As causas. Marta Temido e Bruno Lage: a mesma luta?

01-09-2020
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BRUNO LAGE E A SAÚDE PÚBLICA

A 5 de maio disse aqui que Marta Temido e Graça Freitas deveriam ser substituídas. Esperara que acabasse o Estado de Emergência que afirmar o que para mim era óbvio.

Achei que era a boa altura para mudar a equipa que me parecia que iria falhar no desconfinamento como falhara antes do confinamento.

Agora, quase 2 meses depois, o Bastonário dos Médicos revela que quem manda não fala com os médicos do terreno há mais de 3 meses, Rui Rio vem dizer que a DGS falhou, Filipe Froes descobre que não houve estratégia dos seus

colegas médicos de saúde pública e do Governo, e António Costa pensa o mesmo, mas não o pode dizer de modo tão claro…

Mas mais importante do que isso tudo foi o que Fernando Medina disse ontem sobre o controlo da pandemia em Lisboa: “Isto não é problema de alta tecnologia, é um problema da qualidade das chefias. Ou as chefias em matéria de saúde pública conseguem em poucos dias pôr ordem na casa ou essas mesmas chefias terão de ser imediatamente reavaliadas”.

É verdade que no governo falhou gente de quem ele não é próximo: Temido, Nuno Santos, Duarte Cordeiro. Mas também é verdade que ele é o Presidente da Câmara de Lisboa e da Área Metropolitana de Lisboa. Não podia ficar calado.

Estávamos, em 5 de maio, a viver um momento equivalente à semana anterior à derrota do Benfica em casa com o Rio Ave e depois na Madeira com o Marítimo. Se Bruno Lage tivesse sido substituído antes das derrotas, talvez o Porto ainda não tivesse comprado as faixas de campeão.

Não me interpretem mal. Pedro Nuno Santos e Duarte Cordeiro são bons quadros políticos, do melhor que tem a ala esquerda do PS.

E a Ministra da Saúde é uma profissional com um notável curriculum na área da gestão da saúde. Por isso olha para o Mundo com esses olhos. Os seus secretários de Estado são políticos profissionais: Jamila Moreira tem 45 anos e é deputada há 20 e no seu curriculum profissional nada existe que a ligue à saúde; António Sales veio mais tarde para a política, é ortopedista e tem obra na área da medicina desportiva e do envelhecimento saudável.

Mas falharam com estrépito onde vivem 3 milhões de portugueses.

É verdade que Marta Temido tinha razão quando há dias fez António Costa perder a cabeça: o Norte confinou muito menos do que a zona de Lisboa.

Mas a reação de Costa foi por outra razão: o Primeiro-Ministro sabe que o ministério da Saúde falhou e criou um problema terrível a Portugal.

Realmente, com base nos critérios (são estúpidos, mas são critérios) do Centro Europeu de Controle de Doenças (o mesmo que dizia em finais de Janeiro que havia apenas uma “probabilidade moderada de casos infetados para países da União Europeia” e onde Portugal está representado) a única coisa que interessa na Europa agora é o número de infetados por 100 000 habitantes, ainda que sejam assintomáticos e nem saibam que são positivo.

E nesse critério a Suécia e Portugal são os piores da Europa. E o Ministério da Saúde não antecipou isto?

António Costa pode continuar a dizer que não aceita a culpa, mas se não percebe todas estas mensagens, alguém lhe vai no futuro lembrar mais tarde que não agiu devendo e podendo.

O QUE É A SAÚDE PÚBLICA?

Mas o problema é mais grave do que cúpula do Ministério da Saúde. E António Costa tinha por isso alguma razão em dizer que não aceitava a culpa.

Transpirou que na última reunião do Infarmed, houve acutilantes perguntas do Presidente da República e de outros políticos que não obtinham respostas, mas apenas conversa e teorias.

Dediquei por isso uma parte do meu domingo a tentar perceber o que se ensina e investiga na Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova, a mais qualificada escola da área e, nessa medida, a mais ativa na luta contra o Covid 19.

A razão desta preocupação é óbvia: apesar da falta de transparência na política portuguesa e em especial em tudo o que se refere às estratégias de luta contra a pandemia, começa a ser óbvio que Portugal (reconheço que não está sozinho…) é mais uma história de fracassos do que sucessos nas políticas de saúde públicas de luta contra a pandemia.

Se alguma coisa esta epidemia está a revelar, é que a única forma de a enfrentar exige uma abordagem multidisciplinar.

