Sintra do avesso

25-06-2020
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Promessas ou abusos?Ainda com o penúltimo Jornal da Região nas mãos, não pude deixar de confirmar como, para além de magoarem quando não cumpridas, as promessas podem ser tão desgastantes, mesmo perniciosas. As promessas. Tantas vezes, tão pouco consistentes são, que até uma suave brisa, as leva… Coisa avisada será desconfiar de promessas. E tanto mais assim deverá acontecer quanto – e quando… – se trate de promessas feitas por políticos, quer em campanha eleitoral quer já no exercício dos respectivos mandatos.Portanto, de promessas aos sintrenses são estas linhas, suscitadas pela leitura das páginas centrais do semanário acima referido. Já de seguida, lembrarei duas que foram expressas, atiradas para o ar, não afirmarei com o firme, premeditado e decidido propósito de não cumprir mas, isso sim, com uma ligeireza que, de modo algum, convém a um político com as pretensões de Fernando Seara. Tenham os leitores em consideração o facto de aqueles compromissos se relacionarem com domínios em que o Presidente da Câmara Municipal de Sintra se movimenta particularmente bem. Já começaram a deduzir, e muito bem, que têm a ver com futebol e comunicação social audiovisual. É um oceano em cujas águas, como autêntico peixe, ele nada como nenhum outro decisor político eleito. Por outro lado, assim acontecendo, muito maior credibilidade revestiram tais promessas já que o promitente vendedor é um verdadeiro perito. A bola e os ecransBasta de preâmbulo, passemos aos casos concretos. Primeiramente, vendeu a promessa da Casa das Selecções. Sim, num projecto tão afim do futebol, quem duvidaria da sua capacidade de decisão e de concretização? Corroborando esta evidência, não o viram pedir aos potenciais eleitores que, na altura de votarem, se lembrassem do careca do Benfica – não do político do PSD, não do homem de Direito, não do Professor da Universidade Católica – mas, isso sim, daquilo que, definitivamente, decidiria a sua eleição, ou seja, o facto de aparecer mediaticamente indissociável do futebol? Uns anos mais tarde, foi a Cidade do Cinema. Envolvidos estavam a TVI, os espanhóis da Prisa, muitos milhões a investir, milhares de postos de trabalho em perspectiva. Era o sonho? Depende do ponto de vista. É que, entretanto, alcavalado pela afectação ao regime PIN, com a previsão mais que certa de um crime ecológico a reboque, o projecto, que jamais passaria de coisa perfeitamente virtual, já deixara a dimensão de sonho para se revelar mais como pesadelo… Sintomaticamente, ambas as promessas tinham um mesmo pano de fundo, o ambiente tranquilo, por vezes até impoluto, ainda caracterizado por certos aspectos de ruralidade muito marcada da Freguesia de Almargem do Bispo. Assim, de repente, quebrar-se-ia o sossego de décadas, que nem a Fábrica Portugal nem a Motra-Siemens, vanguarda da industrialização local da segunda metade do século passado, tinham conseguido pôr em causa? Estava mesmo a ver-se que, pela mão de Seara & Cª, os arredores do Sabugo seriam transformados, por um lado, na Meca da formação nacional do desporto do pontapé na bola e, por outro, num misto de Hollywood e Globo lusitana… Chega a ser perverso o atrevimento de acenar com estas oportunidades ou janelas de desenvolvimento (??) que, afinal, não passam de promessas sem qualquer hipótese de concretização. Melhor seria designá-las como mentiras a prazo. Ou flagrantes abusos. Porém, neste contexto, qual mestre de prestidigitação, durante uns anos, o edil sempre vai encontrando quem se deixe embalar com cantos de sereia…Mudança de paradigmaCoisa nada bonita é o público abuso da credulidade alheia para obtenção de dividendos políticos. À modesta escala da minha capacidade de intervenção, não me cansarei de apontar os manifestos mais evidentes dessa atitude que, entre outros prejuízos, é tão inconveniente à promoção da cidadania. A propósito, se nisso não virem incómodo de maior, acedam ao artigo aqui publicado em 4 de Dezembro de 2008, subordinado ao título Mais poeira para os olhos?..., através do qual poderão verificar como, já