Covid-19. “Não vivemos um período normal. A organização dos estados de contingência dos hospitais devia ser nacional e preventiva”

21-10-2020
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Quando o Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, anunciou há uma semana que a pressão dos doentes com covid-19 aumentara de tal forma que seria necessário cancelar parte da atividade programada e elevar um patamar no plano de contingência, o país susteve o fôlego. Se o maior hospital da região norte tomava esta decisão era porque a situação era demasiado grave.

Dois dias depois, o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, de que faz parte o Santa Maria, a maior unidade da região sul, afirmou em entrevista ao Expresso que o cancelamento da atividade não covid seria a última medida a avançar.

A semana terminou com o diretor das unidades de Cuidados Intensivos do São João, José Artur Paiva, a reivindicar que todos os hospitais subissem um nível nos seus planos de contingência, de forma a repartirem-se os esforços.

Afinal, o que se passa com os hospitais portugueses?

"Os hospitais têm tido uma resposta individualista à pandemia. O que é necessário é que seja criado um gabinete de crise, que, com base nos modelos matemáticos que nos permitem prever o crescimento do número de casos, permita aos diretores organizarem os seus esforços, mobilizarem os seus recursos humanos, dando oportunidade aos profissionais de se prepararem. Porque o que não faz sentido é haver, na região de Lisboa e Vale do Tejo, três hospitais sob muita pressão e outros com capacidade de absorver mais doentes, ou um no Porto sobrecarregado, e outros com margem de crescimento. Esta resposta deveria ser organizada, preventivamente, pela tutela". A explicação é de Alexandre Lourenço, presidente da Direção da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, quando confrontado com a situação pelo Expresso.

Para Alexandre Lourenço, o que falta em Portugal é uma organização operacional centralizada, que "em última análise deveria ser desenvolvida pelo Ministério da Saúde". Porque, como afirma, "não vivemos um período normal e é necessário que exista uma orientação preventiva da evolução da pandemia, caso contrário, só estamos a reagir". Alexandre Lourenço afirma ainda que este alerta já foi transmitido à tutela e que é urgente articular as respostas, de forma regional e nacional, para permitir que as unidades hospitalares possam repartir os esforços necessários perante o aumento do número de infeções por covid-19.

Esta era também a reivindicação do diretor dos cuidados intensivos do Hospital de São João, José Artur Paiva. Há quase uma semana, este responsável avisava que poderiam faltar recursos para responder à pandemia, defendendo ser "absolutamente necessário" que "todos os hospitais subam um patamar nos seus planos de contingência.” Sublinhava ainda que a resposta teria de ser regional e mesmo nacional, usando a metáfora de um comboio, "que tinha de circular a um mesmo ritmo, puxado por uma locomotiva que impulsionasse essa velocidade". Esta locomotiva deveria ser, na opinião deste médico, o conjunto das Administrações Regionais da Saúde (ARS), mediante uma decisão do ministério, até porque garante estar em causa "uma questão de equidade para todos os doentes, não podendo uns serem prejudicados pelo cancelamento da atividade programada porque pertencem a um hospital que está mais pressionado e outros não".

Na mais recente edição semanal do Expresso, Manuel Carmo Gomes, professor de Epidemiologia na Universidade de Lisboa e um dos peritos que colabora com a Direção-Geral da Saúde (DGS), previa que, com o nível de contágio na população a subir de forma consistente desde o final de setembro, o crescimento da epidemia já era exponencial e que as estimativas apontavam para que na segunda metade de novembro o país atingisse quatro mil casos diários de infeção por covid-19. "É muito preocupante”, afirmou então Carmo Gomes. Nesta quarta-feira, Portugal registou mais de 2.500 casos reportados no boletim epidemiológico da DGS.

Na conferência de imprensa desta quarta-feira, o secretário de Estado da Saúde, Diogo Serra Lopes, abordou a questão dos planos de contingência dos hospitais, afirmando que estes os acionam "quando é necessário". E revelou também que a taxa de ocupação dos hospitais do SNS se situa em 72% nos internamentos e 71% nos cuidados intensivos, sendo a ARS Norte a mais pressionada, com uma taxa de ocupação de 76% nos internamentos e nos cuidados intensivos.

