Na tarde da má língua, Rio rejeitou “baixar ao nível” do PS e defendeu o Ministério Público

30-09-2019
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O momento do dia:

O abraço entre Rui Rio e Paulo Rangel. A presença do eurodeputado na passeata pela baixa de Coimbra não tinha sido anunciada à comunicação social, mas Rangel não faltou à chamada. Os dois trocaram um abraço e seguiram caminho, sem grande excitação. Se Rio e os seus mais próximos já vão falando em vitória nas eleições, Rangel falou num "feeling" de que é possível. São estados de espírito.

A frase:

"Eles baixaram um bocado o nível e o dr. Augusto Santos Silva voltou àquilo que era antigamente, quando era membro do Governo do engenheiro Sócrates e dizia que gostava muito de malhar na direita"

Rui Rio, líder do PSD

O personagem:

Mónica Quintela. A advogada e cabeça de lista do PSD fez as vezes de cicerone na Figueira da Foz e de moderadora na sessão de esclarecimento em Coimbra. Cumpriu com uma entrega a toda a prova: já Rui Rio pedia para acabar a ‘talk’ (“há muita gente que tem a sopa fria lá em casa…”, ria-se nervosamente o líder) e ainda Quintela pedia mais. “As pessoas gostam muito de o ouvir! É um gosto ouvi-lo!”. Quem tem fãs destes, tem tudo.

A fotografia:

rui duarte silva

E ao sexto dia, Rui Rio descansou. Meio dia, mas descansou. O líder social-democrata aproveitou o domingo para ir a casa tratar de recuperar baterias e de outras coisas mais pequeninas (“a mala estava toda uma barafunda…”). No regresso, e só voltou às cinco da tarde, já Carlos César e Augusto Santos Silva tinham ‘malhado’ no PSD, trouxe outra vez o caso Tancos na bagagem, não fosse a campanha social-democrata começar a perder gás.

Na Figueira da Foz, no Largo da Má Língua, Rio aplicou uma jogada que vem nos livros: responder à letra aos adversários (Carlos César e Augusto Santos Silva), mesmo dizendo que não o quer fazer. Ele foi a todas: criticou a falta de nível dos socialistas, falou em desnorte, recordou a cumplicidade com José Sócrates, sugeriu que eram ambos cães de caça de António Costa:

“Eles baixaram um bocado o nível”. Pim! “O dr. Augusto Santos Silva voltou aquilo que era antigamente, quando era membro do Governo do engenheiro Sócrates e dizia que gostava muito de malhar na direita”. Pam! “António Costa poupou-se agora e mandou para a frente de batalha Santos Silva e Carlos César. Por uma questão de estilo: [César e Santos Silva] são dois elementos que estão sempre disponíveis para baixar o nível”. Pum! Tudo regado com uma declaração de honra: “Para dançar o tango são precisos dois. Eu não estou muito disponível para entrar nessa escalada. Há ali um desnorte no Partido Socialista mas eu mantenho naturalmente no meu rumo", jurou. Imagine-se se quisesse entrar na dança.

Mas na Figueira da Foz houve quem quisesse dançar com Rio e quem não quisesse. “Está a mostrar que ainda é possível fazer ética na política”, disse-lhe um simpatizante. “Cumprimentar ainda cumprimento. Votar em si não voto. Não deixo de votar PS nem de ambulância”, rosnou-lhe um socialista de gema. “Há quem diga que não”, lamentou Rio ao primeiro. “Se o PS for Governo pode é ter de ir de padiola”, reagiu ao segundo. Tudo na paz do senhor, tudo sem grande entusiasmo (Rio não chega sequer a apelar ao voto), tudo para aborrecimento (houve exceções) dos vítimas da caravana, mais preocupados com o geladinho à beira mar do que com a alta política nacional. Foi valendo Clemente versão JSD (“Vais ganhar / As eleiçõeeees / Vais ganhar, vais ganhar, vais ganhar…”) para dar cor à coisa. Mérito deles.

Em Coimbra, a passeata pela baixa da cidade aconteceu sem notas dignas de reportagem. Valeu a surpresa Paulo Rangel, que se juntou à comitiva, não para dar uma “ajudinha” porque o líder não precisa, mas para ouvir a sessão de esclarecimento organizada no Café Santa Cruz. Mas acredita que o PSD vai ganhar as eleições? “Eu estou em total linha com os comentários que fez o presidente, vi ontem na televisão, o meu feeling também é esse”, foi o mais longe que o eurodeputado se permitiu chegar.

Paulo Mota Pinto é que não está para moderações. No lançamento da sessão de mais uma ‘talk’ do PSD, o dirigente social-democrata falou num “grande resultado e numa vitória no dia 6 de outubro” de Rui Rio, alguém que personifica a “entidade moral” que “brilha e cintila” sepultado “a poucos metros de nós”, numa alusão a… D. Afonso Henriques e D. Sancho I, ambos sepultados na Igreja Santa Cruz, paredes meias com o café.

rui duarte silva

Rio elogia independência do MP e… fala sobre o futuro?

