Caso SEF. "Entendi que o Presidente não deveria pegar no telefone e ligar para a Ucrânia"

14-12-2020
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A um mês e meio das eleições presidenciais, Marcelo Rebelo de Sousa esteve esta sexta-feira no Jornal da Noite para a primeira entrevista desde que anunciou que é recandidato à Presidência da República. O caso SEF, a pandemia, a TAP e a recandidatura a Belém foram alguns dos assuntos abordados na entrevista.

Silêncio no caso SEF

Marcelo Rebelo de Sousa explica que não fala sobre casos que estão a sob investigação criminal e que, por isso, não se referiu publicamente ao caso de agressão e homicídio de Ihor Homeniúk, o cidadão ucraniano que morreu no aeroporto de Lisboa, em março.

“Não vou antecipar o julgamento dos tribunais”, disse o Presidente da República sublinhando que é seu princípio não tomar posição publicamente quando os processos estão em curso. No entanto, Ricardo Costa lembra que nos casos de Pedrógão e Borba o Chefe de Estado não cumpriu o princípio que invoca agora.

Em entrevista à SIC, o Presidente da Republica reforça que falou sobre o caso em abril, discutiu o assunto com o primeiro-ministro “inúmeras vezes", mas que achou que não devia trazer as conversas a público. Marcelo acrescentou ainda que, depois de ter referido do assunto em maio, nenhum jornalista o questionou sobre o caso nos meses seguintes.

Quando confrontado com as notas de pesar da Presidência da República sobre a morte dos cantores David Bowie, Prince e George Michael, e a ausência de qualquer referência ao caso de Ihor Homeniúk, Marcelo afirmou que nunca contactou “nem com vítimas nem com familiares”

"Entendi que o Presidente de Portugal não deveria pegar no telefone e ligar para a Ucrânia e abrir uma exceção ao seu procedimento em Portugal", disse acrescentando que isso seria visto “como uma imiscuição na atividade de outras autoridades portuguesa e uma antecipação de juízo sobre aquela matéria”.

Sobre a demissão de Eduardo Cabrita, Marcelo lembra as declarações de António Costa, onde diz ter confiança no ministro da Administração Interna.

"O ministro não apresentou pedido de demissão. O Presidente da Republica, como sabe exonera ministros ou secretários de Estado por proposta do primeiro-ministro", afirma o Chefe de Estado

Reestruturação da TAP e auditoria ao Novo Banco

Marcelo Rebelo de Sousa diz que ainda não recebeu o plano de reestruturação que foi apresentado na Assembleia da República e em Bruxelas, mas afirma ter noção da gravidade do que a TAP poderá estar a enfrentar.

O Presidente considera que “tem de se fazer uma reestruturação e tem de se pagar o preço dessa reestruturação”, porque a companhia aérea é “um dos vínculos das nossas comunidades portuguesas”. O Chefe de Estado considera que este processo é da responsabilidade do Governo e tem passagem obrigatória por Bruxelas.

“A Assembleia tem uma palavra a dizer sim, se houver deduções orçamentais”, esclareceu.

Questionado sobre a auditoria ao Novo Banco, Marcelo afirma que se referia à auditoria de Delloite e não à do Tribunal de Contas (TdC). Sobre as competências do TdC para realizar esta auditoria, o Presidente diz que não lhe foi pedida opinião.

“Foi uma decisão tomada por quem a podia tomar. Não pediram a opinião do Presidente da República. Obviamente que o Tribunal de Contas tem limites, com o devido respeito, relativamente a uma matéria tão sofisticada como esta”, disse o Chefe de Estado.

Falta de vacinas da gripe e gestão da pandemia

O Chefe de Estado afirma que, no caso da falta de vacinas para a gripe, se baseou nas informações dadas pela ministra da Saúde e, quando se apercebeu que o número de doses não era suficiente para todos os portugueses, assumiu publicamente a responsabilidade.

“Quando tenho a ministra da Saúde que garante perante mim e os portugueses que neste momento há vacinas para todos e estão vacinados até dezembro, eu propriamente achei que era de acreditar na ministra que estava ali a assumir um compromisso público”, esclareceu o Presidente

Com a chegada das vacinas contra a covid-19, e com a possibilidade de estas também faltarem, Marcelo lembra que “há vacinas que estão atrasadas” e que não se pode contar que estejam disponíveis no início de janeiro - como é o caso da AstraZeneca, Johnson&Johnson e da Moderna.

A expectativa criada nos portugueses sobre a vacinação contra o novo coronavírus é uma das preocupações do Presidente, que garante falar regularmente com o primeiro-ministro sobre esse assunto. Marcelo lembra que a vacinação só ocorre quando é tomada a segunda dose.

“Sei que é uma coisa que preocupa o primeiro-ministro, não criar expectativas elevadas”, avança Marcelo.

