Salário mínimo. "Não podemos passar do 8 para os 80", diz Fortunato Frederico

30-09-2020
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Subir o salário mínimo dos atuais 505 euros para 530 euros em 2016, ou para 600 euros em 2019, é uma medida justa e fácil de implementar ou pode ter impacto negativo nas indústrias têxtil e do calçado, dois dos sectores mais exportadores da economia nacional? A resposta de Fortunato Frederico, presidente da Kyaia, o maior grupo português de calçado, é clara: "A maioria das empresas do sector não está preparada para isto". Nos têxteis, João Costa, presidente da ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal coincide na forma como vê o cenário agora anunciado e alerta: "podemos ter perda de competitividade, redução de encomendas e mais desemprego", diz. "É preciso responsabilidade", acrescenta César Araújo, presidente da ANIVEC/APIV - Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção.

Em abstrato, todos coincidem nas virtudes de um aumento do salário mínimo. "O aumento do salário mínimo é sempre positivo, mas tem de ser associado à produtividade, tem de ser sustentável", refere César Araújo, enquanto Fortunato Frederico reconhece que "o salário mínimo atual é baixo" e João Costa admite que "o desejo de todos é que os salários possam subir, mas tudo terá de ser feito de forma faseada, de acordo com a evolução da economia nacional e internacional".

O problema está quando a ideia passa para o país real. "Não podemos passar dos 8 para os 80 porque isso, no limite, pode levar as empresas a atravessarem momentos difíceis e, até , a tornarem-se inviáveis", sustenta Fortunato Frederico, que é, também, presidente da APICCAPS, a associação industrial do sector, mas faz questão de sublinhar que fala, apenas, na sua qualidade de empresário.

E, nesta qualidade, alerta para o facto da "economia mundial não estar numa fase de permitir grandes entusiasmos". Quanto ao seu sector, admite que algumas empresas "bem estruturadas e financeiramente saudáveis poderão aguentar o impacto da medida", mas considera que não se pode esquecer que o tecido empresarial é composto por "muitas pequenas empresas, muitas delas pouco estruturadas, descapitalizadas, sem reservas financeiras, com dificuldade em cobrar o que os clientes devem".

A alternativa dos prémios

Na sua empresa , optou por um modelo de prémios no final do ano, em função dos lucros e do desempenho de cada trabalhador. Este ano, esse prémio vai oscilar entre os 700 euros e os 250 euros. Na sua opinião este é um modelo viável, até porque o sector do calçado vive, atualmente, uma conjuntura favorável, mas estes períodos "são ciclícos" e, no passado, já viu "empresas que se orgulhavam de pagar acima da média do mercado serem apanhadas em período de crise e falirem".

Olhando para o quadro nacional, propõe que o Estado devolva às empresas uma parte do que recebe delas de forma a permitir uma redistribuição dessa verba pelos trabalhadores.

No sector da confeção, César Araújo, sublinha que neste momento as encomendas já estão colocadas até março, com base numa estrutura de custos definida, em que os salários têm "um peso considerável" e não há margem de manobra para mexer nos preços, por isso, qualquer alteração do quadro atual terá de ser feita "com muito cuidado" e num contexto de diálogo entre as partes. "Empresas, Estado e sindicatos têm de chegar a um acordo. Não pode ser uma decisão assente apenas num simples decreto-lei, diz.

João Costa, da ATP destaca exatamente a questão dos custos de produção e da compettiividade, referindo que em muitas empresas do sector, a mão de obra representa 40% dos custos de produção. "E quando estamos a falar em peças vendidas a 7% em que a mão de obra pesa 40% e consideramos um aumento salarial de 6% não podemos esquecer as consequências de tudo isto na competitividade das empresas em mercado aberto, em especial porque a indústria têxtil exporta 80% do que faz e apesar do esforço desenvolvido para criar valor ainda tem muitas encomendas assentes no volume e no preço". O salário mínimo tem de subir, mas isso tem de ser feito de forma conjugada com a inflação, a competitividade e o crescimento económico, sustenta.

