Eurico Brilhante Dias: “Exportadores contam com linha de 750 milhões de euros” – O Jornal Económico

21-11-2020
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Eurico Brilhante Dias, secretário de Estado da Internacionalização, em entrevista ao Jornal Económico, aplaude a reação rápida do sector exportador, em setembro, que fez disparar as vendas no exterior. Também aplaude o trabalho desenvolvido ao nível das “marcas partilhadas” que dão mais força à promoção externa dos produtos portugueses, como a Portugal Foods e a Portugal Fresh, ou o caso da metalomecânica e do “excelente trabalho que a AIMMAP tem feito com a Metal Portugal”. Ou, ainda, o exemplo da Portugal Shoes no calçado, e do Portugal Fashion e da Moda Lisboa. Brilhante Dias considera que a atual conjuntura ainda poderá apresentar novas dificuldades aos exportadores portugueses, por isso o Governo já aprovou uma linha de apoio de 750 milhões de euros, destinada às empresas que exportam.

As empresas exportadoras mostraram no terceiro trimestre de 2020 que reagem rapidamente, aumentando de forma imediata a cadência de produção. A atual crise pandémica permitiu perceber de forma prática que o perfil tecnológico das indústrias exportadoras nacionais mudou?

O sector exportador é, no quadro das empresas portuguesas, um sector de exceção. Mesmo com as exportações de têxtil, vestuário e calçado em redução, de aproximadamente -20% em relação ao período homólogo, de janeiro a setembro, a verdade é que a própria indústria têxtil reagiu rapidamente, exportando máscaras numa primeira fase. O sector metalomecânico e de moldes, com injeção de plástico, dentro do sector da indústria automóvel e não só, reagiu rapidamente e até com crescimento significativo das exportações nos últimos meses em relação aos valores registados em março e abril. Depois há os dois sectores que este ano estão claramente a crescer: o agroalimentar, que tem tido um excelente comportamento; e os produtos farmacêuticos, que nesta pandemia tem registado um grande crescimento das suas exportações. É assinalável a forma como estes sectores rapidamente reagiram. São empresas muito preparadas que têm tradicionalmente clientes exigentes e que estão prontas a responder à exigência desses clientes. Como a estratégia prosseguida pelo Governo tem sido uma estratégia de conservar a capacidade instalada para reagir quando a procura retomar, elas estão bem preparadas para reagir a este movimento e foi a isso que assistimos em particular nos meses de agosto e setembro.

O caso da indústria agroalimentar será um dos mais surpreendentes. Era uma indústria que não estava tão desenvolvida como a do sector automóvel, mas que nos últimos tempos mudou muito…

Não só no sector da transformação, mas até no sector primário. Um dos mercados em que estamos a crescer mais em 2020 no sector agroalimentar é o mercado chinês, muito por força também do trabalho político-diplomático que foi possível fazer no ano passado, nas negociações para a introdução da carne de porco no mercado chinês. A divulgação institucional na área dos vegetais, dos legumes e dos produtos frutícolas, que claramente têm crescido no mercado das exportações; nos produtos transformados, o azeite e o vinho em particular têm tido um excelente comportamento. Quando conseguimos retomar as nossas condições de produção com disponibilidade de água, que teve um forte impacto não só no Alentejo com a água do Alqueva, Portugal tornou-se um país muito competitivo para exportar bens agroalimentares, sempre com pequenas séries, sempre com produtos de elevado valor acrescentado. Essa também tem sido uma área de grande crescimento. Por isso é um sector que, apesar da pandemia, tem tido uma resposta imediata aos trabalhos de promoção efetuados pelos ministérios da Agricultura e dos Negócios Estrangeiros – que têm permitido abrir novos mercados na sequência das operações de promoção externa do sector.

O facto de termos empresas de distribuição com fortes operações de internacionalização – designadamente, o Grupo Jerónimo Martins, sobretudo na Polónia –, terá permitido induzir também um aumento da apetência por produtos portugueses no centro da Europa?

