Por amor à Ciência

09-09-2020
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Sempre pensei em Bragança como o fim do mundo. Nasci em Lisboa e desde os bancos da escola que observava os mapas das estradas, fazia as contas e chegava sempre à mesma conclusão: por mais voltas que desse, Bragança era a cidade de Portugal Continental que estava mais longe da capital, escondida no extremo nordeste de Trás-os-Montes, a 500 km de distância. Os anos passaram e fui conhecendo Vila Real, Chaves, Peso da Régua, Miranda do Douro, Torre de Moncorvo, Mirandela, as terras quentes do Douro. Mas Bragança ficou sempre fora das minhas viagens por terras transmontanas, como se continuasse a ser o fim do mundo. Mesmo depois de ter estado várias vezes em cidades tão longínquas como Tóquio, Hong Kong ou Macau.

Uma conferência sobre o clima no Instituto Politécnico de Bragança levou-me pela primeira vez à cidade esquecida em 2010, quando começaram as obras de extensão da autoestrada Porto-Amarante (A4) até à serra do Marão. Foi uma visita rápida, de ida e volta no mesmo dia, que me deixou apenas uma imagem forte: a antiga estação ferroviária transformada em central de camionagem. A imagem era paradoxal. Por um lado, a transformação tinha sido muito feliz a preservar a memória dos caminhos de ferro. Mas, ao mesmo tempo, era chocante ver como a ferrovia, um transporte público confortável e amigo do ambiente, fora definitivamente abandonada a favor do asfalto.

A história de Isabel Ferreira, 43 anos, afastou de vez da minha cabeça a ideia de Bragança como o fim do mundo. A cientista tem demonstrado que é possível ter uma carreira brilhante, de projeção mundial, numa cidade portuguesa do interior profundo e num instituto politécnico. Mesmo tendo toda a sua formação académica feita em Portugal. E há ainda estigmas em relação à região e preconceitos na cabeça de muita gente que parecem cada vez mais desfasados desta realidade emergente.

A professora coordenadora da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) licenciou-se em Bioquímica na Universidade do Porto, fez o mestrado e o doutoramento em Química na Universidade do Minho, mas na hora de tomar decisões sobre o local onde ia começar a sua carreira resolveu regressar a Bragança, apesar das propostas tentadoras daquelas universidades. “Sou uma pessoa de afetos, tenho a minha família em Bragança, uma cidade que eu amo, uma cidade onde cresci e fui muito feliz até ir para a faculdade”, confessa a cientista, que nasceu em Nampula, Moçambique. Por isso, apostou tudo no IPB, que tem hoje cinco escolas superiores e 7000 alunos.

Isabel Ferreira foi considerada pelo conhecido ranking internacional da Thomson Reuters uma das cientistas mais influentes do mundo na área das ciências agrárias em 2015 e em 2016. E pertence ao grupo de seis investigadores radicados em Portugal cujos artigos científicos foram os mais citados do mundo no ano passado, também segundo outro ranking da Thomson Reuters. Este ranking representa somente 1% de tudo o que se publica no mundo, e envolve apenas 3000 cientistas. Curiosamente, dos seis portugueses, dois são do IPB: Isabel Ferreira e Lilian Barros.

Ao mesmo tempo, a cientista é editora associada da “Food & Function”, revista da Royal Society of Chemistry (Reino Unido) considerada das mais relevantes a nível mundial na área agroalimentar, o que a leva a viajar com frequência para Londres. É também avaliadora de projetos de investigação e programas doutorais internacionais da UE e das fundações de ciência de 11 países da Europa, América do Sul e África, incluindo Portugal. Na Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) portuguesa tem sido ainda avaliadora de bolsas de doutoramento e de pós-doutoramento, bem como coordenadora do painel de Tecnologias Agrárias e Alimentares.

“Fazer ciência na minha região”

O segredo para Isabel Ferreira alcançar este sucesso parece aparentemente simples. “Tudo o que consegui deve-se à minha determinação em fazer ciência na minha região”, conta a investigadora ao Expresso. “Escolhi o Instituto Politécnico de Bragança e sempre encontrei aqui todo o apoio institucional, incentivo para uma dedicação à ciência e suporte em infraestruturas adequadas para fazer o meu trabalho.” Mas há mais: “Tive a facilidade de construir uma equipa de investigação muito jovem, dinâmica e empenhada, que quis ficar em Bragança e conseguiu afirmar-se a nível internacional.”

