Breve prefácio da segunda vaga

16-09-2020
marcar artigo

Ontem, o Guinness World of Records oficializou que Maya Gabeira bateu o seu próprio recorde do mundo, ao fazer uma onda de 22,4 metros no canhão da Nazaré. A surfista, que em 2013 ficou inconsciente num acidente no mesmo local conseguiu, assim, renovar o seu próprio recorde do mundo . Foi uma segunda vaga inesquecível . Também ontem, o governo avançou para uma nova série de medidas que pretendem colocar Portugal longe de qualquer recorde, europeu, do mundo, do que seja que tenha a ver com a pandemia. Vamos ter linhas mais apertadas para o combate à Covid 19 . Os números sobem, as férias acabaram, as escolas vão abrir… E o governo recusa a ideia de voltar a um confinamento geral numa segunda vaga . A expressão segunda vaga está em hoje em todos os jornais e sites de informação, portugueses e estrangeiros. Mas, infelizmente, não tem a “simplicidade” da vaga que colocou pela segunda vez Maya Gabeira na história. Há especialistas que defendem que a segunda vaga já chegou, outros que recusam essa ideia, outros ainda que acham que a expressão não devia ser usada. A ideia de que a segunda vaga vai chegar, parece impossível de combater. Em Espanha os números subiram muito depressa e quase toda a Europa assiste a um crescimento acentuado, o que, na verdade, sempre se esperou para esta altura. Esse é o maior problema desta pandemia : o vírus está a percorrer o exato caminho que os mais sábios lhe traçaram em março. Assim, a partir de dia 15, há uma série de medidas já conhecidas , mas que ainda exigem detalhe e, sobretudo, aplicação. O que nem sempre será fácil. Estas são as principais: - Os ajuntamentos ficam limitados a 10 pessoas (incluindo na restauração); - Os estabelecimentos comerciais não podem abrir antes das 10h (com exceções); - O horário de encerramento dos estabelecimentos será determinado entre as 20h e as 23h, por decisão municipal; - Em áreas de restauração de centros comerciais, passa a haver um limite máximo de 4 pessoas por grupo; - Mantém-se proibição de venda de bebidas alcoólicas nas estações de serviço e, a partir das 20h, em todos os estabelecimentos (salvo refeições); - A proibição de consumo de bebidas alcoólicas na via pública é total; - Nos restaurantes, cafés e pastelarias a 300 metros das escolas, passa a vigorar um limite máximo de 4 pessoas por grupo; - Recintos desportivos continuam sem público. Nas áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto , há medidas ainda mais complexas: - As empresas terão de ter equipas a funcionar em espelho, com escalas de rotatividade entre teletrabalho e trabalho presencial; - Haverá um desfasamento de horários obrigatório, com horários diferenciados de entrada e saída e horários diferenciados de pausas Na próxima semana arranca o ano escolar . Como tudo de novo em movimento, esse será o grande teste. A ver como aguentamos essa segunda vaga .

OUTRAS NOTÍCIAS

Nas presidenciais, o tempo aperta e as candidaturas ganham forma. Ontem foi a vez de Ana Gomes, que se cansou de esperar, meses e meses, por uma candidatura do seu partido. A ex-embaixadora e comentadora da SIC, apresenta-se para ocupar o campo do “socialismo democrático” e defende que os militantes do PS saberão "pensar pela própria cabeça" e decidir qual o candidato que irão apoiar. “Não me candidato contra ninguém. Candidato-me pelos portugueses. É contra ideias, contra projetos que considero nocivos para o país”, afirmou.

Porque corre Ana Gomes? Neste texto do Expresso, Ângela Silva explica isso bem: “Não, o combate de Ana Gomes não é bem contra Marcelo Rebelo de Sousa, cujo primeiro mandato lhe merece "um balanço positivo". Não é seguramente contra a candidata do Bloco de Esquerda, com quem diz ter muitas causas e projetos "em comum" e com quem espera "dialogar". E mesmo o candidato do Chega não a leva a perder muito tempo - confrontada com os ataques de Ventura que lhe chamou 'candidata cigana', chutou para canto e disse que não se candidata "contra ninguém". O combate de Ana Gomes - que arrancou em pose institucional - é, sobretudo, dentro do PS e para abanar o PS, cuja "deserção" das presidenciais diz "não compreender nem aceitar.