A operação da Jerónimo Martins na Polónia – a Biedronka –, é uma operação de grande dimensão. Estamos a falar de um grupo que é líder do retalho alimentar na Polónia, que é um mercado praticamente de 40 milhões de consumidores no centro da Europa. Aliás, já este ano, tive oportunidade de visitar a Polónia e ver uma das novas lojas da Biedronka, muito perto de Varsóvia, que são lojas de retalho moderno com um surtido muito competitivo e nada empobrecido – às vezes em Portugal há ideia que a Biedronka tem um conjunto de lojas com um surtido muito limitado, quando estas lojas são cada vez mais sofisticadas, e cada vez mais próximas dos modelos das lojas de retalho em Portugal do Grupo Jerónimo Martins. Foi possível ver dentro da loja vários produtos portugueses do sector agroalimentar. Evidentemente, nunca deixo de sublinhar que a Biedronka é uma empresa de retalho de um grupo português, mas é um grupo de retalho polaco, ajustado ao gosto e ao perfil do cliente polaco. Vimos dentro da Biedronka vários produtos portugueses, do vinho aos produtos agroalimentares. Isso auxilia as nossas exportações. Mas há um segundo fenómeno que tem a ver com o facto do turismo ser um indutor do crescimento do consumo dos produtos portugueses. O turismo tem tido um comportamento assinalável. Sabemos que vivemos momentos difíceis, mas eu acho que o turismo tem permitido que muitos estrangeiros convivam com os produtos portugueses. O turismo tem permitido que provem o nosso vinho, que conheçam os tipos de azeite que temos, os nossos produtos de mercearia e as conservas. Isso é uma forma fantástica de promover os nossos produtos dentro do mercado doméstico, que depois gera novas oportunidades de exportação. Através de uma atividade pessoal e do turismo, foi-me apresentado um caso de um nórdico que visitou Portugal e conheceu pequenas unidades de produção de gin no Alentejo. Começou a levar gin português para o seu país. Porque gostou, provando. Estamos a falar de um gin diferenciado. Esse turista começou a comprar em Portugal para ter na Suécia e a partir do conhecimento partilhado com os seus amigos e conhecidos, percebeu que tinha um negócio. Atualmente é um importador de gin português. Este é um pequenino negócio que seguramente as nossas exportações não ilustram, nem representa um peso nas nossas estatísticas, mas é uma forma muito simples de ilustrar como o turismo pode testar um bem que hoje é um produto exportado para os países nórdicos por um operador que conheceu esse produto a fazer turismo…

E nem sequer é um produto tradicional português…

É diferente dos produtos tradicionais como o azeite ou a cortiça, mas tem uma identificação mais direta com Portugal. Produzimos uma bebida alcoólica, o gin, e torna-se um caso interessante.

Numa altura em que o sector do vinho tem vindo a aumentar muito as exportações…

Pelo aumento da qualidade…

Pelo enorme investimento feito no sector do vinho nos últimos 10 anos.

É um sector que está bem organizado, com uma promoção feita de forma muito profissional pela ViniPortugal. Isso permite que o vinho português, com as limitações quantitativas que temos – porque nós não somos um grande produtor em quantidade –, mas somos cada vez mais um país produtor que tem operadores de pequena escala, mas que apresentam vinhos cada vez mais diferenciados e que permitem pagar essa diferença. Visitei recentemente duas unidades, a Sogrape e a Casa Santos Lima, que são dois grandes exportadores de vinho, que acompanhamos sempre e que exportam para centenas de países. São dois exemplos de um sector bem organizado e que tem melhorado imenso a qualidade dos produtos que oferece no mercado.

Para aumentar a dimensão e a capacidade financeira das PME portuguesas será desejável promover uma maior agregação, até com associações sectoriais, para fortalecer a promoção dos produtos portugueses no estrangeiro?

