Mira Amaral, Rui Rio e patrões da indústria. Estas são as vozes contra o hidrogénio verde

08-08-2020
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A Estratégia Nacional para o Hidrogénio saltou para as luzes da ribalta e está já a assumir um papel de relevo no plano político e económico, tendo sido um dos principais temas a dominar o debate do Estado da Nação. Prova disso é o facto de o líder do PSD, Rui Rio, ter escolhido o tema para confrontar o primeiro-ministro António Costa na sua intervenção inicial no Parlamento, criticando a aposta no hidrogénio verde como um projeto “extremamente perigoso” por se tratar de uma “tecnologia ainda muito atrasada”.

Antes de Rio, já outras vozes se tinham levantado para questionar e apontar o dedo aos planos do Governo para criar em Portugal um novo cluster industrial em torno do hidrogénio. A começar pelo Manifesto para a recuperação do crescimento e estabilização económica pós-Covid19, publicado online e assinado pelas 44 personalidades e especialistas que compõem a Tertúlia Energia, que identifica os 15 erros da Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2). A este coro anti-hidrogénio junta-se também a voz dos patrões da Confederação Empresarial de Portugal, preocupados com os “custos da estratégia nacional para o hidrogénio”.

Mira Amaral e a Tertúlia da Energia: “Hidrogénio custará dobro ou o triplo do gás”

Mira Amaral, ex-ministro, Abel Mateus, ex-presidente da Autoridade da Concorrência, Clemente Pedro Nunes, professor catedrático do Instituto Superior Técnico, Henrique Gomes, ex-secretário de Estado da Energia, Henrique Neto, ex-deputado do PS, José Ribeiro e Castro, ex-líder do CDS, Miguel Lucas, CEO da Oxy Capital e Rui Paiva, CEO da WeDo Technologies, são apenas alguns dos nomes que constam na lista dos 44 signatários do Manifesto para a recuperação do crescimento e estabilização económica pós-Covid19, da Tertúlia Energia, publicado online.

“Apesar de utilizar a energia solar, o hidrogénio custará entre o dobro ou o triplo do gás, pelo que o consumidor final verá a sua fatura do gás subir entre 15 e 30%”, garantem, defendendo que a aposta do Governo é um “erro”.

“Não é competitivo utilizar energia elétrica de origem renovável para produzir hidrogénio verde”, disse Mira Amaral na apresentação do manifesto, acrescentando: “Não estamos contra o hidrogénio, apenas recomendamos ponderação e bom senso”.

De acordo com as suas contas, a produção de o hidrogénio verde custará cinco euros por kg. Soma-se ainda um um custo adicional de cerca de 20 euros por MWh no preço final, já que para produzir hidrogénio seria necessário instalar uma fábrica de dessalinização da água do mar. No final, os preços de produção de eletricidade podem disparar para um valor entre 100 e 200 euros por MWh, defende.

“A Estratégia Nacional para o Hidrogénio mantém as graves consequências do regime da Produção em Regime Especial que apoiou precocemente tecnologias renováveis intermitentes e imaturas, continuando a apostar em tecnologias emergentes e muito arriscadas para armazenar eletricidade à custa dos consumidores”, escrevem os signatários.

Em resposta, Galamba garantiu que “não haverá subsidiação nenhuma de eletricidade” na Estratégia Nacional de Hidrogénio e classificou o manifesto como “anti-hidrogénio, anti-eólicas, anti-solar, anti-Europa e anti-fundos europeus”.

“Este conjunto de personalidades parece desconhecer que a Europa definiu como sua política a obrigatoriedade de descarbonizar. Reduzir as emissões em todos os setores da Economia não é um devaneio do Governo português. O manifesto é contra as eólicas, contra o solar e contra o hidrogénio, as três principais opções energéticas da CE, que permitem, à indústria alcançar metas. Têm de explicar, se repudiam a aposta no hidrogénio, como é que sugerem alcançar as metas”, disse o secretário de Estado em entrevista à SIC, lembrando que a indústria nacional tem de reduzir mais de 40% das emissões até 2030.

Hidrogénio é uma “ideia megalómana”, diz Rui Rio

Depois dos CMEC nas centrais térmicas ou as tarifas feed in nas renováveis, “receio que tenhamos pela frente mais um episódio de rendas garantidas, agora para o hidrogénio”, disse o presidente do PSD. Rio questionou também porque é que a “fatia de leão” do investimento será em Sines tendo em conta que “os custos de transporte do hidrogénio são brutais”.

