Palco do Andrew: Quando a ficção aborda a homossexualidade

26-03-2020
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Personagens homossexuais nas séries norte americanas não é de hoje. Mas até agora nenhuma tinha ido tão longe como "True Blood": a série de vampiros que está a fazer furor na cadeia ABC tem nada mais nada menos do que... seis gays na sua história. A tendência, dizem os especialistas, é para continuar, reflectindo, aliás, a diversidade da sociedade contemporânea. As associações de defesa de homossexuais aplaudem: um estudo recente conclui que, na temporada 2010/2011 da televisão norte americana, haverá mais 3,9% de gays e lésbicas em horário nobre. A homossexualidade está, portanto, longe de ser um tabu. E em Portugal? Estamos preparados para ver um beijo entre duas mulheres ou entre dois homens no pequeno ecrã? "Os espectadores talvez estranhassem de início", reconhece o guionista António Barreira, autor da novela da TVI "Meu Amor", que acaba de ser nomeada para um Emmy Internacional. Barreira explica que, "muitas vezes, a ideia é chocar para chamar a atenção para o tema, mas se se começar a contar a evolução de uma relação homossexual, sem parar obrigatoriamente no beijo, isso não vai ferir ninguém". O actor Nuno Távora, que em "Olhos nos Olhos" (2008) interpretou um gay, acredita que "cada vez mais os portugueses são descomplexados e têm menos preconceitos" em relação a esse tipo de temáticas em televisão. "Inicialmente, foi uma aposta muito arriscada, mas acho que já se percebeu que as pessoas são muito abertas a outras realidades e formas de viver a vida", referiu. Távora refere que "as novelas estão para Portugal como as séries estão para os Estados Unidos" e, como tal, aquelas devem ser "produtos educativos, que ajudam a cultivar mentalidades". Neste sentido, o actor vê "Morangos com Açúcar", da TVI, como um bom veículo de transmissão de conhecimentos e recorda que teria sido inteligente transmitir a cena em que dois jovens homossexuais se beijavam. Uma cena de um episódio da temporada de Verão deste ano, que chegou a ser gravada, mas acabou por não ser exibida. "Esses dois jovens não tinham a típica conotação de homossexuais, o que também servia para desmistificar o preconceito de que os gays são estereotipados de uma determinada maneira." O actor vai mais longe e recorda que "até Daniel Sampaio reconheceu os "Morangos" como um produto representativo de uma realidade muito aceitável e que pode ajudar a criar novas leituras e a resolver conflitos juvenis". Nuno Távora explica ainda que a homossexualidade pode ser mal interpretada por ser desconhecida. "Nesse sentido, acho que faz falta rebentar com uma série de ideias preconcebidas de que os homossexuais ainda vivem num gueto. As pessoas têm de aceitar, independentemente de gostarem ou não, a realidade de vida de cada um e é essa realidade que a televisão tem de transmitir." António Barreira afina pelo mesmo diapasão. "A discussão sobre o casamento homossexual em Portugal e a aprovação da lei veio alterar a ideia que muitas pessoas tinham do matrimónio e, consequentemente, das relações amorosas", constata, acrescentando que "os problemas globais de uma relação, e estes é que são retratados nas novelas e nas séries, são comuns a todos os casais, sejam eles hetero ou homossexuais". Esconder é que não faz sentido. "A homossexualidade faz parte da realidade e qualquer autor que escreva sobre a realidade contemporânea não pode passar ao lado desse tema", conclui o autor de "Meu Amor".Fonte: DN


Personagens homossexuais nas séries norte americanas não é de hoje. Mas até agora nenhuma tinha ido tão longe como "True Blood": a série de vampiros que está a fazer furor na cadeia ABC tem nada mais nada menos do que... seis gays na sua história. A tendência, dizem os especialistas, é para continuar, reflectindo, aliás, a diversidade da sociedade contemporânea. As associações de defesa de homossexuais aplaudem: um estudo recente conclui que, na temporada 2010/2011 da televisão norte americana, haverá mais 3,9% de gays e lésbicas em horário nobre. A homossexualidade está, portanto, longe de ser um tabu. E em Portugal? Estamos preparados para ver um beijo entre duas mulheres ou entre dois homens no pequeno ecrã? "Os espectadores talvez estranhassem de início", reconhece o guionista António Barreira, autor da novela da TVI "Meu Amor", que acaba de ser nomeada para um Emmy Internacional. Barreira explica que, "muitas vezes, a ideia é chocar para chamar a atenção para o tema, mas se se começar a contar a evolução de uma relação homossexual, sem parar obrigatoriamente no beijo, isso não vai ferir ninguém". O actor Nuno Távora, que em "Olhos nos Olhos" (2008) interpretou um gay, acredita que "cada vez mais os portugueses são descomplexados e têm menos preconceitos" em relação a esse tipo de temáticas em televisão. "Inicialmente, foi uma aposta muito arriscada, mas acho que já se percebeu que as pessoas são muito abertas a outras realidades e formas de viver a vida", referiu. Távora refere que "as novelas estão para Portugal como as séries estão para os Estados Unidos" e, como tal, aquelas devem ser "produtos educativos, que ajudam a cultivar mentalidades". Neste sentido, o actor vê "Morangos com Açúcar", da TVI, como um bom veículo de transmissão de conhecimentos e recorda que teria sido inteligente transmitir a cena em que dois jovens homossexuais se beijavam. Uma cena de um episódio da temporada de Verão deste ano, que chegou a ser gravada, mas acabou por não ser exibida. "Esses dois jovens não tinham a típica conotação de homossexuais, o que também servia para desmistificar o preconceito de que os gays são estereotipados de uma determinada maneira." O actor vai mais longe e recorda que "até Daniel Sampaio reconheceu os "Morangos" como um produto representativo de uma realidade muito aceitável e que pode ajudar a criar novas leituras e a resolver conflitos juvenis". Nuno Távora explica ainda que a homossexualidade pode ser mal interpretada por ser desconhecida. "Nesse sentido, acho que faz falta rebentar com uma série de ideias preconcebidas de que os homossexuais ainda vivem num gueto. As pessoas têm de aceitar, independentemente de gostarem ou não, a realidade de vida de cada um e é essa realidade que a televisão tem de transmitir." António Barreira afina pelo mesmo diapasão. "A discussão sobre o casamento homossexual em Portugal e a aprovação da lei veio alterar a ideia que muitas pessoas tinham do matrimónio e, consequentemente, das relações amorosas", constata, acrescentando que "os problemas globais de uma relação, e estes é que são retratados nas novelas e nas séries, são comuns a todos os casais, sejam eles hetero ou homossexuais". Esconder é que não faz sentido. "A homossexualidade faz parte da realidade e qualquer autor que escreva sobre a realidade contemporânea não pode passar ao lado desse tema", conclui o autor de "Meu Amor".Fonte: DN

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