Do ponto de vista da promoção, e até da chamada Marca Portugal, quer na promoção do país como origem de bens, o Governo no seu conjunto tem feito um grande esforço na agregação em procurar que do ponto de vista das fileiras o país tenha uma organização na sua promoção externa que ganhe escala. Tem estado muito presente no nosso discurso e tem estado muito presente na forma como nós organizamos os recursos, quer os recursos financeiros, quer aqueles que a Aicep vai disponibilizando às empresas do ponto de vista da capacitação e da informação, mas é verdade que a cooperação em mercados internacionais, mesmo do ponto de vista comercial, é muito útil.

Como podemos ganhar maior escala nos mercados internacionais?

Nós somos um mercado de 10 milhões e a escala não é tipicamente uma característica da economia portuguesa. As empresas portuguesas habituaram-se a abastecer um mercado de 10 milhões e não um mercado 40 ou 80 milhões como acontece em outros países da União Europeia, por exemplo.

Pensamos que estimular a cooperação até a utilização e a partilha de marcas no exterior, é uma boa forma de ir aumentando escala. As empresas podem concorrer no mercado interno e cooperar em mercados externos, na promoção e no próprio abastecimento desses mercados. Essa é uma discussão que continuamos a fazer. A capitalização e o aumento de escala das empresas portuguesas é um elemento que nos levaria a conquistar mais negócios nos mercados nacionais. Essa é uma vontade que temos há muito e que nem sempre tem sido bem compreendida pelo conjunto das empresas – continuamos a ter uma cultura muito centrada na posse das empresas e menos na partilha para poder crescer em conjunto. Mas isso é um discurso que está completamente assumido pelas associações empresariais – pela AIP e pela CIP, muito alinhadas –, que continuarão a trabalhar para promoverem essa consolidação, para a cooperação em mercados internacionais.

Como o exemplo do sector do calçado, que cresceu nos mercados internacionais em cooperação…

Podíamos estender isso à parte agroalimentar, onde as empresas sectoriais cooperam bem e utilizam uma só marca. Temos a Portugal Foods e a Portugal Fresh. São marcas partilhadas por todos. Ou o caso da metalomecânica – a AIMMAP tem feito um excelente trabalho com a Metal Portugal. Tal como a Portugal Shoes no calçado. A moda e a cooperação que temos tido no Portugal Fashion e na Moda Lisboa – cooperam e têm ações externas conjuntas. Conseguimos fazer isso no ano passado em Paris.

Com que apoios conta o sector exportador para combater os efeitos de eventuais confinamentos que possam ser impostos nas próximas semanas?

Os dados mais recentes sobre a pandemia e as medidas que têm vindo a ser tomadas, fundamentalmente são medidas que fazem com que as exportações possam vir a sofrer mais. Porque as medidas de confinamento que vamos conhecendo em toda a Europa, são medidas que, não regressando ao confinamento geral que vivemos em março e abril, são medidas que se vêm traduzindo em diminuição da mobilidade e é normal que isso se repercuta na evolução das exportações. O Governo tem avançado já com outros instrumentos: na semana passada, em particular no quadro do Conselho de Ministros, foi aprovada uma linha de 750 milhões de euros especificamente para o sector exportador. Mas acreditamos que 2021 pode ser um momento em que podemos começar a ter uma vacina. Para o turismo e para o transporte aéreo isso é um elemento central. Portugal, para continuar a crescer nas exportações de bens e de serviços e no PIB, precisa do regresso do turismo. Nessa medida, penso que 2021 se for um ano com boas notícias quanto à vacina, será seguramente um ano que também pode ser importante para um retomar progressivo do turismo. Se assim for, creio que 2022 e 2023 poderão ser anos melhores, sendo já 2021 um ano de recuperação. Até ao fim de 2019, tínhamos feito um trabalho importante de aumentar o número médio de clientes por exportador. É um trabalho que vamos fazendo para aumentar o número de novos mercados por empresa. Nos últimos quatro anos devemos ter aproximadamente 13 mil novos produtos em mercados. Para nós é um elemento muito importante para diminuir a dependência que muitas empresas têm de um número reduzido de mercados.

