Legislativas 2019: Vitórias, derrotas e tudo o que fica no meio

13-01-2020
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Assunção Cristas

É a principal derrotada das eleições. O problema não terá sido tanto os anos da troika (a coligação PSD/CDS ganhou as eleições de há quatro anos, lembre-se) mas sim a incapacidade de situar o partido de uma forma que fosse clara e atrativa aos olhos dos eleitores. Sem a cartilha do descontrolo das contas – que Costa e Centeno retiraram da mesa – sem querer entrar a fundo num conservadorismo em matéria de costumes, e só acordando para a insistência no tema fiscal já muito tarde, o CDS ficou em terra de ninguém. Não seria exigível nem lógico que Assunção Cristas continuasse à frente do CDS, que perdeu três quartos dos seus deputados.

António Costa

É o grande vencedor destas legislativas, ainda que tenha ficado claramente abaixo do sonho – claro mas nunca expresso – da maioria absoluta. Depois da forma original e controversa como chegou ao poder, há quatro anos, matou agora o fantasma da ilegitimidade democrática. Costa e o PS foram os grandes beneficiários da invenção da geringonça e, não tendo maioria para governar sozinho, ganharam margem para negociar com voz mais grossa. Foi mais claro do que eu esperava no discurso de vitória, não deixando margem para dúvidas: quer continuar a geringonça e deixou a disponibilidade e boa-vontade de Rui Rio de mão estendida, virando-se exclusivamente para a esquerda. Mais uma vez demonstrou toda a sua inteligência ao abrir a porta ao Livre e ao PAN, de forma a reforçar a sua abertura para uma colaboração alargada. Com isto, pretende retirar gás ao Bloco de Esquerda, que se considera o interlocutor privilegiado nas conversas do próximo governo. Há quatro anos, Costa não seria primeiro-ministro sem a esquerda. Agora, só não governará quatro anos se a esquerda o deitar abaixo, com as consequências que daí advêm. Não tendo a ansiada maioria absoluta, Costa está como quer, com a faca e quase todo o queijo na mão.

André Ventura

O Chega é, para já, irrelevante enquanto partido, pelo que o vencedor é André Ventura e não o seu movimento, criado à pressa para ser um veículo para um comentador de futebol. Assente num discurso xenófobo e radical, terá atraído sobretudo os desiludidos com o sistema, que viram aqui uma oportunidade para o protesto, até contra o politicamente correto que vai saindo das franjas e ocupando o mainstream político e mediático.

Há vários pontos a salientar da entrada do Chega no Parlamento. Em primeiro lugar, alguma falta de sentido democrático de praticamente toda a gente: se o Chega disputou eleições e conseguiu votos, tem tanto direito de estar na AR como os outros. É suposto o Parlamento representar os portugueses, e há portugueses que pensam assim. Não se pode chorar pelos perigos para a democracia e sugerir uma espécie de censura eleitoral ao Chega ou a qualquer outro partido admitido a eleições.

Depois, o futuro, e isso vai depender da postura que André Ventura, um cata-vento mediático, quiser adotar. Na noite eleitoral, começou por mostrar equilíbrio, querendo afastar a aura mais extremista. Mas logo de seguida veio dizer que o Chega será o partido mais votado daqui a oito anos, e disse-o sem se rir. Ora a única hipótese de o Chega crescer a sério é ser radical, fazer-se notar, aproveitar a plataforma que tem para extremar posições. Que Chega teremos?

Por último, é importante saber que postura terão os outros partidos perante o Chega. A tentação de o ostracizar é grande e compreensível, fazendo do Chega uma espécia de “Chega-te mas é para lá”. Mas isso não lhe dará ainda mais força, reforçando o seu caráter anti-sistema? Não tenho uma boa resposta para esta dúvida.

PCP

Menos 116 mil votos e menos cinco deputados. É uma derrota clara e inequívoca que nem os responsáveis comunistas, habituais neste exercício, conseguiram disfarçar. Que parte desta queda é fatura da geringonça e que parte virá de outros fatores, não é fácil dizer sem especular. Na noite eleitoral, tal como em muitos momentos da campanha, Jerónimo de Sousa apareceu cansado, sem chama, até algo perdido, o que não é comum. Que caminho resta ao PCP? Depois do empático e carismático Jerónimo, quem virá? E que sentido faz, hoje em dia, uma coisa chamada CDU, quando os Verdes foram ainda mais remetidos para a irrelevância política pela ascensão do PAN?