há dois anos, denunciava eu o que não podia calar.Ainda acerca deste assunto, não percam a leitura das palavras de Rui Maximiano, Presidente da Junta de Freguesia de Almargem, objecto de abundantes citações no artigo assinado por João Carlos Sebastião que referi inicialmente. Leiam e percebam, nas linhas e entrelinhas, a desilusão, a descrença e a habituação do autarca ao esfumar dos projectos.Provavelmente, não seria descabida a abordagem de outros filmes. Como o do Hospital de Sintra. Ou, ainda, o do pólo da Universidade Católica. E o da instalação de uma piscina em cada freguesia? Talvez o da construção de dezenas de quilómetros de ciclovias. Se valerá a pena, é a pergunta que colocam os mais lúcidos que vão esmorecendo cansados da luta.Não tenho a mais pequena dúvida de que vale a pena. Mas enquanto os cidadãos, particularmente os jovens, se mantiverem alheios, enquanto os partidos da oposição não se mobilizarem para a sistemática e consequente denúncia destas situações, não se vai construindo a possibilidade de concretizar a mudança. Ainda não terão percebido que, também neste domínio, preciso é que se altere o paradigma da intervenção cívica? Provavelmente, obedecendo a cartilhas completamente obsoletas, os estrategas dos partidos ainda estarão à espera da próxima campanha eleitoral para aplicação das receitas requentadas do costume. Enfim, que remédio senão confiar na renovação da classe política… PSPor favor, entendam que, embora compreendendo a desilusão do Presidente da Junta, não posso estar mais satisfeito por não se concretizar o projecto da Cidade do Cinema. De facto, as características anunciadas, nomeadamente no âmbito do ambiente, eram altamente lesivas de outros interesses verdadeiramente prevalecentes. Quanto à Casa das Selecções, seria de esperar que a inserção de Fernando Seara no mundo futebolístico fosse absolutamente determinante do sucesso da iniciativa prometida. No entanto, contrariamente a todas as expectativas, nem num terreno que lhe é tão propício, o Presidente da Câmara foi capaz de levar a obra por diante.


Promessas ou abusos?Ainda com o penúltimo Jornal da Região nas mãos, não pude deixar de confirmar como, para além de magoarem quando não cumpridas, as promessas podem ser tão desgastantes, mesmo perniciosas. As promessas. Tantas vezes, tão pouco consistentes são, que até uma suave brisa, as leva… Coisa avisada será desconfiar de promessas. E tanto mais assim deverá acontecer quanto – e quando… – se trate de promessas feitas por políticos, quer em campanha eleitoral quer já no exercício dos respectivos mandatos.Portanto, de promessas aos sintrenses são estas linhas, suscitadas pela leitura das páginas centrais do semanário acima referido. Já de seguida, lembrarei duas que foram expressas, atiradas para o ar, não afirmarei com o firme, premeditado e decidido propósito de não cumprir mas, isso sim, com uma ligeireza que, de modo algum, convém a um político com as pretensões de Fernando Seara. Tenham os leitores em consideração o facto de aqueles compromissos se relacionarem com domínios em que o Presidente da Câmara Municipal de Sintra se movimenta particularmente bem. Já começaram a deduzir, e muito bem, que têm a ver com futebol e comunicação social audiovisual. É um oceano em cujas águas, como autêntico peixe, ele nada como nenhum outro decisor político eleito. Por outro lado, assim acontecendo, muito maior credibilidade revestiram tais promessas já que o promitente vendedor é um verdadeiro perito. A bola e os ecransBasta de preâmbulo, passemos aos casos concretos. Primeiramente, vendeu a promessa da Casa das Selecções. Sim, num projecto tão afim do futebol, quem duvidaria da sua capacidade de decisão e de concretização? Corroborando esta evidência, não o viram pedir aos potenciais eleitores que, na altura de votarem, se lembrassem do careca do Benfica – não do político do PSD, não do homem de Direito, não do Professor da Universidade Católica – mas, isso sim, daquilo que, definitivamente, decidiria a sua eleição, ou seja, o facto de aparecer mediaticamente indissociável do futebol? Uns anos mais tarde, foi a