A quarentena dos partidos: um líder caseiro, um pizzaiolo, reuniões pelo Zoom e notificações de WhatsApp sem parar

11-05-2020
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A grande aposta do partido acabou por ser, por isso, a comunicação digital. Foi até criada uma hashtag própria (#VencerJuntosCovid19) que passou a ser usada por todos os socialistas de forma a uniformizar a informação. “Envolvemos o grupo parlamentar para uma comunicação coordenada e coerente, e eles também estão a utilizar o mesmo hashtag, o que nos está a dar uma coerência ao nível da comunicação digital”, diz a mesma fonte. Além disso, o WhatsApp passou a ser a melhor ferramenta de trabalho, quer para coordenar o diálogo da direção do partido com as estruturas distritais e concelhias, quer para a direção comunicar entre si. “A Comissão Permanente passou a trabalhar via WhatsApp e a reunir através de videoconferência. Também foi criada uma rede pelo mesmo meio com as federações e concelhias”, conta.

108 deputados no Skype com o primeiro-ministro

O grupo parlamentar socialista, por seu lado, apostou tudo em manter as habituais reuniões da bancada que se realizavam todas as quintas-feiras numa sala do edifício novo da Assembleia da República — mas passou-as para o sofá. Ou melhor, para o Skype Empresas, que permite juntar os 108 deputados no mesmo ecrã. A primeira, sabe o Observador, contou com a presença do primeiro-ministro António Costa, mas as restantes (que se mantêm pontualmente às quintas-feiras) limitaram-se à bancada, sendo lideradas por Ana Catarina Mendes. Com os microfones desligados, para não haver ruído, sempre que algum deputado quer intervir inscreve-se no chat da “reunião” e é-lhe dada a palavra, apurou o Observador.

Ao mesmo tempo, os deputados das várias comissões sectoriais também se têm reunido virtualmente, e quase sempre estas reuniões contam com a presença do ministro da área respetiva. A ideia é o Governo manter o partido a par daquilo que está a ser feito na resposta à Covid-19 e ouvir as sugestões dos deputados socialistas, que estão ligados às várias regiões do país. E, no meio de tudo o que mudou, encontrou-se aqui uma vantagem: de certa forma, a distância permite conciliar agendas mais facilmente, uma vez que este tipo de reuniões não aconteceria com tanta regularidade se os ministros se tivessem de se deslocar à Assembleia para estar com grupos de deputados.

PSD. Rio mais caseiro só sai para ir à Assembleia

Durante o estado de emergência, Rui Rio limitou as suas presenças a dois momentos: os plenários da Assembleia da República e as reuniões com o primeiro-ministro. Exceção a esta regra, só mesmo quando deu uma entrevista ao programa “Isto é gozar com quem trabalha”, de Ricardo Araújo Pereira, na SIC. Ao longo destas semanas deu outras entrevistas, mas a partir do Porto. Sobre se, nestes tempos de pandemia, passa mais tempo em Lisboa ou no Porto, o presidente do PSD respondeu assim ao Observador: “Em casa“. E se dúvidas houvesse a que casa se refere o líder da oposição, Rui Rio explicou em respostas enviadas ao Observador por que tem assistido por videoconferência às últimas reuniões dos líderes políticos com os especialistas no Infarmed: “É por opção, para não ter que me deslocar propositadamente a Lisboa, quando o posso fazer a partir de casa”.

Rio está mais caseiro e admite que, com esta situação trabalha “menos“, mas mesmo assim “não dá para ter tempos livres“. Quanto ao que o fez sair de casa durante o período do estado de emergência, o presidente do PSD diz que o “critério é o da Assembleia da República”. Ou seja: sempre que tem de cumprir as suas funções como deputado, Rio vai do Porto até ao Parlamento, o que acontece cerca de uma vez por semana.

As reuniões presenciais, garante Rio, “têm sido evitadas” no tempo de estado de emergência e “no caso de reuniões onde seja necessária a presença de dirigentes ou deputados, tenta-se assegurar as medidas de distanciamento social e de higiene”. As reuniões com a direção do PSD (a comissão política permanente) deixaram de ser presenciais neste período.