A paixão com que se envolveu no seu trabalho e a determinação em desenvolver a ciência na sua região foi sustentada por uma visão estratégica que acreditava que Bragança só podia ultrapassar o ciclo fatal do isolamento, do despovoamento e da desertificação se valorizasse os seus recursos naturais através do conhecimento gerado localmente. E bastou olhar à sua volta, bem perto da cidade, no Parque Natural de Montesinho. Tudo começou por uma tarefa intensa e sistemática: o estudo dos cogumelos e das plantas da serra de Montesinho. Isabel Ferreira e a sua equipa resolveram fazer a caracterização química e bioquímica de plantas com flor como a camomila ou a perpétua roxa e de ervas aromáticas como o manjericão, os coentros ou a cidreira. “Já estudámos 200 espécies diferentes de plantas e 160 de cogumelos”, revela a investigadora com um certo orgulho. A biodiversidade do Parque Natural é muito rica. Como salienta o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, além da flora muito variada, “80% das espécies animais existentes em Portugal encontram-se aqui no Parque Natural”.

Isabel Ferreira chegou então à conclusão de que a sua equipa detinha “um conhecimento único sobre estas espécies vegetais e os seus compostos químicos, que podiam ter valor acrescentado para a indústria alimentar”. E estabeleceu um objetivo ambicioso: obter substâncias naturais que pudessem substituir os aditivos artificiais e sintéticos usados nesta indústria, “que têm problemas de toxicidade e são alergénicos”. A professora do IPB já publicou mais de 400 artigos em revistas científicas de referência internacional. “Fomos dos primeiros a escrever sobre as diferenças da legislação entre a UE e os EUA relativamente aos aditivos usados na indústria alimentar, temos publicado muitos artigos sobre aditivos naturais e somos considerados a nível internacional especialistas em corantes e conservantes naturais.”

Toda esta dinâmica de produção científica levou o Instituto Politécnico de Bragança a registar a marca “ValorNatural” e a submeter um projeto com o mesmo nome à Agência Nacional de Inovação, instituição pública que promove a valorização do conhecimento através da colaboração entre empresas e centros de investigação. Apoiado pelo programa europeu COMPETE (Programa Operacional Competitividade e Internacionalização), o projeto ValorNatural aposta na valorização de recursos naturais através da extração de ingredientes de elevado valor acrescentado para aplicações na indústria alimentar.

“O nosso objetivo é promover a produção sustentada de fontes naturais ricas em compostos de interesse para a indústria e a utilização de biorresíduos para a produção de bioativos, corantes, conservantes e aromas naturais”, explica Isabel Ferreira. O projeto pretende também desenvolver metodologias e equipamentos de extração e refinação de todos estes compostos que sejam mais eficientes, amigos do ambiente e inovadores. E envolve unidades de investigação do Politécnico de Bragança e da Universidade do Porto, o Instituto de Soldadura e Qualidade, o Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos e 13 empresas produtoras de plantas e cogumelos ou utilizadoras de aditivos alimentares. O ValorNatural prevê ainda a transferência de resultados para a indústria do calçado.

Montesinho, montanha de investigação

A paisagem da serra de Montesinho é grandiosa e deslumbrante. O Sabor é bordejado por choupos e amieiros e os azinhais crescem nas encostas junto ao rio. Mas, como observa o botânico Carlos Aguiar, “o clima aqueceu, porque agora vemos grandes plantações de castanheiro a 1000 metros de altura e de oliveira e amendoeira a 700 metros, o que antes não era possível”. As três culturas estão a deixar as altitudes mais baixas e esta é uma das áreas de estudo do Centro de Investigação de Montanha (CIMO), onde Carlos Aguiar trabalha.