A permanência de Portugal no estado de emergência foi também uma questão colocada ao Presidente da República, que considera que a normalidade só poderá acontecer “quando os números de casos forem sendo reduzidos a tal ponto que a sua projeção nos internamentos e cuidados intensivos permita considerar a realidade estabilizada sem risco de disparar a situação [pandémica]”.

Candidatura a Belém e os novos partidos à direita

Mesmo liderando as intenções de voto para as Presidenciais, Marcelo tem vindo a perder popularidade nos últimos meses. Enquanto candidato, sabe que não irá atingir o valor histórico que Mário Soares conseguiu nas Presidenciais de 1991, ou seja os 70% de votos.

“Mário soares é irrepetível. Ninguém teve o passado dele durante a ditadura, na revolução e depois da revolução”, diz o Chefe de Estado reforçando que, “logo aí dava uma abada”.

Para além disso, o Presidente afirma que a pandemia é também um fator que poderá baixar a percentagem de votos, quando comparado com o histórico líder socialista. No entanto, Marcelo relembra os consensos que conseguiu atingir neste mandato.

“Consegui pegar num país dividido em dois hemisférios que se odiavam deixaram de se odiar assim tanto”, disse sublinhando que “mal ou bem os consensos fundamentais foram conseguidos”.

O Presidente considera que quando há um crise política no Governo apoiado à esquerda é necessário haver uma alternativa à direita que tenha “vigor suficiente para a substituir”. Sobre o aparecimento do Chega, o Chefe de Estado sublinha que avisou para a criação de partidos anti-sistema.

“A resposta depende dos outros partidos que estão na direita ou na esquerda, que podem querer maximizar o peso do novo partido” caso o convertam “no centro das suas estratégias”, disse Marcelo.

Sondagem SIC/Expresso: Marcelo com 66% das intenções de voto

Uma sondagem do ICS e do ISCTE feita para a SIC e para o Expresso aponta para uma vitória folgada de Marcelo Rebelo de Sousa nas eleições presidenciais, com 66% das intenções de voto.

Ana Gomes mantém o segundo lugar com apenas quatro pontos de vantagem sobre André Ventura, que continua à frente de Marisa Matias e João Ferreira.

O estudo revela ainda que quase 80% dos inquiridos estão satisfeitos com o desempenho de Marcelo Rebelo de Sousa nos últimos cinco anos.

As eleições presidenciais de 2021 realizam-se em 24 de janeiro.

A um mês e meio das eleições presidenciais, Marcelo Rebelo de Sousa esteve esta sexta-feira no Jornal da Noite para a primeira entrevista desde que anunciou que é recandidato à Presidência da República. O caso SEF, a pandemia, a TAP e a recandidatura a Belém foram alguns dos assuntos abordados na entrevista.

Silêncio no caso SEF

Marcelo Rebelo de Sousa explica que não fala sobre casos que estão a sob investigação criminal e que, por isso, não se referiu publicamente ao caso de agressão e homicídio de Ihor Homeniúk, o cidadão ucraniano que morreu no aeroporto de Lisboa, em março.

“Não vou antecipar o julgamento dos tribunais”, disse o Presidente da República sublinhando que é seu princípio não tomar posição publicamente quando os processos estão em curso. No entanto, Ricardo Costa lembra que nos casos de Pedrógão e Borba o Chefe de Estado não cumpriu o princípio que invoca agora.

Em entrevista à SIC, o Presidente da Republica reforça que falou sobre o caso em abril, discutiu o assunto com o primeiro-ministro “inúmeras vezes", mas que achou que não devia trazer as conversas a público. Marcelo acrescentou ainda que, depois de ter referido do assunto em maio, nenhum jornalista o questionou sobre o caso nos meses seguintes.

Quando confrontado com as notas de pesar da Presidência da República sobre a morte dos cantores David Bowie, Prince e George Michael, e a ausência de qualquer referência ao caso de Ihor Homeniúk, Marcelo afirmou que nunca contactou “nem com vítimas nem com familiares”

"Entendi que o Presidente de Portugal não deveria pegar no telefone e ligar para a Ucrânia e abrir uma exceção ao seu procedimento em Portugal", disse acrescentando que isso seria visto “como uma imiscuição na atividade de outras autoridades portuguesa e uma antecipação de juízo sobre aquela matéria”.

Sobre a demissão de Eduardo Cabrita, Marcelo lembra as declarações de António Costa, onde diz ter confiança no ministro da Administração Interna.

"O ministro não apresentou pedido de demissão. O Presidente da Republica, como sabe exonera ministros ou secretários de Estado por proposta do primeiro-ministro", afirma o Chefe de Estado

Reestruturação da TAP e auditoria ao Novo Banco

Marcelo Rebelo de Sousa diz que ainda não recebeu o plano de reestruturação que foi apresentado na Assembleia da República e em Bruxelas, mas afirma ter noção da gravidade do que a TAP poderá estar a enfrentar.

