Portugal no meio da guerra EUA/China: metal está a sofrer, calçado bate recorde

24-01-2020
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As campainhas de alarme soaram em Portugal logo ao primeiro indício de guerra comercial entre Washington e Pequim e, nos sectores exportadores, os empresários habituaram-se rapidamente a seguir os tweets do presidente americano, Donald Trump, como um indicador de desconfiança ou instabilidade económica. “Apreensão” foi a palavra mais ouvida sempre que se faziam previsões e, no balanço final, o metal luso não tem dúvidas de que ficou a perder com a escalada da tensão comercial entre os dois países.

“Até novembro, a China (€226 milhões) caiu 46,9% e os EUA (€429 milhões) 7,6%”, refere Rafael Campos Pereira, vice-presidente da associação empresarial do sector, AIMMAP, certo de que a guerra comercial pesou neste cenário e obrigou o sector campeão das exportações nacionais a compensar perdas noutras geografias como o Canadá, onde deu um salto de 340%, para os €78,3 milhões. Só assim, a fileira fechou os primeiros 11 meses do ano com um crescimento de 11% nas vendas na frente internacional, para os €18 mil milhões.

Do lado oposto da balança, está a indústria do calçado. Em contraciclo com a quebra de 6% nas suas exportações totais, antecipa “o melhor ano de sempre nos dois países”. Nos EUA, o maior importador de sapatos do mundo, escolhido como alvo prioritário da sua ofensiva internacional, novembro fechou nos €80 milhões (+24%), enquanto na China, o maior exportador mundial do sector, a subida é de 14% (€24 milhões).

“Se o acordo comercial com a União Europeia tivesse avançado, o crescimento nos EUA seria ainda mais acentuado”, comenta Paulo Gonçalves, diretor de comunicação da associação sectorial APICCAPS, sublinhando que o preço médio por par na exportação é de €23, mas ronda os €37 na América do Norte e já atinge os €43 na China.

Somados todos os sectores, as vendas para os EUA cresceram 3,8% em 2019, para os €2,7 mil milhões, mantendo o país como o quinto maior mercado, com uma quota de 5% no final de novembro. Em sentido contrário, a China, com uma quota de 1%, caiu 10%, para os €533 milhões e desceu de 13º para 15º mercado.

A surpresa dos automóveis

Estatísticas à parte, todos os sectores são unânimes em considerar que “uma guerra comercial tem sempre efeitos colaterais”, como diz João Rui Correia, presidente da APCOR, a associação industrial da cortiça. O sector caiu 4% em França (€146 milhões) e 2% nos EUA (€140 milhões), os seus dois principais mercados, mais pela quebra na produção vitivinícola mundial de 2017 do que pela guerra comercial, mas a decisão da Administração Trump de taxar vinhos europeus causa “apreensão óbvia”, apesar de a cortiça ser cada vez mais procurada por todos os sectores e estar a crescer em países como a Austrália.

Razões para brindar aos EUA e à China em 2019 parecem ter os vinhos portugueses, com crescimentos de 4,3% e 12,5%, respetivamente, no final de outubro. A Aveleda, que tem no Casal Garcia o vinho português mais vendido nos EUA, fala mesmo de “um bom ano” marcado por um crescimento de 4%, do outro lado do Atlântico, onde garante 17% das suas vendas.

Para a fileira têxtil, a perder 1% nas exportações totais, os EUA também são um mercado vencedor (+6,4%) e apresentam o maior crescimento absoluto (€19 milhões), com os têxteis-lar a dispararem 8,5% e o vestuário a ganhar 6,3%.

“O ano acabou com um crescimento surpreendente, EUA incluídos”, comenta José Couto, presidente da AFIA, a associação que junta os fabricantes para a indústria automóvel. Num sector que vende 90% do que faz na Europa, 2019 fechou com um salto de 3% nas exportações, para os €9,7 mil milhões. Os EUA, o seu maior mercado extracomunitário, cresceram 50% e têm, agora, uma quota de 6%. “A guerra comercial e os limites às importações da China levaram os americanos a comprar mais em Portugal? Não sei. Acredito que a qualidade e competitividade do made in Portugal também os está a levar a escolherem as nossas empresas”, diz José Couto.