“Será que é em Sines porque este negócio interessa mais à EDP do que aos portugueses, a exemplo do negócio de rendas excessivas que agora o Ministério público está a investigar? Não temos condições para aventuras nem para ideias megalómanas. E a situação pode ser pior se o Governo vier a fazer novos leilões com rendas garantidas para a energia renovável agora com a desculpa que é para produzir hidrogénio”, acusou Rio. Luís Leite Ramos, deputado do PSD, pediu a António Costa para explicar se o Governo vai ou não realizar um concurso internacional para a escolha dos parceiros estratégicos do Governo na fábrica de hidrogénio que vai nascer em Sines.

Em resposta, o primeiro-ministro acusou o PSD de estar “fossilizado nas energias fosseis”, depois de também ter sido contra as renováveis no passado. Costa explicou que o hidrogénio vai ser vital para a descarbonização da indústria e dos transportes pesados. “Portugal tem condições únicas para ser o grande produtor de hidrogénio verde na Europa, porque dispõe de água abundante no mar e energia solar barata. Não é por acaso que estamos no coração da estratégia europeia para o hidrogénio verde. Não é uma ideia bizarra do Governo português”, disse.

No Twitter, o secretário de Estado da Energia, João Galamba, acusou Rio de não estar “sintonizado com a Câmara de Estarreja, que apoia o projeto de hidrogénio mais megalómano de todos, o da Bondalti [no valor de 2,4 mil milhões de euros]. É que a Câmara de Estarreja, que é do PSD, é promotora do maior projeto (de longe) apresentado”.

Sobre ser uma “ideia megalómana, Galamba tinha já dito em entrevista à SIC Notícias que “megalómano é achar que Portugal pode dizer não ao dinheiro europeu, e ficarmos alegremente sozinhos enquanto a caravana passa, sem descarbonizarmos e expondo a economia portuguesa. Crime económico é ser contra o hidrogénio”.

CIP não quer “dar com uma mão e receber com a outra”

Foi na sessão de esclarecimento sobre o hidrogénio dedicada à indústria que surgiram as primeiras vozes críticas face à estratégia nacional que esteve em consulta pública. “A CIP não está nada descansada quando ao equilíbrio dos custos do hidrogénio”, disse Jaime Braga assessor da direção da Confederação Empresarial de Portugal para as áreas de Ambiente e Energia, frisando as dúvidas sobre o “impacto financeiro”. O hidrogénio será apoiado em 500 milhões de euros pelo Fundo Ambiental, que por seu lado “é alimentado pela indústria” via pagamento das emissões de carbono. “Primeiro vamos dar com uma mão, para depois receber com a outra”, disse o responsável, garantindo que “a indústria terá sempre um balanço negativo nesta equação”.

Para o responsável da CIP, em vez de o Governo apostar todas as fichas no hidrogénio seria ideal haver um maior equilíbrio entre a eletrificação e os combustíveis de origem renovável. E alertou sobre a escassez de água (indispensável para a produção de hidrogénio por eletrólise) e para os custos elevados do eventual tratamento da água do mar.

José Sousa, da Efacec, também se mostrou preocupado com a “disparidade entre capex e opex” no hidrogénio e Paulo Rocha, da Cimpor, falou dos “níveis avultados de investimento no hidrogénio como um risco para setor”. Da Renova, António Andrade Tavares, questionou o Governo sobre o preço futuro do hidrogénio e da sua combinação com o gás natural na rede nacional. “Não vi este valor na estratégia. Quanto custaria esse gás? Sem um número certo não podemos ainda avaliar”.

Em resposta, secretário de Estado da Energia, João Galamba, reconheceu que “o preço do hidrogénio é hoje muito maior do que o do gás natural” e que pode “haver incertezas tecnológicas”.

Mas rejeita as críticas: “Não estamos a pedir à indústria que contribua mais. Partindo do que já pagam (cerca de 150 milhões por ano) e que vai para o setor elétrico para pagar a dívida tarifária, os CAE e os CMEC, vamos usar parte desse valor para o hidrogénio. A divida tarifária vai reduzindo, os CAE acabam em 2021 e 2024 e os CMEC vão acabando até 2027. Dos 1.500 milhões que a indústria pagará nos próximos 10 anos para o Fundo Ambiental, vamos alocar um terço, 500 milhões, para o hidrogénio”, explicou Galamba em declarações ao ECO/Capital Verde.

