Netanyahu em Lisboa. Reunião de "cortesia" com Costa foi "produtiva"

25-03-2020
marcar artigo

A reunião entre o primeiro-ministro português e o israelita foi considerada "boa" e "produtiva" por ambas as partes. Costa foi convidado para ir a Israel e propôs 2021, uma vez que Marcelo irá em janeiro do próximo ano

António Costa recebeu Benjamin Netanyahu na residência oficial em S.Bento © © Raphael Marchante / Reuters

Durou pouco mais de uma hora, a reunião desta tarde, em S. Bento, entre António Costa e Benjamin Netanyahu. Depois de um aperto de mãos, com sorrisos na cara para as fotografias da praxe, e um discreto comentário de Netanyahu sobre o sol de Lisboa, os dois primeiros-ministros entraram para a residência oficial.

Fonte oficial do gabinete de António Costa revelou que de tratou de "uma reunião de cortesia", que foi "boa" e onde "foram abordados diversos temas de interesse bilateral, como sejam o fomento da cooperação económica e procura de parcerias nas áreas da investigação científica, inovação e a água". Neste último setor, tratam-se principalmente de projetos de dessalinização da água do mar, área em que Israel está também na linha da frente.

Netanyahu interessado na 'geringonça'

Da parte da delegação israelita ficou também uma sensação otimista. Fonte que acompanhou a comitiva classificou o encontro de "bom e produtivo". Netanyahu, que ainda não conseguiu formar governo desde que ganhou as eleições em setembro, sem maioria, mostrou-se interessado em saber como o primeiro-ministro português conseguia gerir um governo estável com minoria no parlamento.

O primeiro-ministro israelita convidou o homólogo para visitar Israel e Costa terá proposto que fosse em 2021, uma vez que em Janeiro do próximo ano, Marcelo Rebelo de Sousa irá deslocar-se ao país para participar nas cerimónias oficiais, que reúnem líderes de todo o mundo, do dia da Memória do Holocausto. Será a primeira visita a Israel de um chefe de Estado, desde que Mário Soares ali se deslocou em 1994, que coincidiu com o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin.

Além dos assuntos referidos pela fonte oficial de S.Bento, Netanyahu terá também manifestado a Costa a intenção de participar num "esforço conjunto" para apoiar os países africanos, designadamente os de língua oficial portuguesa.

Conforme o DN tinha noticiado, a integração de Portugal, esta quarta-feira, como membro pleno da IHRA (Internacional Holocaust Remembrance Alliance), a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto, foi também falada, com Netanyahu a elogiar esta iniciativa portuguesa.

Quanto aos temas quentes - Irão e colonatos israelitas na Cisjordânia - que estiveram no centro do encontro de Benjamin Netanyahu com o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo e que foram o principal motivo da visita do primeiro-ministro israelita, oficialmente nenhuma das partes revela se foram ou não abordados. No entanto, o DN sabe que Netanyahu apresentou a Costa os seus argumentos sobre porque pensa que o Irão constitui uma ameaça para todo o médio oriente, tendo o primeiro-ministro português ouvido, sem manifestar qualquer opinião.

Em relação aos colonatos, a posição do governo português é "contrária" à de Israel e dos EUA, segundo afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, da parte da manhã depois do encontro com Pompeo e Costa. A uma semana das eleições de setembro, Netanyahu prometeu anexar o Vale do Jordão a Israel, que representa cerca de 30% da Cisjordânia, atualmente sob a administração da Autoridade Palestiniana. Em novembro, os EUA deixam de considerar os colonatos israelitas na Cisjordânia ilegais, violando o direito internacional, contrariando uma posição defendida pelo Departamento de Estado desde 1978.

Visita a memorial do massacre de 1506

Durante a sua curta estadia, à margem dos encontros oficiais, Benjamin Netanyahu foi conhecer o memorial às vítimas do massacre judaico de 1506, no Largo de S.Domingos em Lisboa e visitou o Palácio da Pena. Fonte da delegação avançou ao DN que Netanyahu regressa esta noite a Israel, depois de jantar "num restaurante tipicamente português" com a sua mulher.