O CIMO fica mesmo à entrada do Campus de Santa Apolónia do Instituto Politécnico de Bragança, junto à Escola Superior Agrária, na zona mais moderna da cidade. Há amplos espaços verdes, campos cultivados com vinha e árvores de fruto, e respira-se um ambiente de serenidade, o ideal para estudar e investigar. Isabel Ferreira transmite essa sensação de serenidade, apesar das responsabilidades que acumula, porque é também coordenadora do centro, o único do género no país e um dos primeiros centros de investigação a ser criado num instituto politécnico. Tem 154 investigadores, dos quais 71 são doutorados, com formações académicas muito diversificadas. Nos seus laboratórios modernos e bem equipados estudam-se e valorizam-se os recursos naturais da região, a floresta, os ecossistemas agrícolas e os produtos locais de montanha, com o objetivo de desenvolver sistemas sustentáveis em termos económicos, sociais e ambientais. Ou seja, de criar oportunidades de desenvolvimento e fontes de rendimento para as áreas de montanha como a região da serra de Montesinho.

“Conseguimos fazer ciência com interesse regional, mas que ganhou dimensão internacional pelas metodologias de extração e de identificação de substâncias naturais das plantas e cogumelos que criámos, e pela forma como conseguimos encontrar aplicações, nomeadamente na indústria alimentar”, constata Isabel Ferreira. “Por sermos muito seguidos a nível internacional temos artigos publicados pela nossa equipa que são dos mais citados nas revistas científicas e os nossos pares estão sempre atentos ao que fazemos.”

Quando publicam artigos científicos mais críticos são também contactados por multinacionais, nomeadamente da área dos corantes e conservantes. O CIMO trabalha ainda com empresas portuguesas onde percorre toda a cadeia alimentar, deste as empresas produtoras de matérias-primas às utilizadoras dos ingredientes que desenvolve. “Somos relevantes à escala mundial”, sublinha a coordenadora do centro com grande convicção e alguma vaidade, “e temos imensas colaborações internacionais em todos os continentes, o que implica o intercâmbio de investigadores”. É por isso que o Expresso encontrou sempre cientistas estrangeiros nos laboratórios do CIMO que visitou.

“A chave para este sucesso é a nossa dedicação constante e o facto de estarmos focalizados no desenvolvimento da ciência.” Para Isabel Ferreira, “o importante é ter uma equipa de investigação consolidada, atrair jovens doutorados e fixá-los aqui”. Com efeito, “muitos dos cientistas que trabalham na minha equipa formaram-se no Instituto Politécnico de Bragança” (IPB).

Sempre pensei em Bragança como o fim do mundo. Nasci em Lisboa e desde os bancos da escola que observava os mapas das estradas, fazia as contas e chegava sempre à mesma conclusão: por mais voltas que desse, Bragança era a cidade de Portugal Continental que estava mais longe da capital, escondida no extremo nordeste de Trás-os-Montes, a 500 km de distância. Os anos passaram e fui conhecendo Vila Real, Chaves, Peso da Régua, Miranda do Douro, Torre de Moncorvo, Mirandela, as terras quentes do Douro. Mas Bragança ficou sempre fora das minhas viagens por terras transmontanas, como se continuasse a ser o fim do mundo. Mesmo depois de ter estado várias vezes em cidades tão longínquas como Tóquio, Hong Kong ou Macau.

Uma conferência sobre o clima no Instituto Politécnico de Bragança levou-me pela primeira vez à cidade esquecida em 2010, quando começaram as obras de extensão da autoestrada Porto-Amarante (A4) até à serra do Marão. Foi uma visita rápida, de ida e volta no mesmo dia, que me deixou apenas uma imagem forte: a antiga estação ferroviária transformada em central de camionagem. A imagem era paradoxal. Por um lado, a transformação tinha sido muito feliz a preservar a memória dos caminhos de ferro. Mas, ao mesmo tempo, era chocante ver como a ferrovia, um transporte público confortável e amigo do ambiente, fora definitivamente abandonada a favor do asfalto.

A história de Isabel Ferreira, 43 anos, afastou de vez da minha cabeça a ideia de Bragança como o fim do mundo. A cientista tem demonstrado que é possível ter uma carreira brilhante, de projeção mundial, numa cidade portuguesa do interior profundo e num instituto politécnico. Mesmo tendo toda a sua formação académica feita em Portugal. E há ainda estigmas em relação à região e preconceitos na cabeça de muita gente que parecem cada vez mais desfasados desta realidade emergente.

