Semana de decisões com dados em revisão e rondas de Marcelo

12-07-2020
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Com uma nova reunião técnica à porta, na qual são esperados indicadores que permitam perceber se o país deve ou não manter um desconfinamento a três velocidades, com 19 freguesias da Grande Lisboa em estado de calamidade, o ponto de situação sobre a covid-19 feito diariamente pela Direção-Geral da Saúde (DGS) sofreu alterações nos últimos dias e os dados disponíveis ao público são agora menos. Os dados por concelho não são atualizados desde sábado – alguns concelhos do Norte, como o Porto, não sofrem atualizações desde o início de junho –, bem como a idade dos novos doentes, o que a Direção-Geral da Saúde justificou ontem com a necessidade de afinar o reporte, que conta desde o início da epidemia com diferentes fontes de dados, dos médicos assistentes aos laboratórios. Continuam também por inserir nos boletins diários os 200 casos notificados no final da semana passada por um laboratório que esteve três dias sem fornecer informação à DGS. Deixou ainda de ser atualizado, no final de junho, o número de amostras colhidas diariamente para testes.

Na conferência de imprensa desta segunda-feira, a diretora-geral da Saúde e o secretário de Estado da Saúde asseguraram que os dados são fiáveis e o mais próximos possível da realidade, estando a ser feitos esforços para uma radiografia mais fina. Lacerda Sales deu exemplos de como outros países, como França ou Espanha, também fazem correções na informação: “Todos os países fazem estes ajustamentos, nós não somos nem piores nem melhores do que os outros países”, disse, sublinhando que o país tem menos óbitos, menos casos acumulados, menor pressão sobre o sistema de saúde e mais testes que a maioria dos outros países. Os internamentos por covid-19 têm aumentado, mas muito progressivamente. Em relação ao início do desconfinamento, a 4 de maio, registaram-se mais 18 mil novos casos no país e há agora 513 doentes internados com covid-19, menos 300 do que havia naquela altura, o que também estará ligado ao facto de ter havido um predomínio de pessoas mais jovens nos novos casos.

Ao mesmo tempo que os boletins são afinados – e, como o SOL noticiou, a DGS, após a saída da epidemiologista-chefe Rita Sá Machado, está agora a recorrer a uma empresa para fazer a análise dos dados da covid-19 –, a reunião marcada para quarta-feira está a ser precedida de reuniões para auscultar o que se passa no terreno.

Marcelo Rebelo de Sousa reuniu-se ontem com o Fórum Médico de Saúde Pública em videoconferência, na qual ouviu apelos a uma reforma da saúde pública e reforço de equipas, queixas sobre a situação laboral dos médicos, nomeadamente a ausência de pagamento do suplemento aos médicos em funções de autoridade de saúde, mas também recomendações sobre a situação atual do país.

Ao i, o bastonário dos médicos disse que as recomendações foram ouvidas atentamente pelo Presidente da República e lamentou que os profissionais de saúde no terreno tenham deixado de ser auscultados pelas autoridades de saúde – uma preocupação transmitida a Marcelo. “Uma coisa são os especialistas de epidemiologia que estão nos seus laboratórios mas não seguem doentes, não se apercebem das reais dificuldades. Outra coisa é falar com os médicos de saúde pública, com os médicos hospitalares, com os médicos de medicina geral e familiar, aliás, como aconteceu no início da epidemia. Nesta fase de desconfinamento, isto deixou de acontecer, quando é mais fácil confinar do que desconfinar. Todas as outras estruturas, da saúde às autarquias, tinham de manter o mesmo nível de envolvimento e prevenção”.

Miguel Guimarães defende a necessidade de dados mais claros, mas também de uma comunicação mais firme. “O sistema de informação tem de ser claro. A DGS e Governo podem desvalorizar, mas o primeiro-ministro não desvaloriza. A autoridade de saúde tem de dar dados para que o Governo possa tomar decisões com dados objetivos. Uma das recomendações que fizemos no início da epidemia foi que fossem mobilizados, por exemplo, estudantes de Medicina e introduzissem os dados com indicação dos médicos, e não fossem os especialistas a estar a fazer o reporte quando têm de estar a tratar doentes. Teria a vantagem de termos dados mais robustos. A verdade é que nunca aconteceu”, diz Miguel Guimarães.

