GPM-Pedestrianismo: Retirada do Marechal Soult III

11-12-2019
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PERCURSO HISTÓRICO Retirada do Marechal Soult . Parte IIIEntre Paradela e Cambeses do Rio.Seguindo na esteira do exército do marechal Soult, o Grupo Portuense de Montanhismo – GPM, levou-nos a conhecer a magia agreste das terras morenas do Barroso.Quase dois séculos passados, o mesmo caminho, é agora percorrido por um exército de caminheiros à procura da memória daqueles dias de Maio de 1809, carregando entusiasmo e em paz com a natureza.Sabemos que o ano de 1809 foi particularmente chuvoso, dificultando a marcha dos fugitivos e das tropas do general Silveira que seguiam na sua perseguição.Recorde-se que, tendo este, cortado a retirada pela estrada de Chaves, obrigou Soult a seguir o difícil e antigo caminho para Montalegre, por apertadas veredas.Confessamos que estávamos ansiosos por conhecer o rumo que o marechal teria seguido, continuando pela antiga estrada para Montalegre ou optando pelo caminho velho na direcção de Pitões. As dúvidas ficaram desfeitas, a partir de Paradela do Rio, uma vez que o comandante das nossas hostes tomou a direcção da raia seca do Larouco. Seguindo a primeira das opções, fomos à procura das aldeias barrosãs, com o típico casario aconchegado no fundo dos vales, pela solidariedade que resulta do seu comunitarismo, e abrigado do impiedoso clima.O que se terá passado na madrugada de 17 de Maio ninguém o sabe. Soult abandona a Paradela, e marcha com uma divisão de Dragões pela linha da cumeada que separa o Cávado do Rabagão, seguindo o resto do exército pela velha estrada na direcção de Montalegre. Por onde passaram foram queimando e saqueando o pouco que ficou, num terreno parco de recursos. As povoações fugiram para a serra, levando o que puderam, pondo o gado a salvo, destruindo pontes, e posteriormente, perseguindo e atacando os mais atrasados, não lhes poupando a vida, tal era o ódio que tinham ao invasor.Tomando o mesmo rumo, utilizamos o itinerário seguido pelo exército em fuga, fazendo uma paragem em Fiães do Rio, junto à casa onde nasceu Bento António Gonçalves. Com o futuro traçado para tratar dos lameiros e do gado, abandonou o torrão natal, aos 13 anos por morte de sua mãe. Partiu para Lisboa, tendo sido mais tarde secretário geral do PCP, e teve encontro com a morte no Tarrafal, com 40 anos de idade.As mesmas aldeias, em tempo de paz, estão hoje desertas, onde apenas resistem os idosos, sem forças para poderem partir à procura de melhor futuro. Estão hoje tão desertas e abandonadas como dois séculos atrás, quando os seus habitantes fugiram para a serra, escapando à barbárie da soldadesca de Soult.Que país é este, que obriga os seus filhos a procurar bem longe o pão do dia a dia? Quando chegamos a S. Pedro os nossos hábitos citadinos levaram-nos à procura da indispensável bica. Foi ali, num pequenino mas acolhedor café que a companheira Olinda nos leu de forma exemplar, um texto de Miguel Torga, patrono dos montanhistas que amam a natureza no seu estado puro. Com as baterias carregadas e respirando o mais puro ar do planalto barrosão, abandonamos por pouco tempo o histórico caminho, devido ao espelho de água da barragem do Alto Cávado, fazendo a travessia pela ponte dos galegos.Após algumas tentativas, os satélites no céu e o gps na terra, conduziram-nos à reconstituição do traçado que em certos locais desapareceu completamente e com algumas hesitações é certo, até Cambezes do Rio, através da planáltica lombada deste território barrosão, com a serra do Larouco a testemunhar a nossa caminhada.Por este mesmo caminho arrastou-se o esfarrapado exército do marechal, rendido à capacidade de sofrimento e argúcia da gente simples, humilde e corajosa do norte do país, que se juntou ao general Silveira.Texto: Fernando FontinhaFotos: Jorge Ribeiro

