Netanyahu reúne com Costa. Irão, cibersegurança e terrorismo na agenda

25-03-2020
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O primeiro-ministro israelita reúne-se esta quinta-feira com António Costa, depois do encontro desta quarta-feira em Lisboa com Mike Pompeo. As relações entre Portugal e Israel vão ficar reforçadas com a visita de Marcelo Rebelo de Sousa àquele país no próximo ano.

Benjamin Netanyahu e Mike Pompeo encontraram-se no hotel Intercontinental em Lisboa © EPA/KOBI GIDEON

Cooperação tecnológica na área da cibersegurança, colaboração no combate ao terrorismo e nas áreas científica e académica, serão pontos na agenda do encontro, esta quinta-feira, entre os primeiros-ministros israelita e português - soube o DN junto a fontes diplomáticas.

"As relações comerciais entre os dois países nunca estiveram tão boas", sublinha João Rebelo, ex-presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Israel. "E do ponto de vista político e diplomático terão o seu ponto alto com a visita do Presidente da República a Israel, em janeiro, no âmbito do dia de memória do holocausto", assinala ainda. Será a primeira visita a Israel de um chefe de Estado, desde que Mário Soares ali se deslocou em 1994, que coincidiu com o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin.

Fonte de Belém confirmou que a visita está "prevista", bem como fonte diplomática israelita.

A lutar pela sobrevivência política, Benjamin Netanyahu - que ainda não conseguiu formar governo desde as eleições de setembro e está acusado de corrupção - aproveitou a sua vinda a Lisboa, cujo objetivo principal foi encontrar-se com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, para também procurar apoio do governo português na sua 'guerra' contra o Irão.

Benjamin Netanyahu chegou Lisboa cerca de 16 horas, num avião da El-AL adornado com as bandeiras portuguesa e israelita © D.R.

A 'cruzada' contra o Irão

Da parte do gabinete da António Costa apenas foi revelado que na reunião, prevista para a tarde desta quinta-feira na residência oficial de S. Bento, seriam apenas as relações bilaterais o tema de discussão. No entanto, fontes diplomáticas que acompanharam a preparação do encontro garantiram que a agenda tem também questões 'quentes' do palco internacional, como é o caso das sanções ao Irão por causa do programa nuclear deste país, que Israel considera uma ameaça à paz do médio oriente.

Segundo a imprensa israelita, Costa assinalará a Netanyahu que o nosso país é, desde esta quarta-feira, membro integral da International Holocaust Remembrance Alliance (IHRA), fundada em 1998 pelo ex-primeiro-ministro sueco, Goran Persson. Reúne já 48 países - na Europa só faltava Portugal - e é um fórum político de alto nível para a memória, educação e prevenção de antissemitismo. A definição de antissemitismo da IHRA, considera que são comportamentos antissemitas alegar que Israel tem atitudes racistas, comparando-o à Alemanha nazi, ou acusar cidadãos judeus de serem mais leais a Israel do que aos seus próprios países.

Ao que o DN apurou, está previsto que esta reunião tenha a duração de uma hora. Benjamin Netanyahu será acompanhado por uma comitiva de quatro pessoas, com destaque para Meir Ben-Shabat, o todo-poderoso chefe máximo do Conselho Nacional de Segurança israelita, uma estrutura que coordena, monitoriza e analisa para o primeiro-ministro todas as questões de segurança que envolvem o país.

Além de Ben-Shabat, está previsto que a comitiva israelita integre também os conselheiros militar e diplomático, bem como o embaixador de Israel em Portugal, Raphael Gamzou. Do lado português, António Costa será acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, pelo seu chefe de gabinete, Francisco André, e pelo assessor diplomático Francisco Duarte Lopes.

MNE em silêncio

No encontro com Pompeo esta tarde, o Irão e o apoio dos EUA a Israel foram o foco do encontro, segundo admitiu o próprio Benjamin Netanyahu à saída de Telavive para Portugal. "No domingo falei com o presidente (norte-americano Donald) Trump. A conversa centrou-se principalmente no Irão. A continuação desta conversa com o secretário de Estado (Mike) Pompeo focar-se-á principalmente no Irão e em duas outras questões: a aliança defensiva com os EUA, que eu gostaria de desenvolver, e o futuro reconhecimento norte-americano da aplicação da soberania israelita no vale do Jordão. Estas são questões muito importantes", declarou o primeiro-ministro israelita em funções aos jornalistas no aeroporto Ben Gurion, segundo extratos divulgados pela sua assessoria de imprensa.

