Reguengos. Ministras reconhecem falhas e problemas de comunicação

17-09-2020
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Foram três horas e meia de uma audição parlamentar conjunta. As comissões de Saúde e de Segurança Social juntaram-se para ouvirem as explicações das ministras Marta Temido e Ana Mendes Godinho sobre o que correu mal no lar de idosos de Reguengos de Monsaraz, onde um surto de covid 19 provocou a morte de 18 pessoas. No final, houve promessas de "apuramento de responsabilidades" - com três inquéritos agora decorrer - e de que o Estado será "melhor para a próxima".

"É evidente que houve um conjunto de aspetos que não correram bem. E, naturalmente, temos de aprender com aquilo que correu menos bem". A frase é da ministra da Saúde e foi proferida mesmo na sua última intervenção perante os deputados. Para trás, ficavam perto de três horas de explicações, justificações e certezas de que o Governo teve "uma ação bastante assertiva" desde as primeiras horas da pandemia e que" os lares têm sido, desde março, a prioridade total". Praticamente três meses depois do primeiro caso de infeção ter sido detectado no lar de Reguengos, o Governo admite ter alguma responsabilidade.

PSD, CDS e PAN, os grupos parlamentares que tomaram a iniciativa de convocar as ministras ao Parlamento, dispararam perguntas sobre a "resposta tardia" dada pelo Estado ao surto de Reguengos, a "falta de atenção e o falhanço na proteção dos mais vulneráveis". E, claro, lamentaram a ausência de um apuramento de responsabilidades sobre o que correu mal.

"Morreram 700 pessoas por covid-19 em lares de idosos. É tempo do país fazer o luto e exigir responsabilidades", disse Ana Rita Bessa, deputada do CDS que comparou a situação aos incêndios de 2017 que provocaram um onda de indignação nacional. Na resposta, foi a ministra da Saúde quem prometeu levar tudo até ao fim: "Não podemos garantir que surtos deste não voltem a acontecer, mas garanto que aprendemos com o que se passou".

As lições são para ser bem estudadas, garante Marta Temido. Ou "escalpelizado tudo e apuradas responsabilidades", prometeu Marta Temido. "Pelo menos no Ministério da Saúde, cá estaremos para o fazer", garantiu.

Três inspeções ao mesmo tempo

Ao longo de toda a audição, as ministras elencaram as enormes dificuldades de gerir a pandemia no universo particularmente vulnerável das pessoas mais idosas. "Ninguém estava preparado e os lares também não estavam", começou por dizer a ministra da Segurança Social.

A tutela tem às costas "2.527 instituições, com 99 500 utentes, 60% dos quais com mais de 80 anos", o que torna a situação particularmente difícil de gerir. "Desde o momento zero, o nosso objetivo foi o de criar condições para apoiar os lares a fazer face à pandemia", continuou Ana Mendes Godinho. O caderno de encargos para a Segurança Social foi enorme e, para além do "trabalho permanente" de acompanhamento, foram feitos 117 mil testes a trabalhadores dos lares, distribuidos 10 milhões de euros em financiamentos especiais e colocados 8 mil recursos humanos nas instituições.

Tudo somado, porém, nada afasta as dificuldades no terreno. "Temos uma situação de gestão de surtos que é muitíssimo difícil" diz Ana Mendes Godinho. Exemplo? Quando a covid-19 entrou no lar de Reguengos e obrigou ao isolamento de funcionários e dirigentes, coube aos serviços regionais da Segurança Social encontrar substitutos para garantir o acompanhamento dos utentes. "Foram contactadas 670 pessoas e só conseguimos mobilizar 35", explica a ministra.

Os deputados ouviram, mas pediam mais explicações e respostas às dúvidas sobre quem recaem as responsabilidades de tudo o que correu mal. Marta Temido prometeu para "breve" uma resposta. A inspecção das Actividades de Saúde já foi mandada para o terreno e a ministra espera "ter resultados em breve". "Há responsabilidades executivas de que não abdicarei", prometeu a ministra.

Logo a seguir foi a vez da ministra do Trabalho anunciar que também pôs no terreno as equipas de inspeção da Segurança Social e da Inspeção Geral do Ministério do Trabalho. Clara Marques Mendes, do PSD, achou "estranho" que Ana Mendes Godinho falasse "numa inspeção" e pediu que enviasse a documentação para o Parlamento. Na verdade, os deputados só receberam da Segurança Social um relatório elaborado pelos serviços do Instituto da Segurança Social, como avançou o Expresso esta quarta-feira de manhã, a pedido da ministra e que refere uma visita técnica feita ao lar de Reguengos a 11 de março, antes de ser declarado o estado de emergência.

Ana Mendes Godinho tentou explicar as fases de investigação ao surto no lar alentejano. "Pedi expressamente, no dia 12 de julho, um relatório sobre o cumprimento das normas legais. O ISS fez o relatório que enviei a esta comissão e ao Ministério Público", disse a ministra. Mas, porque existiam "diferentes relatórios, considerei que era importante uma verificação por parte da inspeção da Segurança Social e uma avaliação da Inspeção Geral do Ministério do Trabalho". Os procedimentos foram todos desencadeados. As conclusões ainda não se sabe quando virão a público. Mas fica a promessa: a ministra diz que estão a decorrer "todos os mecanismos para a identificação de todos os factos que aconteceram e todas as medidas necessárias para apurar responsabilidades". O surto de Reguengos será tratado "sempre com o máximo de transparência possível".