Na reunião com Costa, Benjamin Netanyahu foi acompanhado por uma comitiva de quatro pessoas, com destaque para Meir Ben-Shabat, o todo-poderoso chefe máximo do Conselho Nacional de Segurança israelita, uma estrutura que coordena, monitoriza e analisa para o primeiro-ministro todas as questões de segurança que envolvem o país.

Além de Ben-Shabat, constituíam ainda a delegação israelita os conselheiros militar e diplomático, bem como o embaixador de Israel em Portugal, Raphael Gamzou. Do lado português, António Costa estava com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, pelo seu chefe de gabinete, Francisco André, e pelo assessor diplomático Francisco Duarte Lopes.

Para João Rebelo, ex-presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Israel, a visita de Marcelo servirá para "consolidar" o bom relacionamento entre ambos os países. "Apesar dos muitos votos contra Israel propostos pelo PCP e pelo BE no parlamento, as relação entre os dois países nunca foram tão boas", sublinha. O dirigente centrista assinala "o grande aumento no turismo, principalmente de israelitas a visitarem Portugal, ao ponto de, a partir do próximo ano as companhias aéreas TAP e El-Al passarem a ter voos diários; mas também em setores como a agricultura, com a exportação de gado vivo e outros produtos".

Destaca ainda a "regular cooperação, quer com equipamentos quer com formação, nas áreas do contraterrorismo, segurança pública, na cibersegurança e na Defesa, onde os israelitas são dos melhores especialistas do mundo, principalmente do ponto de vista de inovação tecnológica". João Rebelo lembra, quanto ao setor da Defesa, a recente compra das aeronaves KC 390 da Embraer para a Força Aérea, cujo equipamento para a chamada "guerra eletrónica" é israelita.

Outro fator de aproximação entre Portugal e Israel, tem sido marcada pelo facto de milhares de judeus sefarditas, a maior parte de Israel, estarem a pedir nacionalidade portuguesa. Desde 2015, data da publicação do diploma que permite aos descendentes de judeus expulsos pela Inquisição nos séculos XV e XVI obterem a cidadania portuguesa, mais de 45 mil já a requereram, tendo sido já concedida a cerca de 10 mil.

Notícia atualizada às 18h40 com mais informação sobre a reunião

A reunião entre o primeiro-ministro português e o israelita foi considerada "boa" e "produtiva" por ambas as partes. Costa foi convidado para ir a Israel e propôs 2021, uma vez que Marcelo irá em janeiro do próximo ano

António Costa recebeu Benjamin Netanyahu na residência oficial em S.Bento © © Raphael Marchante / Reuters

Durou pouco mais de uma hora, a reunião desta tarde, em S. Bento, entre António Costa e Benjamin Netanyahu. Depois de um aperto de mãos, com sorrisos na cara para as fotografias da praxe, e um discreto comentário de Netanyahu sobre o sol de Lisboa, os dois primeiros-ministros entraram para a residência oficial.

Fonte oficial do gabinete de António Costa revelou que de tratou de "uma reunião de cortesia", que foi "boa" e onde "foram abordados diversos temas de interesse bilateral, como sejam o fomento da cooperação económica e procura de parcerias nas áreas da investigação científica, inovação e a água". Neste último setor, tratam-se principalmente de projetos de dessalinização da água do mar, área em que Israel está também na linha da frente.

Netanyahu interessado na 'geringonça'

Da parte da delegação israelita ficou também uma sensação otimista. Fonte que acompanhou a comitiva classificou o encontro de "bom e produtivo". Netanyahu, que ainda não conseguiu formar governo desde que ganhou as eleições em setembro, sem maioria, mostrou-se interessado em saber como o primeiro-ministro português conseguia gerir um governo estável com minoria no parlamento.

O primeiro-ministro israelita convidou o homólogo para visitar Israel e Costa terá proposto que fosse em 2021, uma vez que em Janeiro do próximo ano, Marcelo Rebelo de Sousa irá deslocar-se ao país para participar nas cerimónias oficiais, que reúnem líderes de todo o mundo, do dia da Memória do Holocausto. Será a primeira visita a Israel de um chefe de Estado, desde que Mário Soares ali se deslocou em 1994, que coincidiu com o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin.