“Já era tempo de alguém vir ao Algarve” Depois da reunião com as associações médicas, Marcelo rumou ao sul do país para um jantar de trabalho com presidentes das câmaras municipais do Algarve e da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA). E a iniciativa também foi bem recebida. “Já era tempo de vir à região do Algarve alguém ao mais alto nível. O Governo conhece a realidade que estamos a passar mas, na verdade, ainda ninguém tinha vindo ao terreno. Temos de ter consciência da importância do turismo para o país e do Algarve como a mais importante região do país para o setor”, disse ao i Elidérico Viegas, da AHETA. “Ficamos satisfeitos que o Presidente da República venha falar connosco e espero ter a oportunidade de lhe entregar um documento – que também já entreguei ao Governo – com um conjunto de propostas que considero importantes para superar a crise. São propostas que passam pelo alargamento das moratórias e do mecanismo de layoff simplificado, a suspensão dos pagamentos fiscais e à Segurança Social e até subvenções a fundo perdido para recuperar o setor do turismo”.

Também o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, coordenador da resposta à covid-19 na Região de Lisboa e Vale do Tejo, se reuniu ontem com as autoridades na Amadora e para esta terça-feira tem marcada uma reunião com os presidentes das comunidades intermunicipais do Oeste, Médio Tejo, Lezíria do Tejo e Leiria, para discutir a estratégia de prevenção e controlo da covid-19 nas atividades agrícolas. Ontem, Duarte Cordeiro revelou que novos casos e as infeções ativas estão a diminuir nos cinco concelhos da Área Metropolitana de Lisboa que inspiram mais preocupação, uma informação que não foi transmitida no briefing diário da DGS e que também não é possível extrair dos relatórios, uma vez que os novos casos nos concelhos não têm sido atualizados. Até sábado, Sintra e Lisboa mantinham-se os concelhos com mais novos casos no país. No briefing, o secretário de Estado da Saúde garantiu que a situação em Lisboa é de estabilidade com uma ligeira tendência decrescente. Nos últimos sete dias, de segunda-feira da semana passada até ontem, foram diagnosticados no país 2217 novos casos de covid-19, dos quais 1745 na região de Lisboa e Vale do Tejo, o que compara com 2051 nos sete dias anteriores. Acrescentando as 200 notificações que ainda não têm data imputada, o total de casos terá sido de 1945, verificando-se assim uma ligeira diminuição. Por outro lado, a região Norte que, segundo a última análise do INSA, tem o RT mais elevado (1,1), foram registados 265 novos casos, o que compara com 181 nos sete dias anteriores.

Com João Amaral Santos

Com uma nova reunião técnica à porta, na qual são esperados indicadores que permitam perceber se o país deve ou não manter um desconfinamento a três velocidades, com 19 freguesias da Grande Lisboa em estado de calamidade, o ponto de situação sobre a covid-19 feito diariamente pela Direção-Geral da Saúde (DGS) sofreu alterações nos últimos dias e os dados disponíveis ao público são agora menos. Os dados por concelho não são atualizados desde sábado – alguns concelhos do Norte, como o Porto, não sofrem atualizações desde o início de junho –, bem como a idade dos novos doentes, o que a Direção-Geral da Saúde justificou ontem com a necessidade de afinar o reporte, que conta desde o início da epidemia com diferentes fontes de dados, dos médicos assistentes aos laboratórios. Continuam também por inserir nos boletins diários os 200 casos notificados no final da semana passada por um laboratório que esteve três dias sem fornecer informação à DGS. Deixou ainda de ser atualizado, no final de junho, o número de amostras colhidas diariamente para testes.

Na conferência de imprensa desta segunda-feira, a diretora-geral da Saúde e o secretário de Estado da Saúde asseguraram que os dados são fiáveis e o mais próximos possível da realidade, estando a ser feitos esforços para uma radiografia mais fina. Lacerda Sales deu exemplos de como outros países, como França ou Espanha, também fazem correções na informação: “Todos os países fazem estes ajustamentos, nós não somos nem piores nem melhores do que os outros países”, disse, sublinhando que o país tem menos óbitos, menos casos acumulados, menor pressão sobre o sistema de saúde e mais testes que a maioria dos outros países. Os internamentos por covid-19 têm aumentado, mas muito progressivamente. Em relação ao início do desconfinamento, a 4 de maio, registaram-se mais 18 mil novos casos no país e há agora 513 doentes internados com covid-19, menos 300 do que havia naquela altura, o que também estará ligado ao facto de ter havido um predomínio de pessoas mais jovens nos novos casos.

Ao mesmo tempo que os boletins são afinados – e, como o SOL noticiou, a DGS, após a saída da epidemiologista-chefe Rita Sá Machado, está agora a recorrer a uma empresa para fazer a análise dos dados da covid-19 –, a reunião marcada para quarta-feira está a ser precedida de reuniões para auscultar o que se passa no terreno.