Sem especificar se ocorrem às mesmas horas e dias do pré-pandemia, Rui Rio explica nas respostas enviadas ao Observador ainda durante o estado de emergência que “o partido e a direção nacional têm recorrido à videoconferência para reunir” e revela que “tem existido até a preocupação de auscultarmos os nossos autarcas ou outros atores ou especialistas atenta a situação em que vivemos“. Quanto às outras estruturas do partido, também “vão reunindo recorrendo a esta forma de comunicação à distância”. O WhatsApp e as chamadas telefónicas “já eram usados normalmente” como meio de comunicação no dia a dia de Rui Rio, mas agora ganham outro peso.

Com o fim do estado de emergência, Rui Rio decidiu fazer aquilo que o secretário-geral do PSD, José Silvano, chama de “transição tímida e ténue” para o estado de calamidade com “alguma” agenda presencial. Esta segunda-feira, 4 de maio, Rui Rio recebeu o presidente da União das Misericórdias, Manuel de Lemos, e o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto e seu amigo, António Tavares. Na reunião estiveram presentes mais duas pessoas: o deputado Álvaro Almeida e a deputada Clara Marques Mendes.

Trabalhadores da São Caetano em teletrabalho. Povo Livre continua a sair

Na sede do PSD, na São Caetano à Lapa, trabalham 49 pessoas. O PSD, como explica em resposta oficial enviada ao Observador, “ainda antes da tomada de medidas de limitação da circulação de pessoas e antevendo-se já os riscos da pandemia, dispensou, sem perda de direitos, os colaboradores que apresentavam patologias ou doenças crónicas que pudessem fragilizar a condição de saúde dos colaboradores no caso de serem infetados”.

Depois disso, o partido optou por colocar “em teletrabalho a generalidade dos trabalhadores, existindo um número de cerca de 3 a 4 pessoas que se deslocam à sede numa base mais ou menos diária para salvaguardar o expediente que não possa ser tratado à distância”. Para que os trabalhadores pudessem iniciar o trabalho a partir de casa, a “disponibilização de VPNs e computadores em áreas críticas foi antecipada pelo PSD antes do decreto do estado de emergência, pelo que assim que este entrou em vigor rapidamente o partido fez a migração para a nova modalidade de trabalho”. Mesmo naquelas áreas que “não são suscetíveis de teletrabalho”, os trabalhadores “também foram colocados em casa.”

A videoconferência e o recurso a outras plataformas digitais têm sido privilegiados para continuar a atividade política e, como explica o PSD, “o exemplo de um documento trabalhado com a participação de vários atores” — portanto, em que há uma partilha permanente do documento em que todos vão dando contributos mesmo não estando frente a frente — “foi o das propostas para a economia”.

Além disso, mesmo nestes tempos difíceis, explica fonte oficial do partido, “o PSD (sede nacional) continua a tratar a filiação de novos militantes, alteração de dados ou processos de desfiliação, por teletrabalho”. Nesta área mais administrativa e de funcionamento interno, garante o PSD, “não existem pendências ou atrasos em decorrência do decreto de estado de emergência”.

Também na área da comunicação, quer seja em teletrabalho ou regime presencial (neste caso, a assessoria de imprensa e audiovisuais) “em dias de trabalhos parlamentares continuam a assegurar a divulgação e tratamento de informação política do partido.” Além disso, “o partido continua, também, a divulgar o Povo Livre”.

Parlamento, o principal campo de batalha (contra o vírus)

O debate político está muito circunscrito ao Parlamento e é também por lá que Rui Rio vai fazendo a esmagadora maioria da sua atividade partidária. Se tudo corresse como estava no guião, desde 19 de março que o líder parlamentar seria Adão Silva, mas a pandemia de Covid-19 forçou o grupo parlamentar a adiar eleições que já estavam marcadas e o líder continua a acumular as duas funções. Apesar disso, quem vai à conferência de líderes e trata dos aspetos mais do quotidiano parlamentar é o deputado eleito pelo círculo de Bragança.

