As Causas. Tragicomédia, abalos, medo e outros temas

28-10-2020
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O ORÇAMENTO COMO TRAGICOMÉDIA

A tragicomédia orçamental continua. Se o PCP tivesse anunciado que votava contra, o BE por certo anunciaria que se iria abster na votação na generalidade.

Isso significa que nenhum quer assumir a responsabilidade da rutura e ambos gostariam de não ficar comprometidos com a governação.

Apoiar o governo é, no entanto, mais arriscado para o PCP (a menos que o PS faça com ele um acordo autárquico que ajude…) por causa do Chega, do que para o BE. O que seria lógico era o contrário do que ocorreu.

A tragicomédia é muitas vezes uma ópera bufa. Tudo corre o risco de acabar a ser pessoal, sentimentalão, ridículo, teatral em excesso.

Tudo se tornou pessoal. Até o líder parlamentar do PSD veio dizer que se Costa pedisse desculpa talvez pudessem abster-se na votação do Orçamento, se fosse necessário…

Tudo é pessoal, realmente. A única explicação que vejo para o que aconteceu à esquerda é que António Costa é o filho que o PCP gostaria de ter e é o Pai que o BE abomina.

Mas não é seguro que o PCP não possa zangar-se com o filho querido nos detalhes; e os detalhes podem ser insuficientes para o BE esquecer as zangas acumuladas.

Tudo pode estupidamente acabar mal. Mas, como digo há meses, acho que não vai haver problemas.

Veremos as cenas dos próximos capítulos ao longo de novembro.

O ORÇAMENTO COMO FALTA DE VERGONHA

O PSD declarou que iria votar contra o Orçamento, o que não só era óbvio como deve ter ajudado nas eleições dos Açores.

A falta de vergonha não é essa, mas o PS vir dizer que a decisão do PSD exprime falta de preocupação com o “interesse nacional”.

O orçamento é o mais à esquerda desde 1975, o PS e o seu líder disseram com todas as letras que não queriam negociar nada com o PSD, e fizeram isso de modo especialmente arrogante e mal-educado.

Esta reação socialista faz lembrar um conflito conjugal em que a (ou o) publicamente abandonada é acusada de não ter ficado à lareira a chorar esperando o regresso do que a escorraçara. Isto já não é política, mas falta de vergonha.

OS AÇORES COMO VINGANÇA CÓSMICA

O PSD ganhou “matematicamente” as eleições, mas a esquerda foi maioritária. Estávamos em 2015 e o PS acabou a governar.

No domingo nos Açores o PS ganhou “matematicamente” as eleições, mas a direita foi maioritária. Veremos quem vai governar, embora a solução óbvia seja a Direita incluir o PAN no Governo, ter 28 deputados contra 27 da esquerda e nem precisará do Chega.

As eleições foram um sinal para o PCP: Pode ter sido coincidência, mas a viabilização do Orçamento pode ter tido algo a ver com o desaparecimento dos comunistas do parlamento regional.

E serão um teste para o CDS: viabilizar um governo minoritário do PS ou coligar-se para o tentar fazer com o PSD?

E é um ensaio para a Direita: Se não forem capazes de governar nos Açores, por serem muitos partidos, nas legislativas nacionais não serão menos.

Mas, acima de tudo, foram um aviso para o PS: Como eu referi aqui há meses, em situações trágicas, seis meses depois do unanimismo à volta dos governos, a opinião pública costuma voltar-se contra eles.

O que pode reforçar a teoria de que António Costa se aproxima do final do seu ciclo político, como se anda a dizer.

O FIM DE CICLO DE ANTÓNIO COSTA?

Quem gosta de ler nas borras de café, nas folhas de chá, nos sinais de fumo ou decifrar pitonisas, pode saber já se a tese de que António Costa está a chegar ao fim do seu ciclo é uma ideia que o Presidente da República espalhou urbi et orbe, ou seja por todo o lado.

Mesmo para quem como eu apenas está atento aos sinais do vento e não bebe do fino, dá para desconfiar que assim seja: a tese serve muito bem a um 2º mandato presidencial menos amigo dos socialistas.

Saber quem se lembrou disso é importante, até porque o melhor comentador político do nosso tempo, hoje em vestes presidenciais, quando diz alguma coisa ou ela está correta ou rapidamente se torna em realidade.

Mas também é importante perceber se Costa estará mesmo no fim do seu ciclo.

