O governo está a dormir

16-06-2020
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O governo está a dormir. Googlei e vi que tem um tipo chamado João Paulo Rebelo (secretário de estado da juventude e do desporto) que depende do ministro da educação (googlei e vi que se chama Tiago Brandão Rodrigues). Ambos dormem, e ressonam.

Isto da notícia de agora, a claque benfiquista (a célebre “No Name Boys”, ao que parece) cantando “Deixa-a morrer” dedicada a uma jogadora de futebol do Sporting, mostra o ambiente das “claques” portuguesas. Esta a do Benfica. Podiam ser outras, as do “meu” Sporting também. Mas não é um ambiente brotado do nada. Para quem não liga a estas coisas, saiba que é ilegal as claques não estarem organizadas juntamente com o clube. O presidente do Benfica nega ter claques no seu clube. O governo nada diz diante dessa aleivosia, a não ser pedir bilhetes para ir à bola (e depois os bem-pensantes desculpam Centeno, dizendo que é uma minudência: os bem-pensantes portugueses pensam mal, porque não pensam sociologicamente, apenas com a bolsa-própria, o que passa muito pela cagança de se afirmarem … bem-pensantes, “finos” mas que de facto são finórios). Um membro da claque do Benfica assassinou um adepto do Sporting no ano passado. O presidente do Benfica perguntou o que andavam a fazer os adeptos do Sporting na 2ª circular junto do estádio da Luz. O adepto assassino foi agora, ao fim de dez meses, solto da sua prisão preventiva porque o processo se atrasou. O governo nada diz, e se os tribunais são independentes o impacto social destes fenómenos são para dirimir pela tutela governamental.

Há pouco houve conflitos gravíssimos entre claques do Braga e a polícia, aquando da visita do Benfica. O ano passado houve tiros na noite do Braga-Guimarães. Notícias recentes apontavam um dos lideres das claques sportinguistas como envolvido em conspirações criminosas. Nunca mais se ouviu falar do assunto. Uma claque do Porto orgulha-se de controlar um clube local, Canelas, no qual faz o culto da violência desportiva, situação muito propagandeada pela comunicação social, para evidente gozo da “massa adepta” do grande clube. O seu líder acaba de participar num simpósio sobre “violência no desporto”, uma situação aparentemente paradoxal.

A televisão pública, sob tutela governamental, acompanha, em cada jogo importante, a par e passo, as deslocações das claques, dando-lhes um óbvio sentido épico, acicatando-lhes os ânimos pela visibilidade alcançada, “militarizando-as” até, tanto pelo enquadramento policial como pelo tom de confrontação que as coreografias dentro e fora dos estádios adquirem.

A televisão pública e as estações privadas que emitem com alvará concedido pelo estado produzem programas de comentários futebolísticos radicalmente conflituais, para gáudio das assistências e sistematicamente reproduzidos pela imprensa escrita e nas redes sociais (e convém ver os disparates e o acinte com que os vulgares pais de família falam de futebol no FB para poder antever o grau de demência quando os adeptos estão em comunhão “festiva”).

O jornal espanhol “El País” acaba de publicar um acertado artigo sobre o ambiente do futebol português, dizendo-o “de futebolistas pacíficos e de presidentes incendiários”, referindo-se aos 3 grandes. Que o são, de viva-voz (actualmente em particular o do Sporting) e por intermediários (os do Benfica e Porto, já mais “bois velhos” e sabidos). E se o ambiente entre as grandes claques dos grandes clubes assim se torna abrasivo o mimetismo grassa entre as de outros clubes, forma pensada da afirmação destes, como é óbvio que acontece entre os bracarenses e vimaranenses (estes tradicionalmente agressivos, ainda que tendencialmente autofágicos).

Um destes dias vai haver merda da grossa num estádio ou nas suas cercanias. Costa dirá “não me faça rir” a quem lhe perguntar sobre as responsabilidades do governo. O tal Rebelo dirá que quer ir de férias. A senhora da Justiça e um qualquer alguém que tenha qualquer tutela sobre a comunicação social dirão “muito lamento”. E, uns mais que outros, continuarão a pedir bilhetes para ir à bola. Os bem-pensantes encolherão os ombros, resmungando “é inaceitável, mas é a turba”, essa que o romano terá dito que não se deixa governar.

Eu, que sou turba, vou dizendo que estão a ressonar, os gajos lá do governo. Depois, quando houver a bronca mesmo, meterei aqui os palavrões. Devidos.

