"É uma vergonha e uma idiotice confundir integração com assimilação"

09-11-2020
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"Quando professores doutores veem o mundo como o meu e o dos outros, como inconciliáveis, algo está muito mal", diz o secretário de Estado das Autarquias locais

Carlos Miguel, advogado e político de etnia cigana, é o atual secretário de estado das autarquias © Gerardo Santos / Global Imagens)

Foi uma nota prévia para sublinhar que faz todo o sentido nos dias de hoje discutir a discriminação e o racismo. "Quando professores doutores veem o mundo como o meu e o dos outros, como inconciliáveis, algo está muito mal", alertou esta terça-feira o secretário de Estado das Autarquias Locais, Carlos Miguel, numa intervenção no âmbito da conferência "Racismo, xenofobia e discriminação étnico-racial em Portugal", que está a decorrer no Parlamento.

Sem nunca referir o nome, mas reportando-se claramente ao artigo da historiadora Maria de Fátima Bonifácio, publicado no último fim de semana no jornal Público, Carlos Miguel foi perentório: "É vergonhoso aquilo que li". "Para mim, enquanto português cigano, é uma vergonha, uma idiotice, confundir assimilação com integração", afirmou, sublinhando que não se tratou de uma opinião pouco pensada, mas de "um artigo pensado, revisto e publicado".

"O país tem de encontrar uma política de habitação para gente carenciada, e gente carenciada não é a classe média, são pessoas desfavorecidas"

Fechada a nota prévia, secretário de Estado das Autarquias Locais elegeu a habitação como um problema crucial. E, neste ponto, o Governo de que faz parte não ficou sem reparos. "Sem habitação não há integração e sem integração não há inclusão. O país tem de encontrar uma política de habitação para gente carenciada, e gente carenciada não é a classe média, são pessoas desfavorecidas", afirmou o secretário de Estado, citando dados que apontam para e existência de "26 mil famílias a viver em condições precárias" em Portugal, sendo que "46% da habitação social é ocupada por ciganos".

Referindo-se ao 1º Direito, um programa lançado pelo Governo para fazer face a estas carências habitacionais, Carlos Miguel defendeu que este programa "tem de ser muito afinado" - não deu resposta às consequências de um ciclone que, há cerca de um ano, destruiu um acampamento em Faro, como não deu, mais recentemente, aos desalojados por um incêndio em Loures. Em ambos os casos, a resposta foi municipal, sublinhou, mas acrescentando que, em Faro, a resposta passou por "dar madeiras e chapas para reconstruir as barracas".

"É preciso uma política nacional", insistiu o secretário de Estado das Autarquias, sublinhando que a maioria dos municípios portugueses não tem capacidade - ou sensibilidade - para dar resposta aos problemas de habitação das comunidades mais desfavorecidas.

Carlos Miguel referiu-se ainda à não inclusão de uma pergunta sobre a origem étnico-racial nos Censos de 2021. "É muito importante saber quantos somos, como somos, onde estamos, como vivemos nós, os ciganos.Um Estado que não responde a estas questões... é uma discriminação".

"Quando professores doutores veem o mundo como o meu e o dos outros, como inconciliáveis, algo está muito mal", diz o secretário de Estado das Autarquias locais

Carlos Miguel, advogado e político de etnia cigana, é o atual secretário de estado das autarquias © Gerardo Santos / Global Imagens)

Foi uma nota prévia para sublinhar que faz todo o sentido nos dias de hoje discutir a discriminação e o racismo. "Quando professores doutores veem o mundo como o meu e o dos outros, como inconciliáveis, algo está muito mal", alertou esta terça-feira o secretário de Estado das Autarquias Locais, Carlos Miguel, numa intervenção no âmbito da conferência "Racismo, xenofobia e discriminação étnico-racial em Portugal", que está a decorrer no Parlamento.

Sem nunca referir o nome, mas reportando-se claramente ao artigo da historiadora Maria de Fátima Bonifácio, publicado no último fim de semana no jornal Público, Carlos Miguel foi perentório: "É vergonhoso aquilo que li". "Para mim, enquanto português cigano, é uma vergonha, uma idiotice, confundir assimilação com integração", afirmou, sublinhando que não se tratou de uma opinião pouco pensada, mas de "um artigo pensado, revisto e publicado".

"O país tem de encontrar uma política de habitação para gente carenciada, e gente carenciada não é a classe média, são pessoas desfavorecidas"

Fechada a nota prévia, secretário de Estado das Autarquias Locais elegeu a habitação como um problema crucial. E, neste ponto, o Governo de que faz parte não ficou sem reparos. "Sem habitação não há integração e sem integração não há inclusão. O país tem de encontrar uma política de habitação para gente carenciada, e gente carenciada não é a classe média, são pessoas desfavorecidas", afirmou o secretário de Estado, citando dados que apontam para e existência de "26 mil famílias a viver em condições precárias" em Portugal, sendo que "46% da habitação social é ocupada por ciganos".

Referindo-se ao 1º Direito, um programa lançado pelo Governo para fazer face a estas carências habitacionais, Carlos Miguel defendeu que este programa "tem de ser muito afinado" - não deu resposta às consequências de um ciclone que, há cerca de um ano, destruiu um acampamento em Faro, como não deu, mais recentemente, aos desalojados por um incêndio em Loures. Em ambos os casos, a resposta foi municipal, sublinhou, mas acrescentando que, em Faro, a resposta passou por "dar madeiras e chapas para reconstruir as barracas".

"É preciso uma política nacional", insistiu o secretário de Estado das Autarquias, sublinhando que a maioria dos municípios portugueses não tem capacidade - ou sensibilidade - para dar resposta aos problemas de habitação das comunidades mais desfavorecidas.

Carlos Miguel referiu-se ainda à não inclusão de uma pergunta sobre a origem étnico-racial nos Censos de 2021. "É muito importante saber quantos somos, como somos, onde estamos, como vivemos nós, os ciganos.Um Estado que não responde a estas questões... é uma discriminação".

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