Desde já adianto que em minha opinião, o fim do ciclo de António Costa não está à vista. E isso é assim por muito que custe a putativos sucessores, adversários ansiosos, presidentes à procura de um novo papel e ao povo em geral que não gosta do Primeiro-Ministro.

Claro que, como referi atrás, a votação final do Orçamento pode terminar com votos contra de toda a esquerda radical e teremos eleições daqui a 8 meses.

Mas isso não significa fim de ciclo, bastando que Costa possa voltar a formar governo e, tal como estão as coisas, não há mais ninguém que o consiga. A não ser que Marcelo arrisque um governo presidencial em dezembro e não creio que tenha coragem para tanto.

Mas não há dúvida que as coisas não estão a correr bem ao líder socialista: tem cometido erros incompreensíveis, montou uma estratégia errada para negociar o orçamento, tem um governo que não foi feito para tempos de pandemia. E se mais não houvesse, a patética conferência de imprensa domingo à noite no rescaldo das eleições açorianas faz realmente pensar.

Um político que corre riscos precisa de sorte, como Napoleão queria que tivessem os seus generais: sem isso pode facilmente passar da euforia do sucesso inevitável ao medo do fracasso provável.

Acho que Costa está com medo. E nesses momentos é preciso fazer sacrifícios propiciatórios aos deuses.

Neste caso isso quer dizer uma remodelação governamental que traga pesos pesados e políticos com carisma para a primeira linha.

Sem isso o fim do ciclo pode ser o preço inevitável do fracasso incompetente de um oportunista eficaz e corajoso.

PANDEMIA EM 5 NOTAS

Apenas alguns realces: a situação está muito pior (exceto em mortes, mas estão a subir) do que na Primavera. A questão é: Na Primavera exagerou-se? É que só isso explica que os mesmos agora defendam mais laxismo e nessa altura mais controlo.

Eu alertara há meses que o Estado Português começou tarde e devagar a preparar-se para a pandemia. Agora que todos os contratos estão lançados no sistema de compras do Estado, o Público demonstrou com todo o rigor que em fevereiro se encomendou apenas cerca de 500 000 euros de material e só em Março se colocaram novas encomendas num valor que até 12 de março era apenas de 4 milhões (e seguramente muitas encomendas demoraram semanas ou meses a chegar). Isto explica muito mais do que se pensa.

Quanto à minha recorrente pergunta sobre que comorbilidades possuíam os que morreram ou foram internados em UCI (a DGS recomendou ao Público, que perguntou também, para se dirigir aos hospitais), um médico que se ocupa da codificação escreveu-me a dizer que “todos os processos dos doentes internados nos hospitais do SNS são codificados. (,,,) Sendo assim cada internamento codificado contém toda a informação clinica do doente, quanto ao diagnóstico principal como as co morbilidades. É muito fácil e rápido ter acesso a todos os dados dos doentes internados com diagnóstico COVID 19, seja no internamento geral ou na UCI”.

Ou seja, a DGS falha na informação e a culpa não é dos hospitais, como quis sugerir; e se não divulga os dados é seguramente porque não os tratou ou não quer ser transparente.

Um último dado: a nova moda é o recolher obrigatório noturno. Nada tenho contra, mas creio que é atirar poeira para os olhos, pois os contágios não acontecem, nem principalmente, quando milhões de portugueses estão a dormir…

E uma última informação. O Ministério da Saúde esteve 7 meses sem reunir o CNSP, o principal órgão de consulta do Governo em situações de pandemia. Apesar da composição do Conselho ser quase toda de pessoas selecionadas pela Ministra.

Apenas se sabe o que a Ministra da Saúde quis dizer e foi referir recomendações de “reformulação do modelo de comunicação”, com “mais clara separação das linhas técnica e política”, “maior aposta nas medidas preventivas”, proteção dos “mais vulneráveis” (crianças e idosos) e dos profissionais de saúde.

É pura coincidência que eu ande a dizer isto há muito tempo. O que não pode ser coincidência é que, ao contrário dos anos anteriores, nenhum comunicado tenha sido feito no final.

A HOMENAGEM PRESIDENCIAL A ALGUNS MORTOS

Os dados de mortos, internados em enfermaria e em UCI revelam o seguinte:

a) Em relação à média dos últimos 5 anos morreram desde 2 de março e 4 de outubro, mais 7474 e desses 2018 com covid e no total morreram 68.227.

