portugal dos pequeninos

01-09-2020
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Juro que este post não se destina a agradar aos "camaradas" algarvios. Nem o José Apolinário, que conheci no MASP-1, nem o Gonçalo Couceiro, director regional do ministério da Cultura, precisam de "agrados". Sucede que, por uma vez, não estou de acordo com Vasco Pulido Valente. VPV critica, no Público de hoje, a directa dependência da figura do secretário-geral da segurança interna da figura do primeiro-ministro, por um lado, e o "controlo" que aquela figura vai exercer sobre todas as polícias, por outro. Também é chamado à colação o "chip" que os automóveis terão de exibir como "prova" de que as liberdades já não são o que eram. Nisto tem razão, embora, como lembra no artigo, todo o "ocidente" dito democrático tenha, depois de Setembro de 2001, preferido viver a liberdade em segurança quando não mesmo sacrificar alguma liberdade em prol da segurança. Por cá é tudo infinitamente mais leve e, sobretudo, repetitivo e inconsequente. Sócrates não inventou a roda. Mário Soares, pai da pátria e insuspeito na matéria, quando presidia ao "bloco central" de 83-85, criou o "serviço de informações da República", o "SIRP" - com dois "ramos", um civil e um militar - na sua (ele era então 1º ministro) dependência. Manifestou-se a indignação habitual, agravada pela proximidade do "25 de Abril". Apenas dez anos separavam a data gloriosa desta ignomínia. Soares, o PS e o PSD foram na altura amplamente zurzidos na praça pública e nos jornais por causa deste inopinado "regresso ao fascismo". Todavia, o "fascismo" não regressou. O "sistema", como uma ou outra nuance, serviu até agora sem grandes protestos. E serviu mais cinco chefes de governo, entre os quais dois socialistas e Cavaco. Mais. O mesmo Soares que sustentou politicamente o "sistema" foi eleito presidente da República - e com votos da mesma gente que exigira a sua cabeça em nome do putativo "regresso ao fascismo" que ele promovera através do "SIRP" - cerca de ano e meio depois do episódio. VPV admira-se com o silêncio de um Mário Soares aparentemente feliz com um Sócrates que "não erra". Queria que ele dissesse o quê?


Juro que este post não se destina a agradar aos "camaradas" algarvios. Nem o José Apolinário, que conheci no MASP-1, nem o Gonçalo Couceiro, director regional do ministério da Cultura, precisam de "agrados". Sucede que, por uma vez, não estou de acordo com Vasco Pulido Valente. VPV critica, no Público de hoje, a directa dependência da figura do secretário-geral da segurança interna da figura do primeiro-ministro, por um lado, e o "controlo" que aquela figura vai exercer sobre todas as polícias, por outro. Também é chamado à colação o "chip" que os automóveis terão de exibir como "prova" de que as liberdades já não são o que eram. Nisto tem razão, embora, como lembra no artigo, todo o "ocidente" dito democrático tenha, depois de Setembro de 2001, preferido viver a liberdade em segurança quando não mesmo sacrificar alguma liberdade em prol da segurança. Por cá é tudo infinitamente mais leve e, sobretudo, repetitivo e inconsequente. Sócrates não inventou a roda. Mário Soares, pai da pátria e insuspeito na matéria, quando presidia ao "bloco central" de 83-85, criou o "serviço de informações da República", o "SIRP" - com dois "ramos", um civil e um militar - na sua (ele era então 1º ministro) dependência. Manifestou-se a indignação habitual, agravada pela proximidade do "25 de Abril". Apenas dez anos separavam a data gloriosa desta ignomínia. Soares, o PS e o PSD foram na altura amplamente zurzidos na praça pública e nos jornais por causa deste inopinado "regresso ao fascismo". Todavia, o "fascismo" não regressou. O "sistema", como uma ou outra nuance, serviu até agora sem grandes protestos. E serviu mais cinco chefes de governo, entre os quais dois socialistas e Cavaco. Mais. O mesmo Soares que sustentou politicamente o "sistema" foi eleito presidente da República - e com votos da mesma gente que exigira a sua cabeça em nome do putativo "regresso ao fascismo" que ele promovera através do "SIRP" - cerca de ano e meio depois do episódio. VPV admira-se com o silêncio de um Mário Soares aparentemente feliz com um Sócrates que "não erra". Queria que ele dissesse o quê?

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