Cidade do Cinema. Envolvidos estavam a TVI, os espanhóis da Prisa, muitos milhões a investir, milhares de postos de trabalho em perspectiva. Era o sonho? Depende do ponto de vista. É que, entretanto, alcavalado pela afectação ao regime PIN, com a previsão mais que certa de um crime ecológico a reboque, o projecto, que jamais passaria de coisa perfeitamente virtual, já deixara a dimensão de sonho para se revelar mais como pesadelo… Sintomaticamente, ambas as promessas tinham um mesmo pano de fundo, o ambiente tranquilo, por vezes até impoluto, ainda caracterizado por certos aspectos de ruralidade muito marcada da Freguesia de Almargem do Bispo. Assim, de repente, quebrar-se-ia o sossego de décadas, que nem a Fábrica Portugal nem a Motra-Siemens, vanguarda da industrialização local da segunda metade do século passado, tinham conseguido pôr em causa? Estava mesmo a ver-se que, pela mão de Seara & Cª, os arredores do Sabugo seriam transformados, por um lado, na Meca da formação nacional do desporto do pontapé na bola e, por outro, num misto de Hollywood e Globo lusitana… Chega a ser perverso o atrevimento de acenar com estas oportunidades ou janelas de desenvolvimento (??) que, afinal, não passam de promessas sem qualquer hipótese de concretização. Melhor seria designá-las como mentiras a prazo. Ou flagrantes abusos. Porém, neste contexto, qual mestre de prestidigitação, durante uns anos, o edil sempre vai encontrando quem se deixe embalar com cantos de sereia…Mudança de paradigmaCoisa nada bonita é o público abuso da credulidade alheia para obtenção de dividendos políticos. À modesta escala da minha capacidade de intervenção, não me cansarei de apontar os manifestos mais evidentes dessa atitude que, entre outros prejuízos, é tão inconveniente à promoção da cidadania. A propósito, se nisso não virem incómodo de maior, acedam ao artigo aqui publicado em 4 de Dezembro de 2008, subordinado ao título Mais poeira para os olhos?..., através do qual poderão verificar como, já há dois anos, denunciava eu o que não podia calar.Ainda acerca deste assunto, não percam a leitura das palavras de Rui Maximiano, Presidente da Junta de Freguesia de Almargem, objecto de abundantes citações no artigo assinado por João Carlos Sebastião que referi inicialmente. Leiam e percebam, nas linhas e entrelinhas, a desilusão, a descrença e a habituação do autarca ao esfumar dos projectos.Provavelmente, não seria descabida a abordagem de outros filmes. Como o do Hospital de Sintra. Ou, ainda, o do pólo da Universidade Católica. E o da instalação de uma piscina em cada freguesia? Talvez o da construção de dezenas de quilómetros de ciclovias. Se valerá a pena, é a pergunta que colocam os mais lúcidos que vão esmorecendo cansados da luta.Não tenho a mais pequena dúvida de que vale a pena. Mas enquanto os cidadãos, particularmente os jovens, se mantiverem alheios, enquanto os partidos da oposição não se mobilizarem para a sistemática e consequente denúncia destas situações, não se vai construindo a possibilidade de concretizar a mudança. Ainda não terão percebido que, também neste domínio, preciso é que se altere o paradigma da intervenção cívica? Provavelmente, obedecendo a cartilhas completamente obsoletas, os estrategas dos partidos ainda estarão à espera da próxima campanha eleitoral para aplicação das receitas requentadas do costume. Enfim, que remédio senão confiar na renovação da classe política… PSPor favor, entendam que, embora compreendendo a desilusão do Presidente da Junta, não posso estar mais satisfeito por não se concretizar o projecto da Cidade do Cinema. De facto, as características anunciadas, nomeadamente no âmbito do ambiente, eram altamente lesivas de outros interesses verdadeiramente prevalecentes. Quanto à Casa das Selecções, seria de esperar que a inserção de Fernando Seara no mundo futebolístico fosse absolutamente determinante do sucesso da iniciativa prometida. No entanto, contrariamente a todas as expectativas, nem num terreno que lhe é tão propício, o Presidente da Câmara foi capaz de levar a obra por diante.

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