A Estratégia Nacional para o Hidrogénio saltou para as luzes da ribalta e está já a assumir um papel de relevo no plano político e económico, tendo sido um dos principais temas a dominar o debate do Estado da Nação. Prova disso é o facto de o líder do PSD, Rui Rio, ter escolhido o tema para confrontar o primeiro-ministro António Costa na sua intervenção inicial no Parlamento, criticando a aposta no hidrogénio verde como um projeto “extremamente perigoso” por se tratar de uma “tecnologia ainda muito atrasada”.

Antes de Rio, já outras vozes se tinham levantado para questionar e apontar o dedo aos planos do Governo para criar em Portugal um novo cluster industrial em torno do hidrogénio. A começar pelo Manifesto para a recuperação do crescimento e estabilização económica pós-Covid19, publicado online e assinado pelas 44 personalidades e especialistas que compõem a Tertúlia Energia, que identifica os 15 erros da Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2). A este coro anti-hidrogénio junta-se também a voz dos patrões da Confederação Empresarial de Portugal, preocupados com os “custos da estratégia nacional para o hidrogénio”.

Mira Amaral e a Tertúlia da Energia: “Hidrogénio custará dobro ou o triplo do gás”

Mira Amaral, ex-ministro, Abel Mateus, ex-presidente da Autoridade da Concorrência, Clemente Pedro Nunes, professor catedrático do Instituto Superior Técnico, Henrique Gomes, ex-secretário de Estado da Energia, Henrique Neto, ex-deputado do PS, José Ribeiro e Castro, ex-líder do CDS, Miguel Lucas, CEO da Oxy Capital e Rui Paiva, CEO da WeDo Technologies, são apenas alguns dos nomes que constam na lista dos 44 signatários do Manifesto para a recuperação do crescimento e estabilização económica pós-Covid19, da Tertúlia Energia, publicado online.

“Apesar de utilizar a energia solar, o hidrogénio custará entre o dobro ou o triplo do gás, pelo que o consumidor final verá a sua fatura do gás subir entre 15 e 30%”, garantem, defendendo que a aposta do Governo é um “erro”.

“Não é competitivo utilizar energia elétrica de origem renovável para produzir hidrogénio verde”, disse Mira Amaral na apresentação do manifesto, acrescentando: “Não estamos contra o hidrogénio, apenas recomendamos ponderação e bom senso”.

De acordo com as suas contas, a produção de o hidrogénio verde custará cinco euros por kg. Soma-se ainda um um custo adicional de cerca de 20 euros por MWh no preço final, já que para produzir hidrogénio seria necessário instalar uma fábrica de dessalinização da água do mar. No final, os preços de produção de eletricidade podem disparar para um valor entre 100 e 200 euros por MWh, defende.

“A Estratégia Nacional para o Hidrogénio mantém as graves consequências do regime da Produção em Regime Especial que apoiou precocemente tecnologias renováveis intermitentes e imaturas, continuando a apostar em tecnologias emergentes e muito arriscadas para armazenar eletricidade à custa dos consumidores”, escrevem os signatários.

Em resposta, Galamba garantiu que “não haverá subsidiação nenhuma de eletricidade” na Estratégia Nacional de Hidrogénio e classificou o manifesto como “anti-hidrogénio, anti-eólicas, anti-solar, anti-Europa e anti-fundos europeus”.

“Este conjunto de personalidades parece desconhecer que a Europa definiu como sua política a obrigatoriedade de descarbonizar. Reduzir as emissões em todos os setores da Economia não é um devaneio do Governo português. O manifesto é contra as eólicas, contra o solar e contra o hidrogénio, as três principais opções energéticas da CE, que permitem, à indústria alcançar metas. Têm de explicar, se repudiam a aposta no hidrogénio, como é que sugerem alcançar as metas”, disse o secretário de Estado em entrevista à SIC, lembrando que a indústria nacional tem de reduzir mais de 40% das emissões até 2030.

Hidrogénio é uma “ideia megalómana”, diz Rui Rio

Depois dos CMEC nas centrais térmicas ou as tarifas feed in nas renováveis, “receio que tenhamos pela frente mais um episódio de rendas garantidas, agora para o hidrogénio”, disse o presidente do PSD. Rio questionou também porque é que a “fatia de leão” do investimento será em Sines tendo em conta que “os custos de transporte do hidrogénio são brutais”.