Marcelo Rebelo de Sousa reuniu-se ontem com o Fórum Médico de Saúde Pública em videoconferência, na qual ouviu apelos a uma reforma da saúde pública e reforço de equipas, queixas sobre a situação laboral dos médicos, nomeadamente a ausência de pagamento do suplemento aos médicos em funções de autoridade de saúde, mas também recomendações sobre a situação atual do país.

Ao i, o bastonário dos médicos disse que as recomendações foram ouvidas atentamente pelo Presidente da República e lamentou que os profissionais de saúde no terreno tenham deixado de ser auscultados pelas autoridades de saúde – uma preocupação transmitida a Marcelo. “Uma coisa são os especialistas de epidemiologia que estão nos seus laboratórios mas não seguem doentes, não se apercebem das reais dificuldades. Outra coisa é falar com os médicos de saúde pública, com os médicos hospitalares, com os médicos de medicina geral e familiar, aliás, como aconteceu no início da epidemia. Nesta fase de desconfinamento, isto deixou de acontecer, quando é mais fácil confinar do que desconfinar. Todas as outras estruturas, da saúde às autarquias, tinham de manter o mesmo nível de envolvimento e prevenção”.

Miguel Guimarães defende a necessidade de dados mais claros, mas também de uma comunicação mais firme. “O sistema de informação tem de ser claro. A DGS e Governo podem desvalorizar, mas o primeiro-ministro não desvaloriza. A autoridade de saúde tem de dar dados para que o Governo possa tomar decisões com dados objetivos. Uma das recomendações que fizemos no início da epidemia foi que fossem mobilizados, por exemplo, estudantes de Medicina e introduzissem os dados com indicação dos médicos, e não fossem os especialistas a estar a fazer o reporte quando têm de estar a tratar doentes. Teria a vantagem de termos dados mais robustos. A verdade é que nunca aconteceu”, diz Miguel Guimarães.

“Já era tempo de alguém vir ao Algarve” Depois da reunião com as associações médicas, Marcelo rumou ao sul do país para um jantar de trabalho com presidentes das câmaras municipais do Algarve e da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA). E a iniciativa também foi bem recebida. “Já era tempo de vir à região do Algarve alguém ao mais alto nível. O Governo conhece a realidade que estamos a passar mas, na verdade, ainda ninguém tinha vindo ao terreno. Temos de ter consciência da importância do turismo para o país e do Algarve como a mais importante região do país para o setor”, disse ao i Elidérico Viegas, da AHETA. “Ficamos satisfeitos que o Presidente da República venha falar connosco e espero ter a oportunidade de lhe entregar um documento – que também já entreguei ao Governo – com um conjunto de propostas que considero importantes para superar a crise. São propostas que passam pelo alargamento das moratórias e do mecanismo de layoff simplificado, a suspensão dos pagamentos fiscais e à Segurança Social e até subvenções a fundo perdido para recuperar o setor do turismo”.

Também o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, coordenador da resposta à covid-19 na Região de Lisboa e Vale do Tejo, se reuniu ontem com as autoridades na Amadora e para esta terça-feira tem marcada uma reunião com os presidentes das comunidades intermunicipais do Oeste, Médio Tejo, Lezíria do Tejo e Leiria, para discutir a estratégia de prevenção e controlo da covid-19 nas atividades agrícolas. Ontem, Duarte Cordeiro revelou que novos casos e as infeções ativas estão a diminuir nos cinco concelhos da Área Metropolitana de Lisboa que inspiram mais preocupação, uma informação que não foi transmitida no briefing diário da DGS e que também não é possível extrair dos relatórios, uma vez que os novos casos nos concelhos não têm sido atualizados. Até sábado, Sintra e Lisboa mantinham-se os concelhos com mais novos casos no país. No briefing, o secretário de Estado da Saúde garantiu que a situação em Lisboa é de estabilidade com uma ligeira tendência decrescente. Nos últimos sete dias, de segunda-feira da semana passada até ontem, foram diagnosticados no país 2217 novos casos de covid-19, dos quais 1745 na região de Lisboa e Vale do Tejo, o que compara com 2051 nos sete dias anteriores. Acrescentando as 200 notificações que ainda não têm data imputada, o total de casos terá sido de 1945, verificando-se assim uma ligeira diminuição. Por outro lado, a região Norte que, segundo a última análise do INSA, tem o RT mais elevado (1,1), foram registados 265 novos casos, o que compara com 181 nos sete dias anteriores.

Com João Amaral Santos

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