De cor

20-06-2020
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Cansa-me por vezes ouvir as pessoas a falar, até
ingenuamente, do que desconhecem com a profundidade proporcional às críticas
que lhe infligem. Até porque isso dá jeito a quem discorde dos assuntos que
estão em cima da mesa e faça toda a espécie de contorcionismos para falar do
que lhe interessa e não do que lá está. O caso do Manifesto dos 70 parece-me
exemplar, já que aparece como um “ponto de ordem” a ter de ser feito nesta
espécie de vertigo em que o governo
português nos precipita. A minha crónica de hoje, “cosida” com excertos deste
Manifesto é uma tentativa de falar do que ele é e esclarecer os que foram
arrastados por alguns que o transformaram naquilo que querem que seja. É que
como disse o Sartre, «a desordem é o melhor servidor da ordem estabelecida.»

Apesar de disponível em vários meios, o que ficou e quiseram
muitos que ficasse deste Manifesto, que considero histórico, foi o facto de ter
sido subscrito por pessoas de quadrantes políticos distintos, com a ausência do
PCP-PEV que ficam assim, como o outro, “orgulhosamente só”.

O Manifesto é uma tomada de «posições diversas sobre as
estratégias que devem ser seguidas para responder à crise económica e social,
mas que partilham a mesma preocupação quanto ao peso da dívida e à gravidade
dos constrangimentos impostos à economia portuguesa». É que se à partida, em
política, partamos do princípio que o interesse comum é o objetivo e as
propostas para lá chegar é que podem variar, damo-nos conta que, demasiadas
vezes, quando se tem o poder, mesmo o da oposição, esse objetivo parece
perder-se pelo meio de outros interesses.

Os que o assinaram confirmam que foi a, jocosamente tratada
por muitos, «crise internacional iniciada em 2008 [que] conduziu, entre outros
fatores de desequilíbrio, ao crescimento sem precedentes da dívida pública» e
estão conscientes de que esta «tornar-se-á insustentável na ausência de
crescimento duradouro significativo».

Com a aproximação das eleições europeias, habitualmente pouco
participadas pelos eleitores, é também comum apelar-se à demonização do euro. A
moeda única é, de forma simplória, conotada com a desgraça em que caímos mas,
como diz ainda o Manifesto, «se o euro, por um lado, cerceia a possibilidade de
uma solução no âmbito nacional, por outro, convoca poderosamente a cooperação
entre todos os Estados-membros aderentes. A razão é simples e incontornável: o
eventual incumprimento por parte de um país do euro acarretaria, em última instância,
custos difíceis de calcular, mas provavelmente elevados, incidindo sobre outros
países e sobre o próprio euro.» E alerta ainda que quando da «entrada em
funções da nova Comissão Europeia [a que sai das próximas e importantes
eleições em maio], deverá estar na agenda europeia o início de negociações de
um acordo de amortização da dívida pública excessiva, no âmbito do funcionamento
das instituições europeias.»

Finalmente, a buzzword
que me fica deste Manifesto, que inclui propostas concretas que vos aconselho a
ler, poderá resumir-se assim: «No atual contexto, Portugal pode e deve, por
interesse próprio, responsabilizar-se pela sua dívida, nos termos propostos,
visando sempre assegurar o crescimento económico e a defesa do bem-estar vital
da sua população, em condições que são também do interesse comum a todos os
membros do euro.»
Termino. O Manifesto dos 70 é uma posição de oposição.
Construtiva, responsável e moderada, muito diferente da oposição radical que
“rasga vestes”, “arranca cabelos” e promete os “amanhãs que cantam” de que
ainda estamos à espera nos sítios em que são poder. 

Cansa-me por vezes ouvir as pessoas a falar, até
ingenuamente, do que desconhecem com a profundidade proporcional às críticas
que lhe infligem. Até porque isso dá jeito a quem discorde dos assuntos que
estão em cima da mesa e faça toda a espécie de contorcionismos para falar do
que lhe interessa e não do que lá está. O caso do Manifesto dos 70 parece-me
exemplar, já que aparece como um “ponto de ordem” a ter de ser feito nesta
espécie de vertigo em que o governo
português nos precipita. A minha crónica de hoje, “cosida” com excertos deste
Manifesto é uma tentativa de falar do que ele é e esclarecer os que foram
arrastados por alguns que o transformaram naquilo que querem que seja. É que
como disse o Sartre, «a desordem é o melhor servidor da ordem estabelecida.»

Apesar de disponível em vários meios, o que ficou e quiseram
muitos que ficasse deste Manifesto, que considero histórico, foi o facto de ter
sido subscrito por pessoas de quadrantes políticos distintos, com a ausência do
PCP-PEV que ficam assim, como o outro, “orgulhosamente só”.

O Manifesto é uma tomada de «posições diversas sobre as
estratégias que devem ser seguidas para responder à crise económica e social,
mas que partilham a mesma preocupação quanto ao peso da dívida e à gravidade
dos constrangimentos impostos à economia portuguesa». É que se à partida, em
política, partamos do princípio que o interesse comum é o objetivo e as
propostas para lá chegar é que podem variar, damo-nos conta que, demasiadas
vezes, quando se tem o poder, mesmo o da oposição, esse objetivo parece
perder-se pelo meio de outros interesses.

Os que o assinaram confirmam que foi a, jocosamente tratada
por muitos, «crise internacional iniciada em 2008 [que] conduziu, entre outros
fatores de desequilíbrio, ao crescimento sem precedentes da dívida pública» e
estão conscientes de que esta «tornar-se-á insustentável na ausência de
crescimento duradouro significativo».

Com a aproximação das eleições europeias, habitualmente pouco
participadas pelos eleitores, é também comum apelar-se à demonização do euro. A
moeda única é, de forma simplória, conotada com a desgraça em que caímos mas,
como diz ainda o Manifesto, «se o euro, por um lado, cerceia a possibilidade de
uma solução no âmbito nacional, por outro, convoca poderosamente a cooperação
entre todos os Estados-membros aderentes. A razão é simples e incontornável: o
eventual incumprimento por parte de um país do euro acarretaria, em última instância,
custos difíceis de calcular, mas provavelmente elevados, incidindo sobre outros
países e sobre o próprio euro.» E alerta ainda que quando da «entrada em
funções da nova Comissão Europeia [a que sai das próximas e importantes
eleições em maio], deverá estar na agenda europeia o início de negociações de
um acordo de amortização da dívida pública excessiva, no âmbito do funcionamento
das instituições europeias.»

Finalmente, a buzzword
que me fica deste Manifesto, que inclui propostas concretas que vos aconselho a
ler, poderá resumir-se assim: «No atual contexto, Portugal pode e deve, por
interesse próprio, responsabilizar-se pela sua dívida, nos termos propostos,
visando sempre assegurar o crescimento económico e a defesa do bem-estar vital
da sua população, em condições que são também do interesse comum a todos os
membros do euro.»
Termino. O Manifesto dos 70 é uma posição de oposição.
Construtiva, responsável e moderada, muito diferente da oposição radical que
“rasga vestes”, “arranca cabelos” e promete os “amanhãs que cantam” de que
ainda estamos à espera nos sítios em que são poder. 

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