O primeiro-ministro israelita disse que se encontraria em Lisboa com António Costa, mas que o seu "principal objetivo" era "em primeiro lugar" encontrar-se "com o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo". Este é o primeiro encontro entre os dois responsáveis desde que a administração de Donald Trump anunciou, em meados de novembro, que os EUA deixam de considerar os colonatos israelitas na Cisjordânia contrários ao direito internacional, contrariando uma posição defendida pelo Departamento de Estado desde 1978.

© Patrícia de Melo Moreira / AFP

A uma semana das eleições de setembro, Netanyahu prometeu anexar o Vale do Jordão a Israel, que representa cerca de 30% da Cisjordânia, atualmente sob a administração da Autoridade Palestiniana.

Em relação ao Irão, Netanyahu quer ver aumentar a pressão internacional sobre o governo liderado pelo Ayatollah Ali Khamenei, que tem sido alvo de protestos violentos nas rua da capital. Em causa está, não só, a ameaça constante ao próprio território israelita da parte de grupos terrorista como o Hezbollah, apoiado pelo Irão, mas principalmente o programa nuclear.

Em 2015, sob o alto patrocínio de Barack Obama, um grupo de países (EUA, França, Alemanha, Reino Unido, Rússia e China) concordou numa abordagem mais moderada ao Irão: as sanções seriam aliviadas em troca do Irão limitar o enriquecimento de urânio para programa nuclear a objetivos civis, sob vigilância de inspetores das Nações Unidas. Trump saiu do acordo e alinha com Israel, que tem vindo a apresentar o que alega serem provas (as últimas das quais vindas de documentos secretos iranianos) que os iranianos não cumpriram a sua parte do acordo e continuaram a desenvolver o seu programa nuclear. Mas na Europa os seus argumentos contra os ayatollahs não têm convencido.

"Falei contra seis países europeus (Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Noruega e Suécia) que, em vez de apoiar agora as sanções americanas, as reduziram. Isso esta errado. Deveriam ter vergonha. Enquanto as pessoas estão a arriscar as suas vidas e a morrer nas ruas de Teerão, estes países estão a apoiar o regime tirânico. Os tiranos de Teerão não devem ser apoiados agora. Eles devem ser pressionados", afirmou à saída de Israel.

Questionado pelo DN sobre qual é a posição portuguesa, quer em relação ao Irão, quer em relação à anexação do Vale do Jordão, o gabinete de Augusto Santos Silva não respondeu. Em 2018, Portugal juntou-se à maioria dos países europeus que boicotaram a inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém, depois de Donald Trump ter reconhecido a 'cidade santa' como capital de Israel.

Israelitas atraídos por Portugal

João Rebelo, o ex-deputado centrista que presidiu ao Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Israel, salienta que "apesar dos muitos votos contra Israel propostos pelo PCP e pelo BE no parlamento, as relação entre os dois países nunca foram tão boas". O dirigente centrista assinala "o grande aumento no turismo, principalmente de israelitas a visitarem Portugal, ao ponto de, a partir do próximo ano as companhias aéreas TAP e El-Al passarem a ter voos diários; mas também em setores como a agricultura, com a exportação de gado vivo e outros produtos".

Destaca ainda a "regular cooperação, quer com equipamentos quer com formação, nas áreas do contraterrorismo, segurança pública, na cibersegurança e na Defesa, onde os israelitas são dos melhores especialistas do mundo, principalmente do ponto de vista de inovação tecnológica". João Rebelo lembra, quanto ao setor da Defesa, a recente compra das aeronaves KC 390 da Embraer para a Força Aérea, cujo equipamento para a chamada "guerra eletrónica" é israelita.

Outro fator de aproximação entre Portugal e Israel, tem sido marcada pelo facto de milhares de judeus sefarditas, a maior parte de Israel, estarem a pedir nacionalidade portuguesa. Desde 2015, data da publicação do diploma que permite aos descendentes de judeus expulsos pela Inquisição nos séculos XV e XVI obterem a cidadania portuguesa, mais de 45 mil já a requereram, tendo sido já concedida a cerca de 10 mil.

O PCP e o BE, bem como organizações que integram o movimento internacional BDS - Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel - têm pressionado, quer com votos de protesto no parlamento contra a ação de Israel nos territórios palestinianos (como um recente proposto pelos comunistas, aprovado com votos também do PS), quer o próprio o governo para impedir negócios e cooperação, mesmo na área do crime violento (como foi o caso de um projeto cancelado com a PJ) com os israelitas.

