Roleta russa

17-09-2020
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Abrindo o sítio da DGS, esta diz-nos que “a atuação da Direção-Geral da Saúde, intersectorial, inserida num exigente contexto político e económico, de mudança social e ambienta…” visa “proteger e melhorar a saúde e bem-estar dos cidadãos, garantindo que, através da qualidade, da segurança e da redução de iniquidades em saúde, todos atinjam o seu potencial de saúde” através dos seguintes valores: Equidade e Universalidade no Acesso à Saúde, Rigor Científico e Ético nas Decisões em Saúde, Profissionalismo, Flexibilidade e Colaboração, Transparência e Responsabilidade - prestação de contas e explicação sobre as atividades da DGS, de forma proactiva e aberta.

E o que esperamos da DGS, sobretudo quando estamos assolados com o maior flagelo que sobre nós se abateu na nossa vida, é que a mesma cumpra esse desiderato.

Infelizmente, no que concerne à Festa do Avante, a DGS claramente não cumpriu nenhum destes propósitos.

Para perceberem, assentarei a minha lógica naquilo que em direito se denomina como prova indiciária (circunstancial, na terminologia anglo-saxónica) que é, por contraste com a prova direta, um tipo de prova no qual uma inferência é necessária para alcançar algum conhecimento sobre o facto a prova.

Ora, a prova indiciária que aqui vos deixo, para sustentar a minha tese são, tão só, as afirmações que vi na comunicação social (se duvidarem, uma simples pesquisa no Google mostra os vídeos das declarações que aqui reporto).

E dessa observação e tentado obter critérios razoáveis, direi que há qualquer coisa que não bate certo. Ora atentem:

No dia 4 de Agosto a organização da Festa anunciou pomposamente, mais 10.000 m2 para os cerca de 100.000 pessoas esperadas. Diziam eles que somados aos 30 Hectares de anos anteriores, estes 10 hectares a mais salvaguardariam todas os medos que tivéssemos em relação à presença de tanta gente no espaço.

O que quer isso dizer? Quer dizer que no dia 4 de Agosto, portanto a um mês de um certame que há meses todos sabiam ser muito perigoso, ainda nem a DGS, nem o PCP tinham falado (inconcebível) e que o PCP nessa data pensava ainda colocar as 100.000 pessoas. De loucos!

Nessa data anunciaram igualmente que começaram as reuniões sobre Festa do Avante entre a DGS e o PCP. Bravo, apenas a um mês do evento.

No dia 10/08/2020, a imprensa anuncia que as reuniões DGS-e-PCP já começaram e António Lacerda Sales, da parte da organização refere: “Garante o cumprimento das regras sanitárias e das diretrizes da autoridade de saúde. “

No dia 12 de Agosto, em declarações à imprensa, a Sra. Ministra da Saúde declarou o seguinte:

"De acordo com o Governo, “foi solicitado um plano de contingência” à organização da Festa do Avante! e a Direção-geral da Saúde “está a trabalhar” com o PCP “para garantir o cumprimento dessas regras”.

A governante indicou que “esse trabalho está em curso” e que “quando tiver terminado” será possível dar uma “resposta concreta” quanto ao número de pessoas que serão permitidas no recinto, “mas também a outras regras que terão de ser definidas”.

No dia 14 de Agosto o número é revelado num comunicado do partido em que pode ler-se que "o número de presenças em simultâneo na Festa será de ⅓ da capacidade licenciada", situada nas cem mil pessoas. No mesmo documento, o PCP assegura que "os 300 mil m2 postos à disposição dos visitantes significam que cada um pode usufruir de uma área superior à que está estabelecida para a frequência de praias e que, em regra, será o dobro daquela que está fixada para espaços similares", que neste caso é ao ar livre.

Uma perguntinha: E os outros 10.000 m2 que a organização referiu em 4 de Agosto?

E se estava tudo bem com esse número (33.000 entradas) o que mudou para serem apenas 16.000 festivaleiros agora? É que não foi dada uma justificação técnica. Pelo que se percebe, era tão perigoso a 16 de Agosto (onde até o foco estava mais na AML) do que a 31 de Agosto (o foco está mais a Norte).

