Lagos, Tavira e VRSA vão dar casa partilhada a pessoas sem-abrigo

05-12-2020
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Lagos, Tavira e VRSA vão dar apartamentos partilhados para cerca de 20 pessoas em situação de sem-abrigo. Solução foi apresentada em Faro por Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

«No Algarve, a falta de alojamento é gravíssima e os municípios acreditam neste projeto. É uma questão de direitos humanos. Estamos a dar um passo gigante com a criação de apartamentos partilhados. Trabalho para este projeto desde 2016 e este é um dia que nunca vou esquecer», disse Margarida Flores, diretora do Centro Distrital de Segurança Social de Faro, durante a assinatura de três protocolos que visam a partilha de apartamentos por pessoas em situação de sem-abrigo, na terça-feira, dia 24 de novembro, em Faro.

Tratam-se de dois projetos diferentes que unem o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, o Instituto de Segurança Social, as Câmaras Municipais de Lagos, Tavira e Vila Real de Santo António (VRSA), o Movimento de Apoio à Problemática da Sida (MAPS) e a delegação de Vila Real de Santo António da Cruz Vermelha Portuguesa.

O primeiro, denomina-se «Tua Minha Nossa (TMN), abrange 10 pessoas no concelho de Lagos e 10 em Tavira, e foi apresentado por Fábio Simão, presidente do MAPS.

«O objetivo é tirar as pessoas da rua, colocá-las numa habitação e dar-lhes dignidade, conforto de um teto, o quente de uma cama, um banho e tudo aquilo que temos como garantido. É um projeto que envolve uma equipa multidisciplinar [no qual se incluem psicólogos e assistentes sociais] que intervém na rua e que faz todo o processo de acompanhamento até à integração social», explicou.

Na prática, além de alojamento, a equipa vai garantir a alimentação; tratamento de roupa; transporte; cuidados de higiene; educação para a saúde; apoio social; psicológico e jurídico e recursos da comunidade.

O propósito é só um: «fazer com que estas pessoas acreditem que a sua autonomia e o controlo da sua vida são fáceis de adquirir. Vamos ter atenção a estes pilares de qualquer integração», concluiu o presidente do MAPS.

Já no concelho de VRSA, através do projeto «Renascer», serão apoiados cinco cidadãos em situação de sem-abrigo.

«Uma das premissas da Cruz Vermelha Portuguesa é a ajuda ao próximo. Este é um plano que se encaixa na perfeição. Somos pioneiros no Algarve com este projeto e enche-nos o coração conseguirmos aumentar a qualidade de vida dessas pessoas. Vamos dar-lhes tudo o que tivermos para dar e acima de tudo vamos acompanhá-los e dar-lhes dignidade», afirmou Manuel Marrafa, delegado especial para a delegação local da Cruz Vermelha Portuguesa.

Em ambos os projetos o modelo de gestão é semelhante. Começa pela situação de um cidadão por parte do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA) de cada concelho.

É realizado um diagnóstico multidisciplinar individual e em constante mutação de acordo com as necessidades de cada pessoa, do qual posteriormente dará resultado a um Plano Individual de Intervenção.

Monitoriza-se o desempenho do utente e é feito o acompanhamento e integração comunitária que se espera que seja duradoura.

Nos três concelhos, o protocolo tem a duração de 18 meses, renovável por mais 18 meses. Após seis meses de apoio a cada utente, o processo é ainda revisto e se necessário, renovável por mais seis meses.

O primeiro apartamento partilhado a inaugurar será o de VRSA, com previsão para dia 23 de dezembro. Em Lagos e em Tavira deverão surgir no início do próximo ano.

Ana Mendes Godinho: «não é preciso mais estratégias, é preciso ação»

De acordo com Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, este é um modelo «para criarmos soluções alternativas de integração para pessoas em situação de sem-abrigo.

Garante, por um lado, uma parceria com as autarquias e um acompanhamento de equipas multidisciplinares para garantir um acompanhamento e uma resposta personalizada a cada pessoa do ponto de vista da sua integração. É uma resposta integrada para encontrarmos formas diferentes de responder à situação dos utentes».

No uso da palavra, a governante admitiu que esta iniciativa «traduz aquilo que temos procurado fazer no âmbito Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA). Em primeiro lugar é preciso fazer. Não são precisas mais estratégias, é preciso ação. Acho que reflete o momento hoje vivemos. Um momento de uma mobilização essencial e necessária de todos para ultrapassarmos isto. Acho que estamos numa fase de mudança e de transformação no ponto de vista até dos modelos que tínhamos instalados. É fundamental conseguirmos encontrar respostas coletivas. Acho que este é um exemplo».

«Estes dois projetos revelam aquilo que temos de encontrar: soluções individuais para cada pessoa e não soluções massivas que depois não respondem à necessidade de cada um. Estas respostas personalizadas e individualizadas fazem a diferença, sobretudo no momento que vivemos, que pede uma capacidade de reação rápida. Não vale a pena mais processos complexos que demoram anos. Acredito na simplificação como um instrumento decisivo para a inclusão. Estamos a fazer história, criámos modelos simples, rápidos, de execução imediata no terreno», referiu ainda.

