FÁBIO MONTEIRO : O VELHO E O MAR por ERNESTE HEMINGWAY

28-11-2019
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Ele era um velho que pescava sozinho em seu barco, na Gulf Stream. Havia oitenta e quatro dias que não apanhava nenhum peixe. Nos primeiros quarenta, levara em sua companhia um garoto para auxiliá-lo. Depois disso, os pais do garoto, convencidos de que o velho se tornara salão, isto é, um azarento da pior espécie, puseram o filho para trabalhar noutro barco, que trouxera três bons peixes em apenas uma semana. O garoto ficava triste ao ver o velho regressar todos os dias com a embarcação vazia e ia sempre ajudá-lo a carregar os rolos de linha, ou o gancho e o arpão, ou ainda a vela que estava enrolada à volta do mastro. A vela fora remendada em vários pontos com velhos sacos de farinha e, assim enrolada, parecia a bandeira de uma derrota permanente. O velho pescador era magro e seco, e tinha a parte posterior do pescoço vincada de profundas rugas. As manchas escuras que os raios do sol produzem sempre, nos mares tropicais, enchiam-lhe o rosto, estendendo-se ao longo dos braços, e suas mãos estavam cobertas de cicatrizes fundas, causadas pela fricção das linhas ásperas enganchadas em pesados e enormes peixes. Mas nenhuma destas cicatrizes era recente. Tudo o que nele existia era velho, com exceção dos olhos que eram da cor do mar, alegres e indomáveis. - Santiago - disse-lhe o garoto quando desciam do banco de areia para onde o barco fora puxado -, eu gostaria de tornar a sair com você. Tenho ganho algum dinheiro. O velho ensinara o garoto a pescar e por isso ele o adorava. - Não - respondeu-lhe o velho. - Você está num barco de sorte. Fique com eles. - Mas lembre-se daquela vez em que passamos mais de oitenta dias sem apanhar coisa alguma e depois pescamos dos grandes, todos os dias, durante três semanas. - Lembro-me muito bem - tornou o velho. - E sei que no período de má sorte você não me abandonou nem duvidou de mim. - Foi papai quem me fez mudar de barco. Ainda sou um garoto e tenho de obedecer a ele.- Eu sei - concordou o velho. - É natural.- Papai não tem muita fé.- Não - tornou a concordar o velho. - Mas nós temos, não é verdade?

 

Fragmento do livro

 

 

 



THE OLD MAN AND THE SEA (O VELHO E O MAR). Rússia/Canadá/Japão, 1999. Direção de Aleksandr Petrov. Ganhador do Oscar em 2000 como melhor curta animado, a adaptação do clássico de Ernest Hemingway, "O Velho e o Mar" é uma obra prima do animador russo Alexander Petrov. O curta com pouco mais de 20 minutos de duração, demorou pouco mais de 2 anos para ser produzido, pois Petrov pintou a óleo e fotografou cada um dos 29 mil frames em quadros de vidro. Para quem não sabe, O Velho e o Mar foi o último livro de Hemingway publicado durante a sua vida e conta a história de um velho pescador que decide enfrentar o alto mar em busca de um peixe gigante.

 

 

 

Ele era um velho que pescava sozinho em seu barco, na Gulf Stream. Havia oitenta e quatro dias que não apanhava nenhum peixe. Nos primeiros quarenta, levara em sua companhia um garoto para auxiliá-lo. Depois disso, os pais do garoto, convencidos de que o velho se tornara salão, isto é, um azarento da pior espécie, puseram o filho para trabalhar noutro barco, que trouxera três bons peixes em apenas uma semana. O garoto ficava triste ao ver o velho regressar todos os dias com a embarcação vazia e ia sempre ajudá-lo a carregar os rolos de linha, ou o gancho e o arpão, ou ainda a vela que estava enrolada à volta do mastro. A vela fora remendada em vários pontos com velhos sacos de farinha e, assim enrolada, parecia a bandeira de uma derrota permanente. O velho pescador era magro e seco, e tinha a parte posterior do pescoço vincada de profundas rugas. As manchas escuras que os raios do sol produzem sempre, nos mares tropicais, enchiam-lhe o rosto, estendendo-se ao longo dos braços, e suas mãos estavam cobertas de cicatrizes fundas, causadas pela fricção das linhas ásperas enganchadas em pesados e enormes peixes. Mas nenhuma destas cicatrizes era recente. Tudo o que nele existia era velho, com exceção dos olhos que eram da cor do mar, alegres e indomáveis. - Santiago - disse-lhe o garoto quando desciam do banco de areia para onde o barco fora puxado -, eu gostaria de tornar a sair com você. Tenho ganho algum dinheiro. O velho ensinara o garoto a pescar e por isso ele o adorava. - Não - respondeu-lhe o velho. - Você está num barco de sorte. Fique com eles. - Mas lembre-se daquela vez em que passamos mais de oitenta dias sem apanhar coisa alguma e depois pescamos dos grandes, todos os dias, durante três semanas. - Lembro-me muito bem - tornou o velho. - E sei que no período de má sorte você não me abandonou nem duvidou de mim. - Foi papai quem me fez mudar de barco. Ainda sou um garoto e tenho de obedecer a ele.- Eu sei - concordou o velho. - É natural.- Papai não tem muita fé.- Não - tornou a concordar o velho. - Mas nós temos, não é verdade?

 

Fragmento do livro

 

 

 



THE OLD MAN AND THE SEA (O VELHO E O MAR). Rússia/Canadá/Japão, 1999. Direção de Aleksandr Petrov. Ganhador do Oscar em 2000 como melhor curta animado, a adaptação do clássico de Ernest Hemingway, "O Velho e o Mar" é uma obra prima do animador russo Alexander Petrov. O curta com pouco mais de 20 minutos de duração, demorou pouco mais de 2 anos para ser produzido, pois Petrov pintou a óleo e fotografou cada um dos 29 mil frames em quadros de vidro. Para quem não sabe, O Velho e o Mar foi o último livro de Hemingway publicado durante a sua vida e conta a história de um velho pescador que decide enfrentar o alto mar em busca de um peixe gigante.

 

 

 

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