Permitam-me que cite o que disse aqui em 17 de março, ou seja antes do Estado de Emergência: O Governo tem afirmado que quer seguir o que dizem os especialistas. E por isso merece ou mereceria elogios. A surpresa é que não há sinais nem informação que o tenha feito no plano … das ciências da economia, sociologia, psicologia e finanças.

Isto foi dizer o óbvio. Mas, como é infelizmente habitual, o Governo e os seus técnicos não fizeram o que também seria óbvio: analisar a pandemia, o confinamento e a saída dele, a partir de todos esses pontos de vista desde o primeiro dia.

E não o fizeram porque, a olhar para o curriculum dos cursos de saúde púbica, neles não se estudam essas outras ciências que para pandemias são essenciais.

Estes são factos. E são causas.

PANDEMIA A DUAS VELOCIDADES

Também são factos que Portugal confinou “à bruta” (aparentemente) com base na necessidade de evitar o caos de Itália e Espanha nos hospitais e com a ambição de erradicar a pandemia da comunidade.

A necessidade era real e confinar foi fácil: basicamente, os portugueses que podiam fecharam-se em casa ainda antes do estado de emergência ser decretado em 18 de março.

Mas desde logo foi óbvio que esse sucesso era uma história mal contada: uma parte grande do País confinou e outra continuou a trabalhar sem nenhuma proteção (lembram-se de Graça Freitas a desaconselhar vivamente o uso de máscaras?), sobretudo fora de Lisboa.

Como disse aqui, em 14 de abril, “fora das grandes cidades as pessoas continuam a trabalhar e sem proteções agora possíveis (e não antes por erro das autoridades de saúde), seguramente mais de 2 milhões (serão filhos de um Deus menor?)”.

Ou seja, até para uma pessoa que não estudou saúde pública, como eu, era evidente o que ia acontecer.

A FALTA DE ESTRATÉGIA DE SAÚDE PÚBLICA DÁ CABO DA NOSSA RETOMA

O falhanço das políticas de saúde pública é patente. No dia 18 de março, ao começar o estado de emergência, deveria ter sido criado um grupo de trabalho multidisciplinar competente para organizar o desconfinamento.

Esse grupo deveria ter plenos poderes e antecipar que aumentariam os infetados e que muito infetados leves nunca deixaram de trabalhar.

E, mais, deviam antecipar que:

(i) as camionetas que levavam operários da construção civil desde março iriam espalhando a infeção, e

(ii) Os transportes públicos, depois do fim do confinamento, também.

Por isso deveriam ter criado regras, ter reunido com as empresas, impedir que os comboios se enchessem, aumentar – pagando como agora vai ser feito (e 10 milhões por mês) – a oferta de autocarros, não deixar entrar mais que a lotação usando para isso os polícias que andam pelas praias a aborrecer crianças que estejam a brincar.

E é espantoso que – sem pedir desculpa – o Secretário da Saúde tenha anunciado que só agora vai agora reunir com empresas de transportes.

E agora? Temos a retoma do turismo lixada, a nossa imagem externa de rastos, os lares de novo cheios de infetados, as populações a perderem a confiança no errático poder político, a injustiça social a aumentar e a divisão dos portugueses entre protegidos e desprotegidos pior do que antes.

O mal está feito. Mas uma nova equipa para gerir os próximos meses é melhor do que persistir no erro.

OS SEIS MESES ALEMÃES VÃO SALVAR A EUROPA?

Amanhã a Alemanha (ou seja, Merkel) vai passar a presidir 6 meses ao Conselho Europeu.

Ela está a chegar ao fim do seu consulado de 15 anos como Chanceler. Vai querer terminar de um modo que a História registará como – guardadas as distâncias – regista Churchill.

Merkel é poderosa e aplaudida na Alemanha, uma europeísta sincera e militante. Foi uma sorte que os acasos da rotatividade fossem assim. Se não for ela e a Alemanha a conseguirem, ninguém consegue.

Mas o que me assusta é o que ouvi Paulo Portas anunciar sem uma reação: Para os países frugais cederem, todo o pacote de subsídios vai ter de ser decidido em 2 anos, na esperança do que acabe a sobrar dinheiro.

Além de ser uma manhosice envergonhante, será um estímulo para “insiders” e aumenta a probabilidade de o dinheiro ser aplicado com critérios políticos que não ponderem a diferença entre os países.

ELOGIO

A Fernando Medina. Sei muito bem que não é fácil criticar. Mas para um político no ativo é muito mais difícil.

Este tipo de crises matam os dirigentes políticos que – como dizia o famoso Cândido de Oliveira dos treinadores de futebol - passam num instante de bestiais a bestas.

