Rovisco Duarte diz que não se demitiu por causa de Tancos e nega pressões políticas

16-11-2019
marcar artigo

Cinco dias separaram os anúncios das demissões de Azeredo Lopes, ex-ministro da Defesa, a 12 de outubro de 2018, e Rovisco Duarte, ex-chefe do Estado Maior do Exército, a 17 do mesmo mês. Ambos eram, há mais de um ano, chamados ao Parlamento e mencionados em notícias sobre o furto de armas em Tancos. Mas esta quarta-feira, na comissão parlamentar de inquérito ao caso de Tancos, o ex-CEME surpreendeu os deputados ao deixar uma garantia: "A minha demissão nada teve a ver com o caso de Tancos".

A audição de Rovisco Duarte, que ficou guardada para último lugar na série de audições a militares (ao todo, 18) nesta comissão, era aguardada com expectativa: afinal, foi o homem que esteve aos comandos do Exército quando o caso de Tancos ocorreu, quando as armas foram recuperadas e quando se descobriu a operação que levou à sua recuperação. Foi também o responsável por exonerar cinco responsáveis militares em julho, que depois renomearia passados apenas quinze dias. Um outro general, Faria Meneses (ex-comandante das Forças Terrestres), demitiu-se na sequência das exonerações e chegou a assumir, na comissão, que Rovisco lhe teria admitido estar a sofrer pressões "superiores" para executar as demissões. Por isso, esperavam-se explicações sobre a interferência do poder político neste processo.

Uma interferência que Rovisco negou uma e outra vez. As formas de desmentir foram várias: os generais que se demitiram em protesto (Faria Meneses e Antunes Calçada) foram os culpados por todo o "burburinho" que se gerou; que não "confia" em Faria Meneses e que foi surpreendido pelas informações que este transmitiu aos deputados; que houve, de facto, "pressões de todos os lados, de cima, de baixo e laterais" e até teve "problemas de consciência", mas que não se sentiu pressionado pelo poder político e que Azeredo não soube da decisão de exonerar os responsáveis antes de estar tomada.

Já a sua própria demissão, insistiu, teve apenas a ver com a mudança de ministro, em parte por discordar de novas políticas - nomeadamente sobre a Lei de Programação Militar - e sentir que "a equipa se tinha quebrado" e em parte, admitiu, por "solidariedade para com o ministro": "Não o escondo". Daí, defendeu, a referência que fez a "circunstâncias políticas" na altura.

Tancos, palco de sestas e piqueniques

Rovisco Duarte descreveu um processo em que se sentiu "sozinho" e em que acabou por decidir demitir os generais de forma "pioneira" e, com isso, fazer escola: "Fez-se doutrina à minha custa. Eu quis abanar a instituição!".

Mas os pormenores dessas demissões desconcertaram os deputados. O ex-CEME começou por garantir que "a culpa da imagem de degradação que estava instalada era, objetivamente, da responsabilidade dos comandantes" responsáveis a algum nível por Tancos. E não se coibiu em dar exemplos do que se passava nos paióis, segundo relatos e relatórios que descrevem aquela situação: "Vinte horas sem fazer rondas, militares que iam dormir, havia assadores porque era um campo de férias com piquenique, buracos na vedação - consertar demora uma hora -, telemóveis que não existiam, deficiente ação de comando...".

Sendo assim, perguntaram os deputados, demonstrando alguma perplexidade, porque os renomeou quinze dias depois? "Não eram incompetentes", justificou. Era preciso evitar a contaminação da investigação porque "a experiência indica que nestas investigações a instituição fecha-se sobre si própria". E, para mais, "já tinham aprendido a lição". Os ânimos já estavam "serenados" - e Rovisco já tinha "feito doutrina": "Nunca mais estarão tranquilos a dizer que falta gente e que não se fez a ronda". No processo de exonerações e renomeações, insistiu Rovisco, pressionado pelas bancadas, "sabia perfeitamente onde ia e como ia", mas sentiu "desde o momento do furto uma desorientação total à volta". Diz que sentiu que tinha de agir.

As falhas eram tão evidentes que Rovisco já as conhecia, admitiu, embora não completamente: "Eu sabia que havia deficiências, mas não tinha visitado [as instalações]. Não tinha conhecimento dos relatórios. Não ando a visitar as unidades todas. Olho para Tancos e para aquelas condições e penso: como é que é possível, como é que é preciso o CEME ou dos comandos terrestres terem de intervir? Então se é preciso mudar uma lâmpada…".

PSD quer confronto direto para apurar quem mente

Sobre Faria Meneses, que fez um depoimento contrário em relação à questão das pressões políticas, Rovisco foi duro na resposta: "Tinha sentido uma postura crítica em tudo o que tinha a ver com a tutela desde a minha tomada de posse. Houve casos que fizeram com que eu lhe tivesse retirado a confiança (...) Não tinha confidências com ele". O que o motivava, tal como a Antunes Calçada, disse, eram "motivações pessoais e profissionais". Até porque Faria Meneses o conhece desde 1976, desde os tempos da Academia Militar - "e sabe que sou um osso duro de roer. Tivemos muitos confrontos ao longo da vida", frisou.

As declarações de Rovisco, que disse que voltaria a fazer o mesmo quanto às exonerações (e renomeações) no Exército, mereceram vários reparos e críticas dos deputados. As maiores partiram do social-democrata Carlos Peixoto: "Para terminar, quero dizer que para militar foi hoje, aqui, um excelente político". Não tinha, afinal, terminado: o PSD decidiu ainda contestar a versão "solitária" de Rovisco sobre como tomou estas decisões e vai mesmo requerer que Faria Meneses e Rovisco se confrontem, no Parlamento, tomando como precedente uma audição semelhante que aconteceu na comissão de inquérito ao caso de Camarate.

