Coligação negativa vs. Governo negativo

03-12-2018
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Coligação negativa vs. Governo negativo

Um dos mais extraordinários fenómenos presentes é o mimetismo da linguagem da Comunicação Social em relação à de forças políticas e institucionais. Foi assim que uma votação coincidente de CDS, PSD, PCP e Bloco a favor do diálogo com os professores foi anunciada como coligação negativa. Curiosamente, um Governo do PS, apoiado pelo PCP e BE contra os vencedores das últimas eleições, não se considera uma aliança negativa. A conclusão, subliminar, é que o positivo apenas existe quando o PS participa.

A aliança a favor dos professores, tão espúria como qualquer outra no Parlamento, pode parecer estranha. Mas não seguramente mais estranha do que entre o Bloco e o PCP ou o PCP e o PS ou o PS e o Bloco ou entre os três que diziam uns dos outros o que Maomé não disse do toucinho. Na verdade, o mal não está em partidos se unirem em defesa de ideias; está sobretudo nos insultos em que são pródigos.

Voltando ao caso dos professores, e deixando de lado a ideia de que a iniciativa se trata de uma aliança negativa, o que se pretende? Que os professores possam contar com todos os anos perdidos, desde o Governo de Sócrates até muito recentemente, para as suas carreiras e respetivas progressões. A reivindicação é injusta em si? Não se pode dizer que seja. É impraticável? Talvez, mas essa é uma questão de prioridades políticas.

Costa adorava ser derrubado pela ‘coligação negativa’, mas sabe que isso nunca acontecerá. Pode bater o pé à vontade. Não há dinheiro

O Governo da ‘geringonça’ que António Costa diz ser uma coisa séria e não uma brincadeira (e está carregado de razão) formou-se em nome de repor todas as ‘maldades’ (chamemos-lhe assim por facilidade) provocadas pela troika, por Passos, e pelas forças do mal, em geral. Em Orçamentos anteriores propunha-se tratar de devolver o que ainda não estava devolvido e isso incluiria os professores. Porém, quando estes pensam poder ter o assunto arrumado, com os nove anos e tal de reposição, eis que o Ministério e o Governo não acolhem a ideia. O PCP e o Bloco não concordam; o PSD e o CDS, como politicamente é costume, dizem que o Governo prometeu, portanto tem de cumprir (seria bom se fosse essa a prática). Ora esta coligação não é negativa, pelo menos para os professores. Ou, se o é, não o é mais do que o próprio Governo foi, na altura em que se formou.

A questão está em saber se há dinheiro. Ora aqui está uma coisa em que o PSD se especializou quando teve de passar os anos da troika: dizer que não há dinheiro. E o PS confirma que não há. E Costa diz que não há nada mais a negociar com os professores, mesmo depois de o Parlamento o decidir. Costa adorava ser derrubado pela ‘coligação negativa’, mas sabe que isso nunca acontecerá. Pode bater o pé à vontade. Não há dinheiro. E vai ganhando razão à medida que vemos que militares, polícias, juízes e diversas outras profissões querem tratamento igual ao dos professores. E à medida que nos lembramos que os indigentes trabalhadores do sector privado, martirizados com desempregos, impostos e o que mais for não tiveram direito a ressarcimento nenhum.

E assim se entende que o PS entenda (com a colaboração de boa parte dos media) que a coligação foi negativa. Não porque todos, menos o PS, se puseram de acordo. Mas porque todos, menos o PS, acabam prejudicados. Se é certo que os professores são uma classe aguerrida e lutadora, não é menos verdade que o eleitorado de que fazem parte acaba por compreender a ideia da falta de dinheiro e da relativa injustiça (ou do precedente) que se abriria, acaso se devolvesse aos professores o que não pode nem vai devolver-se a todos. Enfim, como alertam as Finanças há coisas que podem deitar abaixo o esforço (baseado em impostos e cativações) de quatro anos.

E no fim – para usar uma expressão popular, com a subtileza que a ministra da Cultura (e da comunicação social) tem mostrado –, talvez o eleitorado, incluindo muitos professores, olhando para Costa e para os outros prefira, como Gil Vicente, “burro que o leve a cavalo que o derrube”.