Por outro lado, se a ministra anunciou em 10 de Agosto que o documento estava a ser elaborado e a 14 de Agosto o PCP anunciou a redução para 33.000 espectadores/dia, presume-se que foi esse o número encontrado por ambas as entidades. Reparem que este número nunca foi desmentido pela DGS, nem por ninguém do Governo. Ficou assim assente para todos esse número e estaria tudo bem se o Presidente da República não tivesse vindo perguntar no sábado passado (dia 29 de Agosto) pelas regras (Plano de Contingência), o tal que pela minha leitura estava assente em 14 de Agosto e que nunca ninguém o viu, mais ninguém dele falaria.

Daí não ser de estranhar que a DGS tenha respondido com a soberba que o fez ao PR, que não tinha de o apresentar (curiosamente, a 12 de Agosto a Ministra disse que ele seria conhecido quando estivesse elaborado), o que constituiu o maior erro da DGS, o que levou a uma ainda maior pressão da opinião pública e do próprio PR, no dia seguinte, miraculosamente lá apareceu o Plano (o tal que era complexo) e, pasme-se, com apenas 16.000 espectadores por dia. Metade.

O que mais estranho ainda é que o PCP nada tenha vindo dizer sobre isso, pois, colocando-me no lugar do “Homem Médio”, que é o critério do julgador, qualquer pessoa/entidade a quem tinham dito que seriam 33.000 pessoas permitidas e que está a organizar tudo para esse números de pessoas, entre venda de bilhetes, organização do espaço, preços cobrados e pagos aos parceiros, aceite de bom grado essa alteração, sem sequer mencionar a alteração das regras, o que me leva a dizer que alguém não está a ser claro:

Ou o PCP não disse a verdade a 14 de Agosto quando anunciou os 33.000 bilhetes, números nunca desmentidos pela DGS ou a DGS, que permite 16.000 lugares para acalmar a população e simultaneamente promete fazer a chamada “vista grossa“ à fiscalização desse número, razão pela qual o PCP eventualmente acatou de forma tão ordeira esta desfeita.

Se assim não interpretarmos, como entender que o PCP aceitou uma redução para metade sem sequer mostrar a menor indignação e injustiça? Sim, porque se a DGS apenas em 31 de Agosto lhes anunciou este número, depois de os deixar a pensar que eram 33.000 causou-lhes um enorme prejuízo. Disso estou certo.

Mas, se entretanto, continuam a vender bilhetes e a DGS já disse que não tem como fiscalizar, quem nos garante que entram só essas 16.000 pessoas por dia?

Quem nos garante que as restantes regras da DGS vão ser cumpridas?

É que todos nós, exigimos, no mínimo, que a DGS cumpra esse papel, que nos dê essas garantias, pois se assegurou através do seu parecer que a Festa se realize, apesar de salientar os riscos para a nossa saúde pública, então tem que nos dar essa garantia. Menos do que isso é absolutamente inconcebível.

A DGS pode estar aqui a ser cúmplice do que vier a acontecer. No seu documento já reconhece esse perigo, presume-se que acrescido, pois sabemos que infelizmente em perigo estamos todos, todos os dias e em todos os lugares, portanto a DGS não se exime de catalogar a festa, como todos nós, leigos, a catalogamos, como perigosa, então porque permite esta “Roleta Russa”?

A DGS tem a noção que a população do Seixal fica potencialmente exposta ao Covid-19, permitindo mais focos do que o normal? Tem a noção que para além de muitos frequentadores da Festa serem do Seixal, os funcionários da Câmara, os Bombeiros, Cruz Vermelha e restantes entidades que dão apoio oficial à festa todos esses (sejam ou não do PCP) estarão em contacto próximo com os “festivaleiros”?

Tem noção que eu, os meus familiares, os meus amigos vamos conviver com essas pessoas, mesmo que passemos o próximo fim-de-semana fora (como muitos o vão fazer)? Que nos 15 dias seguintes algumas dessas pessoas podem ser portadoras assintomáticas do vírus e que nos podem contaminar também? E mesmo assim é conivente com esse perigo?

Já o disse e farei: analisarei com muita atenção os resultados dos casos no nosso concelho do Seixal durante o próximo mês e, se estes aumentarem exponencialmente em relação aos dos outros concelhos, não terei dúvidas em estabelecer o nexo de causalidade entre esse aumento e esta autorização e todos, mas todos os responsáveis por esses resultados, serão por mim participados criminalmente.

É que a “Roleta Russa” é um jogo em que cada um mete a sua vida em perigo. Não a dos outros. E eu não a quero jogar. Nem involuntariamente.

