O Acidental: Peso pouco mais de 40 kg mas ainda tenho forças para incendiar uns incendiários

14-12-2019
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Brincadeirinha. Longe de mim desejar queimar Louçã, ou aquele outro cidadão do BE, João Teixeira Lopes, não. Eu sou mais água. Get it? Não. É brincadeirinha de novo. Sou pacífica. Tudo isto para falar do que se passa em Paris e em França.Começo por dizer, como emigrante moi même, que muito do desalento e da tristeza de muitos emigrantes em França tem toda a razão de ser. Há discriminação, há. Há desigualdades sociais, há. Há injustiças, pois há. Mas nenhuma destas razões pode justificar o caos e a destruição que se tem visto. E não o pode justificar porque nada do que se passa tem justificação.Há para aí muitas teorias, ditas humanistas, que justificam – como é já hábito – o terrorismo urbano. Dos franceses e de todos, de resto.Dizem essas "boas almas", grosso modo, que é preciso perceber que a violência é uma das únicas liberdades que lhes resta. Que, no fundo, estes jovens coléricos só querem integrar-se e ganhar o seu pão. Ok.Vamos imaginar, isto é um suponhamos, que a maltosa que anda práqui a escaqueirar e a queimar tudo quer, no fundo, só trabalhar e ser feliz e assim.Sendo isto um suponhamos, vamos agora pegar no primeiro-ministro, pô-lo à frente das câmaras e a prometer a todos um trabalho. Mais, a dar logo ali um contrato a cada um desses mânfios, como prova de boa vontade e em jeito de pedido de desculpas. Acham que eles vão largar os fósforos, as armas e tirar os capuzes? O caralhinho.Noventa por cento (90%) dos terroristas urbanos que actuam há doze noites quer tanto trabalhar como eu quero abraçar loiras falsas com cérebro de passarinho e pretensões políticas. Nos primeiros dias, vá lá, concedo, alguns cidadãos honestos deixaram-se levar pela angústia do dia-a-dia e também se manifestaram. Até entendo. Por isso foram queimados caixotes do lixo e assim. Mas depois, garanto-vos, os cidadãos honestos, trabalhadores, os que se esforçam realmente para escapar à marginalidade e que tentam por todos os meios, com muito esforço, chegar mais longe, ficaram em casa. Permanecem, ainda, os criminosos mirim, os rebeldes sem causa nenhuma, a versão francesa de uma espécie de altermundialistas e os jovens que, à força de tanto jogar Play Station, querem concretizar os joguinhos de violência na vida real. Os desocupados que não querem, definitivamente, ocupar-se e tornar-se cidadãos úteis.O que destroem eles? O Estado? Não. Os autocarros que os pais têm de apanhar para ir dar o litro; os carros dos que vivem nas mesmas condições humildes, que pertencem aos mesmos bairros e sofrem descriminações; as escolas onde muitas crianças têm oportunidade de traçar uma vida melhor; os pavilhões gimnodesportivos onde muitas dessas crianças e desses jovens conseguem, através do desporto, chegar mais longe, ser respeitados ou simplesmente divertir-se. É isso que destroem.Mas há outro fenómeno que se junta a esta falta de inteligência: os gangs de muitos que nada têm a ver com a realidade dos bairros sociais mas que encontraram uma mina de ouro: como por exemplo os islamitas radicais; que, mais uma vez, ostracizam a comunidade muçulmana que é séria, trabalhadora e está farta de ser comparada com essa cambada de loucos furiosos. Temos de admitir que o que se passa lhes dá imenso jeito, aos islamitas, para recrutarem novos membros e simpatizantes.E depois, o que se passa dá também asas a fascínoras como Le Pen, e outros iguais ou piores, que podem usar as duas ideias racistas para convencer a população que está farta deste circo todo. É isso que fazem os jovens que andam há doze noites a mostrar o que valem. Só isso.Eu não aprecio o que a França representa, actualmente, no mundo; não aprecio particularmente o povo francês que já me provou, em várias épocas da história, antigas e recentes, que não vale tanto como imagina. Mas, caramba, nem a França merece este tipo de circo mediático.No entanto, há uma coisa que também não posso deixar de dizer: por razões de política rasteira, a situação chegou onde chegou também graças ao governo francês e ao presidente Chirac. Porque tanto Chirac, como Dominique de Villepin, aproveitaram esta situação – que poderia ter sido resolvida imediatamente – para queimar o já célebre ministro do Interior Nicolas Sarkozy. Sarkozy, admito, é desastrado nas palavras, mas tem, no fundo, razão. Mas, mais do que isso, representa uma França desempoeirada, realista e liberal, que eu defendo, mas que provoca urticária em velhos do Restelo como Chirac e Villepin. Que não fazem, realmente, nada para mudar o que está mal, mas que não admitem que haja quem o possa fazer por eles.Há, em França, uma campanha – real – que começa no seio do próprio poder, contra Sarkozy. Isso, aliado às declarações desastradas de Sarkozy e à má fé do restante poder francês e da imprensa, em geral, ajudou a que a situação se agudizasse e a que, agora, até o recolher obrigatório seja uma necessidade.E mais não digo que está na hora das minhas vitaminas.[Ana Albergaria]