Eurico Brilhante Dias, secretário de Estado da Internacionalização, em entrevista ao Jornal Económico, aplaude a reação rápida do sector exportador, em setembro, que fez disparar as vendas no exterior. Também aplaude o trabalho desenvolvido ao nível das “marcas partilhadas” que dão mais força à promoção externa dos produtos portugueses, como a Portugal Foods e a Portugal Fresh, ou o caso da metalomecânica e do “excelente trabalho que a AIMMAP tem feito com a Metal Portugal”. Ou, ainda, o exemplo da Portugal Shoes no calçado, e do Portugal Fashion e da Moda Lisboa. Brilhante Dias considera que a atual conjuntura ainda poderá apresentar novas dificuldades aos exportadores portugueses, por isso o Governo já aprovou uma linha de apoio de 750 milhões de euros, destinada às empresas que exportam.

As empresas exportadoras mostraram no terceiro trimestre de 2020 que reagem rapidamente, aumentando de forma imediata a cadência de produção. A atual crise pandémica permitiu perceber de forma prática que o perfil tecnológico das indústrias exportadoras nacionais mudou?

O sector exportador é, no quadro das empresas portuguesas, um sector de exceção. Mesmo com as exportações de têxtil, vestuário e calçado em redução, de aproximadamente -20% em relação ao período homólogo, de janeiro a setembro, a verdade é que a própria indústria têxtil reagiu rapidamente, exportando máscaras numa primeira fase. O sector metalomecânico e de moldes, com injeção de plástico, dentro do sector da indústria automóvel e não só, reagiu rapidamente e até com crescimento significativo das exportações nos últimos meses em relação aos valores registados em março e abril. Depois há os dois sectores que este ano estão claramente a crescer: o agroalimentar, que tem tido um excelente comportamento; e os produtos farmacêuticos, que nesta pandemia tem registado um grande crescimento das suas exportações. É assinalável a forma como estes sectores rapidamente reagiram. São empresas muito preparadas que têm tradicionalmente clientes exigentes e que estão prontas a responder à exigência desses clientes. Como a estratégia prosseguida pelo Governo tem sido uma estratégia de conservar a capacidade instalada para reagir quando a procura retomar, elas estão bem preparadas para reagir a este movimento e foi a isso que assistimos em particular nos meses de agosto e setembro.

O caso da indústria agroalimentar será um dos mais surpreendentes. Era uma indústria que não estava tão desenvolvida como a do sector automóvel, mas que nos últimos tempos mudou muito…

Não só no sector da transformação, mas até no sector primário. Um dos mercados em que estamos a crescer mais em 2020 no sector agroalimentar é o mercado chinês, muito por força também do trabalho político-diplomático que foi possível fazer no ano passado, nas negociações para a introdução da carne de porco no mercado chinês. A divulgação institucional na área dos vegetais, dos legumes e dos produtos frutícolas, que claramente têm crescido no mercado das exportações; nos produtos transformados, o azeite e o vinho em particular têm tido um excelente comportamento. Quando conseguimos retomar as nossas condições de produção com disponibilidade de água, que teve um forte impacto não só no Alentejo com a água do Alqueva, Portugal tornou-se um país muito competitivo para exportar bens agroalimentares, sempre com pequenas séries, sempre com produtos de elevado valor acrescentado. Essa também tem sido uma área de grande crescimento. Por isso é um sector que, apesar da pandemia, tem tido uma resposta imediata aos trabalhos de promoção efetuados pelos ministérios da Agricultura e dos Negócios Estrangeiros – que têm permitido abrir novos mercados na sequência das operações de promoção externa do sector.

O facto de termos empresas de distribuição com fortes operações de internacionalização – designadamente, o Grupo Jerónimo Martins, sobretudo na Polónia –, terá permitido induzir também um aumento da apetência por produtos portugueses no centro da Europa?