Disse isso há semanas com base num estudo de sondagens do Economist. Há dias um amigo enviou-me um estudo científico no mesmo sentido de dois reputados professores especializados em riscos sistémicos políticos.

Talvez António Costa, se souber reagir rápido, fique a dever muito a Medina.

LER É O MELHOR REMÉDIO

O editorial de Manuel Carvalho, no Público de Domingo, “abram as portas da reunião no Infarmed”, e o texto de Rui Pedro Antunes no Observador de 4ª feiras que escancarou as portas revelando o que se passou lá dentro; e que pelo caminho deixou mal colocado o Presidente da República que não contou à saída o que ouvira, assumindo talvez que as portas não se abririam.

A PERGUNTA SEM RESPOSTA

Li e ouvi, mas nem quis acreditar. Sabemos que autorizar sistemas (aliás voluntários) de localização de contactos por telemóvel é uma peça essencial da luta contra a pandemia.

Segundo parece, a Comissão Nacional de Proteção de Dados demorou várias semana

analisar um sistema e no final, com a sofisticação em empurrar com a barriga que daria o Prémio Nobel da Burocracia todos os anos a Portugal, fez mais perguntas.

Por isso a pergunta: os senhores comissários da proteção de dados sabem que há uma pandemia?

A. A LOUCURA MANSA

O Primeiro-Ministro está manifestamente aflito, e a situação não é para menos. Quando pessoas emotivas como ele se assustam, perdem a frieza e cometem erros.

Três exemplos:

(i) afirmar que antibióticos podem curar o Covid 19, mas foi no programa do Ricardo Araújo Pereira e por isso não conta;

(ii) chamar mentirosa à sua Ministra da Saúde, em frente da alta nobreza da República e de especialistas no Infarmed, mas aqui a loucura é que Marta Temido não retire disso as conclusões;

(iii) mas sobretudo dizer ao jornal Vanguardia que a situação que afeta 19 freguesias dos concelhos de Lisboa, Amadora, Odivelas, Sintra e Loures não tem qualquer relação com o centro da cidade de Lisboa onde serão disputados os jogos da principal competição de futebol da Europa.

Será que não sabe que há “google maps” em espanhol e catalão? E que Alvalade está ao pé de Odivelas e Benfica ao pé da Amadora?

BRUNO LAGE E A SAÚDE PÚBLICA

A 5 de maio disse aqui que Marta Temido e Graça Freitas deveriam ser substituídas. Esperara que acabasse o Estado de Emergência que afirmar o que para mim era óbvio.

Achei que era a boa altura para mudar a equipa que me parecia que iria falhar no desconfinamento como falhara antes do confinamento.

Agora, quase 2 meses depois, o Bastonário dos Médicos revela que quem manda não fala com os médicos do terreno há mais de 3 meses, Rui Rio vem dizer que a DGS falhou, Filipe Froes descobre que não houve estratégia dos seus

colegas médicos de saúde pública e do Governo, e António Costa pensa o mesmo, mas não o pode dizer de modo tão claro…

Mas mais importante do que isso tudo foi o que Fernando Medina disse ontem sobre o controlo da pandemia em Lisboa: “Isto não é problema de alta tecnologia, é um problema da qualidade das chefias. Ou as chefias em matéria de saúde pública conseguem em poucos dias pôr ordem na casa ou essas mesmas chefias terão de ser imediatamente reavaliadas”.

É verdade que no governo falhou gente de quem ele não é próximo: Temido, Nuno Santos, Duarte Cordeiro. Mas também é verdade que ele é o Presidente da Câmara de Lisboa e da Área Metropolitana de Lisboa. Não podia ficar calado.

Estávamos, em 5 de maio, a viver um momento equivalente à semana anterior à derrota do Benfica em casa com o Rio Ave e depois na Madeira com o Marítimo. Se Bruno Lage tivesse sido substituído antes das derrotas, talvez o Porto ainda não tivesse comprado as faixas de campeão.

Não me interpretem mal. Pedro Nuno Santos e Duarte Cordeiro são bons quadros políticos, do melhor que tem a ala esquerda do PS.

E a Ministra da Saúde é uma profissional com um notável curriculum na área da gestão da saúde. Por isso olha para o Mundo com esses olhos. Os seus secretários de Estado são políticos profissionais: Jamila Moreira tem 45 anos e é deputada há 20 e no seu curriculum profissional nada existe que a ligue à saúde; António Sales veio mais tarde para a política, é ortopedista e tem obra na área da medicina desportiva e do envelhecimento saudável.