Abrindo o sítio da DGS, esta diz-nos que “a atuação da Direção-Geral da Saúde, intersectorial, inserida num exigente contexto político e económico, de mudança social e ambienta…” visa “proteger e melhorar a saúde e bem-estar dos cidadãos, garantindo que, através da qualidade, da segurança e da redução de iniquidades em saúde, todos atinjam o seu potencial de saúde” através dos seguintes valores: Equidade e Universalidade no Acesso à Saúde, Rigor Científico e Ético nas Decisões em Saúde, Profissionalismo, Flexibilidade e Colaboração, Transparência e Responsabilidade - prestação de contas e explicação sobre as atividades da DGS, de forma proactiva e aberta.

E o que esperamos da DGS, sobretudo quando estamos assolados com o maior flagelo que sobre nós se abateu na nossa vida, é que a mesma cumpra esse desiderato.

Infelizmente, no que concerne à Festa do Avante, a DGS claramente não cumpriu nenhum destes propósitos.

Para perceberem, assentarei a minha lógica naquilo que em direito se denomina como prova indiciária (circunstancial, na terminologia anglo-saxónica) que é, por contraste com a prova direta, um tipo de prova no qual uma inferência é necessária para alcançar algum conhecimento sobre o facto a prova.

Ora, a prova indiciária que aqui vos deixo, para sustentar a minha tese são, tão só, as afirmações que vi na comunicação social (se duvidarem, uma simples pesquisa no Google mostra os vídeos das declarações que aqui reporto).

E dessa observação e tentado obter critérios razoáveis, direi que há qualquer coisa que não bate certo. Ora atentem:

No dia 4 de Agosto a organização da Festa anunciou pomposamente, mais 10.000 m2 para os cerca de 100.000 pessoas esperadas. Diziam eles que somados aos 30 Hectares de anos anteriores, estes 10 hectares a mais salvaguardariam todas os medos que tivéssemos em relação à presença de tanta gente no espaço.

O que quer isso dizer? Quer dizer que no dia 4 de Agosto, portanto a um mês de um certame que há meses todos sabiam ser muito perigoso, ainda nem a DGS, nem o PCP tinham falado (inconcebível) e que o PCP nessa data pensava ainda colocar as 100.000 pessoas. De loucos!

Nessa data anunciaram igualmente que começaram as reuniões sobre Festa do Avante entre a DGS e o PCP. Bravo, apenas a um mês do evento.

No dia 10/08/2020, a imprensa anuncia que as reuniões DGS-e-PCP já começaram e António Lacerda Sales, da parte da organização refere: “Garante o cumprimento das regras sanitárias e das diretrizes da autoridade de saúde. “

No dia 12 de Agosto, em declarações à imprensa, a Sra. Ministra da Saúde declarou o seguinte:

"De acordo com o Governo, “foi solicitado um plano de contingência” à organização da Festa do Avante! e a Direção-geral da Saúde “está a trabalhar” com o PCP “para garantir o cumprimento dessas regras”.

A governante indicou que “esse trabalho está em curso” e que “quando tiver terminado” será possível dar uma “resposta concreta” quanto ao número de pessoas que serão permitidas no recinto, “mas também a outras regras que terão de ser definidas”.

No dia 14 de Agosto o número é revelado num comunicado do partido em que pode ler-se que "o número de presenças em simultâneo na Festa será de ⅓ da capacidade licenciada", situada nas cem mil pessoas. No mesmo documento, o PCP assegura que "os 300 mil m2 postos à disposição dos visitantes significam que cada um pode usufruir de uma área superior à que está estabelecida para a frequência de praias e que, em regra, será o dobro daquela que está fixada para espaços similares", que neste caso é ao ar livre.

Uma perguntinha: E os outros 10.000 m2 que a organização referiu em 4 de Agosto?

E se estava tudo bem com esse número (33.000 entradas) o que mudou para serem apenas 16.000 festivaleiros agora? É que não foi dada uma justificação técnica. Pelo que se percebe, era tão perigoso a 16 de Agosto (onde até o foco estava mais na AML) do que a 31 de Agosto (o foco está mais a Norte).