PERCURSO HISTÓRICO Retirada do Marechal Soult . Parte IIIEntre Paradela e Cambeses do Rio.Seguindo na esteira do exército do marechal Soult, o Grupo Portuense de Montanhismo – GPM, levou-nos a conhecer a magia agreste das terras morenas do Barroso.Quase dois séculos passados, o mesmo caminho, é agora percorrido por um exército de caminheiros à procura da memória daqueles dias de Maio de 1809, carregando entusiasmo e em paz com a natureza.Sabemos que o ano de 1809 foi particularmente chuvoso, dificultando a marcha dos fugitivos e das tropas do general Silveira que seguiam na sua perseguição.Recorde-se que, tendo este, cortado a retirada pela estrada de Chaves, obrigou Soult a seguir o difícil e antigo caminho para Montalegre, por apertadas veredas.Confessamos que estávamos ansiosos por conhecer o rumo que o marechal teria seguido, continuando pela antiga estrada para Montalegre ou optando pelo caminho velho na direcção de Pitões. As dúvidas ficaram desfeitas, a partir de Paradela do Rio, uma vez que o comandante das nossas hostes tomou a direcção da raia seca do Larouco. Seguindo a primeira das opções, fomos à procura das aldeias barrosãs, com o típico casario aconchegado no fundo dos vales, pela solidariedade que resulta do seu comunitarismo, e abrigado do impiedoso clima.O que se terá passado na madrugada de 17 de Maio ninguém o sabe. Soult abandona a Paradela, e marcha com uma divisão de Dragões pela linha da cumeada que separa o Cávado do Rabagão, seguindo o resto do exército pela velha estrada na direcção de Montalegre. Por onde passaram foram queimando e saqueando o pouco que ficou, num terreno parco de recursos. As povoações fugiram para a serra, levando o que puderam, pondo o gado a salvo, destruindo pontes, e posteriormente, perseguindo e atacando os mais atrasados, não lhes poupando a vida, tal era o ódio que tinham ao invasor.Tomando o mesmo rumo, utilizamos o itinerário seguido pelo exército em fuga, fazendo uma paragem em Fiães do Rio, junto à casa onde nasceu Bento António Gonçalves. Com o futuro traçado para tratar dos lameiros e do gado, abandonou o torrão natal, aos 13 anos por morte de sua mãe. Partiu para Lisboa, tendo sido mais tarde secretário geral do PCP, e teve encontro com a morte no Tarrafal, com 40 anos de idade.As mesmas aldeias, em tempo de paz, estão hoje desertas, onde apenas resistem os idosos, sem forças para poderem partir à procura de melhor futuro. Estão hoje tão desertas e abandonadas como dois séculos atrás, quando os seus habitantes fugiram para a serra, escapando à barbárie da soldadesca de Soult.Que país é este, que obriga os seus filhos a procurar bem longe o pão do dia a dia? Quando chegamos a S. Pedro os nossos hábitos citadinos levaram-nos à procura da indispensável bica. Foi ali, num pequenino mas acolhedor café que a companheira Olinda nos leu de forma exemplar, um texto de Miguel Torga, patrono dos montanhistas que amam a natureza no seu estado puro. Com as baterias carregadas e respirando o mais puro ar do planalto barrosão, abandonamos por pouco tempo o histórico caminho, devido ao espelho de água da barragem do Alto Cávado, fazendo a travessia pela ponte dos galegos.Após algumas tentativas, os satélites no céu e o gps na terra, conduziram-nos à reconstituição do traçado que em certos locais desapareceu completamente e com algumas hesitações é certo, até Cambezes do Rio, através da planáltica lombada deste território barrosão, com a serra do Larouco a testemunhar a nossa caminhada.Por este mesmo caminho arrastou-se o esfarrapado exército do marechal, rendido à capacidade de sofrimento e argúcia da gente simples, humilde e corajosa do norte do país, que se juntou ao general Silveira.Texto: Fernando FontinhaFotos: Jorge Ribeiro

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