Amanhã será a vez de o PCP apresentar o seu candidato às presidenciais. Com essa decisão, fica apenas a faltar a oficialização de Marcelo Rebelo de Sousa para que todos os principais candidatos fiquem conhecidos.

Hoje é dia de apresentação da “Agenda de Inovação para a Agricultura 2030”. Segundo a ministra, um plano estratégico a dez anos que traça metas ambiciosas para o sector. Mais umas horas e perceberemos o que isso quer dizer e como é que o plano é recebido pelo setor.

Na frente internacional, as notícias que chegam dos EUA são impressionantes. Violentos incêndios obrigaram à evacuação de 500 mil pessoas no estado do Oregon. Quase dez por cento da população teve que deixar as suas casas e rumar para Portland, enquanto as chamas devastam o sul do estado, com uma força que não era vista há 30 anos.

A data do Brexit aproxima-se e Bruxelas lançou um ultimato ao governo de Londres que, sem aviso, anunciou um quadro legal que não respeita alguns princípios negociados no acordo de saída da UE. Dos dois lados do canal, e nos quatro cantos do mundo, começam os preparativos para um Brexit sem acordo.

No mundo corporativo, o CEO da Rio Tinto, um colosso mundial da industria mineira, foi obrigado a demitir-se por pressão dos acionistas, em reação ao escândalo que provocou a decisão da empresa de destruir uns abrigos rochosos dos aborígenes australianos, com 46 mil anos, que eram considerados uma preciosidade arqueológica.

Ainda no mundo corporativo, o Citibank é o primeiro grande banco de Wall Street a ter uma mulher como CEO, a escocesa Jane Fraser. Parece uma notícia banal, mas não é.

O empresário Patrick Drahi lançou uma OPA de 2,5 mil milhões para tirar a Altice Europe, dona da Meo em Portugal, de Bolsa. Drahi oferece 4,11 euros por cada ação da Altice Europe para comprar todas as ações que não controla na empresa de telecomunicações.

FRASES

“Não posso desertar neste combate”. Ana Gomes, no lançamento da sua candidatura presidencial

“Queremos garantir a autonomia estratégica do país”. Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura, no Jornal Económico

“Nas últimas semanas, os casos duplicaram em França, aumentaram uns 300% em Espanha (…) , eles estão a passar um mau bocado”. Donald Trump, numa declaração que fez eco em Espanha

O QUE EU ANDO A LER

O título é pouco convidativo, mas “A morte e a morte” é um texto estupendo de João Moreira Salles, publicado na edição de julho da revista brasileira Piauí. O texto é sobre Bolsonaro e a morte, ou melhor, sobre a sua indiferença e deleite, isso mesmo, em relação à morte.

O texto tem uma abordagem dura e eventualmente chocante ao bolsonarismo, mas é poderoso e muito bem escrito. O chapéu do texto é a pandemia, mas liga elementos anteriores, mais conjunturais, e constrói uma espécie de traços comuns perante a destruição, o desaparecimento, o fim de qualquer coisa.

Um pequeno exemplo:

“O presidente é honesto. Uma das frases mais sinceras da história da política brasileira é a breve: “E daí?” Há muitas outras – “Eu não sou coveiro”, “Quer que faça o quê?”, “É o destino de cada um” – mas nenhuma tem a concisão aforística de “E daí?”. Nenhum substantivo, nenhum adjetivo, nenhum verbo. Os mortos, os doentes, os que perderam pais, mães, filhos e amigos, os que diariamente vão para a linha de frente salvar vidas – uma locução adverbial de quatro letras dá conta de tudo que o presidente tem a lhes dizer.”

Para João Moreira Salles não existe bolsonarismo, só bolsonaristas. Não há corpo teórico, apenas uma espécie de prática de destruição das instituições e de políticas públicas. “Não é obra de engenharia. É destruição”.

Os apoiantes de Bolsonaro odeiam a revista Piauí e João Moreira Salles, que fundou e financia a revista. Mas, como diria o presidente brasileiro, e daí? A revista, que é difícil de encontrar em Portugal, onde chega atrasada, é, para muitos leitores, um objeto de culto, com muitos textos disponíveis online.

Tenha uma boa sexta e prepare bem o mergulho na segunda vaga.