Joacine Katar Moreira

É a poster girl da esquerda moderna, e isso valeu mais do que os argumentos que apresentou, que não foram muitos nem particularmente concretizados. Já há algum tempo que o Livre, de Rui Tavares, merecia alguma recompensa, e não deixa de ser curioso que ela chegue quando o seu mentor não era cabeça de lista. Joacine é um símbolo poderoso, e terá a oportunidade para mostrar que pode ser mais do que apenas isso.

Rui Rio

Nunca uma derrota foi tão festejada. O PSD teve um mau resultado, sem dúvida, mas as expetativas eram tão baixas que os 28% finais permitiram a Rui Rio sair vivo da noite eleitoral. No seu discurso, foi igual a si próprio. Metade do tempo a atacar a comunicação social e a outra a atacar os críticos internos, passando praticamente ao lado da sua responsabilidade no desfecho. Os números não o deixam descansado, mas também não galvanizam necessariamente os seus rivais internos, que terão mesmo de mostrar serviço para correr com ele. Mais, Rui Rio começou a subir quando começou a aparecer, ele mesmo, de viva voz, depois de ano e meio em que só se falava do PSD por interpostas pessoas, dando da direção do partido uma imagem de desnorte. Quando começou a campanha e os debates, Rio ganhou espaço e marcou pontos, graças ao seu estilo de homem pragmático e “comum”, que agrada a muitos portugueses. Rui Rio, todos os dias no Parlamento, terá oportunidade para aparecer mais e afirmar esse seu estilo, pelo que esta derrota pode ter sido o chão de uma futura subida. Resta é saber se Rio estará à frente do partido nas próximas disputas eleitorais.

Bloco de Esquerda

É uma vitória com sabor a derrota ou vice-versa, e ambas as versões são admissíveis. O Bloco desce em número de votos e em percentagem, face há quatro anos. Mas mantém exatamente os mesmos 19 deputados, sinal de que o partido não sofreu a penalização mostrada pelo PCP pelo facto de ter sido suporte do governo. Antes pelo contrário, pode interpretar-se que – para aqueles que gostaram da geringonça – o voto no Bloco foi visto como a melhor forma de o assegurar, tentando obrigar o PS a dividir o poder. Terá o Bloco atingido o seu teto natural, ali perto dos 10%? E que força terá o Bloco ao negociar agora com um PS reforçado, legitimado, e fatigado pelo que considera serem as traições retóricas e políticas de Catarina Martins?

Iniciativa Liberal

Uma campanha original e focada num ponto simples de entender: menos impostos. A agenda da Iniciativa Liberal é mais extensa, mas a eficácia prendeu-se com a concentração num argumento com o qual é difícil de discordar. Elegeu um deputado e, pelo meio, roubou a bandeira que o CDS não soube (ou não pôde, depois da troika) empunhar com convicção. Agora é hora de sair do twitter e percebermos se está aqui um partido a sério.

PAN

O partido da moda passou de um para quatro deputados, naquilo que foi uma grande vitória, ainda que longe dos cenários estratosféricos que algumas sondagens lhe chegaram a atribuir. A grande conquista do PAN é a quantidade de gente que dantes o ignorava e agora o odeia, sinal de que já existe. Com esta responsabilidade acrescida, não pode fazer outra legislatura igual, de abstenção em abstenção, ignorando a maioria dos temas que são críticos para as pessoas e para o País. O verdadeiro teste do PAN e de André Silva começa agora.

Santana Lopes

Estas eleições até deram gás a pequenos e novos partidos, e nem assim o Aliança foi capaz de entrar no Parlamento. Cai também por terra aquele exercício “Calimero” de culpar a imprensa por não lhes dar atenção, que outros partidos também não tiveram mas que não impediu resultados mais satisfatórios. Uma lição de humildade para Santana Lopes, que achava que o seu nome valeria uns milhares de votos, independentemente do partido. Não chegou, fica a combatividade.

