O último debate do Presidente Trump

23-10-2020
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Pode ter sido esta madrugada o último debate de Donald Trump enquanto Presidente dos Estados Unidos da América. No decisivo frente-a-frente com Joe Biden, Trump pareceu mais calmo, com o discurso mais estruturado e nem por isso menos pronto para o ataque. Biden resistiu às provocações, atacou e voltou a falar diretamente para as câmaras na hora de apelar ao voto. “220 mil americanos morreram. Um homem responsável por tantas mortes não pode continuar Presidente dos Estados Unidos”, disse o candidato democrata. Trump respondeu: “Recebi os parabéns de vários chefes de Estado estrangeiros pelo que conseguimos fazer” no combate à pandemia. Quem? Não disse. E Biden que, acusou Trump, recebeu 3,5 milhões de dólares da Rússia? “Nunca recebi um cêntimo do estrangeiro”, defendeu-se o antigo vice-presidente de Barack Obama, antes de lembrar que Trump “pagou 50 vezes mais impostos na China do que nos Estados Unidos”. Tudo normal, argumentou Trump, que era só “um empresário a fazer negócios” e que até já tinha falado com os seus contabilistas - “Disseram-me que paguei antecipadamente dezenas de milhões de dólares de impostos” - para mostrar as suas declarações de rendimentos. Quando o fará? Também não disse. No segundo e derradeiro debate entre candidatos à presidência dos Estados Unidos, o tom foi mais cordial, mas nem por isso mais fácil distinguir a verdade das provocações para ecoar na internet. E Biden também não resistiu. Disse o democrata que com Trump no poder a balança comercial entre Estados Unidos e China tombou para o lado asiático. Um dado falso, assinalado pelo "Washington Post" logo após o fim do debate. Mas houve mais. Os Estados Unidos vão ter vacina contra a covid-19 nas próximas semanas. Trump prometeu, mas também não disse nem como, nem quando. E questionado sobre as previsões que apontam para uma entrada em 2022 de máscara na cara, manteve a sua posição. “São previsões de quem não tem a minha fé nos militares.” Talvez pela ajuda do botão silenciador destinado a impedir interrupções não cronometradas, talvez por ser o último da campanha e, potencialmente, o último das respetivas carreiras políticas, no debate desta madrugada quase se debateram ideias de como gerir os Estados Unidos. Mas só quase, porque para a História ficarão as trocas de mimos, mais ou menos refinadas. Como quando Trump se gabou de ser “a pessoa menos racista neste Mundo”, só para ouvir Biden ironicamente chamar-lhe Abraham Lincoln. Por outras palavras, “um dos Presidentes mais racistas que tivemos na História recente”. “Não sou o político típico e foi por isso que fui eleito”, disparou Trump a meio dos 90 minutos de debate. Eventualmente terá razão, e talvez por isso tenha apanhado tantos desprevenidos nas primeiras eleições. No "Washington Post", Fareed Zakaria assinava ontem um mea culpa , assumindo que em 2016 se tinha enganado quando não encarou como possível a eleição de Trump, mas também a “aceitar o risco” de repetir a aposta. “Apesar de tudo ainda prefiro apostar – e acreditar – nos melhores da América”. Será que desta vez acerta? Foi mesmo o último debate do Presidente Trump?

Pandemia fora de controlo

1365 internados com covid, 200 em cuidados intensivos e 3270 novos infetados, três recordes que levaram o Governo a tomar medidas de emergência. Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira mereceram especial atenção, para o restante território nacional ficou a saber-se que no fim da próxima semana ficará interdita por quatro dias a circulação entre concelhos. Marta Temido, ministra da Saúde, voltou a avisar que os números vão continuar a subir e que as medidas terão, inevitavelmente, de ser reavaliadas. Para já, ainda foi decretado que o próximo dia 2 de novembro será de luto nacional pelas 2245 pessoas que a pandemia já levou. Depois se verá como (sobre)vivem os que por cá ficam. Uns, seguramente, pior que outros – Pandemia aumenta o desemprego em 84 concelhos do país.

Plano novo, ideias velhas

António Costa e Pedro Nuno Santos apresentaram ontem o Plano Nacional de Investimento. São milhões, e muitos, 47 mil no total, a distribuir pelos próximos dez anos e desta vez, garantiram os governantes, o consenso em torno dos projetos é maior. Dizem querer evitar erros de um passado em que os planos mudavam consoante o partido no poder, dizem que agora é que vai ser. Agora, das ideias passaremos aos atos, agora sim, a linha de alta velocidade vai mesmo arrancar, mesmo custando 4,5 mil milhões de euros. Uma ideia “dispendiosa”, mas que, agora, garante o ministro das Infraestruturas, tratará benefícios ao país. De uma coisa nunca poderão ser acusados: disruptiva a ideia não é.