"Não é razoável admitir que uma subida de 6% no salário mínimo, com impacto nos prémios de produtividade e subsídios de trabalho noturno e até noutros escalões salariais, colados a este valor, possa ocorrer sem danos", acrescenta.

Outra preocupação do dirigente associativo é a reposição dos 4 feriados que tinham sido cortados pelo governo da coligação PPD/PSD - CDS.PP porque, diz, "têm um impacto direto de 2% na produção".

A história a favor do PS

Sobre o acordo à esquerda, entre o PS, CDU e Bloco de Esquerda, para viabilizar um governo liderado por António Costa, todos estão de acordo em "dar o benefício da dúvida" a um novo executivo socialista, mas se Fortunato Frederico é "pelo funcionamento integral da democracia", acredita que "é preciso experimentar novos modelos" e recusa "subordinar a agenda de empresário à agenda política", os dois dirigentes têxteis limitam-se a dar o "benefício da dúvida" caso o presidente Cavaco Silva venha a dar posse a António Costa como primeiro ministro.

João Costa faz isso olhando à história do PS, assente na ligação à Europa, ao euro, à economia do mercado, ao acordo com a Troika, ao respeito pelo programa de ajustamento financeiro, sem deixar de se questionar sobre a hipótese desta "derivação, um pouco motivada pela necessidade de manutenção da liderança, poder vir a alterar a trajetória do partido".

Para ele, o problema no quadro que se anuncia não residirá tanto no PS, "até prova em contrário", mas sim no facto de tudo depender da conjugação de vontades com o BE, o PCP e os Verdes, que sempre seguiram caminhos diferentes. E, diz, é fundamental "criar condições de confiança" para os credores, o Banco Central Europeu e os investidores . Talvez por isso, ponha do outro lado da balança, sem problemas, a hipótese de um governo de gestão.

César Araújo admite ter dúvidas quanto ao futuro, mas também acredita que o PS "é um partido responsável, que apoia a economia de mercado e o empreendedorismo" e opta por "respeitar as regras do Estado Democrático".

Subir o salário mínimo dos atuais 505 euros para 530 euros em 2016, ou para 600 euros em 2019, é uma medida justa e fácil de implementar ou pode ter impacto negativo nas indústrias têxtil e do calçado, dois dos sectores mais exportadores da economia nacional? A resposta de Fortunato Frederico, presidente da Kyaia, o maior grupo português de calçado, é clara: "A maioria das empresas do sector não está preparada para isto". Nos têxteis, João Costa, presidente da ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal coincide na forma como vê o cenário agora anunciado e alerta: "podemos ter perda de competitividade, redução de encomendas e mais desemprego", diz. "É preciso responsabilidade", acrescenta César Araújo, presidente da ANIVEC/APIV - Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção.

Em abstrato, todos coincidem nas virtudes de um aumento do salário mínimo. "O aumento do salário mínimo é sempre positivo, mas tem de ser associado à produtividade, tem de ser sustentável", refere César Araújo, enquanto Fortunato Frederico reconhece que "o salário mínimo atual é baixo" e João Costa admite que "o desejo de todos é que os salários possam subir, mas tudo terá de ser feito de forma faseada, de acordo com a evolução da economia nacional e internacional".

O problema está quando a ideia passa para o país real. "Não podemos passar dos 8 para os 80 porque isso, no limite, pode levar as empresas a atravessarem momentos difíceis e, até , a tornarem-se inviáveis", sustenta Fortunato Frederico, que é, também, presidente da APICCAPS, a associação industrial do sector, mas faz questão de sublinhar que fala, apenas, na sua qualidade de empresário.

E, nesta qualidade, alerta para o facto da "economia mundial não estar numa fase de permitir grandes entusiasmos". Quanto ao seu sector, admite que algumas empresas "bem estruturadas e financeiramente saudáveis poderão aguentar o impacto da medida", mas considera que não se pode esquecer que o tecido empresarial é composto por "muitas pequenas empresas, muitas delas pouco estruturadas, descapitalizadas, sem reservas financeiras, com dificuldade em cobrar o que os clientes devem".

