A noite em que Ljubomir gritou, brindou e até se deixou tatuar: "Ao 3.º dia de greve achei que tinha sido estúpido. Decidi de cabeça quente"

01-01-2021
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“Ahhhh!!!”

Ouve-se um grito vindo da cozinha aberta do restaurante 100 Maneiras, em Lisboa, e logo de seguida um prato explode no chão. Toda a gente começa a gritar. Numa das paredes desta casa, uma televisão estava sintonizada na transmissão da cerimónia da Gala das Estrela Michelin onde se acabava de anunciar a atribuição da primeira estrela Michelin para um projeto do chef Ljubomir Stanisic. Tudo aconteceu no passado dia 14 de dezembro e o Observador teve oportunidade de assistir às reações in loco, num dia de normal funcionamento do restaurante, com os clientes (poucos) a entreolharem-se, sorrindo.

Ljubomir dispensa descrições: se antes de 2020 todo o país já o conhecia como o cozinheiro rebelde que não se inibe de dizer palavrões em público, os tempos de pandemia catapultaram-no para um patamar mediático diferente, mais interventivo na esfera político-social do país. Uma faceta ligeiramente diferente foi surgindo à conta disso mas naquela noite, por uns segundos, Ljubo, como muitos lhe chamam, deixou de ser Ljubo. De ar incrédulo, com os olhos a lacrimejar e levando as mãos à cabeça segundo sim, segundo sim, parecia ter ficado sem palavras… Até que soltou um sonoro “f****!” e a partir daí regressou o Stanisic dos reality shows e das polémicas.

show more

Ao longo da noite o chef foi alternando entre o seu trabalho na cozinha, brindes de celebração e entrevistas. Na maior mesa do restaurante — a que melhor permitia o distanciamento social exigido — estavam a sua mulher e os dois filhos; as companheiras de Manuel Maldonado e Miguel Santos (os seus braços direitos); e o ilustrador e tatuador Hugo Makarov, amigo de longa data de Ljubomir, que mais tarde acabou mesmo por tatuar uma pequena caveira na mão do chef, ali em pleno restaurante.

Os tempos de pandemia exigem celebrações mais contidas e, surpreendentemente para quem tem fama de rock star, foi assim que estas decorreram. Mesmo assim isso não travou os muitos brindes, daí que só no dia seguinte tenha sido possível falar melhor com o chef, que nos últimos meses se tornou um dos principais rostos da luta por apoios aos setores da restauração e hotelaria; fez uma greve de fome para reivindicar um encontro com o primeiro-ministro e/ou o ministro das Finanças; encabeçou manifestações em todo o país e agora, recentemente, viu-se envolvido num processo onde é acusado de corrupção.

Foi sobre tudo isso que se falou ao longo de quase uma hora e meia. Houve ainda tempo de perceber o porquê de o chef achar que a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) “é mais um conjunto de tachos”, de defender que a abolição de serviço militar obrigatório dificulta a existência de união no país e de esclarecer a suposta comparação de António Costa com o ditador Slobodan Milosevic.

“Ahhhh!!!”

Ouve-se um grito vindo da cozinha aberta do restaurante 100 Maneiras, em Lisboa, e logo de seguida um prato explode no chão. Toda a gente começa a gritar. Numa das paredes desta casa, uma televisão estava sintonizada na transmissão da cerimónia da Gala das Estrela Michelin onde se acabava de anunciar a atribuição da primeira estrela Michelin para um projeto do chef Ljubomir Stanisic. Tudo aconteceu no passado dia 14 de dezembro e o Observador teve oportunidade de assistir às reações in loco, num dia de normal funcionamento do restaurante, com os clientes (poucos) a entreolharem-se, sorrindo.

Ljubomir dispensa descrições: se antes de 2020 todo o país já o conhecia como o cozinheiro rebelde que não se inibe de dizer palavrões em público, os tempos de pandemia catapultaram-no para um patamar mediático diferente, mais interventivo na esfera político-social do país. Uma faceta ligeiramente diferente foi surgindo à conta disso mas naquela noite, por uns segundos, Ljubo, como muitos lhe chamam, deixou de ser Ljubo. De ar incrédulo, com os olhos a lacrimejar e levando as mãos à cabeça segundo sim, segundo sim, parecia ter ficado sem palavras… Até que soltou um sonoro “f****!” e a partir daí regressou o Stanisic dos reality shows e das polémicas.

show more

Ao longo da noite o chef foi alternando entre o seu trabalho na cozinha, brindes de celebração e entrevistas. Na maior mesa do restaurante — a que melhor permitia o distanciamento social exigido — estavam a sua mulher e os dois filhos; as companheiras de Manuel Maldonado e Miguel Santos (os seus braços direitos); e o ilustrador e tatuador Hugo Makarov, amigo de longa data de Ljubomir, que mais tarde acabou mesmo por tatuar uma pequena caveira na mão do chef, ali em pleno restaurante.

Os tempos de pandemia exigem celebrações mais contidas e, surpreendentemente para quem tem fama de rock star, foi assim que estas decorreram. Mesmo assim isso não travou os muitos brindes, daí que só no dia seguinte tenha sido possível falar melhor com o chef, que nos últimos meses se tornou um dos principais rostos da luta por apoios aos setores da restauração e hotelaria; fez uma greve de fome para reivindicar um encontro com o primeiro-ministro e/ou o ministro das Finanças; encabeçou manifestações em todo o país e agora, recentemente, viu-se envolvido num processo onde é acusado de corrupção.

Foi sobre tudo isso que se falou ao longo de quase uma hora e meia. Houve ainda tempo de perceber o porquê de o chef achar que a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) “é mais um conjunto de tachos”, de defender que a abolição de serviço militar obrigatório dificulta a existência de união no país e de esclarecer a suposta comparação de António Costa com o ditador Slobodan Milosevic.

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