Voltando ao século XXI. Na dita ‘talk’, Rio voltou a repetir algumas prioridades (reduzir a carga fiscal, dar mais autonomia aos hospitais, descentralizar e desconcentrar), revelou um pouco mais de si (a sua música preferida são os blues, bebe dois copos de água sempre que acorda e a comida que menos gosta é a farinha de pau, trauma de infância).

Mas foi na Justiça que o líder social-democrata mais se centrou, com nova bicada ao PS e um elogio à “independência” do Ministério Pública, coisa rara em Rui Rio. “O Ministério Público só tinha de estar contente com o PS, o tal elogio é por isto: apesar de o Governo ter feito tudo aquilo que eles queriam, eles não deixaram de cumprir a sua obrigação. E eu, se sou tão critico em muitas coisas, também tenho de ser justo e aqui elogiar: tem a ver com o PS no Governo ter dado tudo e ainda assim houve a independência necessária para fazer isso”. Para registo futuro.

Destaque ainda para um momento em que Rio parece sugerir estar disposto a continuar mesmo perdendo. Quando desafiado a pronunciar-se sobre o porquê de alguém votar nele nestas legislativas, Rio defendeu que eram precisas reformas urgentes e que é a melhor pessoa para o fazer porque terá a coragem de ser “forte com os fortes”. Depois acrescentou:

“Para ter essa coragem é preciso ter desprendimento relativamente ao poder e isso não tenham dúvida que eu tenho. Eu não estou aqui por mim, estou aqui a prestar um serviço, isto é duro, isto é pesado, é mais cómodo estar em casa, e até se calhar ter um salário melhor, é mais cómodo. Se ela está dentro de mim e eu estou desprendido do poder, será como o povo português quiser e eu estou disponível para fazer de uma maneira ou fazer de outra, como os portugueses entenderem”. Disponível para o fazer no Governo e na oposição?

Nota: quarto talk, quarto sketch protagonizado pelos atores Mário Bomba e Carla Vasconcelos, desta vez com uma rábula sobre “dona Maria da Justiça”, que além de lenta e gorda (“engordei um bocadinho porque tenho estada parada”), tinha uma gaze em vez da venda e um abre cartas em vez da espada. “Sobre Ricardo Salgado o que eu tenho a dizer é que sou mais doces”, foi a última ‘piada’. Mais uma vez: um belíssimo guião, ótimos diálogos.

O momento do dia:

O abraço entre Rui Rio e Paulo Rangel. A presença do eurodeputado na passeata pela baixa de Coimbra não tinha sido anunciada à comunicação social, mas Rangel não faltou à chamada. Os dois trocaram um abraço e seguiram caminho, sem grande excitação. Se Rio e os seus mais próximos já vão falando em vitória nas eleições, Rangel falou num "feeling" de que é possível. São estados de espírito.

A frase:

"Eles baixaram um bocado o nível e o dr. Augusto Santos Silva voltou àquilo que era antigamente, quando era membro do Governo do engenheiro Sócrates e dizia que gostava muito de malhar na direita"

Rui Rio, líder do PSD

O personagem:

Mónica Quintela. A advogada e cabeça de lista do PSD fez as vezes de cicerone na Figueira da Foz e de moderadora na sessão de esclarecimento em Coimbra. Cumpriu com uma entrega a toda a prova: já Rui Rio pedia para acabar a ‘talk’ (“há muita gente que tem a sopa fria lá em casa…”, ria-se nervosamente o líder) e ainda Quintela pedia mais. “As pessoas gostam muito de o ouvir! É um gosto ouvi-lo!”. Quem tem fãs destes, tem tudo.

A fotografia:

rui duarte silva

E ao sexto dia, Rui Rio descansou. Meio dia, mas descansou. O líder social-democrata aproveitou o domingo para ir a casa tratar de recuperar baterias e de outras coisas mais pequeninas (“a mala estava toda uma barafunda…”). No regresso, e só voltou às cinco da tarde, já Carlos César e Augusto Santos Silva tinham ‘malhado’ no PSD, trouxe outra vez o caso Tancos na bagagem, não fosse a campanha social-democrata começar a perder gás.

Na Figueira da Foz, no Largo da Má Língua, Rio aplicou uma jogada que vem nos livros: responder à letra aos adversários (Carlos César e Augusto Santos Silva), mesmo dizendo que não o quer fazer. Ele foi a todas: criticou a falta de nível dos socialistas, falou em desnorte, recordou a cumplicidade com José Sócrates, sugeriu que eram ambos cães de caça de António Costa:

“Eles baixaram um bocado o nível”. Pim! “O dr. Augusto Santos Silva voltou aquilo que era antigamente, quando era membro do Governo do engenheiro Sócrates e dizia que gostava muito de malhar na direita”. Pam! “António Costa poupou-se agora e mandou para a frente de batalha Santos Silva e Carlos César. Por uma questão de estilo: [César e Santos Silva] são dois elementos que estão sempre disponíveis para baixar o nível”. Pum! Tudo regado com uma declaração de honra: “Para dançar o tango são precisos dois. Eu não estou muito disponível para entrar nessa escalada. Há ali um desnorte no Partido Socialista mas eu mantenho naturalmente no meu rumo", jurou. Imagine-se se quisesse entrar na dança.

