Do Portugal Profundo: Balanço consolidado da eleição presidencial

02-09-2020
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Assenta a poeira suja nas terras revoltadas e desfaz-se, pelo remanso da maré, a espuma fugaz nas praias frias, depois da agitada campanha da eleição presidencial de 2011. Consolidados os factos, e depois de servida a prioridade política, é altura de fazer um balanço da eleição.

Em primeiro lugar, o vencedor. Contra todos à esquerda e, à direita, contra franjas maçónicas e radicais cristãos de indignação selectiva, o Prof. Cavaco Silva ganhou a eleição, logo na primeira volta. Venceu quase sozinho, com magro apoio institucional e hostilidade dos media, e raros combatentes na esgrima violenta de uma guerra de cerco socretino que não teve quinze dias, mas cinco anos. Venceu contra três candidatos socialistas - os oficiais Manuel Alegre e Defensor de Moura e o candidato Fernando Nobre, de ideologia socialista e apoio soarista -, além do aliado José Manuel Coelho, que terá recebido apoio logístico e informação suja do aparelho socialista. Mas não só. Derrotou o Partido Socialista, com a máquina governamental, com a sua estrutura de informações e o seu controlo asfixiante dos media. O candidato comunista, Francisco Lopes, não concorria com Cavaco, mas para segurar o eleitorado comunista, o que conseguiu.

Que consequências podemos tirar das eleições relativamente aos candidatos?
Por mais que a quisessem reduzir, e teimem em condicionar, o Prof. Cavaco Silva ganhou. Não adianta enfatizar a abstenção e comparar-lhe os votos: foi eleito na primeira volta da eleição, tal como há cinco anos, e com maior percentagem do que em 2006 (52,95% contra 50,54%). A comparação dos votos com Sampaio não resulta como os socialistas querem: como notei, Cavaco teve mais votos na sua reeleição em 2011 do que Sampaio em 2001 - ainda que na reeleição tenho tido menor percentagem do que este. Na abstenção, devem ser descontados os cerca de 1.108.623 eleitores-fantasma (referindo a estimativa rápida do Prof. Jorge de Sá, o Prof. Marcello Rebelo de Sousa fez ontem, 30-1-2011, na TVI, uma confusão ao mencionar 2/3 de eleitores estrangeiros que não podem votar - os outros podem?!... - quando Jorge de Sá pressupôs 2/3 de eleitores estrangeiros maiores de 18 anos, em vez de 81,55% de taxa semelhante à população nacional) e os cerca de 270.875 votantes eventualmente impedidos de votar (3,26% do universo) pelo exposto boicote do Cartão do Cidadão - que não parece ter prejudicado os mais instruídos e mais jovens votantes da esquerda (vocalizara palavra «esquerda» sempre com a entoação da palavra de ordem do Bloco, na sua versão ruidosa anterior a 2011). A abstenção no território nacional não seria assim, de 52,48% (o número oficial), mas apenas, conforme calculei aqui, 42,9%... Aliás, o tema da abstenção morreu com as notícias do boicote governamental da eleição, como foi removida a lama do BPN, quando se percebeu a mão roxa socialista por detrás da indignação mediática.
Manuel Alegre perdeu duas vezes. Perdeu nos votos e perdeu na forma. E a forma, para um poeta, é quase tudo. A forma como imputou, falsamente e sem provas, ao Prof. Cavaco Silva os crimes de «tráfico de influências» e «favorecimento pessoal» (Sol, 6-1-2011) - repito sempre os linques para que não se possam desmentir as imputações - é vergonhosa. E perdeu nos votos: entre 2006 e 2011, Alegre teve uma redução no número de votos de 26,15% (contra 19,01 de Cavaco); e mal suplantou o candidato Fernando Nobre, desfavorecido pela censura televisiva do crescimento da sua preferência nas sondagens. Por conforto pessoal, não quis arriscar a dissidência no PS e acabou preso na contradição dos apoios do próprio PS e do Bloco de Esquerda.
Defensor de Moura foi apenas mais um joguete do PS socretino, no lançamento de acusações impróprias para consumo eleitoral. Imputou ao Prof. Cavaco Silva os crimes de «negócios ilícitos, favorecimentos» (RR, 28-12-2010) e insistiu no crime de «favorecimento» (DN, 5-1-2011), mas, afinal, apenas conseguiu 1,57% contra 4,49% do candidato Tiririca (com o alguém chamou a José Manuel Coelho), que aliás foi mais vago nas acusações.
E Fernando Nobre teve 14,1% e agregou, à maneira Manuel Alegre há cinco anos, os votos da esquerda desiludida com a corrupção política e ideológica socialista, isto é dos desiludidos do PSD e uma grande fatia dos votantes do Bloco que desprezaram a jogada táctica (falhada...) de Francisco Louçã sobre o PS. Nobre pode voltar, mas, como se sabe e viu, cinco anos é o tempo de tornar alguém alegre em muito triste.