Do ponto de vista das intervenções, Rui Rio não abdica de falar em alguns momentos-chave, como nos debates sobre a declaração de estado de emergência, mas nos quinzenais tem dado o palco aos especialistas. Num debate quinzenal onde ainda não se previam medidas de confinamento — mas no qual o governo tinha escolhido como tema a resposta ao coronavírus — António Costa escudava-se na opinião de especialistas para as medidas que tinha tomado até então e chegou a dizer a Rio: “Devemos ouvir os nossos médicos“.

Rio levou isso à letra e quem agora tem debatido com Costa é o vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, Ricardo Batista Leite, que é médico. A Batista Leite, Costa não pode dizer para ir ouvir o médico, embora vá experimentando bengalas, como da vez em que ensaiou: “O senhor é médico, sabe que…“. Foi também Batista Leite quem representou, a nível presencial, o PSD nas reuniões do Infarmed que junta as três principais figuras do Estado, líderes partidários, parceiros sociais e especialistas.

Mas é Rui Rio quem, no entanto, continua a liderar a bancada. É ele quem envia, de véspera, um email aos deputados a dizer que só devem estar de forma permanente no Parlamento dezasseis deputados, que identifica: Adão Silva, Afonso Oliveira, André Coelho Lima, Carlos Peixoto, Catarina Rocha Ferreira, Clara Marques Mendes, Duarte Pacheco, Helga Correia, Hugo Carneiro, Isabel Meirelles, Isaura Morais, José Silvano, Lina Lopes, Luis Leite Ramos, Ricardo Baptista Leite e, claro, Rui Rio. O critério é o dos membros da direção do partido e da bancada e membros da Mesa do Parlamento. Numa das ocasiões, estavam deputados a mais e foi o próprio Rui Rio a sair.

Nesse email lê-se: “O Grupo Parlamentar do PSD deverá manter, na sessão plenária de amanhã, 2 de abril, às 10h00, A TODO O MOMENTO, APENAS UM GRUPO DE 16 DEPUTADA/OS (QUÓRUM MÍNIMO)“. Rui Rio permite, no entanto, que todos os restantes deputados vão ao parlamento: “Deverão ir ao plenário apenas para registar a presença e, de seguida, sair, de molde a contribuir para que no plenário não estejam presentes mais de 46 deputados”. Além disso, escreve que “qualquer deputado pode, a qualquer momento, ser chamado ao plenário para substituir um dos 16 colegas que tenha tido necessidade de se ausentar ou para intervir em plenário”.

Ainda a nível de organização, segundo vários deputados contaram ao Observador, foi criado um grupo de WhatsApp do grupo parlamentar, onde estão todos os deputados, incluindo Rui Rio. Por esse grupo, explica um deputado ao Observador “são esclarecidas dúvidas sobre projetos do próprio partido ou de outros partidos” E exemplifica: “São dúvidas do género: o layoff aplica-se nesta situação? Então e naquela?” Há ainda reuniões setoriais, das mais variadas áreas (saúde, educação, etc.) por Zoom. E as mudanças, mesmo no meio de um pandemia, acabam por trazer sempre algo de bom. Um deputado do PSD confessa ao Observador: “Agora há mais deputados nessas reuniões do que havia antes”.

BE. Um ecrã para 76 pessoas. E um filme por semana, escolhido à vez

Durante o estado de emergência, Catarina Martins fez a maior parte do trabalho em casa. Apesar de ser natural de Vila Nova de Gaia, ficou nestes meses em Lisboa a tempo inteiro com as filhas para a família se manter junta e facilitar as idas semanais ao Parlamento. O tempo livre não era muito, mas a líder bloquista garante ao Observador que “pelo menos uma vez por semana” há tempo para a família ver um filme em conjunto. “Escolhemos à vez”, nota Catarina Martins. É o momento de descontração possível entre as alturas em que o telefone não para de tocar.

