O Pafúncio: O Complexo Maria Antonieta de Paulo Portas

27-12-2019
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Esta é de cabo de esquadra. Ficámos hoje a saber, nos últimos minutos mais risíveis do programa O Estado da Arte, que o terror foi inventado pela Revolução Francesa. Tantos livros para isto: o calhamaço Citizens -- aconselhado pelo Vasco Pulido Valente, o tal soutor que dá aulas de História dos séculos 19 e 20 numa universidade dessas que para aí andam (os frutos podres que isto dá...) -- e é então que, com a leitura da tradução brasileira, o senhor Paulo Portas chega a esta brilhante conclusão: o terror é um produto da Revolução Francesa – este livro dá, diz ele, a versão definitiva da História. E se Paulo Portas o diz, nós não acreditamos. Então ele quer vender-nos a ideia de que o terror começou com a Revolução Francesa? Antes da Revolução Francesa não havia terror? Para ele não devem contar nem os Gregos, nem os Romanos, nem a Inquisição, tudo boa gente, sem violências, sem terror, tudo numa boa e eis que chega a Revolução Francesa, os malandros dos franceses, para lançar o mundo no terror. Paulo Portas tem tanto medo de revoluções quanto a pobre Maria Antonieta já de cabeça perdida. Comove-se então por Maria Antonieta, rapariga da corte metida em traficâncias e negociatas, coisas de nada, e que perdia a cabeça por se divertir. E vai o moralista do Portas atira com mais esta: como se isso tivesse algum mal. De vir às lágrimas!No final do programa – e curiosamente quando largou as suas opiniões de comentador político de circunstância – começando a falar de História a propósito de Arte (o filme sobre Maria Antonieta de sophia Coppola!) -- aí é que o programa denunciou o Estado da Arte, o estado da História e o estado de sítio apud Paulo Portas. A sua capacidade de deturpar a História aos olhos de todos seria perigosa se não se evidenciasse tão ridícula. O nítido e ávido terror e horror por palavras como Revolução e Democracia provem em Paulo Portas de uma espécie de trauma de infância que as descrições da Revolução Francesa um dia despoletaram, dando nele origem a um valente complexo de Maria Antonieta que só Freud poderia ter explicado e que o candidato a político resolve como pode. E como lhe é permitido!Eu não condeno o Portas, ao abrigo da liberade de expressão pode dizer o que lhe apetecer. O que eu condeno é todo um sistema que permite que um canal televisivo responsável por dar informação a um país inteiro, divulgue as bacoradas que este senhor cheio de si próprio tem o desplante de emitir publicamente, convencido que as suas ridículas afirmações são as que mais importam. E ainda lhe pagam para isso! E que o ponham no ar, inchado, cheio de si a estender o guardanapo que o próprio decor do programa evoca e que mais se assemelha com um rolo de casa de banho desenrolado, apropriado à sujidade das suas afirmações. E que afinal todos saibam que este Estado da Arte se destina em última análise a promover a figura e a relançá-lo nos meandros da política nacional, vulgo a “fazer-lhe a cama” para voltar ao poder. Maquiavélico, se não fosse tão saloiamente evidente. E eu que julgava que era o senhor que pagava à Sic para lhe darem tempo de antena para lá ir dizer as suas postas! Podem limpar as mãos à parede com O Estado da Arte!


Esta é de cabo de esquadra. Ficámos hoje a saber, nos últimos minutos mais risíveis do programa O Estado da Arte, que o terror foi inventado pela Revolução Francesa. Tantos livros para isto: o calhamaço Citizens -- aconselhado pelo Vasco Pulido Valente, o tal soutor que dá aulas de História dos séculos 19 e 20 numa universidade dessas que para aí andam (os frutos podres que isto dá...) -- e é então que, com a leitura da tradução brasileira, o senhor Paulo Portas chega a esta brilhante conclusão: o terror é um produto da Revolução Francesa – este livro dá, diz ele, a versão definitiva da História. E se Paulo Portas o diz, nós não acreditamos. Então ele quer vender-nos a ideia de que o terror começou com a Revolução Francesa? Antes da Revolução Francesa não havia terror? Para ele não devem contar nem os Gregos, nem os Romanos, nem a Inquisição, tudo boa gente, sem violências, sem terror, tudo numa boa e eis que chega a Revolução Francesa, os malandros dos franceses, para lançar o mundo no terror. Paulo Portas tem tanto medo de revoluções quanto a pobre Maria Antonieta já de cabeça perdida. Comove-se então por Maria Antonieta, rapariga da corte metida em traficâncias e negociatas, coisas de nada, e que perdia a cabeça por se divertir. E vai o moralista do Portas atira com mais esta: como se isso tivesse algum mal. De vir às lágrimas!No final do programa – e curiosamente quando largou as suas opiniões de comentador político de circunstância – começando a falar de História a propósito de Arte (o filme sobre Maria Antonieta de sophia Coppola!) -- aí é que o programa denunciou o Estado da Arte, o estado da História e o estado de sítio apud Paulo Portas. A sua capacidade de deturpar a História aos olhos de todos seria perigosa se não se evidenciasse tão ridícula. O nítido e ávido terror e horror por palavras como Revolução e Democracia provem em Paulo Portas de uma espécie de trauma de infância que as descrições da Revolução Francesa um dia despoletaram, dando nele origem a um valente complexo de Maria Antonieta que só Freud poderia ter explicado e que o candidato a político resolve como pode. E como lhe é permitido!Eu não condeno o Portas, ao abrigo da liberade de expressão pode dizer o que lhe apetecer. O que eu condeno é todo um sistema que permite que um canal televisivo responsável por dar informação a um país inteiro, divulgue as bacoradas que este senhor cheio de si próprio tem o desplante de emitir publicamente, convencido que as suas ridículas afirmações são as que mais importam. E ainda lhe pagam para isso! E que o ponham no ar, inchado, cheio de si a estender o guardanapo que o próprio decor do programa evoca e que mais se assemelha com um rolo de casa de banho desenrolado, apropriado à sujidade das suas afirmações. E que afinal todos saibam que este Estado da Arte se destina em última análise a promover a figura e a relançá-lo nos meandros da política nacional, vulgo a “fazer-lhe a cama” para voltar ao poder. Maquiavélico, se não fosse tão saloiamente evidente. E eu que julgava que era o senhor que pagava à Sic para lhe darem tempo de antena para lá ir dizer as suas postas! Podem limpar as mãos à parede com O Estado da Arte!

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