Por outro lado, se a ministra anunciou em 10 de Agosto que o documento estava a ser elaborado e a 14 de Agosto o PCP anunciou a redução para 33.000 espectadores/dia, presume-se que foi esse o número encontrado por ambas as entidades. Reparem que este número nunca foi desmentido pela DGS, nem por ninguém do Governo. Ficou assim assente para todos esse número e estaria tudo bem se o Presidente da República não tivesse vindo perguntar no sábado passado (dia 29 de Agosto) pelas regras (Plano de Contingência), o tal que pela minha leitura estava assente em 14 de Agosto e que nunca ninguém o viu, mais ninguém dele falaria.

Daí não ser de estranhar que a DGS tenha respondido com a soberba que o fez ao PR, que não tinha de o apresentar (curiosamente, a 12 de Agosto a Ministra disse que ele seria conhecido quando estivesse elaborado), o que constituiu o maior erro da DGS, o que levou a uma ainda maior pressão da opinião pública e do próprio PR, no dia seguinte, miraculosamente lá apareceu o Plano (o tal que era complexo) e, pasme-se, com apenas 16.000 espectadores por dia. Metade.

O que mais estranho ainda é que o PCP nada tenha vindo dizer sobre isso, pois, colocando-me no lugar do “Homem Médio”, que é o critério do julgador, qualquer pessoa/entidade a quem tinham dito que seriam 33.000 pessoas permitidas e que está a organizar tudo para esse números de pessoas, entre venda de bilhetes, organização do espaço, preços cobrados e pagos aos parceiros, aceite de bom grado essa alteração, sem sequer mencionar a alteração das regras, o que me leva a dizer que alguém não está a ser claro:

Ou o PCP não disse a verdade a 14 de Agosto quando anunciou os 33.000 bilhetes, números nunca desmentidos pela DGS ou a DGS, que permite 16.000 lugares para acalmar a população e simultaneamente promete fazer a chamada “vista grossa“ à fiscalização desse número, razão pela qual o PCP eventualmente acatou de forma tão ordeira esta desfeita.

Se assim não interpretarmos, como entender que o PCP aceitou uma redução para metade sem sequer mostrar a menor indignação e injustiça? Sim, porque se a DGS apenas em 31 de Agosto lhes anunciou este número, depois de os deixar a pensar que eram 33.000 causou-lhes um enorme prejuízo. Disso estou certo.

Mas, se entretanto, continuam a vender bilhetes e a DGS já disse que não tem como fiscalizar, quem nos garante que entram só essas 16.000 pessoas por dia?

Quem nos garante que as restantes regras da DGS vão ser cumpridas?

É que todos nós, exigimos, no mínimo, que a DGS cumpra esse papel, que nos dê essas garantias, pois se assegurou através do seu parecer que a Festa se realize, apesar de salientar os riscos para a nossa saúde pública, então tem que nos dar essa garantia. Menos do que isso é absolutamente inconcebível.

A DGS pode estar aqui a ser cúmplice do que vier a acontecer. No seu documento já reconhece esse perigo, presume-se que acrescido, pois sabemos que infelizmente em perigo estamos todos, todos os dias e em todos os lugares, portanto a DGS não se exime de catalogar a festa, como todos nós, leigos, a catalogamos, como perigosa, então porque permite esta “Roleta Russa”?

A DGS tem a noção que a população do Seixal fica potencialmente exposta ao Covid-19, permitindo mais focos do que o normal? Tem a noção que para além de muitos frequentadores da Festa serem do Seixal, os funcionários da Câmara, os Bombeiros, Cruz Vermelha e restantes entidades que dão apoio oficial à festa todos esses (sejam ou não do PCP) estarão em contacto próximo com os “festivaleiros”?

Tem noção que eu, os meus familiares, os meus amigos vamos conviver com essas pessoas, mesmo que passemos o próximo fim-de-semana fora (como muitos o vão fazer)? Que nos 15 dias seguintes algumas dessas pessoas podem ser portadoras assintomáticas do vírus e que nos podem contaminar também? E mesmo assim é conivente com esse perigo?

Já o disse e farei: analisarei com muita atenção os resultados dos casos no nosso concelho do Seixal durante o próximo mês e, se estes aumentarem exponencialmente em relação aos dos outros concelhos, não terei dúvidas em estabelecer o nexo de causalidade entre esse aumento e esta autorização e todos, mas todos os responsáveis por esses resultados, serão por mim participados criminalmente.

É que a “Roleta Russa” é um jogo em que cada um mete a sua vida em perigo. Não a dos outros. E eu não a quero jogar. Nem involuntariamente.

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