Esses são muitos. Se não for em forma de chamada é em forma de notificação. Com as cerca de duas dezenas de pessoas que trabalham habitualmente na sede do partido deslocalizadas, em teletrabalho, o telefone está sempre a tocar. O teletrabalho até foi iniciado logo que a Direção-Geral de Saúde lançou as primeiras recomendações, antes de o Governo decretar estado de emergência e, como tal, obrigar de alguma forma a que o trabalho fosse feito à distância. Segundo apurou o Observador, o contacto estabelece-se sobretudo entre o Whatsapp e o Telegram, aplicações que os bloquistas já usavam antes da pandemia, mas que se intensificaram agora que a comunicação se faz maioritariamente à distância. No Whatsapp, por exemplo, há um grupo apenas para a direção do partido, outro para o grupo parlamentar, e um outro ainda para a comunicação do partido, onde estão os assessores de imprensa e onde se define a estratégia sobre a forma como o partido comunica as ideias agora que o palco de atuação é mais limitado.

Mas há também um outro grupo, habitualmente chamado Grupo de Trabalho da Saúde, que junta vários militantes do Bloco com ligações à área da saúde, sejam médicos, enfermeiros ou outros profissionais, que, não tendo sido criado apenas para este efeito, tem agora tido maior uso. O grupo, apurou o Observador junto de fonte oficial do partido, já tinha sido criado aquando da discussão sobre a lei de bases da Saúde, mas tem tido agora particular atividade no WhatsApp, já que serve de apoio à direção para acompanhar a evolução da situação sanitária no país.

Presencialmente, só há deslocações à sede do partido “em situações muito esporádicas em que a presença física é imprescindível”, refere fonte oficial. Na Assembleia, uma vez que só é recomendado que vá um quinto da bancada, têm sido dispensados os parlamentares que façam parte de grupos de risco e tem sido dada prioridade aos membros da direção da bancada e aos que acompanham as áreas de relevo no contexto da pandemia, como a Saúde, a Segurança Social ou a Educação.

A grande aposta do partido acabou por ser, por isso, a comunicação digital. Foi até criada uma hashtag própria (#VencerJuntosCovid19) que passou a ser usada por todos os socialistas de forma a uniformizar a informação. “Envolvemos o grupo parlamentar para uma comunicação coordenada e coerente, e eles também estão a utilizar o mesmo hashtag, o que nos está a dar uma coerência ao nível da comunicação digital”, diz a mesma fonte. Além disso, o WhatsApp passou a ser a melhor ferramenta de trabalho, quer para coordenar o diálogo da direção do partido com as estruturas distritais e concelhias, quer para a direção comunicar entre si. “A Comissão Permanente passou a trabalhar via WhatsApp e a reunir através de videoconferência. Também foi criada uma rede pelo mesmo meio com as federações e concelhias”, conta.

108 deputados no Skype com o primeiro-ministro

O grupo parlamentar socialista, por seu lado, apostou tudo em manter as habituais reuniões da bancada que se realizavam todas as quintas-feiras numa sala do edifício novo da Assembleia da República — mas passou-as para o sofá. Ou melhor, para o Skype Empresas, que permite juntar os 108 deputados no mesmo ecrã. A primeira, sabe o Observador, contou com a presença do primeiro-ministro António Costa, mas as restantes (que se mantêm pontualmente às quintas-feiras) limitaram-se à bancada, sendo lideradas por Ana Catarina Mendes. Com os microfones desligados, para não haver ruído, sempre que algum deputado quer intervir inscreve-se no chat da “reunião” e é-lhe dada a palavra, apurou o Observador.