Quando o Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, anunciou há uma semana que a pressão dos doentes com covid-19 aumentara de tal forma que seria necessário cancelar parte da atividade programada e elevar um patamar no plano de contingência, o país susteve o fôlego. Se o maior hospital da região norte tomava esta decisão era porque a situação era demasiado grave.

Dois dias depois, o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, de que faz parte o Santa Maria, a maior unidade da região sul, afirmou em entrevista ao Expresso que o cancelamento da atividade não covid seria a última medida a avançar.

A semana terminou com o diretor das unidades de Cuidados Intensivos do São João, José Artur Paiva, a reivindicar que todos os hospitais subissem um nível nos seus planos de contingência, de forma a repartirem-se os esforços.

Afinal, o que se passa com os hospitais portugueses?

"Os hospitais têm tido uma resposta individualista à pandemia. O que é necessário é que seja criado um gabinete de crise, que, com base nos modelos matemáticos que nos permitem prever o crescimento do número de casos, permita aos diretores organizarem os seus esforços, mobilizarem os seus recursos humanos, dando oportunidade aos profissionais de se prepararem. Porque o que não faz sentido é haver, na região de Lisboa e Vale do Tejo, três hospitais sob muita pressão e outros com capacidade de absorver mais doentes, ou um no Porto sobrecarregado, e outros com margem de crescimento. Esta resposta deveria ser organizada, preventivamente, pela tutela". A explicação é de Alexandre Lourenço, presidente da Direção da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, quando confrontado com a situação pelo Expresso.

Para Alexandre Lourenço, o que falta em Portugal é uma organização operacional centralizada, que "em última análise deveria ser desenvolvida pelo Ministério da Saúde". Porque, como afirma, "não vivemos um período normal e é necessário que exista uma orientação preventiva da evolução da pandemia, caso contrário, só estamos a reagir". Alexandre Lourenço afirma ainda que este alerta já foi transmitido à tutela e que é urgente articular as respostas, de forma regional e nacional, para permitir que as unidades hospitalares possam repartir os esforços necessários perante o aumento do número de infeções por covid-19.

Esta era também a reivindicação do diretor dos cuidados intensivos do Hospital de São João, José Artur Paiva. Há quase uma semana, este responsável avisava que poderiam faltar recursos para responder à pandemia, defendendo ser "absolutamente necessário" que "todos os hospitais subam um patamar nos seus planos de contingência.” Sublinhava ainda que a resposta teria de ser regional e mesmo nacional, usando a metáfora de um comboio, "que tinha de circular a um mesmo ritmo, puxado por uma locomotiva que impulsionasse essa velocidade". Esta locomotiva deveria ser, na opinião deste médico, o conjunto das Administrações Regionais da Saúde (ARS), mediante uma decisão do ministério, até porque garante estar em causa "uma questão de equidade para todos os doentes, não podendo uns serem prejudicados pelo cancelamento da atividade programada porque pertencem a um hospital que está mais pressionado e outros não".

Na mais recente edição semanal do Expresso, Manuel Carmo Gomes, professor de Epidemiologia na Universidade de Lisboa e um dos peritos que colabora com a Direção-Geral da Saúde (DGS), previa que, com o nível de contágio na população a subir de forma consistente desde o final de setembro, o crescimento da epidemia já era exponencial e que as estimativas apontavam para que na segunda metade de novembro o país atingisse quatro mil casos diários de infeção por covid-19. "É muito preocupante”, afirmou então Carmo Gomes. Nesta quarta-feira, Portugal registou mais de 2.500 casos reportados no boletim epidemiológico da DGS.

Na conferência de imprensa desta quarta-feira, o secretário de Estado da Saúde, Diogo Serra Lopes, abordou a questão dos planos de contingência dos hospitais, afirmando que estes os acionam "quando é necessário". E revelou também que a taxa de ocupação dos hospitais do SNS se situa em 72% nos internamentos e 71% nos cuidados intensivos, sendo a ARS Norte a mais pressionada, com uma taxa de ocupação de 76% nos internamentos e nos cuidados intensivos.

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