Assunção Cristas

É a principal derrotada das eleições. O problema não terá sido tanto os anos da troika (a coligação PSD/CDS ganhou as eleições de há quatro anos, lembre-se) mas sim a incapacidade de situar o partido de uma forma que fosse clara e atrativa aos olhos dos eleitores. Sem a cartilha do descontrolo das contas – que Costa e Centeno retiraram da mesa – sem querer entrar a fundo num conservadorismo em matéria de costumes, e só acordando para a insistência no tema fiscal já muito tarde, o CDS ficou em terra de ninguém. Não seria exigível nem lógico que Assunção Cristas continuasse à frente do CDS, que perdeu três quartos dos seus deputados.

António Costa

É o grande vencedor destas legislativas, ainda que tenha ficado claramente abaixo do sonho – claro mas nunca expresso – da maioria absoluta. Depois da forma original e controversa como chegou ao poder, há quatro anos, matou agora o fantasma da ilegitimidade democrática. Costa e o PS foram os grandes beneficiários da invenção da geringonça e, não tendo maioria para governar sozinho, ganharam margem para negociar com voz mais grossa. Foi mais claro do que eu esperava no discurso de vitória, não deixando margem para dúvidas: quer continuar a geringonça e deixou a disponibilidade e boa-vontade de Rui Rio de mão estendida, virando-se exclusivamente para a esquerda. Mais uma vez demonstrou toda a sua inteligência ao abrir a porta ao Livre e ao PAN, de forma a reforçar a sua abertura para uma colaboração alargada. Com isto, pretende retirar gás ao Bloco de Esquerda, que se considera o interlocutor privilegiado nas conversas do próximo governo. Há quatro anos, Costa não seria primeiro-ministro sem a esquerda. Agora, só não governará quatro anos se a esquerda o deitar abaixo, com as consequências que daí advêm. Não tendo a ansiada maioria absoluta, Costa está como quer, com a faca e quase todo o queijo na mão.

André Ventura

O Chega é, para já, irrelevante enquanto partido, pelo que o vencedor é André Ventura e não o seu movimento, criado à pressa para ser um veículo para um comentador de futebol. Assente num discurso xenófobo e radical, terá atraído sobretudo os desiludidos com o sistema, que viram aqui uma oportunidade para o protesto, até contra o politicamente correto que vai saindo das franjas e ocupando o mainstream político e mediático.

Há vários pontos a salientar da entrada do Chega no Parlamento. Em primeiro lugar, alguma falta de sentido democrático de praticamente toda a gente: se o Chega disputou eleições e conseguiu votos, tem tanto direito de estar na AR como os outros. É suposto o Parlamento representar os portugueses, e há portugueses que pensam assim. Não se pode chorar pelos perigos para a democracia e sugerir uma espécie de censura eleitoral ao Chega ou a qualquer outro partido admitido a eleições.

Depois, o futuro, e isso vai depender da postura que André Ventura, um cata-vento mediático, quiser adotar. Na noite eleitoral, começou por mostrar equilíbrio, querendo afastar a aura mais extremista. Mas logo de seguida veio dizer que o Chega será o partido mais votado daqui a oito anos, e disse-o sem se rir. Ora a única hipótese de o Chega crescer a sério é ser radical, fazer-se notar, aproveitar a plataforma que tem para extremar posições. Que Chega teremos?

Por último, é importante saber que postura terão os outros partidos perante o Chega. A tentação de o ostracizar é grande e compreensível, fazendo do Chega uma espécia de “Chega-te mas é para lá”. Mas isso não lhe dará ainda mais força, reforçando o seu caráter anti-sistema? Não tenho uma boa resposta para esta dúvida.

PCP

Menos 116 mil votos e menos cinco deputados. É uma derrota clara e inequívoca que nem os responsáveis comunistas, habituais neste exercício, conseguiram disfarçar. Que parte desta queda é fatura da geringonça e que parte virá de outros fatores, não é fácil dizer sem especular. Na noite eleitoral, tal como em muitos momentos da campanha, Jerónimo de Sousa apareceu cansado, sem chama, até algo perdido, o que não é comum. Que caminho resta ao PCP? Depois do empático e carismático Jerónimo, quem virá? E que sentido faz, hoje em dia, uma coisa chamada CDU, quando os Verdes foram ainda mais remetidos para a irrelevância política pela ascensão do PAN?