Eutanásia no Parlamento

O tema divide como poucos. De um lado reclama-se a liberdade de escolha, o poder de decidir o desfecho da própria vida. Do outro, argumenta-se que o papel do Estado não é matar, mas sim proteger a vida dos seus até ao seu limite. Ontem, na Assembleia da República, a discussão voltou a ser em torno da eutanásia, mas para já apenas sobre a petição para um referendo. A pergunta em causa: “Concorda que matar outra pessoa a seu pedido ou ajudá-la a suicidar-se deve continuar a ser punível pela lei penal em quaisquer circunstâncias?”. PS, Bloco, PCP, PAN e Verdes confirmaram que hoje vão votar contra a sua realização, CDS e Iniciativa Liberal a favor e o tema voltará, seguramente, à agenda parlamentar. Se da guerra se dizia ser “um assunto demasiado grave para ser confiado a militares”, a eutanásia é um tema demasiado complexo para ser reduzido a uma rudimentar pergunta.

A frase

"O número de casos ainda vai aumentar ao longo dos próximos dias", Marta Temido, ministra da Saúde

Heróis sem bola

No país do futebol, durante 15 dias falou-se de ciclismo, um feito que se deve a João Almeida, jovem de 22 anos natural das Caldas da Rainha. Ontem foi o dia em que o português perdeu a camisola rosa - Stelvio não é amigo de João Almeida, nem de ninguém, mas nunca o destruiria – mas a três etapas do final a maior das vitórias já ninguém a rouba. Arrancou como mais um dos ilustres desconhecidos do desporto nacional, terminará a prova como um dos heróis que todos passaremos a seguir. Melhor? Não estará sozinho quando se pensar nos atletas que se distinguiram na prova. No grupo estará Ruben Guerreiro, que garantiu a camisola azul, a que distingue o rei da montanha.

Vitórias na bola

Começou ontem a fase de grupos da Liga Europa. O Benfica foi à Polónia enfrentar e derrotar o Lech Poznan por 4-2 – Se um avançado vive de golos, Darwin já tem vida – enquanto o Braga recebeu e derrotou o AEK de Atenas com três golos sem resposta.

O que ando a ler

Histórias que preferia não ler, histórias que são um "Murro no Estômago", livro de Paulo Jorge Pereira, jornalista, que esta semana me chegou às mãos. Contadas na primeira pessoa, as histórias da Alice, da Beatriz e da Carla, da Deolinda, da Sónia e da Telma, servem para nos lembrar que em Portugal a violência doméstica continua a matar - 500 mulheres em 15 anos, lê-se no livro editado com o apoio da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e que o crime continua, muitas vezes, sem ser detetado ou travado a tempo. Histórias que nos envergonham a todos, que nos fazem duvidar de estarmos, de facto, no século XXI e a viver num país, supostamente, civilizado. Histórias que preferia não ler, mas que me deixam convicto que têm de ser lidas. Por todos.

O que ando a ouvir

E sem que déssemos por isso, o ano entrou no último trimestre. Ano de má memória para quase todos, ano em que perdemos na proximidade com os nossos e com os que podíamos ter conhecido, em que perdemos horas ao sol e, porque não, também à chuva, ano de que não nos esqueceremos. Mas também ano em que nem tudo foi mau. Sobretudo porque está a acabar e isso deixa-nos, inevitavelmente, mais próximos de nos livrarmos da pandemia. Segundo, porque com o seu final chega a hora de votar para os tops dos melhores discos do ano, sempre boa altura para revisitar a boa música que fomos ouvindo. Dos nacionais, revisitei os discos do Dino d' Santiago (Kriola), dos Clã (Véspera) e do Rodrigo Leão (O Método e Avis 2020). Lá de fora, voltei aos discos de Dylan (Rough Rowdy Days), da Fiona Apple (Fetch the Bolt Cutters) e ao King's Disease de Nas. Por estes dias, ainda descobri Serpentine Prison, a recente aventura a solo de Matt Berninger, vocalista dos National. Um belo disco, a lembrar que 2020 ainda não acabou, mas também que nem tudo será mau até ao seu final.