A operação da Jerónimo Martins na Polónia – a Biedronka –, é uma operação de grande dimensão. Estamos a falar de um grupo que é líder do retalho alimentar na Polónia, que é um mercado praticamente de 40 milhões de consumidores no centro da Europa. Aliás, já este ano, tive oportunidade de visitar a Polónia e ver uma das novas lojas da Biedronka, muito perto de Varsóvia, que são lojas de retalho moderno com um surtido muito competitivo e nada empobrecido – às vezes em Portugal há ideia que a Biedronka tem um conjunto de lojas com um surtido muito limitado, quando estas lojas são cada vez mais sofisticadas, e cada vez mais próximas dos modelos das lojas de retalho em Portugal do Grupo Jerónimo Martins. Foi possível ver dentro da loja vários produtos portugueses do sector agroalimentar. Evidentemente, nunca deixo de sublinhar que a Biedronka é uma empresa de retalho de um grupo português, mas é um grupo de retalho polaco, ajustado ao gosto e ao perfil do cliente polaco. Vimos dentro da Biedronka vários produtos portugueses, do vinho aos produtos agroalimentares. Isso auxilia as nossas exportações. Mas há um segundo fenómeno que tem a ver com o facto do turismo ser um indutor do crescimento do consumo dos produtos portugueses. O turismo tem tido um comportamento assinalável. Sabemos que vivemos momentos difíceis, mas eu acho que o turismo tem permitido que muitos estrangeiros convivam com os produtos portugueses. O turismo tem permitido que provem o nosso vinho, que conheçam os tipos de azeite que temos, os nossos produtos de mercearia e as conservas. Isso é uma forma fantástica de promover os nossos produtos dentro do mercado doméstico, que depois gera novas oportunidades de exportação. Através de uma atividade pessoal e do turismo, foi-me apresentado um caso de um nórdico que visitou Portugal e conheceu pequenas unidades de produção de gin no Alentejo. Começou a levar gin português para o seu país. Porque gostou, provando. Estamos a falar de um gin diferenciado. Esse turista começou a comprar em Portugal para ter na Suécia e a partir do conhecimento partilhado com os seus amigos e conhecidos, percebeu que tinha um negócio. Atualmente é um importador de gin português. Este é um pequenino negócio que seguramente as nossas exportações não ilustram, nem representa um peso nas nossas estatísticas, mas é uma forma muito simples de ilustrar como o turismo pode testar um bem que hoje é um produto exportado para os países nórdicos por um operador que conheceu esse produto a fazer turismo…

E nem sequer é um produto tradicional português…

É diferente dos produtos tradicionais como o azeite ou a cortiça, mas tem uma identificação mais direta com Portugal. Produzimos uma bebida alcoólica, o gin, e torna-se um caso interessante.

Numa altura em que o sector do vinho tem vindo a aumentar muito as exportações…

Pelo aumento da qualidade…

Pelo enorme investimento feito no sector do vinho nos últimos 10 anos.

É um sector que está bem organizado, com uma promoção feita de forma muito profissional pela ViniPortugal. Isso permite que o vinho português, com as limitações quantitativas que temos – porque nós não somos um grande produtor em quantidade –, mas somos cada vez mais um país produtor que tem operadores de pequena escala, mas que apresentam vinhos cada vez mais diferenciados e que permitem pagar essa diferença. Visitei recentemente duas unidades, a Sogrape e a Casa Santos Lima, que são dois grandes exportadores de vinho, que acompanhamos sempre e que exportam para centenas de países. São dois exemplos de um sector bem organizado e que tem melhorado imenso a qualidade dos produtos que oferece no mercado.

Para aumentar a dimensão e a capacidade financeira das PME portuguesas será desejável promover uma maior agregação, até com associações sectoriais, para fortalecer a promoção dos produtos portugueses no estrangeiro?

