André Ventura: o brilho fosco da ambição

06-11-2020
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André Ventura cresceu em Algueirão-Mem Martins, rodeado das bicicletas da loja do pai e a discutir política à mesa do jantar. O pai, ex-combatente do Ultramar, com ideais mais à direita, talvez o tenha inspirado politicamente. Contudo, o que recorda como decisivo foi a vida na vila, que lhe permitiu “conhecer a desigualdade”. Sonhou ser ciclista profissional, como o seu ídolo Lance Armstrong, para deixar Mem Martins e “subir na vida”. Porém, o desejo de ser padre é que, aos 17 anos, acabou por o tirar do local onde nasceu. Em 2000, foi viver para o Seminário-menor de Nossa Senhora da Graça, em Torres Vedras, onde concluiu o secundário no Externato de Penafirme. Uma paixão de escola leva Ventura a desistir do seminário. Diz manter a fé católica, apesar de, muitas vezes, ser questionado quanto à radicalidade das suas ideias, quando comparadas com os valores cristãos. Do seminário seguiu para a Faculdade de Direito na Universidade Nova de Lisboa. Tinha já incutidos valores comuns ao seu ídolo de infância, o ciclista Lance Armstrong: extremamente competitivo, focado e disciplinado. Terminaria a Licenciatura com média de 19 valores, o que talvez tenha sido uma porta aberta para a sua carreira na Academia. Abriu-lhe, pelo menos, caminho para se tornar advogado estagiário e, mais tarde, inspetor fiscal, na Autoridade Tributária, onde ficou ativamente até 2014, quando pediu uma licença sem vencimento. O programa eleitoral do partido do qual é presidente chegou a classificar, na primeira versão, a Autoridade Tributária como “uma máquina de assalto ao cidadão e de terrorismo de Estado”. No entanto, Ventura assume, em entrevista ao Observador, o desejo de voltar a trabalhar nesta máquina, quando terminar a carreira política. O período no Autoridade Tributária coincidiu, em parte, com o da tese de doutoramento de André Ventura. “Towards a New Model of Criminal Justice System in the Era of Globalised Criminality” foi a tese aprovada, em 2013, em Cork, na Universidade da Irlanda. O líder do partido que hoje defende a prisão perpétua, a castração química e física como forma de punição e o reforço dos poderes policiais, em 2013 criticava o “populismo penal”, no contexto das políticas antiterrorismo, após o 11 de setembro de 2001. Por “populismo penal”, André Ventura nomeia o “processo pelo qual os políticos aproveitam e usam para sua vantagem aquilo que creem ser a generalizada vontade de punição do público”. Mas, se tal como em relação à Autoridade Tributária parece haver alguma contradição, o líder do CH garante ao Diário de Notícias que sempre distinguiu “muito bem a parte científica da parte opinativa”. Benfica: mais que um clube André Ventura partilha com muitos portugueses uma característica: é um fervoroso adepto do Sport Lisboa e Benfica. Mas se à maioria dos adeptos isso de pouco vale, a Ventura ter-lhe-á valido um treino discursivo e mediático. É que, apesar do seu sucesso em Direito, André Ventura chega às televisões portuguesas pelo comentário futebolístico, na Benfica TV, em 2014. Acabaria por mudar, no mesmo ano, para a generalista CMTV, mas a defender o Benfica, no programa de comentário desportivo “Pé em Riste”. André Ventura terá sido um dos comentadores que beneficiava da conhecida “cartilha”, informações internas que o Benfica lhe fornecia para ter melhor prestação do que os seus adversários no debate e, deste modo, beneficiar o clube.

Mas os benefícios não se ficam pelo comentário desportivo. Em 2016, André Ventura apresenta-se como o coordenador da plataforma “Benfica para a frente. Vieira a Presidente”, que apoiava a recandidatura de Luís Filipe Vieira à direção do Benfica. Este apoio seria retornado a Ventura, quando encabeçou a lista do PSD, na candidatura à autarquia de Loures, em 2017, com Varandas Fernandes a presidir à Comissão de Honra de Ventura. O vice-presidente do Benfica deixaria de manifestar o seu apoio a Ventura, na sequência das declarações ao jornal I sobre a comunidade cigana. Política à parte, Ventura sentou-se, em muitos jantares de campanha, ao lado de Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica e arguido por suspeitas de corrupção na operação Lex.

O candidato antissistema “Eu sou o candidato antissistema” talvez seja das frases que André Ventura diz mais vezes ao seu eleitorado. No entanto, Ventura é “ filho ” de um dos maiores partidos portugueses, o Partido Social Democrata (PSD) e compara-se sistematicamente ao seu primeiro líder, Francisco Sá Carneiro.