Por fim, a Ana Mendes Godinho concluiu que os «momentos tão difíceis» da atualidades «são também momentos de transformação para responder ao que não estava bem. Estamos a conseguir num contexto dificílimo estruturalmente, resolver problemas que precisavam de resposta».

Há mais três protocolos em espera

As candidaturas para os protocolos em parceria com as diversas entidades surgiram no mês de julho. Em apenas quatro meses foram ultimados os pormenores.

«O caminho faz-se caminhando e foi assim que em tempo recorde estamos a assinar estes protocolos. Colocámos como meta os seis meses a cada pessoa porque queremos que sejam respostas temporárias e que seja um período que permita, depois, a que a equipa encontre respostas de caráter mais definitivo», disse Henrique Joaquim, que exerce a função de gestor executivo do ENIPSSA desde janeiro deste ano.

«Os resultados, se calhar, são poucos face à dimensão do fenómeno, mas acho que estamos a semear muito e bem, de forma consistente. Se não forem em seis meses, num ano vamos começar a ver resultados muito evidentes e não apenas localmente. O Algarve está a dar esse passo. São três protocolos agora, estão mais três em vias de serem finalizados e está um Centro de Alojamento de Emergência [CAES do MAPS] em vias de ser acabado. Está ainda um aviso da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional [CCDR] do Algarve para sair formalmente a cada momento, o que permitirá reforçar as equipas de rua e garantir que todas as pessoas passem a ter um técnico de referência», adiantou ainda o gestor.

Portanto, «estamos a lançar mão a todas as respostas possíveis para garantir a todas as pessoas, que desde o primeiro dia da sinalização, sejam acompanhadas e depois tenham um processo individual para poderem ganhar a sua autonomia. É um processo que leva tempo, mas levo isto como uma maratona. Se fizermos quilómetro a quilómetro tenho a certeza que um dia estaremos a festejar a meta, sempre com as pessoas primeiro», acrescentou

Realidade de alugueres no Algarve é «assassina»

O presidente do Movimento de Apoio à Problemática da Sida (MAPS), Fábio Simão, aproveitou a oportunidade e dirigiu-se a Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social para lhe descrever o contexto da região algarvia.

«Este canto de Portugal é muitas das vezes esquecido, principalmente nestas áreas. Por vezes somos vistos como mero destino de férias que tem grandes vivendas, grandes piscinas e casas milionárias que fazem com que representemos um Produto Interno Bruto [PIB] enorme no país. Faz com que sejamos vistos como uma zona rica, mas falamos de uma região com 16 concelhos, cidades diferentes e problemas sociais graves. Tão graves como no resto do país, mas infelizmente os apoios e os financiamentos nunca chegam cá, o que torna o trabalho extremamente desafiador», começou por afirmar.

A visão tornou-se mais positiva com o surgimento do novo projeto. «Vamos poder dizer que temos alguma coisa para dar, além de consolo e pequeno apoio. Há anos que o Algarve não via o aparecer de um projeto na área das pessoas em situação de sem-abrigo. Há anos que estamos na rua e que pouco ou nada podemos dar. Isto para nós é um orgulho gigante poder dizer que é o início. Acreditamos mesmo que vêm tempos de mudança e de atenção. Estamos a olhar diferente, para pessoas, sendo pessoas», declarou Fábio Simão.

Até ao momento, e de acordo com o presidente: «há nove camas a sul do país para alojamento temporário, que se encontram no MAPS. A realidade do Algarve para arrendamento de quartos é assassina. Arranjar um espaço para uma família estável é uma cruzada e parece uma missão dos Descobrimentos, quanto mais para uma pessoa que tem poucos rendimentos e que em regra se encontra sozinha. Este projeto é o nosso sonho e o mecanismo que esperávamos há muito tempo».

Tavira soma três dezenas de pessoas em situação de sem-abrigo

No momento da assinatura do protocolo, Ana Paula Martins, presidente da Câmara Municipal de Tavira relembrou o ano de 2019, quando se formalizou o Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA) do concelho. «Tavira é uma cidade pacata e tínhamos poucas pessoas em situação de sem-abrigo, muitas já eram conhecidas. Quando começámos a abrir os olhos para esta realidade já tínhamos duas dezenas. Foi assim que resolvemos trabalhar mais estas questões», recordou.

Os primeiros passos nesse âmbito começaram já a ser dados. «Já tivemos um regulamento de residências partilhadas e já alojámos oito pessoas em situações precárias. Na altura do início da pandemia, alojámos 26 pessoas em modo de contentores para saírem da rua. Foi uma boa experiência partilhada com a Segurança Social e que nos permitiu conhecer melhor estas pessoas e os candidatos a este novo projeto. Temos também uma outra parceria que nos vai permitir dar resposta para oito pessoas num centro de pernoita. Daremos assim resposta às quase três dezenas de utentes que temos no concelho. Também já fizemos o plano de ação para os próximos cinco anos para trabalhar esta problemática que para nós é importante», revelou a autarca.