Joacine Katar Moreira

É a poster girl da esquerda moderna, e isso valeu mais do que os argumentos que apresentou, que não foram muitos nem particularmente concretizados. Já há algum tempo que o Livre, de Rui Tavares, merecia alguma recompensa, e não deixa de ser curioso que ela chegue quando o seu mentor não era cabeça de lista. Joacine é um símbolo poderoso, e terá a oportunidade para mostrar que pode ser mais do que apenas isso.

Rui Rio

Nunca uma derrota foi tão festejada. O PSD teve um mau resultado, sem dúvida, mas as expetativas eram tão baixas que os 28% finais permitiram a Rui Rio sair vivo da noite eleitoral. No seu discurso, foi igual a si próprio. Metade do tempo a atacar a comunicação social e a outra a atacar os críticos internos, passando praticamente ao lado da sua responsabilidade no desfecho. Os números não o deixam descansado, mas também não galvanizam necessariamente os seus rivais internos, que terão mesmo de mostrar serviço para correr com ele. Mais, Rui Rio começou a subir quando começou a aparecer, ele mesmo, de viva voz, depois de ano e meio em que só se falava do PSD por interpostas pessoas, dando da direção do partido uma imagem de desnorte. Quando começou a campanha e os debates, Rio ganhou espaço e marcou pontos, graças ao seu estilo de homem pragmático e “comum”, que agrada a muitos portugueses. Rui Rio, todos os dias no Parlamento, terá oportunidade para aparecer mais e afirmar esse seu estilo, pelo que esta derrota pode ter sido o chão de uma futura subida. Resta é saber se Rio estará à frente do partido nas próximas disputas eleitorais.

Bloco de Esquerda

É uma vitória com sabor a derrota ou vice-versa, e ambas as versões são admissíveis. O Bloco desce em número de votos e em percentagem, face há quatro anos. Mas mantém exatamente os mesmos 19 deputados, sinal de que o partido não sofreu a penalização mostrada pelo PCP pelo facto de ter sido suporte do governo. Antes pelo contrário, pode interpretar-se que – para aqueles que gostaram da geringonça – o voto no Bloco foi visto como a melhor forma de o assegurar, tentando obrigar o PS a dividir o poder. Terá o Bloco atingido o seu teto natural, ali perto dos 10%? E que força terá o Bloco ao negociar agora com um PS reforçado, legitimado, e fatigado pelo que considera serem as traições retóricas e políticas de Catarina Martins?

Iniciativa Liberal

Uma campanha original e focada num ponto simples de entender: menos impostos. A agenda da Iniciativa Liberal é mais extensa, mas a eficácia prendeu-se com a concentração num argumento com o qual é difícil de discordar. Elegeu um deputado e, pelo meio, roubou a bandeira que o CDS não soube (ou não pôde, depois da troika) empunhar com convicção. Agora é hora de sair do twitter e percebermos se está aqui um partido a sério.

PAN

O partido da moda passou de um para quatro deputados, naquilo que foi uma grande vitória, ainda que longe dos cenários estratosféricos que algumas sondagens lhe chegaram a atribuir. A grande conquista do PAN é a quantidade de gente que dantes o ignorava e agora o odeia, sinal de que já existe. Com esta responsabilidade acrescida, não pode fazer outra legislatura igual, de abstenção em abstenção, ignorando a maioria dos temas que são críticos para as pessoas e para o País. O verdadeiro teste do PAN e de André Silva começa agora.

Santana Lopes

Estas eleições até deram gás a pequenos e novos partidos, e nem assim o Aliança foi capaz de entrar no Parlamento. Cai também por terra aquele exercício “Calimero” de culpar a imprensa por não lhes dar atenção, que outros partidos também não tiveram mas que não impediu resultados mais satisfatórios. Uma lição de humildade para Santana Lopes, que achava que o seu nome valeria uns milhares de votos, independentemente do partido. Não chegou, fica a combatividade.

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