Sara Barros Leitão, atriz, encenadora e voz crítica das políticas culturais, recebe Prémio Revelação do Teatro Nacional D. Maria II

01-01-2021
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A atriz e encenadora Sara Barros Leitão, que recentemente esteve em palco na peça de Tiago Rodrigues Catarina e a Beleza de Matar Fascistas e que ao longo do ano interveio em público com críticas ao Teatro Municipal do Porto e às políticas do Ministério da Cultura, venceu a primeira edição do Prémio Revelação atribuído pela seguradora Ageas e pelo Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII).

O anúncio teve lugar esta terça-feira ao fim da tarde na Sala Garrett do TNDMII, em Lisboa, numa sessão para convidados que contou com a presença, entre outros, da ministra da Cultura, Graça Fonseca, e do diretor artístico do teatro, Tiago Rodrigues (cujo mandato se iniciou em 2015 e acaba de ser renovado pela segunda vez, até 2023).

O Prémio Revelação Ageas/TNDMII tem o valor de cinco mil euros e destina-se a “um profissional de teatro até 30 anos de idade cujo trabalho artístico se tenha destacado” no ano anterior ao da atribuição. O objetivo é o de “promove o reconhecimento de talentos emergentes no panorama teatral nacional”, segundo o regulamento. A divulgação da vencedora esteve prevista para 27 de março, Dia Mundial do Teatro, mas devido à pandemia e ao encerramento compulsivo dos teatros só agora teve lugar.

“O prémio tem uma carga simbólica muito importante, porque é atribuído pelos meus pares, o que o distingue de outros prémios, e significa que as pessoas com quem trabalho, que se vão cruzando comigo e que vão estando atentas ao meu percurso me consideram merecedora”, declarou Sara Barros Leitão, antes da cerimónia. “É um prémio que acaba por confirmar que as minhas escolhas, a minha integridade e a minha consciência, apesar das inseguranças diárias que tenho, estão a dar frutos”, confessou.

A parceria entre a Ageas e o TNDMII oficializou-se em maio do ano passado e tem a duração de três anos. Além do Prémio Revelação, contempla o apoio da Ageas ao projeto Rede Eunice, de difusão teatral por vários pontos do país. O vencedor do Prémio Revelação é escolhido por 15 representantes do meio artístico e cultural português.

Este ano, os jurados foram Albano Jerónimo, Álvaro Correia, Beatriz Batarda, Carlos Avilez, Catarina Barros, Cristina Carvalhal, Inês Barahona, John Romão, José António Tenente, Marta Carreiras, Mónica Garnel, Nuno Cardoso, Rui Horta, Rui Pina Coelho e Tónan Quito. “A grande qualidade artística de Sara Barros Leitão e a coerência em todas as suas atitudes” foram as qualidade destacadas pelo presidente do júri, Carlos Avilez. “É uma artista que já provou e continuará a provar tudo aquilo que dela se espera”, acrescentou.

Os critérios de avaliação, de acordo com o regulamento, são a “qualidade da prestação artística”, o “contributo para o desenvolvimento e fortalecimento da área teatral”, a “capacidade de crescimento e valorização da carreira” e a “introdução de elementos de inovação”.

De “Morangos com Açúcar” aos teatros nacionais

Sara Barros Leitão nasceu no Porto há 30 anos e começou a estudar interpretação aos 14, na Academia Contemporânea do Espetáculo (curso que concluiu em 2011). Iniciou estudos clássicos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e foi codiretora artística da Carruagem – Tráfego de Ideias (companhia de teatro infanto-juvenil). Já este ano, criou a estrutura de criação Cassandra. O prémio vai “impulsionar a existência da estrutura”, indicou ao Observador.

No teatro, entre outros trabalhos, integrou o elenco de Uma Noite no Futuro, textos de Gil Vicente e Samuel Beckett com encenação de Nuno Carinhas (Teatro Nacional São João, 2018). Entrou em Os Últimos Dias da Humanidade, de Karl Kraus, dirigida por Nuno Carinhas e Nuno M. Cardoso (TNSJ, 2016) e ainda nos espetáculos Flores para Mim, de Abel Neves, encenada por Natália Luíza (Teatro Meridional, 2011) e Punk Rock, de Simon Stephens, dirigida por Victor Hugo Pontes (ACE/Teatro do Bolhão, 2011).

Em televisão, começou pela série Morangos com Açúcar (2007) e já teve diversas participações em telenovelas da SIC e da TVI, além de um papel na série Três Mulheres, realizada por Fernando Vendrell para a RTP. Em 2015 foi-lhe atribuído o Prémio de Melhor Atriz no Festival Internacional de Cinema Independente de São Paulo, no Brasil, enquanto protagonista de Pecado Fatal, longa-metragem portuguesa de Luís Diogo.

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Neste momento, Sara Barros Leitão prepara um monólogo da sua autoria para encenar e interpretar no próximo ano: Monólogo de Uma Mulher Chamada Maria Com a Sua Patroa, acerca do trabalho doméstico e dos movimentos sindicais. Os cinco mil euros vai aplicá-los numa outra criação: o projeto Heróides — Clube do Livro Feminista, com 12 sessões online e o objetivo de formar uma comunidade de leitores de obras de mulheres, ao longo de 2021.

