Ângela Ferreira fez um mural "pan-africano" no MAAT

23-09-2020
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A nova obra, sobre os problemas da circulação e da comunicação em África, traz para o museu as casas dos ativistas Miriam Makeba e George Wright.

| foto Filipa Bernardo/ Global Imagens | foto Filipa Bernardo/ Global Imagens | foto Filipa Bernardo/ Global Imagens | foto Filipa Bernardo/ Global Imagens | foto Filipa Bernardo/ Global Imagens | foto Filipa Bernardo/ Global Imagens

Ângela Ferreira nasceu em Moçambique em 1958, depois estudou na África do Sul, depois viveu em Portugal e desde então vive e trabalha em circulação entre estes países: "Comecei a interessar-me pelas circulações das pessoas africanas. Porque é que circulam tanto e em que condições", diz. A obra que apresenta a partir de hoje no "Project Room" do MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia - intitulada Pan African Unity Mural - parte dessa reflxão sobre a ideia de intersecções em África.

"Intersecções são lugares onde as coisas acontecem, onde as pessoas se cruzam, se encontram e estão disponíveis para partilhar, repartir bens, trocar ideias e se reorientar", explica o curador da exposição, Jürgen Boch. "Na história ancestral do continente, as circulações eram muito fáceis, havia imensas trocas culturais, mas isso agora está perdido", diz a artista, concluindo que "as fronteiras de África são todas artificiais e que os problemas de imigração em África são muito parecidos ou tão graves como são na Europa".

Na sala circular do MAAT, Ângela Ferreira criou o seu próprio mural que se inspira nos murais do mexicano Diego Rivera, de que era grande admiradora na juventude, e onde é, ao mesmo tempo, autora e uma das personagens.

Não só a artista vai buscar a maqueta da sua casa em Maputo (que já apareceu noutras obras suas) como viajou até à África do Sul e fotografou alguns murais que ali realizou com um coletivo artístico entre os anos 80 e 90. Depois, projetou essas fotografias nas paredes ovais do museu e reproduziu-as, brincando com a perspetiva e com as imperfeições da projeção - sendo possível ver os murais com mensagens revolucionárias e reivindicações dos trabalhadores sul-africanos como também o próprio edifício e contexto em que o mural foi criado. As cores fortes e os desenhos dos trabalhadores de punhos fechados fazem-no viajar no tempo e na vida e na obra de Ângela Ferreira.

As outras personagens são Miriam Makeba e George Wright, mas agora em desenhos a preto e branco.

Antigo membro do grupo radical norte-americano Black Liberation Army, George Wright tornou-se notícia há alguns anos em Portugal, quando foi detido pelas autoridades portuguesas, com um mandado de captura internacional, acusado de um crime de assassinato nos anos 1960. O percurso deste homem, que tem nacionalidade portuguesa enquanto Jorge dos Santos, passou pela Guiné-Bissau, é citado nesta instalação de Ângela Ferreira, por exemplo, num retrato desenhado e numa imagem da casa dele em Portugal. Também está lá o avião da Delta Airlines no qual fugiu dos EUA para a Argélia.

Quanto à cantora sul-africana Miriam Makeba, o seu percurso é bastante conhecido: em 1960 participou no documentário anti-apartheid Come Back Africa, que foi apresentado no Festival de Veneza, e foi depois forçada a deixar o seu país. Nos Estados Unidos teve uma carreira fulgurante que entrou em crise após o casamento com ativista político Stokely Carmichael, porta-voz dos Panteras Negras. O casal mudou-se então para a Guiné, onde se tornaram amigos do presidente Ahmed Sékou Touré, e Miriam Makeba só regressaria ao seu país quando Nelson Mandela subiu ao Poder. Ângela Ferreira desenha a sua casa em Dalaba, na Guiné.

Estas são as personagens, o enredo será construído por quem visitar a exposição até 8 de outubro.