Do ponto de vista da promoção, e até da chamada Marca Portugal, quer na promoção do país como origem de bens, o Governo no seu conjunto tem feito um grande esforço na agregação em procurar que do ponto de vista das fileiras o país tenha uma organização na sua promoção externa que ganhe escala. Tem estado muito presente no nosso discurso e tem estado muito presente na forma como nós organizamos os recursos, quer os recursos financeiros, quer aqueles que a Aicep vai disponibilizando às empresas do ponto de vista da capacitação e da informação, mas é verdade que a cooperação em mercados internacionais, mesmo do ponto de vista comercial, é muito útil.

Como podemos ganhar maior escala nos mercados internacionais?

Nós somos um mercado de 10 milhões e a escala não é tipicamente uma característica da economia portuguesa. As empresas portuguesas habituaram-se a abastecer um mercado de 10 milhões e não um mercado 40 ou 80 milhões como acontece em outros países da União Europeia, por exemplo.

Pensamos que estimular a cooperação até a utilização e a partilha de marcas no exterior, é uma boa forma de ir aumentando escala. As empresas podem concorrer no mercado interno e cooperar em mercados externos, na promoção e no próprio abastecimento desses mercados. Essa é uma discussão que continuamos a fazer. A capitalização e o aumento de escala das empresas portuguesas é um elemento que nos levaria a conquistar mais negócios nos mercados nacionais. Essa é uma vontade que temos há muito e que nem sempre tem sido bem compreendida pelo conjunto das empresas – continuamos a ter uma cultura muito centrada na posse das empresas e menos na partilha para poder crescer em conjunto. Mas isso é um discurso que está completamente assumido pelas associações empresariais – pela AIP e pela CIP, muito alinhadas –, que continuarão a trabalhar para promoverem essa consolidação, para a cooperação em mercados internacionais.

Como o exemplo do sector do calçado, que cresceu nos mercados internacionais em cooperação…

Podíamos estender isso à parte agroalimentar, onde as empresas sectoriais cooperam bem e utilizam uma só marca. Temos a Portugal Foods e a Portugal Fresh. São marcas partilhadas por todos. Ou o caso da metalomecânica – a AIMMAP tem feito um excelente trabalho com a Metal Portugal. Tal como a Portugal Shoes no calçado. A moda e a cooperação que temos tido no Portugal Fashion e na Moda Lisboa – cooperam e têm ações externas conjuntas. Conseguimos fazer isso no ano passado em Paris.

Com que apoios conta o sector exportador para combater os efeitos de eventuais confinamentos que possam ser impostos nas próximas semanas?

Os dados mais recentes sobre a pandemia e as medidas que têm vindo a ser tomadas, fundamentalmente são medidas que fazem com que as exportações possam vir a sofrer mais. Porque as medidas de confinamento que vamos conhecendo em toda a Europa, são medidas que, não regressando ao confinamento geral que vivemos em março e abril, são medidas que se vêm traduzindo em diminuição da mobilidade e é normal que isso se repercuta na evolução das exportações. O Governo tem avançado já com outros instrumentos: na semana passada, em particular no quadro do Conselho de Ministros, foi aprovada uma linha de 750 milhões de euros especificamente para o sector exportador. Mas acreditamos que 2021 pode ser um momento em que podemos começar a ter uma vacina. Para o turismo e para o transporte aéreo isso é um elemento central. Portugal, para continuar a crescer nas exportações de bens e de serviços e no PIB, precisa do regresso do turismo. Nessa medida, penso que 2021 se for um ano com boas notícias quanto à vacina, será seguramente um ano que também pode ser importante para um retomar progressivo do turismo. Se assim for, creio que 2022 e 2023 poderão ser anos melhores, sendo já 2021 um ano de recuperação. Até ao fim de 2019, tínhamos feito um trabalho importante de aumentar o número médio de clientes por exportador. É um trabalho que vamos fazendo para aumentar o número de novos mercados por empresa. Nos últimos quatro anos devemos ter aproximadamente 13 mil novos produtos em mercados. Para nós é um elemento muito importante para diminuir a dependência que muitas empresas têm de um número reduzido de mercados.

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