Mas na Figueira da Foz houve quem quisesse dançar com Rio e quem não quisesse. “Está a mostrar que ainda é possível fazer ética na política”, disse-lhe um simpatizante. “Cumprimentar ainda cumprimento. Votar em si não voto. Não deixo de votar PS nem de ambulância”, rosnou-lhe um socialista de gema. “Há quem diga que não”, lamentou Rio ao primeiro. “Se o PS for Governo pode é ter de ir de padiola”, reagiu ao segundo. Tudo na paz do senhor, tudo sem grande entusiasmo (Rio não chega sequer a apelar ao voto), tudo para aborrecimento (houve exceções) dos vítimas da caravana, mais preocupados com o geladinho à beira mar do que com a alta política nacional. Foi valendo Clemente versão JSD (“Vais ganhar / As eleiçõeeees / Vais ganhar, vais ganhar, vais ganhar…”) para dar cor à coisa. Mérito deles.

Em Coimbra, a passeata pela baixa da cidade aconteceu sem notas dignas de reportagem. Valeu a surpresa Paulo Rangel, que se juntou à comitiva, não para dar uma “ajudinha” porque o líder não precisa, mas para ouvir a sessão de esclarecimento organizada no Café Santa Cruz. Mas acredita que o PSD vai ganhar as eleições? “Eu estou em total linha com os comentários que fez o presidente, vi ontem na televisão, o meu feeling também é esse”, foi o mais longe que o eurodeputado se permitiu chegar.

Paulo Mota Pinto é que não está para moderações. No lançamento da sessão de mais uma ‘talk’ do PSD, o dirigente social-democrata falou num “grande resultado e numa vitória no dia 6 de outubro” de Rui Rio, alguém que personifica a “entidade moral” que “brilha e cintila” sepultado “a poucos metros de nós”, numa alusão a… D. Afonso Henriques e D. Sancho I, ambos sepultados na Igreja Santa Cruz, paredes meias com o café.

rui duarte silva

Rio elogia independência do MP e… fala sobre o futuro?

Voltando ao século XXI. Na dita ‘talk’, Rio voltou a repetir algumas prioridades (reduzir a carga fiscal, dar mais autonomia aos hospitais, descentralizar e desconcentrar), revelou um pouco mais de si (a sua música preferida são os blues, bebe dois copos de água sempre que acorda e a comida que menos gosta é a farinha de pau, trauma de infância).

Mas foi na Justiça que o líder social-democrata mais se centrou, com nova bicada ao PS e um elogio à “independência” do Ministério Pública, coisa rara em Rui Rio. “O Ministério Público só tinha de estar contente com o PS, o tal elogio é por isto: apesar de o Governo ter feito tudo aquilo que eles queriam, eles não deixaram de cumprir a sua obrigação. E eu, se sou tão critico em muitas coisas, também tenho de ser justo e aqui elogiar: tem a ver com o PS no Governo ter dado tudo e ainda assim houve a independência necessária para fazer isso”. Para registo futuro.

Destaque ainda para um momento em que Rio parece sugerir estar disposto a continuar mesmo perdendo. Quando desafiado a pronunciar-se sobre o porquê de alguém votar nele nestas legislativas, Rio defendeu que eram precisas reformas urgentes e que é a melhor pessoa para o fazer porque terá a coragem de ser “forte com os fortes”. Depois acrescentou:

“Para ter essa coragem é preciso ter desprendimento relativamente ao poder e isso não tenham dúvida que eu tenho. Eu não estou aqui por mim, estou aqui a prestar um serviço, isto é duro, isto é pesado, é mais cómodo estar em casa, e até se calhar ter um salário melhor, é mais cómodo. Se ela está dentro de mim e eu estou desprendido do poder, será como o povo português quiser e eu estou disponível para fazer de uma maneira ou fazer de outra, como os portugueses entenderem”. Disponível para o fazer no Governo e na oposição?

Nota: quarto talk, quarto sketch protagonizado pelos atores Mário Bomba e Carla Vasconcelos, desta vez com uma rábula sobre “dona Maria da Justiça”, que além de lenta e gorda (“engordei um bocadinho porque tenho estada parada”), tinha uma gaze em vez da venda e um abre cartas em vez da espada. “Sobre Ricardo Salgado o que eu tenho a dizer é que sou mais doces”, foi a última ‘piada’. Mais uma vez: um belíssimo guião, ótimos diálogos.

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