As campainhas de alarme soaram em Portugal logo ao primeiro indício de guerra comercial entre Washington e Pequim e, nos sectores exportadores, os empresários habituaram-se rapidamente a seguir os tweets do presidente americano, Donald Trump, como um indicador de desconfiança ou instabilidade económica. “Apreensão” foi a palavra mais ouvida sempre que se faziam previsões e, no balanço final, o metal luso não tem dúvidas de que ficou a perder com a escalada da tensão comercial entre os dois países.

“Até novembro, a China (€226 milhões) caiu 46,9% e os EUA (€429 milhões) 7,6%”, refere Rafael Campos Pereira, vice-presidente da associação empresarial do sector, AIMMAP, certo de que a guerra comercial pesou neste cenário e obrigou o sector campeão das exportações nacionais a compensar perdas noutras geografias como o Canadá, onde deu um salto de 340%, para os €78,3 milhões. Só assim, a fileira fechou os primeiros 11 meses do ano com um crescimento de 11% nas vendas na frente internacional, para os €18 mil milhões.

Do lado oposto da balança, está a indústria do calçado. Em contraciclo com a quebra de 6% nas suas exportações totais, antecipa “o melhor ano de sempre nos dois países”. Nos EUA, o maior importador de sapatos do mundo, escolhido como alvo prioritário da sua ofensiva internacional, novembro fechou nos €80 milhões (+24%), enquanto na China, o maior exportador mundial do sector, a subida é de 14% (€24 milhões).

“Se o acordo comercial com a União Europeia tivesse avançado, o crescimento nos EUA seria ainda mais acentuado”, comenta Paulo Gonçalves, diretor de comunicação da associação sectorial APICCAPS, sublinhando que o preço médio por par na exportação é de €23, mas ronda os €37 na América do Norte e já atinge os €43 na China.

Somados todos os sectores, as vendas para os EUA cresceram 3,8% em 2019, para os €2,7 mil milhões, mantendo o país como o quinto maior mercado, com uma quota de 5% no final de novembro. Em sentido contrário, a China, com uma quota de 1%, caiu 10%, para os €533 milhões e desceu de 13º para 15º mercado.

A surpresa dos automóveis

Estatísticas à parte, todos os sectores são unânimes em considerar que “uma guerra comercial tem sempre efeitos colaterais”, como diz João Rui Correia, presidente da APCOR, a associação industrial da cortiça. O sector caiu 4% em França (€146 milhões) e 2% nos EUA (€140 milhões), os seus dois principais mercados, mais pela quebra na produção vitivinícola mundial de 2017 do que pela guerra comercial, mas a decisão da Administração Trump de taxar vinhos europeus causa “apreensão óbvia”, apesar de a cortiça ser cada vez mais procurada por todos os sectores e estar a crescer em países como a Austrália.

Razões para brindar aos EUA e à China em 2019 parecem ter os vinhos portugueses, com crescimentos de 4,3% e 12,5%, respetivamente, no final de outubro. A Aveleda, que tem no Casal Garcia o vinho português mais vendido nos EUA, fala mesmo de “um bom ano” marcado por um crescimento de 4%, do outro lado do Atlântico, onde garante 17% das suas vendas.

Para a fileira têxtil, a perder 1% nas exportações totais, os EUA também são um mercado vencedor (+6,4%) e apresentam o maior crescimento absoluto (€19 milhões), com os têxteis-lar a dispararem 8,5% e o vestuário a ganhar 6,3%.

“O ano acabou com um crescimento surpreendente, EUA incluídos”, comenta José Couto, presidente da AFIA, a associação que junta os fabricantes para a indústria automóvel. Num sector que vende 90% do que faz na Europa, 2019 fechou com um salto de 3% nas exportações, para os €9,7 mil milhões. Os EUA, o seu maior mercado extracomunitário, cresceram 50% e têm, agora, uma quota de 6%. “A guerra comercial e os limites às importações da China levaram os americanos a comprar mais em Portugal? Não sei. Acredito que a qualidade e competitividade do made in Portugal também os está a levar a escolherem as nossas empresas”, diz José Couto.

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