Mas falharam com estrépito onde vivem 3 milhões de portugueses.

É verdade que Marta Temido tinha razão quando há dias fez António Costa perder a cabeça: o Norte confinou muito menos do que a zona de Lisboa.

Mas a reação de Costa foi por outra razão: o Primeiro-Ministro sabe que o ministério da Saúde falhou e criou um problema terrível a Portugal.

Realmente, com base nos critérios (são estúpidos, mas são critérios) do Centro Europeu de Controle de Doenças (o mesmo que dizia em finais de Janeiro que havia apenas uma “probabilidade moderada de casos infetados para países da União Europeia” e onde Portugal está representado) a única coisa que interessa na Europa agora é o número de infetados por 100 000 habitantes, ainda que sejam assintomáticos e nem saibam que são positivo.

E nesse critério a Suécia e Portugal são os piores da Europa. E o Ministério da Saúde não antecipou isto?

António Costa pode continuar a dizer que não aceita a culpa, mas se não percebe todas estas mensagens, alguém lhe vai no futuro lembrar mais tarde que não agiu devendo e podendo.

O QUE É A SAÚDE PÚBLICA?

Mas o problema é mais grave do que cúpula do Ministério da Saúde. E António Costa tinha por isso alguma razão em dizer que não aceitava a culpa.

Transpirou que na última reunião do Infarmed, houve acutilantes perguntas do Presidente da República e de outros políticos que não obtinham respostas, mas apenas conversa e teorias.

Dediquei por isso uma parte do meu domingo a tentar perceber o que se ensina e investiga na Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova, a mais qualificada escola da área e, nessa medida, a mais ativa na luta contra o Covid 19.

A razão desta preocupação é óbvia: apesar da falta de transparência na política portuguesa e em especial em tudo o que se refere às estratégias de luta contra a pandemia, começa a ser óbvio que Portugal (reconheço que não está sozinho…) é mais uma história de fracassos do que sucessos nas políticas de saúde públicas de luta contra a pandemia.

Se alguma coisa esta epidemia está a revelar, é que a única forma de a enfrentar exige uma abordagem multidisciplinar.

Permitam-me que cite o que disse aqui em 17 de março, ou seja antes do Estado de Emergência: O Governo tem afirmado que quer seguir o que dizem os especialistas. E por isso merece ou mereceria elogios. A surpresa é que não há sinais nem informação que o tenha feito no plano … das ciências da economia, sociologia, psicologia e finanças.

Isto foi dizer o óbvio. Mas, como é infelizmente habitual, o Governo e os seus técnicos não fizeram o que também seria óbvio: analisar a pandemia, o confinamento e a saída dele, a partir de todos esses pontos de vista desde o primeiro dia.

E não o fizeram porque, a olhar para o curriculum dos cursos de saúde púbica, neles não se estudam essas outras ciências que para pandemias são essenciais.

Estes são factos. E são causas.

PANDEMIA A DUAS VELOCIDADES

Também são factos que Portugal confinou “à bruta” (aparentemente) com base na necessidade de evitar o caos de Itália e Espanha nos hospitais e com a ambição de erradicar a pandemia da comunidade.

A necessidade era real e confinar foi fácil: basicamente, os portugueses que podiam fecharam-se em casa ainda antes do estado de emergência ser decretado em 18 de março.

Mas desde logo foi óbvio que esse sucesso era uma história mal contada: uma parte grande do País confinou e outra continuou a trabalhar sem nenhuma proteção (lembram-se de Graça Freitas a desaconselhar vivamente o uso de máscaras?), sobretudo fora de Lisboa.

Como disse aqui, em 14 de abril, “fora das grandes cidades as pessoas continuam a trabalhar e sem proteções agora possíveis (e não antes por erro das autoridades de saúde), seguramente mais de 2 milhões (serão filhos de um Deus menor?)”.

Ou seja, até para uma pessoa que não estudou saúde pública, como eu, era evidente o que ia acontecer.

A FALTA DE ESTRATÉGIA DE SAÚDE PÚBLICA DÁ CABO DA NOSSA RETOMA

O falhanço das políticas de saúde pública é patente. No dia 18 de março, ao começar o estado de emergência, deveria ter sido criado um grupo de trabalho multidisciplinar competente para organizar o desconfinamento.

Esse grupo deveria ter plenos poderes e antecipar que aumentariam os infetados e que muito infetados leves nunca deixaram de trabalhar.