Foram três horas e meia de uma audição parlamentar conjunta. As comissões de Saúde e de Segurança Social juntaram-se para ouvirem as explicações das ministras Marta Temido e Ana Mendes Godinho sobre o que correu mal no lar de idosos de Reguengos de Monsaraz, onde um surto de covid 19 provocou a morte de 18 pessoas. No final, houve promessas de "apuramento de responsabilidades" - com três inquéritos agora decorrer - e de que o Estado será "melhor para a próxima".

"É evidente que houve um conjunto de aspetos que não correram bem. E, naturalmente, temos de aprender com aquilo que correu menos bem". A frase é da ministra da Saúde e foi proferida mesmo na sua última intervenção perante os deputados. Para trás, ficavam perto de três horas de explicações, justificações e certezas de que o Governo teve "uma ação bastante assertiva" desde as primeiras horas da pandemia e que" os lares têm sido, desde março, a prioridade total". Praticamente três meses depois do primeiro caso de infeção ter sido detectado no lar de Reguengos, o Governo admite ter alguma responsabilidade.

PSD, CDS e PAN, os grupos parlamentares que tomaram a iniciativa de convocar as ministras ao Parlamento, dispararam perguntas sobre a "resposta tardia" dada pelo Estado ao surto de Reguengos, a "falta de atenção e o falhanço na proteção dos mais vulneráveis". E, claro, lamentaram a ausência de um apuramento de responsabilidades sobre o que correu mal.

"Morreram 700 pessoas por covid-19 em lares de idosos. É tempo do país fazer o luto e exigir responsabilidades", disse Ana Rita Bessa, deputada do CDS que comparou a situação aos incêndios de 2017 que provocaram um onda de indignação nacional. Na resposta, foi a ministra da Saúde quem prometeu levar tudo até ao fim: "Não podemos garantir que surtos deste não voltem a acontecer, mas garanto que aprendemos com o que se passou".

As lições são para ser bem estudadas, garante Marta Temido. Ou "escalpelizado tudo e apuradas responsabilidades", prometeu Marta Temido. "Pelo menos no Ministério da Saúde, cá estaremos para o fazer", garantiu.

Três inspeções ao mesmo tempo

Ao longo de toda a audição, as ministras elencaram as enormes dificuldades de gerir a pandemia no universo particularmente vulnerável das pessoas mais idosas. "Ninguém estava preparado e os lares também não estavam", começou por dizer a ministra da Segurança Social.

A tutela tem às costas "2.527 instituições, com 99 500 utentes, 60% dos quais com mais de 80 anos", o que torna a situação particularmente difícil de gerir. "Desde o momento zero, o nosso objetivo foi o de criar condições para apoiar os lares a fazer face à pandemia", continuou Ana Mendes Godinho. O caderno de encargos para a Segurança Social foi enorme e, para além do "trabalho permanente" de acompanhamento, foram feitos 117 mil testes a trabalhadores dos lares, distribuidos 10 milhões de euros em financiamentos especiais e colocados 8 mil recursos humanos nas instituições.

Tudo somado, porém, nada afasta as dificuldades no terreno. "Temos uma situação de gestão de surtos que é muitíssimo difícil" diz Ana Mendes Godinho. Exemplo? Quando a covid-19 entrou no lar de Reguengos e obrigou ao isolamento de funcionários e dirigentes, coube aos serviços regionais da Segurança Social encontrar substitutos para garantir o acompanhamento dos utentes. "Foram contactadas 670 pessoas e só conseguimos mobilizar 35", explica a ministra.

Os deputados ouviram, mas pediam mais explicações e respostas às dúvidas sobre quem recaem as responsabilidades de tudo o que correu mal. Marta Temido prometeu para "breve" uma resposta. A inspecção das Actividades de Saúde já foi mandada para o terreno e a ministra espera "ter resultados em breve". "Há responsabilidades executivas de que não abdicarei", prometeu a ministra.

Logo a seguir foi a vez da ministra do Trabalho anunciar que também pôs no terreno as equipas de inspeção da Segurança Social e da Inspeção Geral do Ministério do Trabalho. Clara Marques Mendes, do PSD, achou "estranho" que Ana Mendes Godinho falasse "numa inspeção" e pediu que enviasse a documentação para o Parlamento. Na verdade, os deputados só receberam da Segurança Social um relatório elaborado pelos serviços do Instituto da Segurança Social, como avançou o Expresso esta quarta-feira de manhã, a pedido da ministra e que refere uma visita técnica feita ao lar de Reguengos a 11 de março, antes de ser declarado o estado de emergência.

Ana Mendes Godinho tentou explicar as fases de investigação ao surto no lar alentejano. "Pedi expressamente, no dia 12 de julho, um relatório sobre o cumprimento das normas legais. O ISS fez o relatório que enviei a esta comissão e ao Ministério Público", disse a ministra. Mas, porque existiam "diferentes relatórios, considerei que era importante uma verificação por parte da inspeção da Segurança Social e uma avaliação da Inspeção Geral do Ministério do Trabalho". Os procedimentos foram todos desencadeados. As conclusões ainda não se sabe quando virão a público. Mas fica a promessa: a ministra diz que estão a decorrer "todos os mecanismos para a identificação de todos os factos que aconteceram e todas as medidas necessárias para apurar responsabilidades". O surto de Reguengos será tratado "sempre com o máximo de transparência possível".

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