O primeiro-ministro israelita reúne-se esta quinta-feira com António Costa, depois do encontro desta quarta-feira em Lisboa com Mike Pompeo. As relações entre Portugal e Israel vão ficar reforçadas com a visita de Marcelo Rebelo de Sousa àquele país no próximo ano.

Benjamin Netanyahu e Mike Pompeo encontraram-se no hotel Intercontinental em Lisboa © EPA/KOBI GIDEON

Cooperação tecnológica na área da cibersegurança, colaboração no combate ao terrorismo e nas áreas científica e académica, serão pontos na agenda do encontro, esta quinta-feira, entre os primeiros-ministros israelita e português - soube o DN junto a fontes diplomáticas.

"As relações comerciais entre os dois países nunca estiveram tão boas", sublinha João Rebelo, ex-presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Israel. "E do ponto de vista político e diplomático terão o seu ponto alto com a visita do Presidente da República a Israel, em janeiro, no âmbito do dia de memória do holocausto", assinala ainda. Será a primeira visita a Israel de um chefe de Estado, desde que Mário Soares ali se deslocou em 1994, que coincidiu com o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin.

Fonte de Belém confirmou que a visita está "prevista", bem como fonte diplomática israelita.

A lutar pela sobrevivência política, Benjamin Netanyahu - que ainda não conseguiu formar governo desde as eleições de setembro e está acusado de corrupção - aproveitou a sua vinda a Lisboa, cujo objetivo principal foi encontrar-se com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, para também procurar apoio do governo português na sua 'guerra' contra o Irão.

Benjamin Netanyahu chegou Lisboa cerca de 16 horas, num avião da El-AL adornado com as bandeiras portuguesa e israelita © D.R.

A 'cruzada' contra o Irão

Da parte do gabinete da António Costa apenas foi revelado que na reunião, prevista para a tarde desta quinta-feira na residência oficial de S. Bento, seriam apenas as relações bilaterais o tema de discussão. No entanto, fontes diplomáticas que acompanharam a preparação do encontro garantiram que a agenda tem também questões 'quentes' do palco internacional, como é o caso das sanções ao Irão por causa do programa nuclear deste país, que Israel considera uma ameaça à paz do médio oriente.

Segundo a imprensa israelita, Costa assinalará a Netanyahu que o nosso país é, desde esta quarta-feira, membro integral da International Holocaust Remembrance Alliance (IHRA), fundada em 1998 pelo ex-primeiro-ministro sueco, Goran Persson. Reúne já 48 países - na Europa só faltava Portugal - e é um fórum político de alto nível para a memória, educação e prevenção de antissemitismo. A definição de antissemitismo da IHRA, considera que são comportamentos antissemitas alegar que Israel tem atitudes racistas, comparando-o à Alemanha nazi, ou acusar cidadãos judeus de serem mais leais a Israel do que aos seus próprios países.

Ao que o DN apurou, está previsto que esta reunião tenha a duração de uma hora. Benjamin Netanyahu será acompanhado por uma comitiva de quatro pessoas, com destaque para Meir Ben-Shabat, o todo-poderoso chefe máximo do Conselho Nacional de Segurança israelita, uma estrutura que coordena, monitoriza e analisa para o primeiro-ministro todas as questões de segurança que envolvem o país.

Além de Ben-Shabat, está previsto que a comitiva israelita integre também os conselheiros militar e diplomático, bem como o embaixador de Israel em Portugal, Raphael Gamzou. Do lado português, António Costa será acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, pelo seu chefe de gabinete, Francisco André, e pelo assessor diplomático Francisco Duarte Lopes.

MNE em silêncio

No encontro com Pompeo esta tarde, o Irão e o apoio dos EUA a Israel foram o foco do encontro, segundo admitiu o próprio Benjamin Netanyahu à saída de Telavive para Portugal. "No domingo falei com o presidente (norte-americano Donald) Trump. A conversa centrou-se principalmente no Irão. A continuação desta conversa com o secretário de Estado (Mike) Pompeo focar-se-á principalmente no Irão e em duas outras questões: a aliança defensiva com os EUA, que eu gostaria de desenvolver, e o futuro reconhecimento norte-americano da aplicação da soberania israelita no vale do Jordão. Estas são questões muito importantes", declarou o primeiro-ministro israelita em funções aos jornalistas no aeroporto Ben Gurion, segundo extratos divulgados pela sua assessoria de imprensa.

