"É urgente acelerar o investimento na indústria automóvel em Portugal", alerta AFIA

27-09-2020
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Para a indústria automóvel em Portugal, este é o momento certo para “o país fazer uma aposta forte no investimento no sector”, apesar da contração provocada pela pandemia de covid-19. Em causa está o carro do futuro e uma certeza: “Se não estivermos prontos para entrar nesta corrida ficamos fora de jogo no mínimo cinco anos”, garante ao Expresso José Couto, presidente da AFIA - Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel.

“Não podemos ficar fora da short list das diferentes marcas para os seus fornecedores nos novos projetos. Isso seria dramático”, afirma.

Consciente de que a necessidade de reagir a pensar no médio e longo prazo surge “num momento complicado”, José Couto explica que o que está em causa, nesta fase, é manter o perfil competitivo do sector para continuar a ser uma opção para os principais fabricantes mundiais no momento em que as novas tendências estão a ser definidas e há, até, um acelerar do processo de descarbonização e das medidas de estímulo ao consumo de carros elétricos.

“Tudo isto significa alterações nos planos das construtoras e, se queremos ir a jogo, continuar na lista dos que estão aptos a acompanhá-las nos novos projetos do carro do futuro, com nova motorização, novos materiais, um novo habitat, temos de investir”, defende o dirigente associativo de um sector que soma 240 empresas e 265 fábricas, 59 mil postos de trabalho (8% do total da indústria transformadora), um volume de negócios de 12 mil milhões de euros (6% do PIB) e exportações de 9,7 mil milhões de euros (16% dos bens transacionáveis).

“É importante dar sinais e provas aos nossos clientes de que somos capazes de acolher bem as alterações em curso, que temos soluções para eles, que continuamos a investir, que não esquecemos a investigação e o desenvolvimento”, acrescenta.

E o automóvel mantém aposta na ferrovia para vencer

Se tudo isto coincide com uma “conjuntura difícil, em que as empresas já estão a utilizar reservas e a endividar-se para se aguentarem”, pensar que “é preciso colocar ainda em cima de toda esta carga, um esforço adicional de investimento para enfrentar os novos desafios e apostar na digitalização, alterações de layout, novos processos de gestão, tecnologia dá uma ideia da dimensão da dor de cabeça atual”, comenta.

Para manter a fileira na linha da frente, a AFIA já passou do diagnóstico à fase seguinte: “É fundamental o governo ter soluções que não signifiquem o endividamento das empresas no curto prazo. Precisamos de financiamento de muito longo prazo, de ajudas que não signifiquem um aumento do endividamento imediato e permitem que as empresas possam sentir-se desafogadas no que respeita a preocupações com a dívida no seu planeamento. O reforço de capital é vital”.

E, simultaneamente, a par do esforço financeiro exigido às empresas, “Portugal não pode ficar com o seu horizonte limitado a Espanha, o segundo maior fabricante europeu”. “É fundamental conseguir que o país esteja pronto a colocar rapidamente os seus produtos no centro da Europa, sem custos adicionais para os clientes e sem atrasos, o que exige soluções logísticas que não deixem qualquer dúvida a quem nos escolher de que poderá receber as encomendas no minuto exato contratado”, avisa.

Para isso, o esforço nacional em defesa do cluster automóvel, diz, passa também por soluções logísticas, infraestruturas para a acolher áreas empresariais, uma ferrovia moderna, boas ligações portuárias, elenca.

A dor de cabeça adicional do Brexit

Mas na frente externa, José Couto também está preocupado com o impacto do Brexit no sector automóvel. Aliás, num apelo conjunto a 15 semanas do término do período de transição do Brexit, os líderes automóveis da União Europeia e do Reino Unido deixaram claro que “faltam apenas algumas semanas para salvar o sector automóvel da UE e do Reino Unido do desastre de perder 110 mil milhões de euros num Brexit sem acordo”.