Pode ter sido esta madrugada o último debate de Donald Trump enquanto Presidente dos Estados Unidos da América. No decisivo frente-a-frente com Joe Biden, Trump pareceu mais calmo, com o discurso mais estruturado e nem por isso menos pronto para o ataque. Biden resistiu às provocações, atacou e voltou a falar diretamente para as câmaras na hora de apelar ao voto. “220 mil americanos morreram. Um homem responsável por tantas mortes não pode continuar Presidente dos Estados Unidos”, disse o candidato democrata. Trump respondeu: “Recebi os parabéns de vários chefes de Estado estrangeiros pelo que conseguimos fazer” no combate à pandemia. Quem? Não disse. E Biden que, acusou Trump, recebeu 3,5 milhões de dólares da Rússia? “Nunca recebi um cêntimo do estrangeiro”, defendeu-se o antigo vice-presidente de Barack Obama, antes de lembrar que Trump “pagou 50 vezes mais impostos na China do que nos Estados Unidos”. Tudo normal, argumentou Trump, que era só “um empresário a fazer negócios” e que até já tinha falado com os seus contabilistas - “Disseram-me que paguei antecipadamente dezenas de milhões de dólares de impostos” - para mostrar as suas declarações de rendimentos. Quando o fará? Também não disse. No segundo e derradeiro debate entre candidatos à presidência dos Estados Unidos, o tom foi mais cordial, mas nem por isso mais fácil distinguir a verdade das provocações para ecoar na internet. E Biden também não resistiu. Disse o democrata que com Trump no poder a balança comercial entre Estados Unidos e China tombou para o lado asiático. Um dado falso, assinalado pelo "Washington Post" logo após o fim do debate. Mas houve mais. Os Estados Unidos vão ter vacina contra a covid-19 nas próximas semanas. Trump prometeu, mas também não disse nem como, nem quando. E questionado sobre as previsões que apontam para uma entrada em 2022 de máscara na cara, manteve a sua posição. “São previsões de quem não tem a minha fé nos militares.” Talvez pela ajuda do botão silenciador destinado a impedir interrupções não cronometradas, talvez por ser o último da campanha e, potencialmente, o último das respetivas carreiras políticas, no debate desta madrugada quase se debateram ideias de como gerir os Estados Unidos. Mas só quase, porque para a História ficarão as trocas de mimos, mais ou menos refinadas. Como quando Trump se gabou de ser “a pessoa menos racista neste Mundo”, só para ouvir Biden ironicamente chamar-lhe Abraham Lincoln. Por outras palavras, “um dos Presidentes mais racistas que tivemos na História recente”. “Não sou o político típico e foi por isso que fui eleito”, disparou Trump a meio dos 90 minutos de debate. Eventualmente terá razão, e talvez por isso tenha apanhado tantos desprevenidos nas primeiras eleições. No "Washington Post", Fareed Zakaria assinava ontem um mea culpa , assumindo que em 2016 se tinha enganado quando não encarou como possível a eleição de Trump, mas também a “aceitar o risco” de repetir a aposta. “Apesar de tudo ainda prefiro apostar – e acreditar – nos melhores da América”. Será que desta vez acerta? Foi mesmo o último debate do Presidente Trump?

Pandemia fora de controlo

1365 internados com covid, 200 em cuidados intensivos e 3270 novos infetados, três recordes que levaram o Governo a tomar medidas de emergência. Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira mereceram especial atenção, para o restante território nacional ficou a saber-se que no fim da próxima semana ficará interdita por quatro dias a circulação entre concelhos. Marta Temido, ministra da Saúde, voltou a avisar que os números vão continuar a subir e que as medidas terão, inevitavelmente, de ser reavaliadas. Para já, ainda foi decretado que o próximo dia 2 de novembro será de luto nacional pelas 2245 pessoas que a pandemia já levou. Depois se verá como (sobre)vivem os que por cá ficam. Uns, seguramente, pior que outros – Pandemia aumenta o desemprego em 84 concelhos do país.

Plano novo, ideias velhas

António Costa e Pedro Nuno Santos apresentaram ontem o Plano Nacional de Investimento. São milhões, e muitos, 47 mil no total, a distribuir pelos próximos dez anos e desta vez, garantiram os governantes, o consenso em torno dos projetos é maior. Dizem querer evitar erros de um passado em que os planos mudavam consoante o partido no poder, dizem que agora é que vai ser. Agora, das ideias passaremos aos atos, agora sim, a linha de alta velocidade vai mesmo arrancar, mesmo custando 4,5 mil milhões de euros. Uma ideia “dispendiosa”, mas que, agora, garante o ministro das Infraestruturas, tratará benefícios ao país. De uma coisa nunca poderão ser acusados: disruptiva a ideia não é.