Ontem, o Guinness World of Records oficializou que Maya Gabeira bateu o seu próprio recorde do mundo, ao fazer uma onda de 22,4 metros no canhão da Nazaré. A surfista, que em 2013 ficou inconsciente num acidente no mesmo local conseguiu, assim, renovar o seu próprio recorde do mundo . Foi uma segunda vaga inesquecível . Também ontem, o governo avançou para uma nova série de medidas que pretendem colocar Portugal longe de qualquer recorde, europeu, do mundo, do que seja que tenha a ver com a pandemia. Vamos ter linhas mais apertadas para o combate à Covid 19 . Os números sobem, as férias acabaram, as escolas vão abrir… E o governo recusa a ideia de voltar a um confinamento geral numa segunda vaga . A expressão segunda vaga está em hoje em todos os jornais e sites de informação, portugueses e estrangeiros. Mas, infelizmente, não tem a “simplicidade” da vaga que colocou pela segunda vez Maya Gabeira na história. Há especialistas que defendem que a segunda vaga já chegou, outros que recusam essa ideia, outros ainda que acham que a expressão não devia ser usada. A ideia de que a segunda vaga vai chegar, parece impossível de combater. Em Espanha os números subiram muito depressa e quase toda a Europa assiste a um crescimento acentuado, o que, na verdade, sempre se esperou para esta altura. Esse é o maior problema desta pandemia : o vírus está a percorrer o exato caminho que os mais sábios lhe traçaram em março. Assim, a partir de dia 15, há uma série de medidas já conhecidas , mas que ainda exigem detalhe e, sobretudo, aplicação. O que nem sempre será fácil. Estas são as principais: - Os ajuntamentos ficam limitados a 10 pessoas (incluindo na restauração); - Os estabelecimentos comerciais não podem abrir antes das 10h (com exceções); - O horário de encerramento dos estabelecimentos será determinado entre as 20h e as 23h, por decisão municipal; - Em áreas de restauração de centros comerciais, passa a haver um limite máximo de 4 pessoas por grupo; - Mantém-se proibição de venda de bebidas alcoólicas nas estações de serviço e, a partir das 20h, em todos os estabelecimentos (salvo refeições); - A proibição de consumo de bebidas alcoólicas na via pública é total; - Nos restaurantes, cafés e pastelarias a 300 metros das escolas, passa a vigorar um limite máximo de 4 pessoas por grupo; - Recintos desportivos continuam sem público. Nas áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto , há medidas ainda mais complexas: - As empresas terão de ter equipas a funcionar em espelho, com escalas de rotatividade entre teletrabalho e trabalho presencial; - Haverá um desfasamento de horários obrigatório, com horários diferenciados de entrada e saída e horários diferenciados de pausas Na próxima semana arranca o ano escolar . Como tudo de novo em movimento, esse será o grande teste. A ver como aguentamos essa segunda vaga .

OUTRAS NOTÍCIAS

Nas presidenciais, o tempo aperta e as candidaturas ganham forma. Ontem foi a vez de Ana Gomes, que se cansou de esperar, meses e meses, por uma candidatura do seu partido. A ex-embaixadora e comentadora da SIC, apresenta-se para ocupar o campo do “socialismo democrático” e defende que os militantes do PS saberão "pensar pela própria cabeça" e decidir qual o candidato que irão apoiar. “Não me candidato contra ninguém. Candidato-me pelos portugueses. É contra ideias, contra projetos que considero nocivos para o país”, afirmou.

Porque corre Ana Gomes? Neste texto do Expresso, Ângela Silva explica isso bem: “Não, o combate de Ana Gomes não é bem contra Marcelo Rebelo de Sousa, cujo primeiro mandato lhe merece "um balanço positivo". Não é seguramente contra a candidata do Bloco de Esquerda, com quem diz ter muitas causas e projetos "em comum" e com quem espera "dialogar". E mesmo o candidato do Chega não a leva a perder muito tempo - confrontada com os ataques de Ventura que lhe chamou 'candidata cigana', chutou para canto e disse que não se candidata "contra ninguém". O combate de Ana Gomes - que arrancou em pose institucional - é, sobretudo, dentro do PS e para abanar o PS, cuja "deserção" das presidenciais diz "não compreender nem aceitar.

