portugal dos pequeninos: O CAMINHO DO GRÃO DE TRIGO

07-05-2020
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Não é vulgar ver um Papa a citar Nietzsche, Salústio ou o Platão do Banquete numa encíclica. Todavia, Joseph Raztinger não é um Papa banal, nem tão-pouco o profeta das trevas que os seus apressados e analfabetos críticos teimam em ver nele. É um intelectual, por acaso da Igreja, com um profundo conhecimento do "homem moderno", nas suas luzes e nas suas sombras, nas suas cobardias e nas suas elevações. Cultiva um distanciamento aparente e prudente das "coisas terrenas", porém, e tal como o seu antecessor, conhece-as e pressente-as melhor do que qualquer um de nós. Ratzinger é um excelente "dissecador" do presente, um analista e um "comentador" privilegiado do contemporâneo, precisamente porque a sua extraordinária "couraça" filosófica lho permite. Ratzinger sabe que a sobrevivência da Igreja nestes tempos levianos e superficais depende muito dessa "couraça" e desse sentido profundo das coisas, teimosamente perseguido, com método e sem desfalecimentos, pelo mais alto dignatário do Vaticano. Foi assim com João Paulo II, um homem da resistência em todos os sentidos prováveis do termo, e é assim com Ratzinger, um firme sedutor pela palavra. Eu sou pouco dado ao "amor". As poucas vezes que o tentei entender, espalhei-me. Eu e o "amor" temos uma história complicada de amor e ódio. Diz-me Ratzinger que Deus anda lá sempre pelo meio, sobretudo através do exemplo do Seu Filho. De facto, se alguma coisa me conduz nesta permanente tentativa de "perceber", é o mistério ou, mais adequadamente, o escândalo da cruz, todos os dias renovado, cada vez mais mistério e cada vez mais escândalo. Bento XVI sabe como isto é importante para quem crê e para quem duvida. Eu sou um produto híbrido: um céptico que crê e um crente que duvida. Tudo o que até agora li de Raztinger, contrariamente ao que os seus detractores ignorantes possam imaginar, me permite continuar assim, crendo e duvidando. Como ele escreve na encíclica Deus Caritas Est, "isto é um processo que permanece continuamente em caminho: o amor nunca está "concluído" e completado; transforma-se ao longo da vida, amadurece e, por isso mesmo, permanece fiel a si próprio. Idem velle atque idem nolle - querer a mesma coisa e rejeitar a mesma coisa é, segundo os antigos, o autêntico conteúdo do amor". E é Jesus, finalmente, que no desalinho do seu sacrifício, nos mostra o caminho razoável: "Quem procurar salvaguardar a vida, perdê-la-á, e quem a perder, conservá-la-á » (Lc 17, 33) — disse Jesus, afirmação esta que se encontra nos Evangelhos com diversas variantes (cf. Mt 10, 39; 16, 25; Mc 8, 35; Lc 9, 24; Jo 12, 25). Assim descreve Jesus o seu caminho pessoal, que O conduz, através da cruz, à ressurreição: o caminho do grão de trigo que cai na terra e morre e assim dá muito fruto. Partindo do centro do seu sacrifício pessoal e do amor que aí alcança a sua plenitude, Ele, com tais palavras, descreve também a essência do amor e da existência humana em geral."


Não é vulgar ver um Papa a citar Nietzsche, Salústio ou o Platão do Banquete numa encíclica. Todavia, Joseph Raztinger não é um Papa banal, nem tão-pouco o profeta das trevas que os seus apressados e analfabetos críticos teimam em ver nele. É um intelectual, por acaso da Igreja, com um profundo conhecimento do "homem moderno", nas suas luzes e nas suas sombras, nas suas cobardias e nas suas elevações. Cultiva um distanciamento aparente e prudente das "coisas terrenas", porém, e tal como o seu antecessor, conhece-as e pressente-as melhor do que qualquer um de nós. Ratzinger é um excelente "dissecador" do presente, um analista e um "comentador" privilegiado do contemporâneo, precisamente porque a sua extraordinária "couraça" filosófica lho permite. Ratzinger sabe que a sobrevivência da Igreja nestes tempos levianos e superficais depende muito dessa "couraça" e desse sentido profundo das coisas, teimosamente perseguido, com método e sem desfalecimentos, pelo mais alto dignatário do Vaticano. Foi assim com João Paulo II, um homem da resistência em todos os sentidos prováveis do termo, e é assim com Ratzinger, um firme sedutor pela palavra. Eu sou pouco dado ao "amor". As poucas vezes que o tentei entender, espalhei-me. Eu e o "amor" temos uma história complicada de amor e ódio. Diz-me Ratzinger que Deus anda lá sempre pelo meio, sobretudo através do exemplo do Seu Filho. De facto, se alguma coisa me conduz nesta permanente tentativa de "perceber", é o mistério ou, mais adequadamente, o escândalo da cruz, todos os dias renovado, cada vez mais mistério e cada vez mais escândalo. Bento XVI sabe como isto é importante para quem crê e para quem duvida. Eu sou um produto híbrido: um céptico que crê e um crente que duvida. Tudo o que até agora li de Raztinger, contrariamente ao que os seus detractores ignorantes possam imaginar, me permite continuar assim, crendo e duvidando. Como ele escreve na encíclica Deus Caritas Est, "isto é um processo que permanece continuamente em caminho: o amor nunca está "concluído" e completado; transforma-se ao longo da vida, amadurece e, por isso mesmo, permanece fiel a si próprio. Idem velle atque idem nolle - querer a mesma coisa e rejeitar a mesma coisa é, segundo os antigos, o autêntico conteúdo do amor". E é Jesus, finalmente, que no desalinho do seu sacrifício, nos mostra o caminho razoável: "Quem procurar salvaguardar a vida, perdê-la-á, e quem a perder, conservá-la-á » (Lc 17, 33) — disse Jesus, afirmação esta que se encontra nos Evangelhos com diversas variantes (cf. Mt 10, 39; 16, 25; Mc 8, 35; Lc 9, 24; Jo 12, 25). Assim descreve Jesus o seu caminho pessoal, que O conduz, através da cruz, à ressurreição: o caminho do grão de trigo que cai na terra e morre e assim dá muito fruto. Partindo do centro do seu sacrifício pessoal e do amor que aí alcança a sua plenitude, Ele, com tais palavras, descreve também a essência do amor e da existência humana em geral."

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