Ao mesmo tempo, os deputados das várias comissões sectoriais também se têm reunido virtualmente, e quase sempre estas reuniões contam com a presença do ministro da área respetiva. A ideia é o Governo manter o partido a par daquilo que está a ser feito na resposta à Covid-19 e ouvir as sugestões dos deputados socialistas, que estão ligados às várias regiões do país. E, no meio de tudo o que mudou, encontrou-se aqui uma vantagem: de certa forma, a distância permite conciliar agendas mais facilmente, uma vez que este tipo de reuniões não aconteceria com tanta regularidade se os ministros se tivessem de se deslocar à Assembleia para estar com grupos de deputados.

PSD. Rio mais caseiro só sai para ir à Assembleia

Durante o estado de emergência, Rui Rio limitou as suas presenças a dois momentos: os plenários da Assembleia da República e as reuniões com o primeiro-ministro. Exceção a esta regra, só mesmo quando deu uma entrevista ao programa “Isto é gozar com quem trabalha”, de Ricardo Araújo Pereira, na SIC. Ao longo destas semanas deu outras entrevistas, mas a partir do Porto. Sobre se, nestes tempos de pandemia, passa mais tempo em Lisboa ou no Porto, o presidente do PSD respondeu assim ao Observador: “Em casa“. E se dúvidas houvesse a que casa se refere o líder da oposição, Rui Rio explicou em respostas enviadas ao Observador por que tem assistido por videoconferência às últimas reuniões dos líderes políticos com os especialistas no Infarmed: “É por opção, para não ter que me deslocar propositadamente a Lisboa, quando o posso fazer a partir de casa”.

Rio está mais caseiro e admite que, com esta situação trabalha “menos“, mas mesmo assim “não dá para ter tempos livres“. Quanto ao que o fez sair de casa durante o período do estado de emergência, o presidente do PSD diz que o “critério é o da Assembleia da República”. Ou seja: sempre que tem de cumprir as suas funções como deputado, Rio vai do Porto até ao Parlamento, o que acontece cerca de uma vez por semana.

As reuniões presenciais, garante Rio, “têm sido evitadas” no tempo de estado de emergência e “no caso de reuniões onde seja necessária a presença de dirigentes ou deputados, tenta-se assegurar as medidas de distanciamento social e de higiene”. As reuniões com a direção do PSD (a comissão política permanente) deixaram de ser presenciais neste período.

Sem especificar se ocorrem às mesmas horas e dias do pré-pandemia, Rui Rio explica nas respostas enviadas ao Observador ainda durante o estado de emergência que “o partido e a direção nacional têm recorrido à videoconferência para reunir” e revela que “tem existido até a preocupação de auscultarmos os nossos autarcas ou outros atores ou especialistas atenta a situação em que vivemos“. Quanto às outras estruturas do partido, também “vão reunindo recorrendo a esta forma de comunicação à distância”. O WhatsApp e as chamadas telefónicas “já eram usados normalmente” como meio de comunicação no dia a dia de Rui Rio, mas agora ganham outro peso.

Com o fim do estado de emergência, Rui Rio decidiu fazer aquilo que o secretário-geral do PSD, José Silvano, chama de “transição tímida e ténue” para o estado de calamidade com “alguma” agenda presencial. Esta segunda-feira, 4 de maio, Rui Rio recebeu o presidente da União das Misericórdias, Manuel de Lemos, e o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto e seu amigo, António Tavares. Na reunião estiveram presentes mais duas pessoas: o deputado Álvaro Almeida e a deputada Clara Marques Mendes.

Trabalhadores da São Caetano em teletrabalho. Povo Livre continua a sair

Na sede do PSD, na São Caetano à Lapa, trabalham 49 pessoas. O PSD, como explica em resposta oficial enviada ao Observador, “ainda antes da tomada de medidas de limitação da circulação de pessoas e antevendo-se já os riscos da pandemia, dispensou, sem perda de direitos, os colaboradores que apresentavam patologias ou doenças crónicas que pudessem fragilizar a condição de saúde dos colaboradores no caso de serem infetados”.