No palco, na rua e nos jornais: atriz reivindicativa

Além de atriz, dramaturga e encenadora, Sara Barros Leitão tem-se destacado como ativista feminista e das políticas culturais. Faz parte da direção da Plateia – Associação de Profissionais das Artes Cénicas, um dos interlocutores do Governo nas políticas públicas para a cultura. Em 2017, leu o manifesto “Provocador – Circulação e Acesso às Artes” nas Jornadas do Teatro que decorreram no Teatro Nacional São João, no âmbito do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica), no Porto.

“É como se houvesse dois Portugais: um tem uma rede de teatros municipais com linhas de programação, com um trabalho de criação de público, com programadores cuja formação e experiência profissional valida a posição que ocupam; e do outro lado, um Portugal onde a programação cultural é gerida por autarcas sem qualquer ligação à cultura, onde ninguém sabe quem deve contactar, e onde o orçamento para a compra de espetáculos está, muitas vezes, misturado com pelouros da educação, juventude e turismo”, defendeu então.

No início deste ano, assinou no Observador um artigo de opinião em que criticava o diretor artístico do Teatro Municipal do Porto, Tiago Guedes, e a própria administração por estes alegadamente terem criado “resistência” ilegítima e um ambiente de “constante vigilância” perante um projeto encomendado à atriz. À época, Tiago Guedes recebeu críticas de diversos criadores mas também o apoio de outros programadores culturais.

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No contexto da pandemia da covid-19, e depois de ter escrito em abril no jornal Público o artigo “Algo está podre no Ministério da Cultura”, a defender que “poderiam ter ido muito mais longe” os apoios da tutela aos artistas e técnicos paralisados pelas medidas de contingência, Sara Barros Leitão esteve presente na grande manifestação do setor a 4 de junho na Praça dos Aliados, onde os profissionais das artes reivindicaram 1% do Orçamento do Estado para a cultura e censuraram duramente a ação da ministra Graça Fonseca.

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Contudo, o Prémio Revelação, por se referir ao trabalho em 2019 e ter tido entrega prevista para março, não deve ter uma leitura política, disse Sara Barros Leitão ao Observador. “Claro que o meu trabalho é indissociável do meu ativismo, porque ele contamina o palco e a minha vida, mas não me parece que o prémio tenha ligação ao que fiz em 2020. Percebo que o lado ativista se tenha tornado muito gritante este ano, mas já vem de há muito a minha participação na defesa dos trabalhadores, da classe artística”, avaliou.

A atriz e encenadora Sara Barros Leitão, que recentemente esteve em palco na peça de Tiago Rodrigues Catarina e a Beleza de Matar Fascistas e que ao longo do ano interveio em público com críticas ao Teatro Municipal do Porto e às políticas do Ministério da Cultura, venceu a primeira edição do Prémio Revelação atribuído pela seguradora Ageas e pelo Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII).

O anúncio teve lugar esta terça-feira ao fim da tarde na Sala Garrett do TNDMII, em Lisboa, numa sessão para convidados que contou com a presença, entre outros, da ministra da Cultura, Graça Fonseca, e do diretor artístico do teatro, Tiago Rodrigues (cujo mandato se iniciou em 2015 e acaba de ser renovado pela segunda vez, até 2023).

O Prémio Revelação Ageas/TNDMII tem o valor de cinco mil euros e destina-se a “um profissional de teatro até 30 anos de idade cujo trabalho artístico se tenha destacado” no ano anterior ao da atribuição. O objetivo é o de “promove o reconhecimento de talentos emergentes no panorama teatral nacional”, segundo o regulamento. A divulgação da vencedora esteve prevista para 27 de março, Dia Mundial do Teatro, mas devido à pandemia e ao encerramento compulsivo dos teatros só agora teve lugar.

“O prémio tem uma carga simbólica muito importante, porque é atribuído pelos meus pares, o que o distingue de outros prémios, e significa que as pessoas com quem trabalho, que se vão cruzando comigo e que vão estando atentas ao meu percurso me consideram merecedora”, declarou Sara Barros Leitão, antes da cerimónia. “É um prémio que acaba por confirmar que as minhas escolhas, a minha integridade e a minha consciência, apesar das inseguranças diárias que tenho, estão a dar frutos”, confessou.

A parceria entre a Ageas e o TNDMII oficializou-se em maio do ano passado e tem a duração de três anos. Além do Prémio Revelação, contempla o apoio da Ageas ao projeto Rede Eunice, de difusão teatral por vários pontos do país. O vencedor do Prémio Revelação é escolhido por 15 representantes do meio artístico e cultural português.

Este ano, os jurados foram Albano Jerónimo, Álvaro Correia, Beatriz Batarda, Carlos Avilez, Catarina Barros, Cristina Carvalhal, Inês Barahona, John Romão, José António Tenente, Marta Carreiras, Mónica Garnel, Nuno Cardoso, Rui Horta, Rui Pina Coelho e Tónan Quito. “A grande qualidade artística de Sara Barros Leitão e a coerência em todas as suas atitudes” foram as qualidade destacadas pelo presidente do júri, Carlos Avilez. “É uma artista que já provou e continuará a provar tudo aquilo que dela se espera”, acrescentou.