André Ventura cresceu em Algueirão-Mem Martins, rodeado das bicicletas da loja do pai e a discutir política à mesa do jantar. O pai, ex-combatente do Ultramar, com ideais mais à direita, talvez o tenha inspirado politicamente. Contudo, o que recorda como decisivo foi a vida na vila, que lhe permitiu “conhecer a desigualdade”. Sonhou ser ciclista profissional, como o seu ídolo Lance Armstrong, para deixar Mem Martins e “subir na vida”. Porém, o desejo de ser padre é que, aos 17 anos, acabou por o tirar do local onde nasceu. Em 2000, foi viver para o Seminário-menor de Nossa Senhora da Graça, em Torres Vedras, onde concluiu o secundário no Externato de Penafirme. Uma paixão de escola leva Ventura a desistir do seminário. Diz manter a fé católica, apesar de, muitas vezes, ser questionado quanto à radicalidade das suas ideias, quando comparadas com os valores cristãos. Do seminário seguiu para a Faculdade de Direito na Universidade Nova de Lisboa. Tinha já incutidos valores comuns ao seu ídolo de infância, o ciclista Lance Armstrong: extremamente competitivo, focado e disciplinado. Terminaria a Licenciatura com média de 19 valores, o que talvez tenha sido uma porta aberta para a sua carreira na Academia. Abriu-lhe, pelo menos, caminho para se tornar advogado estagiário e, mais tarde, inspetor fiscal, na Autoridade Tributária, onde ficou ativamente até 2014, quando pediu uma licença sem vencimento. O programa eleitoral do partido do qual é presidente chegou a classificar, na primeira versão, a Autoridade Tributária como “uma máquina de assalto ao cidadão e de terrorismo de Estado”. No entanto, Ventura assume, em entrevista ao Observador, o desejo de voltar a trabalhar nesta máquina, quando terminar a carreira política. O período no Autoridade Tributária coincidiu, em parte, com o da tese de doutoramento de André Ventura. “Towards a New Model of Criminal Justice System in the Era of Globalised Criminality” foi a tese aprovada, em 2013, em Cork, na Universidade da Irlanda. O líder do partido que hoje defende a prisão perpétua, a castração química e física como forma de punição e o reforço dos poderes policiais, em 2013 criticava o “populismo penal”, no contexto das políticas antiterrorismo, após o 11 de setembro de 2001. Por “populismo penal”, André Ventura nomeia o “processo pelo qual os políticos aproveitam e usam para sua vantagem aquilo que creem ser a generalizada vontade de punição do público”. Mas, se tal como em relação à Autoridade Tributária parece haver alguma contradição, o líder do CH garante ao Diário de Notícias que sempre distinguiu “muito bem a parte científica da parte opinativa”. Benfica: mais que um clube André Ventura partilha com muitos portugueses uma característica: é um fervoroso adepto do Sport Lisboa e Benfica. Mas se à maioria dos adeptos isso de pouco vale, a Ventura ter-lhe-á valido um treino discursivo e mediático. É que, apesar do seu sucesso em Direito, André Ventura chega às televisões portuguesas pelo comentário futebolístico, na Benfica TV, em 2014. Acabaria por mudar, no mesmo ano, para a generalista CMTV, mas a defender o Benfica, no programa de comentário desportivo “Pé em Riste”. André Ventura terá sido um dos comentadores que beneficiava da conhecida “cartilha”, informações internas que o Benfica lhe fornecia para ter melhor prestação do que os seus adversários no debate e, deste modo, beneficiar o clube.

Mas os benefícios não se ficam pelo comentário desportivo. Em 2016, André Ventura apresenta-se como o coordenador da plataforma “Benfica para a frente. Vieira a Presidente”, que apoiava a recandidatura de Luís Filipe Vieira à direção do Benfica. Este apoio seria retornado a Ventura, quando encabeçou a lista do PSD, na candidatura à autarquia de Loures, em 2017, com Varandas Fernandes a presidir à Comissão de Honra de Ventura. O vice-presidente do Benfica deixaria de manifestar o seu apoio a Ventura, na sequência das declarações ao jornal I sobre a comunidade cigana. Política à parte, Ventura sentou-se, em muitos jantares de campanha, ao lado de Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica e arguido por suspeitas de corrupção na operação Lex.

O candidato antissistema “Eu sou o candidato antissistema” talvez seja das frases que André Ventura diz mais vezes ao seu eleitorado. No entanto, Ventura é “ filho ” de um dos maiores partidos portugueses, o Partido Social Democrata (PSD) e compara-se sistematicamente ao seu primeiro líder, Francisco Sá Carneiro.

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