Feitas as contas, o sector concluiu que o “impacto catastrófico das tarifas da Organização Mundial de Comércio em caso de não acordo, põe em risco a produção de 3 milhões carros e carrinhas fabricados na UE e no Reino Unido nos próximos cinco anos”.

O não acordo significaria perdas comerciais combinadas até 110 mil milhões de euros em cinco anos, além das perdas de 100 milhões de euros de valor de produção este ano devido à crise da covid-19.

Crescer e ganhar quota é a trajetória a manter

E como seguem as exportações do sector em tempos de pandemia? Depois de registarem quebras durante quatro meses, os componentes automóveis viram as vendas ao exterior subirem 4% em julho face a período homólogo, chegando aos 792 milhões de euros.

Já no acumulado até julho, a fileira soma 4.546 milhões de euros, o que representa uma quebra homóloga de -22% m relação ao mesmo período de 2019.

Por mercados, Espanha continua na primeira posição, com 1.376 milhões de euros (-12,6%), seguida da Alemanha, com 987 milhões de euros (-18%) e França, com um registo de 548 milhões de euros (-36,6%). No que se refere às exportações para o Reino Unido, totalizaram 302 milhões de euros (-38%). No total, estes 4 países concentram 71% das exportações portuguesas de componentes automóveis.

Na perspectiva da AFIA, “o crescimento de julho deverá continuar a verificar-se nos próximos meses, após um período de acentuadas quedas em resultado da pandemia de Covid-19".

Para justificar a importância estratégica do cluster para a economia portuguesa, o sector refere dados como a evolução de 27,9% do VAB em cinco anos, sublinhando estar em causa um crescimento a um ritmo médio anual de 6,4%, expurgando a inflação, 8,5 vezes acima do ritmo da economia portuguesa.

Mais, “a indústria portuguesa de componentes automóveis cresce muito mais do que a produção automóvel na União Europeia. Entre 2010 e 2019, o seu volume de negócios aumentou 81%, enquanto a produção automóvel na UE só aumentou 6%, o que significa um ganho de quota de mercado e uma clara afirmação de competitividade”.

Para a indústria automóvel em Portugal, este é o momento certo para “o país fazer uma aposta forte no investimento no sector”, apesar da contração provocada pela pandemia de covid-19. Em causa está o carro do futuro e uma certeza: “Se não estivermos prontos para entrar nesta corrida ficamos fora de jogo no mínimo cinco anos”, garante ao Expresso José Couto, presidente da AFIA - Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel.

“Não podemos ficar fora da short list das diferentes marcas para os seus fornecedores nos novos projetos. Isso seria dramático”, afirma.

Consciente de que a necessidade de reagir a pensar no médio e longo prazo surge “num momento complicado”, José Couto explica que o que está em causa, nesta fase, é manter o perfil competitivo do sector para continuar a ser uma opção para os principais fabricantes mundiais no momento em que as novas tendências estão a ser definidas e há, até, um acelerar do processo de descarbonização e das medidas de estímulo ao consumo de carros elétricos.

“Tudo isto significa alterações nos planos das construtoras e, se queremos ir a jogo, continuar na lista dos que estão aptos a acompanhá-las nos novos projetos do carro do futuro, com nova motorização, novos materiais, um novo habitat, temos de investir”, defende o dirigente associativo de um sector que soma 240 empresas e 265 fábricas, 59 mil postos de trabalho (8% do total da indústria transformadora), um volume de negócios de 12 mil milhões de euros (6% do PIB) e exportações de 9,7 mil milhões de euros (16% dos bens transacionáveis).

“É importante dar sinais e provas aos nossos clientes de que somos capazes de acolher bem as alterações em curso, que temos soluções para eles, que continuamos a investir, que não esquecemos a investigação e o desenvolvimento”, acrescenta.

