas ainda consigam na emigração.

Cenário 9: PAN e poncha

PS+PAN+PSD-Madeira = 113 (no limite, 116)

É o cenário mais estrambólico de todos, bastante inesperado, altamente volátil, longe de ser o ideal do ponto de vista do PS, e sem maioria absoluta garantida. Enfim, quase só tem contras. Mas nunca se sabe, e quem já viu um Orçamento limiano, está preparado para tudo. O vice-presidente do Governo Regional da Madeira, Pedro Calado, admitiu ontem ao Expresso que os três deputados do PSD regional podem votar ao lado do Governo, caso a Madeira retire vantagens daí. Seriam sempre acordos pontuais, nomeadamente para o Orçamento do Estado, e com um grande senão - ao contrário do que aconteceu no passado, com outros governos de maioria relativa do PS, desta vez os deputados do PSD-Madeira não chegam para garantir a maioria absoluta. Para isso, seria preciso juntar a esse arranjo os quatro deputados do PAN. Tudo somado, e admitindo que o PS consiga dois deputados pela emigração, dá 115 deputados; falta um para a maioria absoluta - a soma PSD+PAN+PSD-Madeira só será interessante se o PS conseguir eleger 3 deputados pela emigração, o que não é impossível, mas é improvável. Caso contrário, mesmo essa estranha coligação precisaria sempre pelo menos de mais uma abstenção para garantir maioria (podia ser o Livre… mas talvez essa mixórdia se torne indigesta).

(Artigo atualizado às 17h14, acrescentando o Cenário 4 que, por lapso, não foi incluído no texto original)

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