Costa e Pedro Nuno Santos: duas horas de visita, dois minutos de conversa e mais de dois metros de distância

17-06-2020
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A distância de segurança aconselhada entre pessoas é de pelo menos dois metros. António Costa e Pedro Nuno Santos levam a sério as recomendações da Direcção-Geral da Saúde e raros foram os momentos em que quebraram as regras, numa longa visita ao Aeroporto Humberto Delgado esta sexta-feira. O distanciamento físico dá mostras que a proximidade política já teve os seus dias. Agora, marcaram juntos uma visita ao aeroporto de Lisboa, mas o que podia ser um momento para mostra de unidade entre os dois, numa altura em que o Governo tem uma dura negociação com os privados da TAP, acabou por ser um exemplo perfeito de distanciamento social. Em duas horas, conversaram dois minutos. Sobre a TAP nem uma palavra.

A longa comitiva dirigia-se para os carros quando o primeiro-ministro lançou uma graçola (não audível) ao seu ministro das Infra-estruturas e Habitação. Foi ali, já em pé de corrida para os carros, que ficaram os dois a conversar sobre algum assunto da governação, já que a única coisa que foi possível ouvir envolvia o nome de Mário Centeno. Ao longo das duas horas que durou a visita, foi a única interacção directa entre os dois. De resto, Costa fez uma intervenção e Pedro Nuno ouviu. E Pedro Nuno lançou apartes durante uma explicação sobre as obras do aeroporto - uma das suas vitórias enquanto ministro - e Costa pouco interagiu.

Pelo meio ouviu-se o chairman da ANA, José Luís Arnaut, pedir ao primeiro-ministro ajuda para que o Aeroporto militar de Figo Maduro mude mais para o lado, para que a expansão se possa concluir: "Se conseguir convencer os seus militares a sair, fazemos uma coisa ali", disse.

A visita marcada na véspera tinha como objetivo que os dois fossem ver como está a funcionar o Aeroporto Humberto Delgado, em véspera de alargamento dos voos e de reabertura das fronteiras abertas. Dispensadores de gel, sacos de plástico para evitar que se toque em produtos de forma desnecessária, informatização para que se diminua o contacto entre passageiros e tripulação, máquinas que detectam alterações de temperatura ou robots de limpeza com luzes ultravioleta estavam lá para abrilhantar uma visita que se queria asséptica, também politicamente.

Costa e Pedro Nuno Santos ainda foram espreitar as obras de alargamento do Aeroporto Humberto Delgado, mas não se pense que andaram lado a lado, como é mais costume ver nas visitas com governantes. O primeiro-ministro esteve quase sempre acompanhado pelos responsáveis da Vinci (dona da ANA), Nicolas Notebaert, da Vinci geral que veio de propósito a Portugal para a visita, e por Thierry Ligonnière, CEO da Vinci para Portugal. O ministro, que andou quase sempre na segunda fila, esteve mais acompanhado por José Luís Arnaut, que já lhe teceu elogios públicos, e pelo ministro de Estado e da Economia, Pedro Siza Vieira.

Na visita, Costa não falou aos jornalistas, discursou. E no discurso referiu-se apenas aos aeroportos (aos dois de Lisboa) sem nunca falar no tema quente da atualidade, a TAP. A mensagem que queria passar era a de que os aeroportos estão preparados para receber a abertura de fronteiras já no dia 15: "É muito importante que estejamos preparados. A partir de 15 de Junho vão ser reativadas rotas, vão ser reabertas fronteiras e será feito um esforço coletivo no quadro da União Europeia para que o turismo retome em pleno a sua atividade. (...) Há um trabalho a fazer com as companhias de aviação, mas os aeroportos são um ponto absolutamente fulcral. As garantias de higienização e normas de segurança nos aeroportos são a maior garantia que a reabertura do tráfego não é um fator de risco não controlado”, disse.

Além deste ponto imediato, António Costa queria reforçar naquele local que a pandemia não o fez desistir de ter um novo aeroporto na capital. Nem à Vinci. Apesar da quebra de faturação, Nicolas Notebaert, garantiu que a empresa pretende "ficar ao lado do país", selando o "compromisso de construir o aeroporto do Montijo". Costa ouviu e agradeceu: "Num momento de grande incerteza, quando a esmagadora maioria dos aviões está em terra e quando o tráfego aeroportuário caiu de forma radical, o compromisso firme da Vinci de afirmar que se vai mesmo avançar com a construção do novo aeroporto no Montijo é um gesto de confiança no futuro do país", disse.

A construção do novo aeroporto é um dos trabalhos do ministro das Infra-estruturas que, antes da pandemia, encheu páginas de jornal. Neste ponto os dois governantes apareceram alinhados. Já na TAP, falaram com diferentes tons, apesar de no conteúdo não haver grande divergência. Mas o Aeroporto do Montijo tem ainda nós por desatar. Os autarcas da Moita e do Seixal continuam a dar parecer negativo à realização da obra e sem esse parecer, ou o Governo consegue alterar a lei (com o PSD), ou a obra dificilmente consegue luz verde. Mas o primeiro-ministro acredita que será possível.

"O futuro será seguramente diferente daquilo que foi o passado, mas o futuro vai contar com o novo aeroporto do Montijo", disse. Resta saber se o futuro também trará uma aproximação entre os dois governantes. Para já estão no mesmo sítio e lado a lado, mas a mais de dois metros de distância.