“Será que é em Sines porque este negócio interessa mais à EDP do que aos portugueses, a exemplo do negócio de rendas excessivas que agora o Ministério público está a investigar? Não temos condições para aventuras nem para ideias megalómanas. E a situação pode ser pior se o Governo vier a fazer novos leilões com rendas garantidas para a energia renovável agora com a desculpa que é para produzir hidrogénio”, acusou Rio. Luís Leite Ramos, deputado do PSD, pediu a António Costa para explicar se o Governo vai ou não realizar um concurso internacional para a escolha dos parceiros estratégicos do Governo na fábrica de hidrogénio que vai nascer em Sines.

Em resposta, o primeiro-ministro acusou o PSD de estar “fossilizado nas energias fosseis”, depois de também ter sido contra as renováveis no passado. Costa explicou que o hidrogénio vai ser vital para a descarbonização da indústria e dos transportes pesados. “Portugal tem condições únicas para ser o grande produtor de hidrogénio verde na Europa, porque dispõe de água abundante no mar e energia solar barata. Não é por acaso que estamos no coração da estratégia europeia para o hidrogénio verde. Não é uma ideia bizarra do Governo português”, disse.

No Twitter, o secretário de Estado da Energia, João Galamba, acusou Rio de não estar “sintonizado com a Câmara de Estarreja, que apoia o projeto de hidrogénio mais megalómano de todos, o da Bondalti [no valor de 2,4 mil milhões de euros]. É que a Câmara de Estarreja, que é do PSD, é promotora do maior projeto (de longe) apresentado”.

Sobre ser uma “ideia megalómana, Galamba tinha já dito em entrevista à SIC Notícias que “megalómano é achar que Portugal pode dizer não ao dinheiro europeu, e ficarmos alegremente sozinhos enquanto a caravana passa, sem descarbonizarmos e expondo a economia portuguesa. Crime económico é ser contra o hidrogénio”.

CIP não quer “dar com uma mão e receber com a outra”

Foi na sessão de esclarecimento sobre o hidrogénio dedicada à indústria que surgiram as primeiras vozes críticas face à estratégia nacional que esteve em consulta pública. “A CIP não está nada descansada quando ao equilíbrio dos custos do hidrogénio”, disse Jaime Braga assessor da direção da Confederação Empresarial de Portugal para as áreas de Ambiente e Energia, frisando as dúvidas sobre o “impacto financeiro”. O hidrogénio será apoiado em 500 milhões de euros pelo Fundo Ambiental, que por seu lado “é alimentado pela indústria” via pagamento das emissões de carbono. “Primeiro vamos dar com uma mão, para depois receber com a outra”, disse o responsável, garantindo que “a indústria terá sempre um balanço negativo nesta equação”.

Para o responsável da CIP, em vez de o Governo apostar todas as fichas no hidrogénio seria ideal haver um maior equilíbrio entre a eletrificação e os combustíveis de origem renovável. E alertou sobre a escassez de água (indispensável para a produção de hidrogénio por eletrólise) e para os custos elevados do eventual tratamento da água do mar.

José Sousa, da Efacec, também se mostrou preocupado com a “disparidade entre capex e opex” no hidrogénio e Paulo Rocha, da Cimpor, falou dos “níveis avultados de investimento no hidrogénio como um risco para setor”. Da Renova, António Andrade Tavares, questionou o Governo sobre o preço futuro do hidrogénio e da sua combinação com o gás natural na rede nacional. “Não vi este valor na estratégia. Quanto custaria esse gás? Sem um número certo não podemos ainda avaliar”.

Em resposta, secretário de Estado da Energia, João Galamba, reconheceu que “o preço do hidrogénio é hoje muito maior do que o do gás natural” e que pode “haver incertezas tecnológicas”.

Mas rejeita as críticas: “Não estamos a pedir à indústria que contribua mais. Partindo do que já pagam (cerca de 150 milhões por ano) e que vai para o setor elétrico para pagar a dívida tarifária, os CAE e os CMEC, vamos usar parte desse valor para o hidrogénio. A divida tarifária vai reduzindo, os CAE acabam em 2021 e 2024 e os CMEC vão acabando até 2027. Dos 1.500 milhões que a indústria pagará nos próximos 10 anos para o Fundo Ambiental, vamos alocar um terço, 500 milhões, para o hidrogénio”, explicou Galamba em declarações ao ECO/Capital Verde.

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