O ORÇAMENTO COMO TRAGICOMÉDIA

A tragicomédia orçamental continua. Se o PCP tivesse anunciado que votava contra, o BE por certo anunciaria que se iria abster na votação na generalidade.

Isso significa que nenhum quer assumir a responsabilidade da rutura e ambos gostariam de não ficar comprometidos com a governação.

Apoiar o governo é, no entanto, mais arriscado para o PCP (a menos que o PS faça com ele um acordo autárquico que ajude…) por causa do Chega, do que para o BE. O que seria lógico era o contrário do que ocorreu.

A tragicomédia é muitas vezes uma ópera bufa. Tudo corre o risco de acabar a ser pessoal, sentimentalão, ridículo, teatral em excesso.

Tudo se tornou pessoal. Até o líder parlamentar do PSD veio dizer que se Costa pedisse desculpa talvez pudessem abster-se na votação do Orçamento, se fosse necessário…

Tudo é pessoal, realmente. A única explicação que vejo para o que aconteceu à esquerda é que António Costa é o filho que o PCP gostaria de ter e é o Pai que o BE abomina.

Mas não é seguro que o PCP não possa zangar-se com o filho querido nos detalhes; e os detalhes podem ser insuficientes para o BE esquecer as zangas acumuladas.

Tudo pode estupidamente acabar mal. Mas, como digo há meses, acho que não vai haver problemas.

Veremos as cenas dos próximos capítulos ao longo de novembro.

O ORÇAMENTO COMO FALTA DE VERGONHA

O PSD declarou que iria votar contra o Orçamento, o que não só era óbvio como deve ter ajudado nas eleições dos Açores.

A falta de vergonha não é essa, mas o PS vir dizer que a decisão do PSD exprime falta de preocupação com o “interesse nacional”.

O orçamento é o mais à esquerda desde 1975, o PS e o seu líder disseram com todas as letras que não queriam negociar nada com o PSD, e fizeram isso de modo especialmente arrogante e mal-educado.

Esta reação socialista faz lembrar um conflito conjugal em que a (ou o) publicamente abandonada é acusada de não ter ficado à lareira a chorar esperando o regresso do que a escorraçara. Isto já não é política, mas falta de vergonha.

OS AÇORES COMO VINGANÇA CÓSMICA

O PSD ganhou “matematicamente” as eleições, mas a esquerda foi maioritária. Estávamos em 2015 e o PS acabou a governar.

No domingo nos Açores o PS ganhou “matematicamente” as eleições, mas a direita foi maioritária. Veremos quem vai governar, embora a solução óbvia seja a Direita incluir o PAN no Governo, ter 28 deputados contra 27 da esquerda e nem precisará do Chega.

As eleições foram um sinal para o PCP: Pode ter sido coincidência, mas a viabilização do Orçamento pode ter tido algo a ver com o desaparecimento dos comunistas do parlamento regional.

E serão um teste para o CDS: viabilizar um governo minoritário do PS ou coligar-se para o tentar fazer com o PSD?

E é um ensaio para a Direita: Se não forem capazes de governar nos Açores, por serem muitos partidos, nas legislativas nacionais não serão menos.

Mas, acima de tudo, foram um aviso para o PS: Como eu referi aqui há meses, em situações trágicas, seis meses depois do unanimismo à volta dos governos, a opinião pública costuma voltar-se contra eles.

O que pode reforçar a teoria de que António Costa se aproxima do final do seu ciclo político, como se anda a dizer.

O FIM DE CICLO DE ANTÓNIO COSTA?

Quem gosta de ler nas borras de café, nas folhas de chá, nos sinais de fumo ou decifrar pitonisas, pode saber já se a tese de que António Costa está a chegar ao fim do seu ciclo é uma ideia que o Presidente da República espalhou urbi et orbe, ou seja por todo o lado.

Mesmo para quem como eu apenas está atento aos sinais do vento e não bebe do fino, dá para desconfiar que assim seja: a tese serve muito bem a um 2º mandato presidencial menos amigo dos socialistas.

Saber quem se lembrou disso é importante, até porque o melhor comentador político do nosso tempo, hoje em vestes presidenciais, quando diz alguma coisa ou ela está correta ou rapidamente se torna em realidade.

Mas também é importante perceber se Costa estará mesmo no fim do seu ciclo.

