A primeira governante cega diz que vivemos uma ‘cegueira branca’. Como a de Saramago

05-01-2020
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Para ouvir os podcasts do Expresso nos seus dispositivos móveis e no computador, copie e adicione o seguinte URL à sua aplicação de podcasts: http://bit.ly/1TnvM3J

Logo no arranque deste episódio Ana Sofia Antunes, a primeira governante deficiente visual em Portugal, afirma que a nossa sociedade está contaminada por uma certa ‘cegueira branca’, como a descrita por José Saramago em “Ensaio Sobre a Cegueira”, uma maleita de vistas curtas que nos impede de perceber os outros [diferentes de nós]. Ana Sofia, de 34 anos, é adepta da expressão ‘nada sobre nós sem nós’ e esteve prestes a ser eleita deputada nas últimas legislativas. Colocada em 19º lugar nas listas do PS pelo círculo de Lisboa, foi por um triz que não entrou na Assembleia dado que foram apenas eleitos 18.

Agora no Governo, é o rosto e a voz de todos os portugueses com deficiência em Portugal. Cidadãos que veem nela uma esperança de mudança. "O difícil é gerir as expectativas dos outros." Desde o iníco do ano tem andado pelo país a perceber o que deve ser alterado para que as pessoas deficientes tenham as mesmas oportunidades de todos os cidadãos, como o acesso ao trabalho - um dos seus cavalos de batalha.

O seu caminho enquanto ativista pelos direitos dos deficientes é já longo. Formada em advocacia, trabalhou durante seis anos como assessora jurídica na Câmara de Lisboa (assessorou o vereador da Mobilidade na autarquia, Nunes da Silva), e por dois anos foi Presidente da ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíoples) e provedora do cliente na EMEL (Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa).

Nesta conversa, Ana Sofia esclarece a razão por que detesta a expressão invisual. “É uma palavra que não significa absolutamente nada. É o contrário de visual. É uma expressão que fomos inventando porque achamos que é menos grosseira, menos seca. E eu não acho que haja nada de ofensivo ou duro em dizermos que uma pessoa é cega ou deficiente visual. Porque é essa a característica que marca aquela pessoa. Não temos que ter medo das palavras. As palavras dizem apenas aquilo que dizem.”

Sobre o título polémico que foi capa do Correio da Manhã onde se lia “Costa chama cega e cigano para o Governo” e que gerou 236 queixas à entidade reguladora para a comunicação social, Ana Sofia comentou: “Não lhe dei muita importância na altura. Embora me tenha agradado de alguma forma ver que havia um conjunto de população que estava atenta. Não é pelo facto de me chamarem cega, que é a palavra mais adequada. Lido perfeitamente bem com ela. Agora, enquanto pessoa que vem para o Governo assumir uma função, ser valorizada apenas por essa característica acho pouco... E fizeram [o mesmo] a outros colegas. O Carlos Miguel [Secretário de Estado das Autarquias Locais], daquilo que conheço, tem todo o orgulho em ter ascendência cigana. [Mas] ele não é apenas um cigano que vem para o governo. E digo o mesmo sobre o que disseram da ministra da Justiça [Francisca Van Dunem – a primeira mulher negra a chegar a ministra]. Acho uma palermice!”

Nos tempos de infância a secretária de Estado conta que era Maria rapaz, uma menina destemida e alegre que apesar de não ver, corria como as outras crianças, fazia tropelias e até andava de bicicleta. “Claro que caía muitas vezes de bicicleta, era uma condição da situação em concreto.”

Mas na escola era boa aluna. Com notas de excelência. “Não me lembro sequer de estudar em casa. Era daquelas alunas que apanhava no ar [a matéria]. Repare que quem tem uma deficiência visual está condicionado nos materiais que tem e nos livros que recebe em braille. Portanto muito do que eu ouvia ia retendo. Conseguia fazer asneiras na sala de aula e dar atenção [ao professor] ao mesmo tempo. Pelo menos as notas que eram muito boas diziam isso.”

Neste podcast poderá conhecer os gostos musicais de Ana Sofia, que vão de um fado mais moderno ao pop e ao rock. À pergunta se se imagina no futuro a aceitar ou concorrer a outros cargos com mais destaque no Governo responde: “Não sei. Talvez. Para já estou muito focada e condicionada por aquilo que estou a fazer e pelo muito que tenho que fazer neste mandato. Mas não digo que não. Nunca fui de virar costas a desafios. Portanto, porque não?”

Mas há muito mais para ouvir e descobrir neste episódio: para o fazer, basta clicar na seta que se encontra no topo deste texto ou descarregar no Soundcloud.