Eutanásia no Parlamento

O tema divide como poucos. De um lado reclama-se a liberdade de escolha, o poder de decidir o desfecho da própria vida. Do outro, argumenta-se que o papel do Estado não é matar, mas sim proteger a vida dos seus até ao seu limite. Ontem, na Assembleia da República, a discussão voltou a ser em torno da eutanásia, mas para já apenas sobre a petição para um referendo. A pergunta em causa: “Concorda que matar outra pessoa a seu pedido ou ajudá-la a suicidar-se deve continuar a ser punível pela lei penal em quaisquer circunstâncias?”. PS, Bloco, PCP, PAN e Verdes confirmaram que hoje vão votar contra a sua realização, CDS e Iniciativa Liberal a favor e o tema voltará, seguramente, à agenda parlamentar. Se da guerra se dizia ser “um assunto demasiado grave para ser confiado a militares”, a eutanásia é um tema demasiado complexo para ser reduzido a uma rudimentar pergunta.

A frase

"O número de casos ainda vai aumentar ao longo dos próximos dias", Marta Temido, ministra da Saúde

Heróis sem bola

No país do futebol, durante 15 dias falou-se de ciclismo, um feito que se deve a João Almeida, jovem de 22 anos natural das Caldas da Rainha. Ontem foi o dia em que o português perdeu a camisola rosa - Stelvio não é amigo de João Almeida, nem de ninguém, mas nunca o destruiria – mas a três etapas do final a maior das vitórias já ninguém a rouba. Arrancou como mais um dos ilustres desconhecidos do desporto nacional, terminará a prova como um dos heróis que todos passaremos a seguir. Melhor? Não estará sozinho quando se pensar nos atletas que se distinguiram na prova. No grupo estará Ruben Guerreiro, que garantiu a camisola azul, a que distingue o rei da montanha.

Vitórias na bola

Começou ontem a fase de grupos da Liga Europa. O Benfica foi à Polónia enfrentar e derrotar o Lech Poznan por 4-2 – Se um avançado vive de golos, Darwin já tem vida – enquanto o Braga recebeu e derrotou o AEK de Atenas com três golos sem resposta.

O que ando a ler

Histórias que preferia não ler, histórias que são um "Murro no Estômago", livro de Paulo Jorge Pereira, jornalista, que esta semana me chegou às mãos. Contadas na primeira pessoa, as histórias da Alice, da Beatriz e da Carla, da Deolinda, da Sónia e da Telma, servem para nos lembrar que em Portugal a violência doméstica continua a matar - 500 mulheres em 15 anos, lê-se no livro editado com o apoio da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e que o crime continua, muitas vezes, sem ser detetado ou travado a tempo. Histórias que nos envergonham a todos, que nos fazem duvidar de estarmos, de facto, no século XXI e a viver num país, supostamente, civilizado. Histórias que preferia não ler, mas que me deixam convicto que têm de ser lidas. Por todos.

O que ando a ouvir

E sem que déssemos por isso, o ano entrou no último trimestre. Ano de má memória para quase todos, ano em que perdemos na proximidade com os nossos e com os que podíamos ter conhecido, em que perdemos horas ao sol e, porque não, também à chuva, ano de que não nos esqueceremos. Mas também ano em que nem tudo foi mau. Sobretudo porque está a acabar e isso deixa-nos, inevitavelmente, mais próximos de nos livrarmos da pandemia. Segundo, porque com o seu final chega a hora de votar para os tops dos melhores discos do ano, sempre boa altura para revisitar a boa música que fomos ouvindo. Dos nacionais, revisitei os discos do Dino d' Santiago (Kriola), dos Clã (Véspera) e do Rodrigo Leão (O Método e Avis 2020). Lá de fora, voltei aos discos de Dylan (Rough Rowdy Days), da Fiona Apple (Fetch the Bolt Cutters) e ao King's Disease de Nas. Por estes dias, ainda descobri Serpentine Prison, a recente aventura a solo de Matt Berninger, vocalista dos National. Um belo disco, a lembrar que 2020 ainda não acabou, mas também que nem tudo será mau até ao seu final.

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