A professora coordenadora da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) licenciou-se em Bioquímica na Universidade do Porto, fez o mestrado e o doutoramento em Química na Universidade do Minho, mas na hora de tomar decisões sobre o local onde ia começar a sua carreira resolveu regressar a Bragança, apesar das propostas tentadoras daquelas universidades. “Sou uma pessoa de afetos, tenho a minha família em Bragança, uma cidade que eu amo, uma cidade onde cresci e fui muito feliz até ir para a faculdade”, confessa a cientista, que nasceu em Nampula, Moçambique. Por isso, apostou tudo no IPB, que tem hoje cinco escolas superiores e 7000 alunos.

Isabel Ferreira foi considerada pelo conhecido ranking internacional da Thomson Reuters uma das cientistas mais influentes do mundo na área das ciências agrárias em 2015 e em 2016. E pertence ao grupo de seis investigadores radicados em Portugal cujos artigos científicos foram os mais citados do mundo no ano passado, também segundo outro ranking da Thomson Reuters. Este ranking representa somente 1% de tudo o que se publica no mundo, e envolve apenas 3000 cientistas. Curiosamente, dos seis portugueses, dois são do IPB: Isabel Ferreira e Lilian Barros.

Ao mesmo tempo, a cientista é editora associada da “Food & Function”, revista da Royal Society of Chemistry (Reino Unido) considerada das mais relevantes a nível mundial na área agroalimentar, o que a leva a viajar com frequência para Londres. É também avaliadora de projetos de investigação e programas doutorais internacionais da UE e das fundações de ciência de 11 países da Europa, América do Sul e África, incluindo Portugal. Na Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) portuguesa tem sido ainda avaliadora de bolsas de doutoramento e de pós-doutoramento, bem como coordenadora do painel de Tecnologias Agrárias e Alimentares.

“Fazer ciência na minha região”

O segredo para Isabel Ferreira alcançar este sucesso parece aparentemente simples. “Tudo o que consegui deve-se à minha determinação em fazer ciência na minha região”, conta a investigadora ao Expresso. “Escolhi o Instituto Politécnico de Bragança e sempre encontrei aqui todo o apoio institucional, incentivo para uma dedicação à ciência e suporte em infraestruturas adequadas para fazer o meu trabalho.” Mas há mais: “Tive a facilidade de construir uma equipa de investigação muito jovem, dinâmica e empenhada, que quis ficar em Bragança e conseguiu afirmar-se a nível internacional.”

A paixão com que se envolveu no seu trabalho e a determinação em desenvolver a ciência na sua região foi sustentada por uma visão estratégica que acreditava que Bragança só podia ultrapassar o ciclo fatal do isolamento, do despovoamento e da desertificação se valorizasse os seus recursos naturais através do conhecimento gerado localmente. E bastou olhar à sua volta, bem perto da cidade, no Parque Natural de Montesinho. Tudo começou por uma tarefa intensa e sistemática: o estudo dos cogumelos e das plantas da serra de Montesinho. Isabel Ferreira e a sua equipa resolveram fazer a caracterização química e bioquímica de plantas com flor como a camomila ou a perpétua roxa e de ervas aromáticas como o manjericão, os coentros ou a cidreira. “Já estudámos 200 espécies diferentes de plantas e 160 de cogumelos”, revela a investigadora com um certo orgulho. A biodiversidade do Parque Natural é muito rica. Como salienta o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, além da flora muito variada, “80% das espécies animais existentes em Portugal encontram-se aqui no Parque Natural”.

Isabel Ferreira chegou então à conclusão de que a sua equipa detinha “um conhecimento único sobre estas espécies vegetais e os seus compostos químicos, que podiam ter valor acrescentado para a indústria alimentar”. E estabeleceu um objetivo ambicioso: obter substâncias naturais que pudessem substituir os aditivos artificiais e sintéticos usados nesta indústria, “que têm problemas de toxicidade e são alergénicos”. A professora do IPB já publicou mais de 400 artigos em revistas científicas de referência internacional. “Fomos dos primeiros a escrever sobre as diferenças da legislação entre a UE e os EUA relativamente aos aditivos usados na indústria alimentar, temos publicado muitos artigos sobre aditivos naturais e somos considerados a nível internacional especialistas em corantes e conservantes naturais.”