O programa “A Beleza das Pequenas Coisas” conta com música dos Budda Power Blues.

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Logo no arranque deste episódio Ana Sofia Antunes, a primeira governante deficiente visual em Portugal, afirma que a nossa sociedade está contaminada por uma certa ‘cegueira branca’, como a descrita por José Saramago em “Ensaio Sobre a Cegueira”, uma maleita de vistas curtas que nos impede de perceber os outros [diferentes de nós]. Ana Sofia, de 34 anos, é adepta da expressão ‘nada sobre nós sem nós’ e esteve prestes a ser eleita deputada nas últimas legislativas. Colocada em 19º lugar nas listas do PS pelo círculo de Lisboa, foi por um triz que não entrou na Assembleia dado que foram apenas eleitos 18.

Agora no Governo, é o rosto e a voz de todos os portugueses com deficiência em Portugal. Cidadãos que veem nela uma esperança de mudança. "O difícil é gerir as expectativas dos outros." Desde o iníco do ano tem andado pelo país a perceber o que deve ser alterado para que as pessoas deficientes tenham as mesmas oportunidades de todos os cidadãos, como o acesso ao trabalho - um dos seus cavalos de batalha.

O seu caminho enquanto ativista pelos direitos dos deficientes é já longo. Formada em advocacia, trabalhou durante seis anos como assessora jurídica na Câmara de Lisboa (assessorou o vereador da Mobilidade na autarquia, Nunes da Silva), e por dois anos foi Presidente da ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíoples) e provedora do cliente na EMEL (Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa).

Nesta conversa, Ana Sofia esclarece a razão por que detesta a expressão invisual. “É uma palavra que não significa absolutamente nada. É o contrário de visual. É uma expressão que fomos inventando porque achamos que é menos grosseira, menos seca. E eu não acho que haja nada de ofensivo ou duro em dizermos que uma pessoa é cega ou deficiente visual. Porque é essa a característica que marca aquela pessoa. Não temos que ter medo das palavras. As palavras dizem apenas aquilo que dizem.”

Sobre o título polémico que foi capa do Correio da Manhã onde se lia “Costa chama cega e cigano para o Governo” e que gerou 236 queixas à entidade reguladora para a comunicação social, Ana Sofia comentou: “Não lhe dei muita importância na altura. Embora me tenha agradado de alguma forma ver que havia um conjunto de população que estava atenta. Não é pelo facto de me chamarem cega, que é a palavra mais adequada. Lido perfeitamente bem com ela. Agora, enquanto pessoa que vem para o Governo assumir uma função, ser valorizada apenas por essa característica acho pouco... E fizeram [o mesmo] a outros colegas. O Carlos Miguel [Secretário de Estado das Autarquias Locais], daquilo que conheço, tem todo o orgulho em ter ascendência cigana. [Mas] ele não é apenas um cigano que vem para o governo. E digo o mesmo sobre o que disseram da ministra da Justiça [Francisca Van Dunem – a primeira mulher negra a chegar a ministra]. Acho uma palermice!”

Nos tempos de infância a secretária de Estado conta que era Maria rapaz, uma menina destemida e alegre que apesar de não ver, corria como as outras crianças, fazia tropelias e até andava de bicicleta. “Claro que caía muitas vezes de bicicleta, era uma condição da situação em concreto.”

Mas na escola era boa aluna. Com notas de excelência. “Não me lembro sequer de estudar em casa. Era daquelas alunas que apanhava no ar [a matéria]. Repare que quem tem uma deficiência visual está condicionado nos materiais que tem e nos livros que recebe em braille. Portanto muito do que eu ouvia ia retendo. Conseguia fazer asneiras na sala de aula e dar atenção [ao professor] ao mesmo tempo. Pelo menos as notas que eram muito boas diziam isso.”

Neste podcast poderá conhecer os gostos musicais de Ana Sofia, que vão de um fado mais moderno ao pop e ao rock. À pergunta se se imagina no futuro a aceitar ou concorrer a outros cargos com mais destaque no Governo responde: “Não sei. Talvez. Para já estou muito focada e condicionada por aquilo que estou a fazer e pelo muito que tenho que fazer neste mandato. Mas não digo que não. Nunca fui de virar costas a desafios. Portanto, porque não?”

Mas há muito mais para ouvir e descobrir neste episódio: para o fazer, basta clicar na seta que se encontra no topo deste texto ou descarregar no Soundcloud.

O programa “A Beleza das Pequenas Coisas” conta com música dos Budda Power Blues.

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