Desde já adianto que em minha opinião, o fim do ciclo de António Costa não está à vista. E isso é assim por muito que custe a putativos sucessores, adversários ansiosos, presidentes à procura de um novo papel e ao povo em geral que não gosta do Primeiro-Ministro.

Claro que, como referi atrás, a votação final do Orçamento pode terminar com votos contra de toda a esquerda radical e teremos eleições daqui a 8 meses.

Mas isso não significa fim de ciclo, bastando que Costa possa voltar a formar governo e, tal como estão as coisas, não há mais ninguém que o consiga. A não ser que Marcelo arrisque um governo presidencial em dezembro e não creio que tenha coragem para tanto.

Mas não há dúvida que as coisas não estão a correr bem ao líder socialista: tem cometido erros incompreensíveis, montou uma estratégia errada para negociar o orçamento, tem um governo que não foi feito para tempos de pandemia. E se mais não houvesse, a patética conferência de imprensa domingo à noite no rescaldo das eleições açorianas faz realmente pensar.

Um político que corre riscos precisa de sorte, como Napoleão queria que tivessem os seus generais: sem isso pode facilmente passar da euforia do sucesso inevitável ao medo do fracasso provável.

Acho que Costa está com medo. E nesses momentos é preciso fazer sacrifícios propiciatórios aos deuses.

Neste caso isso quer dizer uma remodelação governamental que traga pesos pesados e políticos com carisma para a primeira linha.

Sem isso o fim do ciclo pode ser o preço inevitável do fracasso incompetente de um oportunista eficaz e corajoso.

PANDEMIA EM 5 NOTAS

Apenas alguns realces: a situação está muito pior (exceto em mortes, mas estão a subir) do que na Primavera. A questão é: Na Primavera exagerou-se? É que só isso explica que os mesmos agora defendam mais laxismo e nessa altura mais controlo.

Eu alertara há meses que o Estado Português começou tarde e devagar a preparar-se para a pandemia. Agora que todos os contratos estão lançados no sistema de compras do Estado, o Público demonstrou com todo o rigor que em fevereiro se encomendou apenas cerca de 500 000 euros de material e só em Março se colocaram novas encomendas num valor que até 12 de março era apenas de 4 milhões (e seguramente muitas encomendas demoraram semanas ou meses a chegar). Isto explica muito mais do que se pensa.

Quanto à minha recorrente pergunta sobre que comorbilidades possuíam os que morreram ou foram internados em UCI (a DGS recomendou ao Público, que perguntou também, para se dirigir aos hospitais), um médico que se ocupa da codificação escreveu-me a dizer que “todos os processos dos doentes internados nos hospitais do SNS são codificados. (,,,) Sendo assim cada internamento codificado contém toda a informação clinica do doente, quanto ao diagnóstico principal como as co morbilidades. É muito fácil e rápido ter acesso a todos os dados dos doentes internados com diagnóstico COVID 19, seja no internamento geral ou na UCI”.

Ou seja, a DGS falha na informação e a culpa não é dos hospitais, como quis sugerir; e se não divulga os dados é seguramente porque não os tratou ou não quer ser transparente.

Um último dado: a nova moda é o recolher obrigatório noturno. Nada tenho contra, mas creio que é atirar poeira para os olhos, pois os contágios não acontecem, nem principalmente, quando milhões de portugueses estão a dormir…

E uma última informação. O Ministério da Saúde esteve 7 meses sem reunir o CNSP, o principal órgão de consulta do Governo em situações de pandemia. Apesar da composição do Conselho ser quase toda de pessoas selecionadas pela Ministra.

Apenas se sabe o que a Ministra da Saúde quis dizer e foi referir recomendações de “reformulação do modelo de comunicação”, com “mais clara separação das linhas técnica e política”, “maior aposta nas medidas preventivas”, proteção dos “mais vulneráveis” (crianças e idosos) e dos profissionais de saúde.

É pura coincidência que eu ande a dizer isto há muito tempo. O que não pode ser coincidência é que, ao contrário dos anos anteriores, nenhum comunicado tenha sido feito no final.

A HOMENAGEM PRESIDENCIAL A ALGUNS MORTOS

Os dados de mortos, internados em enfermaria e em UCI revelam o seguinte:

a) Em relação à média dos últimos 5 anos morreram desde 2 de março e 4 de outubro, mais 7474 e desses 2018 com covid e no total morreram 68.227.

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