Cinco dias separaram os anúncios das demissões de Azeredo Lopes, ex-ministro da Defesa, a 12 de outubro de 2018, e Rovisco Duarte, ex-chefe do Estado Maior do Exército, a 17 do mesmo mês. Ambos eram, há mais de um ano, chamados ao Parlamento e mencionados em notícias sobre o furto de armas em Tancos. Mas esta quarta-feira, na comissão parlamentar de inquérito ao caso de Tancos, o ex-CEME surpreendeu os deputados ao deixar uma garantia: "A minha demissão nada teve a ver com o caso de Tancos".

A audição de Rovisco Duarte, que ficou guardada para último lugar na série de audições a militares (ao todo, 18) nesta comissão, era aguardada com expectativa: afinal, foi o homem que esteve aos comandos do Exército quando o caso de Tancos ocorreu, quando as armas foram recuperadas e quando se descobriu a operação que levou à sua recuperação. Foi também o responsável por exonerar cinco responsáveis militares em julho, que depois renomearia passados apenas quinze dias. Um outro general, Faria Meneses (ex-comandante das Forças Terrestres), demitiu-se na sequência das exonerações e chegou a assumir, na comissão, que Rovisco lhe teria admitido estar a sofrer pressões "superiores" para executar as demissões. Por isso, esperavam-se explicações sobre a interferência do poder político neste processo.

Uma interferência que Rovisco negou uma e outra vez. As formas de desmentir foram várias: os generais que se demitiram em protesto (Faria Meneses e Antunes Calçada) foram os culpados por todo o "burburinho" que se gerou; que não "confia" em Faria Meneses e que foi surpreendido pelas informações que este transmitiu aos deputados; que houve, de facto, "pressões de todos os lados, de cima, de baixo e laterais" e até teve "problemas de consciência", mas que não se sentiu pressionado pelo poder político e que Azeredo não soube da decisão de exonerar os responsáveis antes de estar tomada.

Já a sua própria demissão, insistiu, teve apenas a ver com a mudança de ministro, em parte por discordar de novas políticas - nomeadamente sobre a Lei de Programação Militar - e sentir que "a equipa se tinha quebrado" e em parte, admitiu, por "solidariedade para com o ministro": "Não o escondo". Daí, defendeu, a referência que fez a "circunstâncias políticas" na altura.

Tancos, palco de sestas e piqueniques

Rovisco Duarte descreveu um processo em que se sentiu "sozinho" e em que acabou por decidir demitir os generais de forma "pioneira" e, com isso, fazer escola: "Fez-se doutrina à minha custa. Eu quis abanar a instituição!".

Mas os pormenores dessas demissões desconcertaram os deputados. O ex-CEME começou por garantir que "a culpa da imagem de degradação que estava instalada era, objetivamente, da responsabilidade dos comandantes" responsáveis a algum nível por Tancos. E não se coibiu em dar exemplos do que se passava nos paióis, segundo relatos e relatórios que descrevem aquela situação: "Vinte horas sem fazer rondas, militares que iam dormir, havia assadores porque era um campo de férias com piquenique, buracos na vedação - consertar demora uma hora -, telemóveis que não existiam, deficiente ação de comando...".

Sendo assim, perguntaram os deputados, demonstrando alguma perplexidade, porque os renomeou quinze dias depois? "Não eram incompetentes", justificou. Era preciso evitar a contaminação da investigação porque "a experiência indica que nestas investigações a instituição fecha-se sobre si própria". E, para mais, "já tinham aprendido a lição". Os ânimos já estavam "serenados" - e Rovisco já tinha "feito doutrina": "Nunca mais estarão tranquilos a dizer que falta gente e que não se fez a ronda". No processo de exonerações e renomeações, insistiu Rovisco, pressionado pelas bancadas, "sabia perfeitamente onde ia e como ia", mas sentiu "desde o momento do furto uma desorientação total à volta". Diz que sentiu que tinha de agir.

As falhas eram tão evidentes que Rovisco já as conhecia, admitiu, embora não completamente: "Eu sabia que havia deficiências, mas não tinha visitado [as instalações]. Não tinha conhecimento dos relatórios. Não ando a visitar as unidades todas. Olho para Tancos e para aquelas condições e penso: como é que é possível, como é que é preciso o CEME ou dos comandos terrestres terem de intervir? Então se é preciso mudar uma lâmpada…".

PSD quer confronto direto para apurar quem mente

Sobre Faria Meneses, que fez um depoimento contrário em relação à questão das pressões políticas, Rovisco foi duro na resposta: "Tinha sentido uma postura crítica em tudo o que tinha a ver com a tutela desde a minha tomada de posse. Houve casos que fizeram com que eu lhe tivesse retirado a confiança (...) Não tinha confidências com ele". O que o motivava, tal como a Antunes Calçada, disse, eram "motivações pessoais e profissionais". Até porque Faria Meneses o conhece desde 1976, desde os tempos da Academia Militar - "e sabe que sou um osso duro de roer. Tivemos muitos confrontos ao longo da vida", frisou.

As declarações de Rovisco, que disse que voltaria a fazer o mesmo quanto às exonerações (e renomeações) no Exército, mereceram vários reparos e críticas dos deputados. As maiores partiram do social-democrata Carlos Peixoto: "Para terminar, quero dizer que para militar foi hoje, aqui, um excelente político". Não tinha, afinal, terminado: o PSD decidiu ainda contestar a versão "solitária" de Rovisco sobre como tomou estas decisões e vai mesmo requerer que Faria Meneses e Rovisco se confrontem, no Parlamento, tomando como precedente uma audição semelhante que aconteceu na comissão de inquérito ao caso de Camarate.

marcar artigo