Depois disso, o partido optou por colocar “em teletrabalho a generalidade dos trabalhadores, existindo um número de cerca de 3 a 4 pessoas que se deslocam à sede numa base mais ou menos diária para salvaguardar o expediente que não possa ser tratado à distância”. Para que os trabalhadores pudessem iniciar o trabalho a partir de casa, a “disponibilização de VPNs e computadores em áreas críticas foi antecipada pelo PSD antes do decreto do estado de emergência, pelo que assim que este entrou em vigor rapidamente o partido fez a migração para a nova modalidade de trabalho”. Mesmo naquelas áreas que “não são suscetíveis de teletrabalho”, os trabalhadores “também foram colocados em casa.”

A videoconferência e o recurso a outras plataformas digitais têm sido privilegiados para continuar a atividade política e, como explica o PSD, “o exemplo de um documento trabalhado com a participação de vários atores” — portanto, em que há uma partilha permanente do documento em que todos vão dando contributos mesmo não estando frente a frente — “foi o das propostas para a economia”.

Além disso, mesmo nestes tempos difíceis, explica fonte oficial do partido, “o PSD (sede nacional) continua a tratar a filiação de novos militantes, alteração de dados ou processos de desfiliação, por teletrabalho”. Nesta área mais administrativa e de funcionamento interno, garante o PSD, “não existem pendências ou atrasos em decorrência do decreto de estado de emergência”.

Também na área da comunicação, quer seja em teletrabalho ou regime presencial (neste caso, a assessoria de imprensa e audiovisuais) “em dias de trabalhos parlamentares continuam a assegurar a divulgação e tratamento de informação política do partido.” Além disso, “o partido continua, também, a divulgar o Povo Livre”.

Parlamento, o principal campo de batalha (contra o vírus)

O debate político está muito circunscrito ao Parlamento e é também por lá que Rui Rio vai fazendo a esmagadora maioria da sua atividade partidária. Se tudo corresse como estava no guião, desde 19 de março que o líder parlamentar seria Adão Silva, mas a pandemia de Covid-19 forçou o grupo parlamentar a adiar eleições que já estavam marcadas e o líder continua a acumular as duas funções. Apesar disso, quem vai à conferência de líderes e trata dos aspetos mais do quotidiano parlamentar é o deputado eleito pelo círculo de Bragança.

Do ponto de vista das intervenções, Rui Rio não abdica de falar em alguns momentos-chave, como nos debates sobre a declaração de estado de emergência, mas nos quinzenais tem dado o palco aos especialistas. Num debate quinzenal onde ainda não se previam medidas de confinamento — mas no qual o governo tinha escolhido como tema a resposta ao coronavírus — António Costa escudava-se na opinião de especialistas para as medidas que tinha tomado até então e chegou a dizer a Rio: “Devemos ouvir os nossos médicos“.

Rio levou isso à letra e quem agora tem debatido com Costa é o vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, Ricardo Batista Leite, que é médico. A Batista Leite, Costa não pode dizer para ir ouvir o médico, embora vá experimentando bengalas, como da vez em que ensaiou: “O senhor é médico, sabe que…“. Foi também Batista Leite quem representou, a nível presencial, o PSD nas reuniões do Infarmed que junta as três principais figuras do Estado, líderes partidários, parceiros sociais e especialistas.

Mas é Rui Rio quem, no entanto, continua a liderar a bancada. É ele quem envia, de véspera, um email aos deputados a dizer que só devem estar de forma permanente no Parlamento dezasseis deputados, que identifica: Adão Silva, Afonso Oliveira, André Coelho Lima, Carlos Peixoto, Catarina Rocha Ferreira, Clara Marques Mendes, Duarte Pacheco, Helga Correia, Hugo Carneiro, Isabel Meirelles, Isaura Morais, José Silvano, Lina Lopes, Luis Leite Ramos, Ricardo Baptista Leite e, claro, Rui Rio. O critério é o dos membros da direção do partido e da bancada e membros da Mesa do Parlamento. Numa das ocasiões, estavam deputados a mais e foi o próprio Rui Rio a sair.

