O “eixo suicida” da Cimeira do Clima em Madrid e o “pingue-pongue extremista” que ali se jogou

17-12-2019
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Uma das frases que mais se tem ouvido nas últimas horas a respeito da Cimeira do Clima em Madrid é “oportunidade perdida” — usou-a o secretário-geral da ONU, António Guterres, e usou-a o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, embora recorrendo a sinónimos — mas para João Camargo, investigador em alterações climáticas e ativista do coletivo Climáximo, essa e outras fases “não significam nada porque todas as cimeiras do clima são oportunidades perdidas e não demonstram qualquer ambição para resolver a crise climática”. “Há mais de uma décadas que palavras como essas são vazias, até mesmo o Acordo de Paris foi pouco para o que é necessário, e naturalmente que os que mais beneficiam com a indústria e a economia tal como elas estão construídas bloqueiam qualquer tentativa de resolver o problema. São sabotadores.”

Uma das principais prioridades da cimeira que terminou no domingo passado era levar os líderes dos 193 Estados-membros que nela participaram a comprometerem-se com metas mais ambiciosas no que diz respeito à redução das emissões de gases com efeito de estufa, mas só em parte esse objetivo foi alcançado. “Os países mais pobres e com menos responsabilidades na crise climática estão a fazer um enorme esforço que tem sido deitado ao lixo pelos outros. O Brasil e a China recusaram-se a melhor as suas propostas”, diz João Camargo, referindo-se à existência de uma “espécie de eixo-suicida, formado pelos EUA, Rússia e Arábia Saudita, que só participam nas negociações de corpo presente ou para boicotar ativamente qualquer acordo”. No caso dos EUA, “esse papel foi desempenhado de forma bastante assustadora”. Depois, “há uma espécie de pingue-pongue extremista entre os países mais ricos, de um lado os EUA e a Rússia, e do outro a China e a Índia, cada um atirando as culpas sobre o outro a respeito da não redução de emissões”. “Não houve nada de particularmente novo nesta cimeira e só pode ficar desiludido quem criou ilusões”, sublinha o investigador, para quem os movimentos pela justiça climática “não devem depositar fé nos processos institucionais”. “Esses movimentos não devem depositar qualquer fé nos processos institucionais. 30 anos provam que isso é pôr fichas no cavalo errado.”

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Uma das frases que mais se tem ouvido nas últimas horas a respeito da Cimeira do Clima em Madrid é “oportunidade perdida” — usou-a o secretário-geral da ONU, António Guterres, e usou-a o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, embora recorrendo a sinónimos — mas para João Camargo, investigador em alterações climáticas e ativista do coletivo Climáximo, essa e outras fases “não significam nada porque todas as cimeiras do clima são oportunidades perdidas e não demonstram qualquer ambição para resolver a crise climática”. “Há mais de uma décadas que palavras como essas são vazias, até mesmo o Acordo de Paris foi pouco para o que é necessário, e naturalmente que os que mais beneficiam com a indústria e a economia tal como elas estão construídas bloqueiam qualquer tentativa de resolver o problema. São sabotadores.”

Uma das principais prioridades da cimeira que terminou no domingo passado era levar os líderes dos 193 Estados-membros que nela participaram a comprometerem-se com metas mais ambiciosas no que diz respeito à redução das emissões de gases com efeito de estufa, mas só em parte esse objetivo foi alcançado. “Os países mais pobres e com menos responsabilidades na crise climática estão a fazer um enorme esforço que tem sido deitado ao lixo pelos outros. O Brasil e a China recusaram-se a melhor as suas propostas”, diz João Camargo, referindo-se à existência de uma “espécie de eixo-suicida, formado pelos EUA, Rússia e Arábia Saudita, que só participam nas negociações de corpo presente ou para boicotar ativamente qualquer acordo”. No caso dos EUA, “esse papel foi desempenhado de forma bastante assustadora”. Depois, “há uma espécie de pingue-pongue extremista entre os países mais ricos, de um lado os EUA e a Rússia, e do outro a China e a Índia, cada um atirando as culpas sobre o outro a respeito da não redução de emissões”. “Não houve nada de particularmente novo nesta cimeira e só pode ficar desiludido quem criou ilusões”, sublinha o investigador, para quem os movimentos pela justiça climática “não devem depositar fé nos processos institucionais”. “Esses movimentos não devem depositar qualquer fé nos processos institucionais. 30 anos provam que isso é pôr fichas no cavalo errado.”

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