O Presidente considera que “tem de se fazer uma reestruturação e tem de se pagar o preço dessa reestruturação”, porque a companhia aérea é “um dos vínculos das nossas comunidades portuguesas”. O Chefe de Estado considera que este processo é da responsabilidade do Governo e tem passagem obrigatória por Bruxelas.

“A Assembleia tem uma palavra a dizer sim, se houver deduções orçamentais”, esclareceu.

Questionado sobre a auditoria ao Novo Banco, Marcelo afirma que se referia à auditoria de Delloite e não à do Tribunal de Contas (TdC). Sobre as competências do TdC para realizar esta auditoria, o Presidente diz que não lhe foi pedida opinião.

“Foi uma decisão tomada por quem a podia tomar. Não pediram a opinião do Presidente da República. Obviamente que o Tribunal de Contas tem limites, com o devido respeito, relativamente a uma matéria tão sofisticada como esta”, disse o Chefe de Estado.

Falta de vacinas da gripe e gestão da pandemia

O Chefe de Estado afirma que, no caso da falta de vacinas para a gripe, se baseou nas informações dadas pela ministra da Saúde e, quando se apercebeu que o número de doses não era suficiente para todos os portugueses, assumiu publicamente a responsabilidade.

“Quando tenho a ministra da Saúde que garante perante mim e os portugueses que neste momento há vacinas para todos e estão vacinados até dezembro, eu propriamente achei que era de acreditar na ministra que estava ali a assumir um compromisso público”, esclareceu o Presidente

Com a chegada das vacinas contra a covid-19, e com a possibilidade de estas também faltarem, Marcelo lembra que “há vacinas que estão atrasadas” e que não se pode contar que estejam disponíveis no início de janeiro - como é o caso da AstraZeneca, Johnson&Johnson e da Moderna.

A expectativa criada nos portugueses sobre a vacinação contra o novo coronavírus é uma das preocupações do Presidente, que garante falar regularmente com o primeiro-ministro sobre esse assunto. Marcelo lembra que a vacinação só ocorre quando é tomada a segunda dose.

“Sei que é uma coisa que preocupa o primeiro-ministro, não criar expectativas elevadas”, avança Marcelo.

A permanência de Portugal no estado de emergência foi também uma questão colocada ao Presidente da República, que considera que a normalidade só poderá acontecer “quando os números de casos forem sendo reduzidos a tal ponto que a sua projeção nos internamentos e cuidados intensivos permita considerar a realidade estabilizada sem risco de disparar a situação [pandémica]”.

Candidatura a Belém e os novos partidos à direita

Mesmo liderando as intenções de voto para as Presidenciais, Marcelo tem vindo a perder popularidade nos últimos meses. Enquanto candidato, sabe que não irá atingir o valor histórico que Mário Soares conseguiu nas Presidenciais de 1991, ou seja os 70% de votos.

“Mário soares é irrepetível. Ninguém teve o passado dele durante a ditadura, na revolução e depois da revolução”, diz o Chefe de Estado reforçando que, “logo aí dava uma abada”.

Para além disso, o Presidente afirma que a pandemia é também um fator que poderá baixar a percentagem de votos, quando comparado com o histórico líder socialista. No entanto, Marcelo relembra os consensos que conseguiu atingir neste mandato.

“Consegui pegar num país dividido em dois hemisférios que se odiavam deixaram de se odiar assim tanto”, disse sublinhando que “mal ou bem os consensos fundamentais foram conseguidos”.

O Presidente considera que quando há um crise política no Governo apoiado à esquerda é necessário haver uma alternativa à direita que tenha “vigor suficiente para a substituir”. Sobre o aparecimento do Chega, o Chefe de Estado sublinha que avisou para a criação de partidos anti-sistema.

“A resposta depende dos outros partidos que estão na direita ou na esquerda, que podem querer maximizar o peso do novo partido” caso o convertam “no centro das suas estratégias”, disse Marcelo.

Sondagem SIC/Expresso: Marcelo com 66% das intenções de voto

Uma sondagem do ICS e do ISCTE feita para a SIC e para o Expresso aponta para uma vitória folgada de Marcelo Rebelo de Sousa nas eleições presidenciais, com 66% das intenções de voto.

Ana Gomes mantém o segundo lugar com apenas quatro pontos de vantagem sobre André Ventura, que continua à frente de Marisa Matias e João Ferreira.

O estudo revela ainda que quase 80% dos inquiridos estão satisfeitos com o desempenho de Marcelo Rebelo de Sousa nos últimos cinco anos.

As eleições presidenciais de 2021 realizam-se em 24 de janeiro.

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