Os critérios de avaliação, de acordo com o regulamento, são a “qualidade da prestação artística”, o “contributo para o desenvolvimento e fortalecimento da área teatral”, a “capacidade de crescimento e valorização da carreira” e a “introdução de elementos de inovação”.

De “Morangos com Açúcar” aos teatros nacionais

Sara Barros Leitão nasceu no Porto há 30 anos e começou a estudar interpretação aos 14, na Academia Contemporânea do Espetáculo (curso que concluiu em 2011). Iniciou estudos clássicos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e foi codiretora artística da Carruagem – Tráfego de Ideias (companhia de teatro infanto-juvenil). Já este ano, criou a estrutura de criação Cassandra. O prémio vai “impulsionar a existência da estrutura”, indicou ao Observador.

No teatro, entre outros trabalhos, integrou o elenco de Uma Noite no Futuro, textos de Gil Vicente e Samuel Beckett com encenação de Nuno Carinhas (Teatro Nacional São João, 2018). Entrou em Os Últimos Dias da Humanidade, de Karl Kraus, dirigida por Nuno Carinhas e Nuno M. Cardoso (TNSJ, 2016) e ainda nos espetáculos Flores para Mim, de Abel Neves, encenada por Natália Luíza (Teatro Meridional, 2011) e Punk Rock, de Simon Stephens, dirigida por Victor Hugo Pontes (ACE/Teatro do Bolhão, 2011).

Em televisão, começou pela série Morangos com Açúcar (2007) e já teve diversas participações em telenovelas da SIC e da TVI, além de um papel na série Três Mulheres, realizada por Fernando Vendrell para a RTP. Em 2015 foi-lhe atribuído o Prémio de Melhor Atriz no Festival Internacional de Cinema Independente de São Paulo, no Brasil, enquanto protagonista de Pecado Fatal, longa-metragem portuguesa de Luís Diogo.

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Neste momento, Sara Barros Leitão prepara um monólogo da sua autoria para encenar e interpretar no próximo ano: Monólogo de Uma Mulher Chamada Maria Com a Sua Patroa, acerca do trabalho doméstico e dos movimentos sindicais. Os cinco mil euros vai aplicá-los numa outra criação: o projeto Heróides — Clube do Livro Feminista, com 12 sessões online e o objetivo de formar uma comunidade de leitores de obras de mulheres, ao longo de 2021.

No palco, na rua e nos jornais: atriz reivindicativa

Além de atriz, dramaturga e encenadora, Sara Barros Leitão tem-se destacado como ativista feminista e das políticas culturais. Faz parte da direção da Plateia – Associação de Profissionais das Artes Cénicas, um dos interlocutores do Governo nas políticas públicas para a cultura. Em 2017, leu o manifesto “Provocador – Circulação e Acesso às Artes” nas Jornadas do Teatro que decorreram no Teatro Nacional São João, no âmbito do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica), no Porto.

“É como se houvesse dois Portugais: um tem uma rede de teatros municipais com linhas de programação, com um trabalho de criação de público, com programadores cuja formação e experiência profissional valida a posição que ocupam; e do outro lado, um Portugal onde a programação cultural é gerida por autarcas sem qualquer ligação à cultura, onde ninguém sabe quem deve contactar, e onde o orçamento para a compra de espetáculos está, muitas vezes, misturado com pelouros da educação, juventude e turismo”, defendeu então.

No início deste ano, assinou no Observador um artigo de opinião em que criticava o diretor artístico do Teatro Municipal do Porto, Tiago Guedes, e a própria administração por estes alegadamente terem criado “resistência” ilegítima e um ambiente de “constante vigilância” perante um projeto encomendado à atriz. À época, Tiago Guedes recebeu críticas de diversos criadores mas também o apoio de outros programadores culturais.

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No contexto da pandemia da covid-19, e depois de ter escrito em abril no jornal Público o artigo “Algo está podre no Ministério da Cultura”, a defender que “poderiam ter ido muito mais longe” os apoios da tutela aos artistas e técnicos paralisados pelas medidas de contingência, Sara Barros Leitão esteve presente na grande manifestação do setor a 4 de junho na Praça dos Aliados, onde os profissionais das artes reivindicaram 1% do Orçamento do Estado para a cultura e censuraram duramente a ação da ministra Graça Fonseca.

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Contudo, o Prémio Revelação, por se referir ao trabalho em 2019 e ter tido entrega prevista para março, não deve ter uma leitura política, disse Sara Barros Leitão ao Observador. “Claro que o meu trabalho é indissociável do meu ativismo, porque ele contamina o palco e a minha vida, mas não me parece que o prémio tenha ligação ao que fiz em 2020. Percebo que o lado ativista se tenha tornado muito gritante este ano, mas já vem de há muito a minha participação na defesa dos trabalhadores, da classe artística”, avaliou.

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