Brincadeirinha. Longe de mim desejar queimar Louçã, ou aquele outro cidadão do BE, João Teixeira Lopes, não. Eu sou mais água. Get it? Não. É brincadeirinha de novo. Sou pacífica. Tudo isto para falar do que se passa em Paris e em França.Começo por dizer, como emigrante moi même, que muito do desalento e da tristeza de muitos emigrantes em França tem toda a razão de ser. Há discriminação, há. Há desigualdades sociais, há. Há injustiças, pois há. Mas nenhuma destas razões pode justificar o caos e a destruição que se tem visto. E não o pode justificar porque nada do que se passa tem justificação.Há para aí muitas teorias, ditas humanistas, que justificam – como é já hábito – o terrorismo urbano. Dos franceses e de todos, de resto.Dizem essas "boas almas", grosso modo, que é preciso perceber que a violência é uma das únicas liberdades que lhes resta. Que, no fundo, estes jovens coléricos só querem integrar-se e ganhar o seu pão. Ok.Vamos imaginar, isto é um suponhamos, que a maltosa que anda práqui a escaqueirar e a queimar tudo quer, no fundo, só trabalhar e ser feliz e assim.Sendo isto um suponhamos, vamos agora pegar no primeiro-ministro, pô-lo à frente das câmaras e a prometer a todos um trabalho. Mais, a dar logo ali um contrato a cada um desses mânfios, como prova de boa vontade e em jeito de pedido de desculpas. Acham que eles vão largar os fósforos, as armas e tirar os capuzes? O caralhinho.Noventa por cento (90%) dos terroristas urbanos que actuam há doze noites quer tanto trabalhar como eu quero abraçar loiras falsas com cérebro de passarinho e pretensões políticas. Nos primeiros dias, vá lá, concedo, alguns cidadãos honestos deixaram-se levar pela angústia do dia-a-dia e também se manifestaram. Até entendo. Por isso foram queimados caixotes do lixo e assim. Mas depois, garanto-vos, os cidadãos honestos, trabalhadores, os que se esforçam realmente para escapar à marginalidade e que tentam por todos os meios, com muito esforço, chegar mais longe, ficaram em casa. Permanecem, ainda, os criminosos mirim, os rebeldes sem causa nenhuma, a versão francesa de uma espécie de altermundialistas e os jovens que, à força de tanto jogar Play Station, querem concretizar os joguinhos de violência na vida real. Os desocupados que não querem, definitivamente, ocupar-se e tornar-se cidadãos úteis.O que destroem eles? O Estado? Não. Os autocarros que os pais têm de apanhar para ir dar o litro; os carros dos que vivem nas mesmas condições humildes, que pertencem aos mesmos bairros e sofrem descriminações; as escolas onde muitas crianças têm oportunidade de traçar uma vida melhor; os pavilhões gimnodesportivos onde muitas dessas crianças e desses jovens conseguem, através do desporto, chegar mais longe, ser respeitados ou simplesmente divertir-se. É isso que destroem.Mas há outro fenómeno que se junta a esta falta de inteligência: os gangs de muitos que nada têm a ver com a realidade dos bairros sociais mas que encontraram uma mina de ouro: como por exemplo os islamitas radicais; que, mais uma vez, ostracizam a comunidade muçulmana que é séria, trabalhadora e está farta de ser comparada com essa cambada de loucos furiosos. Temos de admitir que o que se passa lhes dá imenso jeito, aos islamitas, para recrutarem novos membros e simpatizantes.E depois, o que se passa dá também asas a fascínoras como Le Pen, e outros iguais ou piores, que podem usar as duas ideias racistas para convencer a população que está farta deste circo todo. É isso que fazem os jovens que andam há doze noites a mostrar o que valem. Só isso.Eu não aprecio o que a França representa, actualmente, no mundo; não aprecio particularmente o povo francês que já me provou, em várias épocas da história, antigas e recentes, que não vale tanto como imagina. Mas, caramba, nem a França merece este tipo de circo mediático.No entanto, há uma coisa que também não posso deixar de dizer: por razões de política rasteira, a situação chegou onde chegou também graças ao governo francês e ao presidente Chirac. Porque tanto Chirac, como Dominique de Villepin, aproveitaram esta situação – que poderia ter sido resolvida imediatamente – para queimar o já célebre ministro do Interior Nicolas Sarkozy. Sarkozy, admito, é desastrado nas palavras, mas tem, no fundo, razão. Mas, mais do que isso, representa uma França desempoeirada, realista e liberal, que eu defendo, mas que provoca urticária em velhos do Restelo como Chirac e Villepin. Que não fazem, realmente, nada para mudar o que está mal, mas que não admitem que haja quem o possa fazer por eles.Há, em França, uma campanha – real – que começa no seio do próprio poder, contra Sarkozy. Isso, aliado às declarações desastradas de Sarkozy e à má fé do restante poder francês e da imprensa, em geral, ajudou a que a situação se agudizasse e a que, agora, até o recolher obrigatório seja uma necessidade.E mais não digo que está na hora das minhas vitaminas.[Ana Albergaria]

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