A alternativa dos prémios

Na sua empresa , optou por um modelo de prémios no final do ano, em função dos lucros e do desempenho de cada trabalhador. Este ano, esse prémio vai oscilar entre os 700 euros e os 250 euros. Na sua opinião este é um modelo viável, até porque o sector do calçado vive, atualmente, uma conjuntura favorável, mas estes períodos "são ciclícos" e, no passado, já viu "empresas que se orgulhavam de pagar acima da média do mercado serem apanhadas em período de crise e falirem".

Olhando para o quadro nacional, propõe que o Estado devolva às empresas uma parte do que recebe delas de forma a permitir uma redistribuição dessa verba pelos trabalhadores.

No sector da confeção, César Araújo, sublinha que neste momento as encomendas já estão colocadas até março, com base numa estrutura de custos definida, em que os salários têm "um peso considerável" e não há margem de manobra para mexer nos preços, por isso, qualquer alteração do quadro atual terá de ser feita "com muito cuidado" e num contexto de diálogo entre as partes. "Empresas, Estado e sindicatos têm de chegar a um acordo. Não pode ser uma decisão assente apenas num simples decreto-lei, diz.

João Costa, da ATP destaca exatamente a questão dos custos de produção e da compettiividade, referindo que em muitas empresas do sector, a mão de obra representa 40% dos custos de produção. "E quando estamos a falar em peças vendidas a 7% em que a mão de obra pesa 40% e consideramos um aumento salarial de 6% não podemos esquecer as consequências de tudo isto na competitividade das empresas em mercado aberto, em especial porque a indústria têxtil exporta 80% do que faz e apesar do esforço desenvolvido para criar valor ainda tem muitas encomendas assentes no volume e no preço". O salário mínimo tem de subir, mas isso tem de ser feito de forma conjugada com a inflação, a competitividade e o crescimento económico, sustenta.

"Não é razoável admitir que uma subida de 6% no salário mínimo, com impacto nos prémios de produtividade e subsídios de trabalho noturno e até noutros escalões salariais, colados a este valor, possa ocorrer sem danos", acrescenta.

Outra preocupação do dirigente associativo é a reposição dos 4 feriados que tinham sido cortados pelo governo da coligação PPD/PSD - CDS.PP porque, diz, "têm um impacto direto de 2% na produção".

A história a favor do PS

Sobre o acordo à esquerda, entre o PS, CDU e Bloco de Esquerda, para viabilizar um governo liderado por António Costa, todos estão de acordo em "dar o benefício da dúvida" a um novo executivo socialista, mas se Fortunato Frederico é "pelo funcionamento integral da democracia", acredita que "é preciso experimentar novos modelos" e recusa "subordinar a agenda de empresário à agenda política", os dois dirigentes têxteis limitam-se a dar o "benefício da dúvida" caso o presidente Cavaco Silva venha a dar posse a António Costa como primeiro ministro.

João Costa faz isso olhando à história do PS, assente na ligação à Europa, ao euro, à economia do mercado, ao acordo com a Troika, ao respeito pelo programa de ajustamento financeiro, sem deixar de se questionar sobre a hipótese desta "derivação, um pouco motivada pela necessidade de manutenção da liderança, poder vir a alterar a trajetória do partido".

Para ele, o problema no quadro que se anuncia não residirá tanto no PS, "até prova em contrário", mas sim no facto de tudo depender da conjugação de vontades com o BE, o PCP e os Verdes, que sempre seguiram caminhos diferentes. E, diz, é fundamental "criar condições de confiança" para os credores, o Banco Central Europeu e os investidores . Talvez por isso, ponha do outro lado da balança, sem problemas, a hipótese de um governo de gestão.

César Araújo admite ter dúvidas quanto ao futuro, mas também acredita que o PS "é um partido responsável, que apoia a economia de mercado e o empreendedorismo" e opta por "respeitar as regras do Estado Democrático".

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