O governo está a dormir. Googlei e vi que tem um tipo chamado João Paulo Rebelo (secretário de estado da juventude e do desporto) que depende do ministro da educação (googlei e vi que se chama Tiago Brandão Rodrigues). Ambos dormem, e ressonam.

Isto da notícia de agora, a claque benfiquista (a célebre “No Name Boys”, ao que parece) cantando “Deixa-a morrer” dedicada a uma jogadora de futebol do Sporting, mostra o ambiente das “claques” portuguesas. Esta a do Benfica. Podiam ser outras, as do “meu” Sporting também. Mas não é um ambiente brotado do nada. Para quem não liga a estas coisas, saiba que é ilegal as claques não estarem organizadas juntamente com o clube. O presidente do Benfica nega ter claques no seu clube. O governo nada diz diante dessa aleivosia, a não ser pedir bilhetes para ir à bola (e depois os bem-pensantes desculpam Centeno, dizendo que é uma minudência: os bem-pensantes portugueses pensam mal, porque não pensam sociologicamente, apenas com a bolsa-própria, o que passa muito pela cagança de se afirmarem … bem-pensantes, “finos” mas que de facto são finórios). Um membro da claque do Benfica assassinou um adepto do Sporting no ano passado. O presidente do Benfica perguntou o que andavam a fazer os adeptos do Sporting na 2ª circular junto do estádio da Luz. O adepto assassino foi agora, ao fim de dez meses, solto da sua prisão preventiva porque o processo se atrasou. O governo nada diz, e se os tribunais são independentes o impacto social destes fenómenos são para dirimir pela tutela governamental.

Há pouco houve conflitos gravíssimos entre claques do Braga e a polícia, aquando da visita do Benfica. O ano passado houve tiros na noite do Braga-Guimarães. Notícias recentes apontavam um dos lideres das claques sportinguistas como envolvido em conspirações criminosas. Nunca mais se ouviu falar do assunto. Uma claque do Porto orgulha-se de controlar um clube local, Canelas, no qual faz o culto da violência desportiva, situação muito propagandeada pela comunicação social, para evidente gozo da “massa adepta” do grande clube. O seu líder acaba de participar num simpósio sobre “violência no desporto”, uma situação aparentemente paradoxal.

A televisão pública, sob tutela governamental, acompanha, em cada jogo importante, a par e passo, as deslocações das claques, dando-lhes um óbvio sentido épico, acicatando-lhes os ânimos pela visibilidade alcançada, “militarizando-as” até, tanto pelo enquadramento policial como pelo tom de confrontação que as coreografias dentro e fora dos estádios adquirem.

A televisão pública e as estações privadas que emitem com alvará concedido pelo estado produzem programas de comentários futebolísticos radicalmente conflituais, para gáudio das assistências e sistematicamente reproduzidos pela imprensa escrita e nas redes sociais (e convém ver os disparates e o acinte com que os vulgares pais de família falam de futebol no FB para poder antever o grau de demência quando os adeptos estão em comunhão “festiva”).

O jornal espanhol “El País” acaba de publicar um acertado artigo sobre o ambiente do futebol português, dizendo-o “de futebolistas pacíficos e de presidentes incendiários”, referindo-se aos 3 grandes. Que o são, de viva-voz (actualmente em particular o do Sporting) e por intermediários (os do Benfica e Porto, já mais “bois velhos” e sabidos). E se o ambiente entre as grandes claques dos grandes clubes assim se torna abrasivo o mimetismo grassa entre as de outros clubes, forma pensada da afirmação destes, como é óbvio que acontece entre os bracarenses e vimaranenses (estes tradicionalmente agressivos, ainda que tendencialmente autofágicos).

Um destes dias vai haver merda da grossa num estádio ou nas suas cercanias. Costa dirá “não me faça rir” a quem lhe perguntar sobre as responsabilidades do governo. O tal Rebelo dirá que quer ir de férias. A senhora da Justiça e um qualquer alguém que tenha qualquer tutela sobre a comunicação social dirão “muito lamento”. E, uns mais que outros, continuarão a pedir bilhetes para ir à bola. Os bem-pensantes encolherão os ombros, resmungando “é inaceitável, mas é a turba”, essa que o romano terá dito que não se deixa governar.

Eu, que sou turba, vou dizendo que estão a ressonar, os gajos lá do governo. Depois, quando houver a bronca mesmo, meterei aqui os palavrões. Devidos.

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