Nesse email lê-se: “O Grupo Parlamentar do PSD deverá manter, na sessão plenária de amanhã, 2 de abril, às 10h00, A TODO O MOMENTO, APENAS UM GRUPO DE 16 DEPUTADA/OS (QUÓRUM MÍNIMO)“. Rui Rio permite, no entanto, que todos os restantes deputados vão ao parlamento: “Deverão ir ao plenário apenas para registar a presença e, de seguida, sair, de molde a contribuir para que no plenário não estejam presentes mais de 46 deputados”. Além disso, escreve que “qualquer deputado pode, a qualquer momento, ser chamado ao plenário para substituir um dos 16 colegas que tenha tido necessidade de se ausentar ou para intervir em plenário”.

Ainda a nível de organização, segundo vários deputados contaram ao Observador, foi criado um grupo de WhatsApp do grupo parlamentar, onde estão todos os deputados, incluindo Rui Rio. Por esse grupo, explica um deputado ao Observador “são esclarecidas dúvidas sobre projetos do próprio partido ou de outros partidos” E exemplifica: “São dúvidas do género: o layoff aplica-se nesta situação? Então e naquela?” Há ainda reuniões setoriais, das mais variadas áreas (saúde, educação, etc.) por Zoom. E as mudanças, mesmo no meio de um pandemia, acabam por trazer sempre algo de bom. Um deputado do PSD confessa ao Observador: “Agora há mais deputados nessas reuniões do que havia antes”.

BE. Um ecrã para 76 pessoas. E um filme por semana, escolhido à vez

Durante o estado de emergência, Catarina Martins fez a maior parte do trabalho em casa. Apesar de ser natural de Vila Nova de Gaia, ficou nestes meses em Lisboa a tempo inteiro com as filhas para a família se manter junta e facilitar as idas semanais ao Parlamento. O tempo livre não era muito, mas a líder bloquista garante ao Observador que “pelo menos uma vez por semana” há tempo para a família ver um filme em conjunto. “Escolhemos à vez”, nota Catarina Martins. É o momento de descontração possível entre as alturas em que o telefone não para de tocar.

Esses são muitos. Se não for em forma de chamada é em forma de notificação. Com as cerca de duas dezenas de pessoas que trabalham habitualmente na sede do partido deslocalizadas, em teletrabalho, o telefone está sempre a tocar. O teletrabalho até foi iniciado logo que a Direção-Geral de Saúde lançou as primeiras recomendações, antes de o Governo decretar estado de emergência e, como tal, obrigar de alguma forma a que o trabalho fosse feito à distância. Segundo apurou o Observador, o contacto estabelece-se sobretudo entre o Whatsapp e o Telegram, aplicações que os bloquistas já usavam antes da pandemia, mas que se intensificaram agora que a comunicação se faz maioritariamente à distância. No Whatsapp, por exemplo, há um grupo apenas para a direção do partido, outro para o grupo parlamentar, e um outro ainda para a comunicação do partido, onde estão os assessores de imprensa e onde se define a estratégia sobre a forma como o partido comunica as ideias agora que o palco de atuação é mais limitado.

Mas há também um outro grupo, habitualmente chamado Grupo de Trabalho da Saúde, que junta vários militantes do Bloco com ligações à área da saúde, sejam médicos, enfermeiros ou outros profissionais, que, não tendo sido criado apenas para este efeito, tem agora tido maior uso. O grupo, apurou o Observador junto de fonte oficial do partido, já tinha sido criado aquando da discussão sobre a lei de bases da Saúde, mas tem tido agora particular atividade no WhatsApp, já que serve de apoio à direção para acompanhar a evolução da situação sanitária no país.

Presencialmente, só há deslocações à sede do partido “em situações muito esporádicas em que a presença física é imprescindível”, refere fonte oficial. Na Assembleia, uma vez que só é recomendado que vá um quinto da bancada, têm sido dispensados os parlamentares que façam parte de grupos de risco e tem sido dada prioridade aos membros da direção da bancada e aos que acompanham as áreas de relevo no contexto da pandemia, como a Saúde, a Segurança Social ou a Educação.

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