Amanhã será a vez de o PCP apresentar o seu candidato às presidenciais. Com essa decisão, fica apenas a faltar a oficialização de Marcelo Rebelo de Sousa para que todos os principais candidatos fiquem conhecidos.

Hoje é dia de apresentação da “Agenda de Inovação para a Agricultura 2030”. Segundo a ministra, um plano estratégico a dez anos que traça metas ambiciosas para o sector. Mais umas horas e perceberemos o que isso quer dizer e como é que o plano é recebido pelo setor.

Na frente internacional, as notícias que chegam dos EUA são impressionantes. Violentos incêndios obrigaram à evacuação de 500 mil pessoas no estado do Oregon. Quase dez por cento da população teve que deixar as suas casas e rumar para Portland, enquanto as chamas devastam o sul do estado, com uma força que não era vista há 30 anos.

A data do Brexit aproxima-se e Bruxelas lançou um ultimato ao governo de Londres que, sem aviso, anunciou um quadro legal que não respeita alguns princípios negociados no acordo de saída da UE. Dos dois lados do canal, e nos quatro cantos do mundo, começam os preparativos para um Brexit sem acordo.

No mundo corporativo, o CEO da Rio Tinto, um colosso mundial da industria mineira, foi obrigado a demitir-se por pressão dos acionistas, em reação ao escândalo que provocou a decisão da empresa de destruir uns abrigos rochosos dos aborígenes australianos, com 46 mil anos, que eram considerados uma preciosidade arqueológica.

Ainda no mundo corporativo, o Citibank é o primeiro grande banco de Wall Street a ter uma mulher como CEO, a escocesa Jane Fraser. Parece uma notícia banal, mas não é.

O empresário Patrick Drahi lançou uma OPA de 2,5 mil milhões para tirar a Altice Europe, dona da Meo em Portugal, de Bolsa. Drahi oferece 4,11 euros por cada ação da Altice Europe para comprar todas as ações que não controla na empresa de telecomunicações.

FRASES

“Não posso desertar neste combate”. Ana Gomes, no lançamento da sua candidatura presidencial

“Queremos garantir a autonomia estratégica do país”. Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura, no Jornal Económico

“Nas últimas semanas, os casos duplicaram em França, aumentaram uns 300% em Espanha (…) , eles estão a passar um mau bocado”. Donald Trump, numa declaração que fez eco em Espanha

O QUE EU ANDO A LER

O título é pouco convidativo, mas “A morte e a morte” é um texto estupendo de João Moreira Salles, publicado na edição de julho da revista brasileira Piauí. O texto é sobre Bolsonaro e a morte, ou melhor, sobre a sua indiferença e deleite, isso mesmo, em relação à morte.

O texto tem uma abordagem dura e eventualmente chocante ao bolsonarismo, mas é poderoso e muito bem escrito. O chapéu do texto é a pandemia, mas liga elementos anteriores, mais conjunturais, e constrói uma espécie de traços comuns perante a destruição, o desaparecimento, o fim de qualquer coisa.

Um pequeno exemplo:

“O presidente é honesto. Uma das frases mais sinceras da história da política brasileira é a breve: “E daí?” Há muitas outras – “Eu não sou coveiro”, “Quer que faça o quê?”, “É o destino de cada um” – mas nenhuma tem a concisão aforística de “E daí?”. Nenhum substantivo, nenhum adjetivo, nenhum verbo. Os mortos, os doentes, os que perderam pais, mães, filhos e amigos, os que diariamente vão para a linha de frente salvar vidas – uma locução adverbial de quatro letras dá conta de tudo que o presidente tem a lhes dizer.”

Para João Moreira Salles não existe bolsonarismo, só bolsonaristas. Não há corpo teórico, apenas uma espécie de prática de destruição das instituições e de políticas públicas. “Não é obra de engenharia. É destruição”.

Os apoiantes de Bolsonaro odeiam a revista Piauí e João Moreira Salles, que fundou e financia a revista. Mas, como diria o presidente brasileiro, e daí? A revista, que é difícil de encontrar em Portugal, onde chega atrasada, é, para muitos leitores, um objeto de culto, com muitos textos disponíveis online.

Tenha uma boa sexta e prepare bem o mergulho na segunda vaga.

marcar artigo