Toda esta dinâmica de produção científica levou o Instituto Politécnico de Bragança a registar a marca “ValorNatural” e a submeter um projeto com o mesmo nome à Agência Nacional de Inovação, instituição pública que promove a valorização do conhecimento através da colaboração entre empresas e centros de investigação. Apoiado pelo programa europeu COMPETE (Programa Operacional Competitividade e Internacionalização), o projeto ValorNatural aposta na valorização de recursos naturais através da extração de ingredientes de elevado valor acrescentado para aplicações na indústria alimentar.

“O nosso objetivo é promover a produção sustentada de fontes naturais ricas em compostos de interesse para a indústria e a utilização de biorresíduos para a produção de bioativos, corantes, conservantes e aromas naturais”, explica Isabel Ferreira. O projeto pretende também desenvolver metodologias e equipamentos de extração e refinação de todos estes compostos que sejam mais eficientes, amigos do ambiente e inovadores. E envolve unidades de investigação do Politécnico de Bragança e da Universidade do Porto, o Instituto de Soldadura e Qualidade, o Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos e 13 empresas produtoras de plantas e cogumelos ou utilizadoras de aditivos alimentares. O ValorNatural prevê ainda a transferência de resultados para a indústria do calçado.

Montesinho, montanha de investigação

A paisagem da serra de Montesinho é grandiosa e deslumbrante. O Sabor é bordejado por choupos e amieiros e os azinhais crescem nas encostas junto ao rio. Mas, como observa o botânico Carlos Aguiar, “o clima aqueceu, porque agora vemos grandes plantações de castanheiro a 1000 metros de altura e de oliveira e amendoeira a 700 metros, o que antes não era possível”. As três culturas estão a deixar as altitudes mais baixas e esta é uma das áreas de estudo do Centro de Investigação de Montanha (CIMO), onde Carlos Aguiar trabalha.

O CIMO fica mesmo à entrada do Campus de Santa Apolónia do Instituto Politécnico de Bragança, junto à Escola Superior Agrária, na zona mais moderna da cidade. Há amplos espaços verdes, campos cultivados com vinha e árvores de fruto, e respira-se um ambiente de serenidade, o ideal para estudar e investigar. Isabel Ferreira transmite essa sensação de serenidade, apesar das responsabilidades que acumula, porque é também coordenadora do centro, o único do género no país e um dos primeiros centros de investigação a ser criado num instituto politécnico. Tem 154 investigadores, dos quais 71 são doutorados, com formações académicas muito diversificadas. Nos seus laboratórios modernos e bem equipados estudam-se e valorizam-se os recursos naturais da região, a floresta, os ecossistemas agrícolas e os produtos locais de montanha, com o objetivo de desenvolver sistemas sustentáveis em termos económicos, sociais e ambientais. Ou seja, de criar oportunidades de desenvolvimento e fontes de rendimento para as áreas de montanha como a região da serra de Montesinho.

“Conseguimos fazer ciência com interesse regional, mas que ganhou dimensão internacional pelas metodologias de extração e de identificação de substâncias naturais das plantas e cogumelos que criámos, e pela forma como conseguimos encontrar aplicações, nomeadamente na indústria alimentar”, constata Isabel Ferreira. “Por sermos muito seguidos a nível internacional temos artigos publicados pela nossa equipa que são dos mais citados nas revistas científicas e os nossos pares estão sempre atentos ao que fazemos.”

Quando publicam artigos científicos mais críticos são também contactados por multinacionais, nomeadamente da área dos corantes e conservantes. O CIMO trabalha ainda com empresas portuguesas onde percorre toda a cadeia alimentar, deste as empresas produtoras de matérias-primas às utilizadoras dos ingredientes que desenvolve. “Somos relevantes à escala mundial”, sublinha a coordenadora do centro com grande convicção e alguma vaidade, “e temos imensas colaborações internacionais em todos os continentes, o que implica o intercâmbio de investigadores”. É por isso que o Expresso encontrou sempre cientistas estrangeiros nos laboratórios do CIMO que visitou.

“A chave para este sucesso é a nossa dedicação constante e o facto de estarmos focalizados no desenvolvimento da ciência.” Para Isabel Ferreira, “o importante é ter uma equipa de investigação consolidada, atrair jovens doutorados e fixá-los aqui”. Com efeito, “muitos dos cientistas que trabalham na minha equipa formaram-se no Instituto Politécnico de Bragança” (IPB).

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