E, mais, deviam antecipar que:

(i) as camionetas que levavam operários da construção civil desde março iriam espalhando a infeção, e

(ii) Os transportes públicos, depois do fim do confinamento, também.

Por isso deveriam ter criado regras, ter reunido com as empresas, impedir que os comboios se enchessem, aumentar – pagando como agora vai ser feito (e 10 milhões por mês) – a oferta de autocarros, não deixar entrar mais que a lotação usando para isso os polícias que andam pelas praias a aborrecer crianças que estejam a brincar.

E é espantoso que – sem pedir desculpa – o Secretário da Saúde tenha anunciado que só agora vai agora reunir com empresas de transportes.

E agora? Temos a retoma do turismo lixada, a nossa imagem externa de rastos, os lares de novo cheios de infetados, as populações a perderem a confiança no errático poder político, a injustiça social a aumentar e a divisão dos portugueses entre protegidos e desprotegidos pior do que antes.

O mal está feito. Mas uma nova equipa para gerir os próximos meses é melhor do que persistir no erro.

OS SEIS MESES ALEMÃES VÃO SALVAR A EUROPA?

Amanhã a Alemanha (ou seja, Merkel) vai passar a presidir 6 meses ao Conselho Europeu.

Ela está a chegar ao fim do seu consulado de 15 anos como Chanceler. Vai querer terminar de um modo que a História registará como – guardadas as distâncias – regista Churchill.

Merkel é poderosa e aplaudida na Alemanha, uma europeísta sincera e militante. Foi uma sorte que os acasos da rotatividade fossem assim. Se não for ela e a Alemanha a conseguirem, ninguém consegue.

Mas o que me assusta é o que ouvi Paulo Portas anunciar sem uma reação: Para os países frugais cederem, todo o pacote de subsídios vai ter de ser decidido em 2 anos, na esperança do que acabe a sobrar dinheiro.

Além de ser uma manhosice envergonhante, será um estímulo para “insiders” e aumenta a probabilidade de o dinheiro ser aplicado com critérios políticos que não ponderem a diferença entre os países.

ELOGIO

A Fernando Medina. Sei muito bem que não é fácil criticar. Mas para um político no ativo é muito mais difícil.

Este tipo de crises matam os dirigentes políticos que – como dizia o famoso Cândido de Oliveira dos treinadores de futebol - passam num instante de bestiais a bestas.

Disse isso há semanas com base num estudo de sondagens do Economist. Há dias um amigo enviou-me um estudo científico no mesmo sentido de dois reputados professores especializados em riscos sistémicos políticos.

Talvez António Costa, se souber reagir rápido, fique a dever muito a Medina.

LER É O MELHOR REMÉDIO

O editorial de Manuel Carvalho, no Público de Domingo, “abram as portas da reunião no Infarmed”, e o texto de Rui Pedro Antunes no Observador de 4ª feiras que escancarou as portas revelando o que se passou lá dentro; e que pelo caminho deixou mal colocado o Presidente da República que não contou à saída o que ouvira, assumindo talvez que as portas não se abririam.

A PERGUNTA SEM RESPOSTA

Li e ouvi, mas nem quis acreditar. Sabemos que autorizar sistemas (aliás voluntários) de localização de contactos por telemóvel é uma peça essencial da luta contra a pandemia.

Segundo parece, a Comissão Nacional de Proteção de Dados demorou várias semana

analisar um sistema e no final, com a sofisticação em empurrar com a barriga que daria o Prémio Nobel da Burocracia todos os anos a Portugal, fez mais perguntas.

Por isso a pergunta: os senhores comissários da proteção de dados sabem que há uma pandemia?

A. A LOUCURA MANSA

O Primeiro-Ministro está manifestamente aflito, e a situação não é para menos. Quando pessoas emotivas como ele se assustam, perdem a frieza e cometem erros.

Três exemplos:

(i) afirmar que antibióticos podem curar o Covid 19, mas foi no programa do Ricardo Araújo Pereira e por isso não conta;

(ii) chamar mentirosa à sua Ministra da Saúde, em frente da alta nobreza da República e de especialistas no Infarmed, mas aqui a loucura é que Marta Temido não retire disso as conclusões;

(iii) mas sobretudo dizer ao jornal Vanguardia que a situação que afeta 19 freguesias dos concelhos de Lisboa, Amadora, Odivelas, Sintra e Loures não tem qualquer relação com o centro da cidade de Lisboa onde serão disputados os jogos da principal competição de futebol da Europa.

Será que não sabe que há “google maps” em espanhol e catalão? E que Alvalade está ao pé de Odivelas e Benfica ao pé da Amadora?

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