Coligação negativa vs. Governo negativo

Um dos mais extraordinários fenómenos presentes é o mimetismo da linguagem da Comunicação Social em relação à de forças políticas e institucionais. Foi assim que uma votação coincidente de CDS, PSD, PCP e Bloco a favor do diálogo com os professores foi anunciada como coligação negativa. Curiosamente, um Governo do PS, apoiado pelo PCP e BE contra os vencedores das últimas eleições, não se considera uma aliança negativa. A conclusão, subliminar, é que o positivo apenas existe quando o PS participa.

A aliança a favor dos professores, tão espúria como qualquer outra no Parlamento, pode parecer estranha. Mas não seguramente mais estranha do que entre o Bloco e o PCP ou o PCP e o PS ou o PS e o Bloco ou entre os três que diziam uns dos outros o que Maomé não disse do toucinho. Na verdade, o mal não está em partidos se unirem em defesa de ideias; está sobretudo nos insultos em que são pródigos.

Voltando ao caso dos professores, e deixando de lado a ideia de que a iniciativa se trata de uma aliança negativa, o que se pretende? Que os professores possam contar com todos os anos perdidos, desde o Governo de Sócrates até muito recentemente, para as suas carreiras e respetivas progressões. A reivindicação é injusta em si? Não se pode dizer que seja. É impraticável? Talvez, mas essa é uma questão de prioridades políticas.

Costa adorava ser derrubado pela ‘coligação negativa’, mas sabe que isso nunca acontecerá. Pode bater o pé à vontade. Não há dinheiro

O Governo da ‘geringonça’ que António Costa diz ser uma coisa séria e não uma brincadeira (e está carregado de razão) formou-se em nome de repor todas as ‘maldades’ (chamemos-lhe assim por facilidade) provocadas pela troika, por Passos, e pelas forças do mal, em geral. Em Orçamentos anteriores propunha-se tratar de devolver o que ainda não estava devolvido e isso incluiria os professores. Porém, quando estes pensam poder ter o assunto arrumado, com os nove anos e tal de reposição, eis que o Ministério e o Governo não acolhem a ideia. O PCP e o Bloco não concordam; o PSD e o CDS, como politicamente é costume, dizem que o Governo prometeu, portanto tem de cumprir (seria bom se fosse essa a prática). Ora esta coligação não é negativa, pelo menos para os professores. Ou, se o é, não o é mais do que o próprio Governo foi, na altura em que se formou.

A questão está em saber se há dinheiro. Ora aqui está uma coisa em que o PSD se especializou quando teve de passar os anos da troika: dizer que não há dinheiro. E o PS confirma que não há. E Costa diz que não há nada mais a negociar com os professores, mesmo depois de o Parlamento o decidir. Costa adorava ser derrubado pela ‘coligação negativa’, mas sabe que isso nunca acontecerá. Pode bater o pé à vontade. Não há dinheiro. E vai ganhando razão à medida que vemos que militares, polícias, juízes e diversas outras profissões querem tratamento igual ao dos professores. E à medida que nos lembramos que os indigentes trabalhadores do sector privado, martirizados com desempregos, impostos e o que mais for não tiveram direito a ressarcimento nenhum.

E assim se entende que o PS entenda (com a colaboração de boa parte dos media) que a coligação foi negativa. Não porque todos, menos o PS, se puseram de acordo. Mas porque todos, menos o PS, acabam prejudicados. Se é certo que os professores são uma classe aguerrida e lutadora, não é menos verdade que o eleitorado de que fazem parte acaba por compreender a ideia da falta de dinheiro e da relativa injustiça (ou do precedente) que se abriria, acaso se devolvesse aos professores o que não pode nem vai devolver-se a todos. Enfim, como alertam as Finanças há coisas que podem deitar abaixo o esforço (baseado em impostos e cativações) de quatro anos.

E no fim – para usar uma expressão popular, com a subtileza que a ministra da Cultura (e da comunicação social) tem mostrado –, talvez o eleitorado, incluindo muitos professores, olhando para Costa e para os outros prefira, como Gil Vicente, “burro que o leve a cavalo que o derrube”.

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