Pan African Unity Mural

de Ângela Ferreira

Até 8 de outubro

MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia

Av. Brasília, Lisboa

Encerra às terças-feiras

11.00 - 19.00

Bilhetes: 9 euros (com desconto: 4,50 euros)

A nova obra, sobre os problemas da circulação e da comunicação em África, traz para o museu as casas dos ativistas Miriam Makeba e George Wright.

| foto Filipa Bernardo/ Global Imagens | foto Filipa Bernardo/ Global Imagens | foto Filipa Bernardo/ Global Imagens | foto Filipa Bernardo/ Global Imagens | foto Filipa Bernardo/ Global Imagens | foto Filipa Bernardo/ Global Imagens

Ângela Ferreira nasceu em Moçambique em 1958, depois estudou na África do Sul, depois viveu em Portugal e desde então vive e trabalha em circulação entre estes países: "Comecei a interessar-me pelas circulações das pessoas africanas. Porque é que circulam tanto e em que condições", diz. A obra que apresenta a partir de hoje no "Project Room" do MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia - intitulada Pan African Unity Mural - parte dessa reflxão sobre a ideia de intersecções em África.

"Intersecções são lugares onde as coisas acontecem, onde as pessoas se cruzam, se encontram e estão disponíveis para partilhar, repartir bens, trocar ideias e se reorientar", explica o curador da exposição, Jürgen Boch. "Na história ancestral do continente, as circulações eram muito fáceis, havia imensas trocas culturais, mas isso agora está perdido", diz a artista, concluindo que "as fronteiras de África são todas artificiais e que os problemas de imigração em África são muito parecidos ou tão graves como são na Europa".

Na sala circular do MAAT, Ângela Ferreira criou o seu próprio mural que se inspira nos murais do mexicano Diego Rivera, de que era grande admiradora na juventude, e onde é, ao mesmo tempo, autora e uma das personagens.

Não só a artista vai buscar a maqueta da sua casa em Maputo (que já apareceu noutras obras suas) como viajou até à África do Sul e fotografou alguns murais que ali realizou com um coletivo artístico entre os anos 80 e 90. Depois, projetou essas fotografias nas paredes ovais do museu e reproduziu-as, brincando com a perspetiva e com as imperfeições da projeção - sendo possível ver os murais com mensagens revolucionárias e reivindicações dos trabalhadores sul-africanos como também o próprio edifício e contexto em que o mural foi criado. As cores fortes e os desenhos dos trabalhadores de punhos fechados fazem-no viajar no tempo e na vida e na obra de Ângela Ferreira.

As outras personagens são Miriam Makeba e George Wright, mas agora em desenhos a preto e branco.

Antigo membro do grupo radical norte-americano Black Liberation Army, George Wright tornou-se notícia há alguns anos em Portugal, quando foi detido pelas autoridades portuguesas, com um mandado de captura internacional, acusado de um crime de assassinato nos anos 1960. O percurso deste homem, que tem nacionalidade portuguesa enquanto Jorge dos Santos, passou pela Guiné-Bissau, é citado nesta instalação de Ângela Ferreira, por exemplo, num retrato desenhado e numa imagem da casa dele em Portugal. Também está lá o avião da Delta Airlines no qual fugiu dos EUA para a Argélia.

Quanto à cantora sul-africana Miriam Makeba, o seu percurso é bastante conhecido: em 1960 participou no documentário anti-apartheid Come Back Africa, que foi apresentado no Festival de Veneza, e foi depois forçada a deixar o seu país. Nos Estados Unidos teve uma carreira fulgurante que entrou em crise após o casamento com ativista político Stokely Carmichael, porta-voz dos Panteras Negras. O casal mudou-se então para a Guiné, onde se tornaram amigos do presidente Ahmed Sékou Touré, e Miriam Makeba só regressaria ao seu país quando Nelson Mandela subiu ao Poder. Ângela Ferreira desenha a sua casa em Dalaba, na Guiné.

Estas são as personagens, o enredo será construído por quem visitar a exposição até 8 de outubro.

Pan African Unity Mural

de Ângela Ferreira

Até 8 de outubro

MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia

Av. Brasília, Lisboa

Encerra às terças-feiras

11.00 - 19.00

Bilhetes: 9 euros (com desconto: 4,50 euros)

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