O primeiro-ministro israelita disse que se encontraria em Lisboa com António Costa, mas que o seu "principal objetivo" era "em primeiro lugar" encontrar-se "com o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo". Este é o primeiro encontro entre os dois responsáveis desde que a administração de Donald Trump anunciou, em meados de novembro, que os EUA deixam de considerar os colonatos israelitas na Cisjordânia contrários ao direito internacional, contrariando uma posição defendida pelo Departamento de Estado desde 1978.

© Patrícia de Melo Moreira / AFP

A uma semana das eleições de setembro, Netanyahu prometeu anexar o Vale do Jordão a Israel, que representa cerca de 30% da Cisjordânia, atualmente sob a administração da Autoridade Palestiniana.

Em relação ao Irão, Netanyahu quer ver aumentar a pressão internacional sobre o governo liderado pelo Ayatollah Ali Khamenei, que tem sido alvo de protestos violentos nas rua da capital. Em causa está, não só, a ameaça constante ao próprio território israelita da parte de grupos terrorista como o Hezbollah, apoiado pelo Irão, mas principalmente o programa nuclear.

Em 2015, sob o alto patrocínio de Barack Obama, um grupo de países (EUA, França, Alemanha, Reino Unido, Rússia e China) concordou numa abordagem mais moderada ao Irão: as sanções seriam aliviadas em troca do Irão limitar o enriquecimento de urânio para programa nuclear a objetivos civis, sob vigilância de inspetores das Nações Unidas. Trump saiu do acordo e alinha com Israel, que tem vindo a apresentar o que alega serem provas (as últimas das quais vindas de documentos secretos iranianos) que os iranianos não cumpriram a sua parte do acordo e continuaram a desenvolver o seu programa nuclear. Mas na Europa os seus argumentos contra os ayatollahs não têm convencido.

"Falei contra seis países europeus (Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Noruega e Suécia) que, em vez de apoiar agora as sanções americanas, as reduziram. Isso esta errado. Deveriam ter vergonha. Enquanto as pessoas estão a arriscar as suas vidas e a morrer nas ruas de Teerão, estes países estão a apoiar o regime tirânico. Os tiranos de Teerão não devem ser apoiados agora. Eles devem ser pressionados", afirmou à saída de Israel.

Questionado pelo DN sobre qual é a posição portuguesa, quer em relação ao Irão, quer em relação à anexação do Vale do Jordão, o gabinete de Augusto Santos Silva não respondeu. Em 2018, Portugal juntou-se à maioria dos países europeus que boicotaram a inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém, depois de Donald Trump ter reconhecido a 'cidade santa' como capital de Israel.

Israelitas atraídos por Portugal

João Rebelo, o ex-deputado centrista que presidiu ao Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Israel, salienta que "apesar dos muitos votos contra Israel propostos pelo PCP e pelo BE no parlamento, as relação entre os dois países nunca foram tão boas". O dirigente centrista assinala "o grande aumento no turismo, principalmente de israelitas a visitarem Portugal, ao ponto de, a partir do próximo ano as companhias aéreas TAP e El-Al passarem a ter voos diários; mas também em setores como a agricultura, com a exportação de gado vivo e outros produtos".

Destaca ainda a "regular cooperação, quer com equipamentos quer com formação, nas áreas do contraterrorismo, segurança pública, na cibersegurança e na Defesa, onde os israelitas são dos melhores especialistas do mundo, principalmente do ponto de vista de inovação tecnológica". João Rebelo lembra, quanto ao setor da Defesa, a recente compra das aeronaves KC 390 da Embraer para a Força Aérea, cujo equipamento para a chamada "guerra eletrónica" é israelita.

Outro fator de aproximação entre Portugal e Israel, tem sido marcada pelo facto de milhares de judeus sefarditas, a maior parte de Israel, estarem a pedir nacionalidade portuguesa. Desde 2015, data da publicação do diploma que permite aos descendentes de judeus expulsos pela Inquisição nos séculos XV e XVI obterem a cidadania portuguesa, mais de 45 mil já a requereram, tendo sido já concedida a cerca de 10 mil.

O PCP e o BE, bem como organizações que integram o movimento internacional BDS - Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel - têm pressionado, quer com votos de protesto no parlamento contra a ação de Israel nos territórios palestinianos (como um recente proposto pelos comunistas, aprovado com votos também do PS), quer o próprio o governo para impedir negócios e cooperação, mesmo na área do crime violento (como foi o caso de um projeto cancelado com a PJ) com os israelitas.

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