Além dos assuntos referidos pela fonte oficial de S.Bento, Netanyahu terá também manifestado a Costa a intenção de participar num "esforço conjunto" para apoiar os países africanos, designadamente os de língua oficial portuguesa.

Conforme o DN tinha noticiado, a integração de Portugal, esta quarta-feira, como membro pleno da IHRA (Internacional Holocaust Remembrance Alliance), a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto, foi também falada, com Netanyahu a elogiar esta iniciativa portuguesa.

Quanto aos temas quentes - Irão e colonatos israelitas na Cisjordânia - que estiveram no centro do encontro de Benjamin Netanyahu com o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo e que foram o principal motivo da visita do primeiro-ministro israelita, oficialmente nenhuma das partes revela se foram ou não abordados. No entanto, o DN sabe que Netanyahu apresentou a Costa os seus argumentos sobre porque pensa que o Irão constitui uma ameaça para todo o médio oriente, tendo o primeiro-ministro português ouvido, sem manifestar qualquer opinião.

Em relação aos colonatos, a posição do governo português é "contrária" à de Israel e dos EUA, segundo afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, da parte da manhã depois do encontro com Pompeo e Costa. A uma semana das eleições de setembro, Netanyahu prometeu anexar o Vale do Jordão a Israel, que representa cerca de 30% da Cisjordânia, atualmente sob a administração da Autoridade Palestiniana. Em novembro, os EUA deixam de considerar os colonatos israelitas na Cisjordânia ilegais, violando o direito internacional, contrariando uma posição defendida pelo Departamento de Estado desde 1978.

Visita a memorial do massacre de 1506

Durante a sua curta estadia, à margem dos encontros oficiais, Benjamin Netanyahu foi conhecer o memorial às vítimas do massacre judaico de 1506, no Largo de S.Domingos em Lisboa e visitou o Palácio da Pena. Fonte da delegação avançou ao DN que Netanyahu regressa esta noite a Israel, depois de jantar "num restaurante tipicamente português" com a sua mulher.

Na reunião com Costa, Benjamin Netanyahu foi acompanhado por uma comitiva de quatro pessoas, com destaque para Meir Ben-Shabat, o todo-poderoso chefe máximo do Conselho Nacional de Segurança israelita, uma estrutura que coordena, monitoriza e analisa para o primeiro-ministro todas as questões de segurança que envolvem o país.

Além de Ben-Shabat, constituíam ainda a delegação israelita os conselheiros militar e diplomático, bem como o embaixador de Israel em Portugal, Raphael Gamzou. Do lado português, António Costa estava com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, pelo seu chefe de gabinete, Francisco André, e pelo assessor diplomático Francisco Duarte Lopes.

Para João Rebelo, ex-presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Israel, a visita de Marcelo servirá para "consolidar" o bom relacionamento entre ambos os países. "Apesar dos muitos votos contra Israel propostos pelo PCP e pelo BE no parlamento, as relação entre os dois países nunca foram tão boas", sublinha. O dirigente centrista assinala "o grande aumento no turismo, principalmente de israelitas a visitarem Portugal, ao ponto de, a partir do próximo ano as companhias aéreas TAP e El-Al passarem a ter voos diários; mas também em setores como a agricultura, com a exportação de gado vivo e outros produtos".

Destaca ainda a "regular cooperação, quer com equipamentos quer com formação, nas áreas do contraterrorismo, segurança pública, na cibersegurança e na Defesa, onde os israelitas são dos melhores especialistas do mundo, principalmente do ponto de vista de inovação tecnológica". João Rebelo lembra, quanto ao setor da Defesa, a recente compra das aeronaves KC 390 da Embraer para a Força Aérea, cujo equipamento para a chamada "guerra eletrónica" é israelita.

Outro fator de aproximação entre Portugal e Israel, tem sido marcada pelo facto de milhares de judeus sefarditas, a maior parte de Israel, estarem a pedir nacionalidade portuguesa. Desde 2015, data da publicação do diploma que permite aos descendentes de judeus expulsos pela Inquisição nos séculos XV e XVI obterem a cidadania portuguesa, mais de 45 mil já a requereram, tendo sido já concedida a cerca de 10 mil.

Notícia atualizada às 18h40 com mais informação sobre a reunião

marcar artigo