Governo mostra força a pensar nas legislativas

04-09-2020
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Texto Miguel Santos Carrapatoso Foto Pedro Nunes

Desta vez, não havia margem para erros. Uma repetição do filme a que o país assistiu em abril, agora à porta das legislativas, seria politicamente desastrosa. António Costa sabia-o e a resposta à greve dos motoristas foi preparada ao milímetro. Tanto que, ainda antes de o Governo se sentar à mesa com sindicatos e patrões, já o plano de ação estava mais do que fechado. Há pelo menos dois meses que o exército preparava militares para conduzirem camiões. A PSP e a GNR estavam há muito de sobreaviso e a receber formação. Os departamentos jurídicos e as direções-gerais dos sectores mais sensíveis já estudavam em conjunto até onde deviam e podiam ir nos serviços mínimos. E o parecer pedido à Procuradoria-Geral da República (PGR), que considerou admissível o recurso à fiscalização preventiva, foi o xeque ao rei que o Governo não esperava: apesar de nunca ter estado nos planos, o PS ganhou a legitimidade para esvaziar à nascença, e se assim o entender, esta paralisação.

O plano foi gizado pelo núcleo duro de António Costa a partir de uma forte convicção: esta greve conta com grande oposição da generalidade dos portugueses. O respaldo de Marcelo Rebelo de Sousa trouxe ainda ainda mais conforto. Uma resposta musculada do Governo à greve será largamente compreendida. Mais: será largamente celebrada. Logo, e ainda que ninguém no Executivo o assuma abertamente, será, espera-se, capitalizada em votos. Costa joga com tudo. E joga a pensar nas eleições.

Dividir para reinar

Apesar de tudo, o Expresso sabe que o Governo chegou a acreditar que a greve ia ser desconvocada. No início da semana, Pedro Pardal Henriques, representante do Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), terá mesmo dado sinais nesse sentido, quando admitiu, à mesa das negociações, aceitar que fosse o Governo a desenhar um novo contrato coletivo. O mesmo daria o dito por não dito e faria saber, através da comunicação social, que o sindicato não aceitava aquela solução. Foi a gota de água para o Governo, já agastado com a posição de “pombo correio” a que tinha sido votado pelo sindicato.

“A base de confiança negocial ficou destruída”, nota uma fonte envolvida no processo. Talvez por isso, Pedro Nuno Santos foi escondendo sempre o jogo e nunca deu pistas aos sindicatos sobre a eventual dimensão dos serviços mínimos — que chegam a ser de 100% em alguns casos. Os motoristas acabaram surpreendidos pela determinação do Governo.

Texto Miguel Santos Carrapatoso Foto Pedro Nunes

Desta vez, não havia margem para erros. Uma repetição do filme a que o país assistiu em abril, agora à porta das legislativas, seria politicamente desastrosa. António Costa sabia-o e a resposta à greve dos motoristas foi preparada ao milímetro. Tanto que, ainda antes de o Governo se sentar à mesa com sindicatos e patrões, já o plano de ação estava mais do que fechado. Há pelo menos dois meses que o exército preparava militares para conduzirem camiões. A PSP e a GNR estavam há muito de sobreaviso e a receber formação. Os departamentos jurídicos e as direções-gerais dos sectores mais sensíveis já estudavam em conjunto até onde deviam e podiam ir nos serviços mínimos. E o parecer pedido à Procuradoria-Geral da República (PGR), que considerou admissível o recurso à fiscalização preventiva, foi o xeque ao rei que o Governo não esperava: apesar de nunca ter estado nos planos, o PS ganhou a legitimidade para esvaziar à nascença, e se assim o entender, esta paralisação.

O plano foi gizado pelo núcleo duro de António Costa a partir de uma forte convicção: esta greve conta com grande oposição da generalidade dos portugueses. O respaldo de Marcelo Rebelo de Sousa trouxe ainda ainda mais conforto. Uma resposta musculada do Governo à greve será largamente compreendida. Mais: será largamente celebrada. Logo, e ainda que ninguém no Executivo o assuma abertamente, será, espera-se, capitalizada em votos. Costa joga com tudo. E joga a pensar nas eleições.

Dividir para reinar

Apesar de tudo, o Expresso sabe que o Governo chegou a acreditar que a greve ia ser desconvocada. No início da semana, Pedro Pardal Henriques, representante do Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), terá mesmo dado sinais nesse sentido, quando admitiu, à mesa das negociações, aceitar que fosse o Governo a desenhar um novo contrato coletivo. O mesmo daria o dito por não dito e faria saber, através da comunicação social, que o sindicato não aceitava aquela solução. Foi a gota de água para o Governo, já agastado com a posição de “pombo correio” a que tinha sido votado pelo sindicato.

“A base de confiança negocial ficou destruída”, nota uma fonte envolvida no processo. Talvez por isso, Pedro Nuno Santos foi escondendo sempre o jogo e nunca deu pistas aos sindicatos sobre a eventual dimensão dos serviços mínimos — que chegam a ser de 100% em alguns casos. Os motoristas acabaram surpreendidos pela determinação do Governo.

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