A distância de segurança aconselhada entre pessoas é de pelo menos dois metros. António Costa e Pedro Nuno Santos levam a sério as recomendações da Direcção-Geral da Saúde e raros foram os momentos em que quebraram as regras, numa longa visita ao Aeroporto Humberto Delgado esta sexta-feira. O distanciamento físico dá mostras que a proximidade política já teve os seus dias. Agora, marcaram juntos uma visita ao aeroporto de Lisboa, mas o que podia ser um momento para mostra de unidade entre os dois, numa altura em que o Governo tem uma dura negociação com os privados da TAP, acabou por ser um exemplo perfeito de distanciamento social. Em duas horas, conversaram dois minutos. Sobre a TAP nem uma palavra.

A longa comitiva dirigia-se para os carros quando o primeiro-ministro lançou uma graçola (não audível) ao seu ministro das Infra-estruturas e Habitação. Foi ali, já em pé de corrida para os carros, que ficaram os dois a conversar sobre algum assunto da governação, já que a única coisa que foi possível ouvir envolvia o nome de Mário Centeno. Ao longo das duas horas que durou a visita, foi a única interacção directa entre os dois. De resto, Costa fez uma intervenção e Pedro Nuno ouviu. E Pedro Nuno lançou apartes durante uma explicação sobre as obras do aeroporto - uma das suas vitórias enquanto ministro - e Costa pouco interagiu.

Pelo meio ouviu-se o chairman da ANA, José Luís Arnaut, pedir ao primeiro-ministro ajuda para que o Aeroporto militar de Figo Maduro mude mais para o lado, para que a expansão se possa concluir: "Se conseguir convencer os seus militares a sair, fazemos uma coisa ali", disse.

A visita marcada na véspera tinha como objetivo que os dois fossem ver como está a funcionar o Aeroporto Humberto Delgado, em véspera de alargamento dos voos e de reabertura das fronteiras abertas. Dispensadores de gel, sacos de plástico para evitar que se toque em produtos de forma desnecessária, informatização para que se diminua o contacto entre passageiros e tripulação, máquinas que detectam alterações de temperatura ou robots de limpeza com luzes ultravioleta estavam lá para abrilhantar uma visita que se queria asséptica, também politicamente.

Costa e Pedro Nuno Santos ainda foram espreitar as obras de alargamento do Aeroporto Humberto Delgado, mas não se pense que andaram lado a lado, como é mais costume ver nas visitas com governantes. O primeiro-ministro esteve quase sempre acompanhado pelos responsáveis da Vinci (dona da ANA), Nicolas Notebaert, da Vinci geral que veio de propósito a Portugal para a visita, e por Thierry Ligonnière, CEO da Vinci para Portugal. O ministro, que andou quase sempre na segunda fila, esteve mais acompanhado por José Luís Arnaut, que já lhe teceu elogios públicos, e pelo ministro de Estado e da Economia, Pedro Siza Vieira.

Na visita, Costa não falou aos jornalistas, discursou. E no discurso referiu-se apenas aos aeroportos (aos dois de Lisboa) sem nunca falar no tema quente da atualidade, a TAP. A mensagem que queria passar era a de que os aeroportos estão preparados para receber a abertura de fronteiras já no dia 15: "É muito importante que estejamos preparados. A partir de 15 de Junho vão ser reativadas rotas, vão ser reabertas fronteiras e será feito um esforço coletivo no quadro da União Europeia para que o turismo retome em pleno a sua atividade. (...) Há um trabalho a fazer com as companhias de aviação, mas os aeroportos são um ponto absolutamente fulcral. As garantias de higienização e normas de segurança nos aeroportos são a maior garantia que a reabertura do tráfego não é um fator de risco não controlado”, disse.

Além deste ponto imediato, António Costa queria reforçar naquele local que a pandemia não o fez desistir de ter um novo aeroporto na capital. Nem à Vinci. Apesar da quebra de faturação, Nicolas Notebaert, garantiu que a empresa pretende "ficar ao lado do país", selando o "compromisso de construir o aeroporto do Montijo". Costa ouviu e agradeceu: "Num momento de grande incerteza, quando a esmagadora maioria dos aviões está em terra e quando o tráfego aeroportuário caiu de forma radical, o compromisso firme da Vinci de afirmar que se vai mesmo avançar com a construção do novo aeroporto no Montijo é um gesto de confiança no futuro do país", disse.

A construção do novo aeroporto é um dos trabalhos do ministro das Infra-estruturas que, antes da pandemia, encheu páginas de jornal. Neste ponto os dois governantes apareceram alinhados. Já na TAP, falaram com diferentes tons, apesar de no conteúdo não haver grande divergência. Mas o Aeroporto do Montijo tem ainda nós por desatar. Os autarcas da Moita e do Seixal continuam a dar parecer negativo à realização da obra e sem esse parecer, ou o Governo consegue alterar a lei (com o PSD), ou a obra dificilmente consegue luz verde. Mas o primeiro-ministro acredita que será possível.

"O futuro será seguramente diferente daquilo que foi o passado, mas o futuro vai contar com o novo aeroporto do Montijo", disse. Resta saber se o futuro também trará uma aproximação entre os dois governantes. Para já estão no mesmo sítio e lado a lado, mas a mais de dois metros de distância.

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