E o automóvel mantém aposta na ferrovia para vencer

Se tudo isto coincide com uma “conjuntura difícil, em que as empresas já estão a utilizar reservas e a endividar-se para se aguentarem”, pensar que “é preciso colocar ainda em cima de toda esta carga, um esforço adicional de investimento para enfrentar os novos desafios e apostar na digitalização, alterações de layout, novos processos de gestão, tecnologia dá uma ideia da dimensão da dor de cabeça atual”, comenta.

Para manter a fileira na linha da frente, a AFIA já passou do diagnóstico à fase seguinte: “É fundamental o governo ter soluções que não signifiquem o endividamento das empresas no curto prazo. Precisamos de financiamento de muito longo prazo, de ajudas que não signifiquem um aumento do endividamento imediato e permitem que as empresas possam sentir-se desafogadas no que respeita a preocupações com a dívida no seu planeamento. O reforço de capital é vital”.

E, simultaneamente, a par do esforço financeiro exigido às empresas, “Portugal não pode ficar com o seu horizonte limitado a Espanha, o segundo maior fabricante europeu”. “É fundamental conseguir que o país esteja pronto a colocar rapidamente os seus produtos no centro da Europa, sem custos adicionais para os clientes e sem atrasos, o que exige soluções logísticas que não deixem qualquer dúvida a quem nos escolher de que poderá receber as encomendas no minuto exato contratado”, avisa.

Para isso, o esforço nacional em defesa do cluster automóvel, diz, passa também por soluções logísticas, infraestruturas para a acolher áreas empresariais, uma ferrovia moderna, boas ligações portuárias, elenca.

A dor de cabeça adicional do Brexit

Mas na frente externa, José Couto também está preocupado com o impacto do Brexit no sector automóvel. Aliás, num apelo conjunto a 15 semanas do término do período de transição do Brexit, os líderes automóveis da União Europeia e do Reino Unido deixaram claro que “faltam apenas algumas semanas para salvar o sector automóvel da UE e do Reino Unido do desastre de perder 110 mil milhões de euros num Brexit sem acordo”.

Feitas as contas, o sector concluiu que o “impacto catastrófico das tarifas da Organização Mundial de Comércio em caso de não acordo, põe em risco a produção de 3 milhões carros e carrinhas fabricados na UE e no Reino Unido nos próximos cinco anos”.

O não acordo significaria perdas comerciais combinadas até 110 mil milhões de euros em cinco anos, além das perdas de 100 milhões de euros de valor de produção este ano devido à crise da covid-19.

Crescer e ganhar quota é a trajetória a manter

E como seguem as exportações do sector em tempos de pandemia? Depois de registarem quebras durante quatro meses, os componentes automóveis viram as vendas ao exterior subirem 4% em julho face a período homólogo, chegando aos 792 milhões de euros.

Já no acumulado até julho, a fileira soma 4.546 milhões de euros, o que representa uma quebra homóloga de -22% m relação ao mesmo período de 2019.

Por mercados, Espanha continua na primeira posição, com 1.376 milhões de euros (-12,6%), seguida da Alemanha, com 987 milhões de euros (-18%) e França, com um registo de 548 milhões de euros (-36,6%). No que se refere às exportações para o Reino Unido, totalizaram 302 milhões de euros (-38%). No total, estes 4 países concentram 71% das exportações portuguesas de componentes automóveis.

Na perspectiva da AFIA, “o crescimento de julho deverá continuar a verificar-se nos próximos meses, após um período de acentuadas quedas em resultado da pandemia de Covid-19".

Para justificar a importância estratégica do cluster para a economia portuguesa, o sector refere dados como a evolução de 27,9% do VAB em cinco anos, sublinhando estar em causa um crescimento a um ritmo médio anual de 6,4%, expurgando a inflação, 8,5 vezes acima do ritmo da economia portuguesa.

Mais, “a indústria portuguesa de componentes automóveis cresce muito mais do que a produção automóvel na União Europeia. Entre 2010 e 2019, o seu volume de negócios aumentou 81%, enquanto a produção automóvel na UE só aumentou 6%, o que significa um ganho de quota de mercado e uma clara afirmação de competitividade”.

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