E quais são os efeitos da eleição presidencial sobre os partidos?
O PS perdeu. Por que já não tinha força interna para impor Nobre e temia o esfrangalhamento ainda mais rápido do partido, Sócrates não cedeu ao conselho de Mário Soares e cedeu em apoiar oficialmente Alegre. Pouco lhe interessava: queria ser ele o candidato, mas a situação económica deslizante condenou-o a ser espectador de bancada. O PS de Sócrates não vale apenas dezanove por cento, mas dá a impressão de assim é. Mas a maior derrota é a do PS ter preparado e lançado a lama sobre o Presidente  - que chegou a operações dos serviços de minuciamento simultâneo de dossiês negros às redacções -, serem lançados ministros nas últimas semanas contra o Presidente com grosserias para evitar a temida erosão da votação em Alegre, e ter perdido. Não se pode atacar um rei e falhar. Por mais que Mário Soares tente a recomposição do partido, a perda do poder pelos socialistas é inevitável e a sua travessia do deserto não parece vir a ser consolada por um qualquer maná profano.
O PSD ganha por ter apoiado Cavaco Silva. Passos Coelho não cedeu à tentação irredentista, de uma espécie de secessão da sua antiga facção anti-cavaquista, e capitalizou os votos de Cavaco. Em política, o que parece também é.
O Bloco foi derrotado, como disse, pela má opção táctica de Francisco Louçã e agora, como alguém me dizia, para emendar o erro, tem de atacar ferozmente Sócrates, seu ex-proto-aliado.
O PC manteve o seu eleitorado fiel.
E o CDS-PP pode tentar surfar a onda da vitória do Presidente, pelo apoio que lhe deu e por ter decidido conter a colcaboração socretina de lançam,ento de um candidato próprio.

Terminada a batalha presidencial, recolhidas as frustrações socialistas após as acusações de «rancoroso» (Mário Soares, DN, 25-1-2011) e «cruel» (Almeida Santos, Sol, 30-1-2011) ao Prof. Cavaco Silva (pelos discursos da noite eleitoral) - em contraste com a piedade de Manuel Alegre e do próprio Mário Soares -, acusações que disfarçam as imputações directas de crimes que os candidatos socialistas fizeram ao Prof. Cavaco Silva e os ministros ao Presidente da República e o boicote anti-democrático da eleição pelo Governo, através do estratagema do Cartão do Cidadão, começa a mãe de todas as batalhas: a conquista do poder ao Partido Socialista de José Sócrates.

* Imagem picada daqui.

Actualização: este poste foi actualizado às 16:09 de 31-1-2011.


Assenta a poeira suja nas terras revoltadas e desfaz-se, pelo remanso da maré, a espuma fugaz nas praias frias, depois da agitada campanha da eleição presidencial de 2011. Consolidados os factos, e depois de servida a prioridade política, é altura de fazer um balanço da eleição.

Em primeiro lugar, o vencedor. Contra todos à esquerda e, à direita, contra franjas maçónicas e radicais cristãos de indignação selectiva, o Prof. Cavaco Silva ganhou a eleição, logo na primeira volta. Venceu quase sozinho, com magro apoio institucional e hostilidade dos media, e raros combatentes na esgrima violenta de uma guerra de cerco socretino que não teve quinze dias, mas cinco anos. Venceu contra três candidatos socialistas - os oficiais Manuel Alegre e Defensor de Moura e o candidato Fernando Nobre, de ideologia socialista e apoio soarista -, além do aliado José Manuel Coelho, que terá recebido apoio logístico e informação suja do aparelho socialista. Mas não só. Derrotou o Partido Socialista, com a máquina governamental, com a sua estrutura de informações e o seu controlo asfixiante dos media. O candidato comunista, Francisco Lopes, não concorria com Cavaco, mas para segurar o eleitorado comunista, o que conseguiu.

Que consequências podemos tirar das eleições relativamente aos candidatos?
Por mais que a quisessem reduzir, e teimem em condicionar, o Prof. Cavaco Silva ganhou. Não adianta enfatizar a abstenção e comparar-lhe os votos: foi eleito na primeira volta da eleição, tal como há cinco anos, e com maior percentagem do que em 2006 (52,95% contra 50,54%). A comparação dos votos com Sampaio não resulta como os socialistas querem: como notei, Cavaco teve mais votos na sua reeleição em 2011 do que Sampaio em 2001 - ainda que na reeleição tenho tido menor percentagem do que este. Na abstenção, devem ser descontados os cerca de 1.108.623 eleitores-fantasma (referindo a estimativa rápida do Prof. Jorge de Sá, o Prof. Marcello Rebelo de Sousa fez ontem, 30-1-2011, na TVI, uma confusão ao mencionar 2/3 de eleitores estrangeiros que não podem votar - os outros podem?!... - quando Jorge de Sá pressupôs 2/3 de eleitores estrangeiros maiores de 18 anos, em vez de 81,55% de taxa semelhante à população nacional) e os cerca de 270.875 votantes eventualmente impedidos de votar (3,26% do universo) pelo exposto boicote do Cartão do Cidadão - que não parece ter prejudicado os mais instruídos e mais jovens votantes da esquerda (vocalizara palavra «esquerda» sempre com a entoação da palavra de ordem do Bloco, na sua versão ruidosa anterior a 2011). A abstenção no território nacional não seria assim, de 52,48% (o número oficial), mas apenas, conforme calculei aqui, 42,9%... Aliás, o tema da abstenção morreu com as notícias do boicote governamental da eleição, como foi removida a lama do BPN, quando se percebeu a mão roxa socialista por detrás da indignação mediática.
Manuel Alegre perdeu duas vezes. Perdeu nos votos e perdeu na forma. E a forma, para um poeta, é quase tudo. A forma como imputou, falsamente e sem provas, ao Prof. Cavaco Silva os crimes de «tráfico de influências» e «favorecimento pessoal» (Sol, 6-1-2011) - repito sempre os linques para que não se possam desmentir as imputações - é vergonhosa. E perdeu nos votos: entre 2006 e 2011, Alegre teve uma redução no número de votos de 26,15% (contra 19,01 de Cavaco); e mal suplantou o candidato Fernando Nobre, desfavorecido pela censura televisiva do crescimento da sua preferência nas sondagens. Por conforto pessoal, não quis arriscar a dissidência no PS e acabou preso na contradição dos apoios do próprio PS e do Bloco de Esquerda.
Defensor de Moura foi apenas mais um joguete do PS socretino, no lançamento de acusações impróprias para consumo eleitoral. Imputou ao Prof. Cavaco Silva os crimes de «negócios ilícitos, favorecimentos» (RR, 28-12-2010) e insistiu no crime de «favorecimento» (DN, 5-1-2011), mas, afinal, apenas conseguiu 1,57% contra 4,49% do candidato Tiririca (com o alguém chamou a José Manuel Coelho), que aliás foi mais vago nas acusações.
E Fernando Nobre teve 14,1% e agregou, à maneira Manuel Alegre há cinco anos, os votos da esquerda desiludida com a corrupção política e ideológica socialista, isto é dos desiludidos do PSD e uma grande fatia dos votantes do Bloco que desprezaram a jogada táctica (falhada...) de Francisco Louçã sobre o PS. Nobre pode voltar, mas, como se sabe e viu, cinco anos é o tempo de tornar alguém alegre em muito triste.

E quais são os efeitos da eleição presidencial sobre os partidos?
O PS perdeu. Por que já não tinha força interna para impor Nobre e temia o esfrangalhamento ainda mais rápido do partido, Sócrates não cedeu ao conselho de Mário Soares e cedeu em apoiar oficialmente Alegre. Pouco lhe interessava: queria ser ele o candidato, mas a situação económica deslizante condenou-o a ser espectador de bancada. O PS de Sócrates não vale apenas dezanove por cento, mas dá a impressão de assim é. Mas a maior derrota é a do PS ter preparado e lançado a lama sobre o Presidente  - que chegou a operações dos serviços de minuciamento simultâneo de dossiês negros às redacções -, serem lançados ministros nas últimas semanas contra o Presidente com grosserias para evitar a temida erosão da votação em Alegre, e ter perdido. Não se pode atacar um rei e falhar. Por mais que Mário Soares tente a recomposição do partido, a perda do poder pelos socialistas é inevitável e a sua travessia do deserto não parece vir a ser consolada por um qualquer maná profano.
O PSD ganha por ter apoiado Cavaco Silva. Passos Coelho não cedeu à tentação irredentista, de uma espécie de secessão da sua antiga facção anti-cavaquista, e capitalizou os votos de Cavaco. Em política, o que parece também é.
O Bloco foi derrotado, como disse, pela má opção táctica de Francisco Louçã e agora, como alguém me dizia, para emendar o erro, tem de atacar ferozmente Sócrates, seu ex-proto-aliado.
O PC manteve o seu eleitorado fiel.
E o CDS-PP pode tentar surfar a onda da vitória do Presidente, pelo apoio que lhe deu e por ter decidido conter a colcaboração socretina de lançam,ento de um candidato próprio.

Terminada a batalha presidencial, recolhidas as frustrações socialistas após as acusações de «rancoroso» (Mário Soares, DN, 25-1-2011) e «cruel» (Almeida Santos, Sol, 30-1-2011) ao Prof. Cavaco Silva (pelos discursos da noite eleitoral) - em contraste com a piedade de Manuel Alegre e do próprio Mário Soares -, acusações que disfarçam as imputações directas de crimes que os candidatos socialistas fizeram ao Prof. Cavaco Silva e os ministros ao Presidente da República e o boicote anti-democrático da eleição pelo Governo, através do estratagema do Cartão do Cidadão, começa a mãe de todas as batalhas: a conquista do poder ao Partido Socialista de José Sócrates.

* Imagem picada daqui.

Actualização: este poste foi actualizado às 16:09 de 31-1-2011.

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