«TMN» é sonho realizado para Lagos

Para o concelho de Lagos, o «Tua Minha Nossa (TUA)», trata-se de um «pontapé de saída para um projeto que já sonhávamos há algum tempo e que vai permitir que sejamos cada vez mais uma sociedade mais inteira e plena. Nunca seremos verdadeiramente uma sociedade se não olharmos para todos aqueles que dela fazem parte» disse no uso da palavra, Sara Coelho, vereadora da Cultura e Ação Social da Câmara Municipal de Lagos.

«É importante que esta população tenha a oportunidade de regressar à sociedade e dar-lhes acompanhamento. Isto não se faz sem um dos elementos fundamentais da vida, um teto. Sem o apoio psicológico, a reintegração social e uma alimentação tomada num ambiente estável e limpo não se consegue muita coisa. Este é o pilar base para que possamos, em Lagos, resolver aquilo que pudermos», adiantou ainda.

VRSA tem situação «urgente»

Conceição Cabrita, presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António (VRSA), começou por dizer que a resposta social do novo projeto «Renasce» iria apoiar «apenas cinco utentes. Digo apenas cinco porque há mais e lembro-me sempre que qualquer um de nós nunca sabe as contingências da vida e se poderá estar numa situação destas. Com a problemática da pandemia, o número destas pessoas está a aumentar. Neste sentido, para mim é muito importante por agora só termos cinco».

Segundo a autarca, a Câmara Municipal de VRSA está a ter «uma grande luta em termos económicos. No entanto, não podemos descurar esta parte social e sabemos que podemos ir muito mais além. Faremos fazer tudo o que for possível, dentro das nossas possibilidades. Temos pouca habitação social e muita gente a querer concorrer, mas este caso é uma situação urgente. As pessoas em situação de sem-abrigo muitas vezes são vistas como incómodos na rua e que têm de sair dali. Às vezes só precisam de atenção porque a solidão invade-os. Esta uma altura marcante», referiu.

De acordo com os números apresentados pela delegação de VRSA da Cruz Vermelha Portuguesa, em 2018, o concelho tinha identificado 64 pessoas, 45 homens e 19 mulheres em situação de sem-abrigo. 47 estavam sem teto, oito viviam em espaços públicos, 39 em locais precários e 17 em alojamentos temporários.

Lagos, Tavira e VRSA vão dar apartamentos partilhados para cerca de 20 pessoas em situação de sem-abrigo. Solução foi apresentada em Faro por Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

«No Algarve, a falta de alojamento é gravíssima e os municípios acreditam neste projeto. É uma questão de direitos humanos. Estamos a dar um passo gigante com a criação de apartamentos partilhados. Trabalho para este projeto desde 2016 e este é um dia que nunca vou esquecer», disse Margarida Flores, diretora do Centro Distrital de Segurança Social de Faro, durante a assinatura de três protocolos que visam a partilha de apartamentos por pessoas em situação de sem-abrigo, na terça-feira, dia 24 de novembro, em Faro.

Tratam-se de dois projetos diferentes que unem o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, o Instituto de Segurança Social, as Câmaras Municipais de Lagos, Tavira e Vila Real de Santo António (VRSA), o Movimento de Apoio à Problemática da Sida (MAPS) e a delegação de Vila Real de Santo António da Cruz Vermelha Portuguesa.

O primeiro, denomina-se «Tua Minha Nossa (TMN), abrange 10 pessoas no concelho de Lagos e 10 em Tavira, e foi apresentado por Fábio Simão, presidente do MAPS.

«O objetivo é tirar as pessoas da rua, colocá-las numa habitação e dar-lhes dignidade, conforto de um teto, o quente de uma cama, um banho e tudo aquilo que temos como garantido. É um projeto que envolve uma equipa multidisciplinar [no qual se incluem psicólogos e assistentes sociais] que intervém na rua e que faz todo o processo de acompanhamento até à integração social», explicou.

Na prática, além de alojamento, a equipa vai garantir a alimentação; tratamento de roupa; transporte; cuidados de higiene; educação para a saúde; apoio social; psicológico e jurídico e recursos da comunidade.

O propósito é só um: «fazer com que estas pessoas acreditem que a sua autonomia e o controlo da sua vida são fáceis de adquirir. Vamos ter atenção a estes pilares de qualquer integração», concluiu o presidente do MAPS.

Já no concelho de VRSA, através do projeto «Renascer», serão apoiados cinco cidadãos em situação de sem-abrigo.

«Uma das premissas da Cruz Vermelha Portuguesa é a ajuda ao próximo. Este é um plano que se encaixa na perfeição. Somos pioneiros no Algarve com este projeto e enche-nos o coração conseguirmos aumentar a qualidade de vida dessas pessoas. Vamos dar-lhes tudo o que tivermos para dar e acima de tudo vamos acompanhá-los e dar-lhes dignidade», afirmou Manuel Marrafa, delegado especial para a delegação local da Cruz Vermelha Portuguesa.

Em ambos os projetos o modelo de gestão é semelhante. Começa pela situação de um cidadão por parte do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA) de cada concelho.

É realizado um diagnóstico multidisciplinar individual e em constante mutação de acordo com as necessidades de cada pessoa, do qual posteriormente dará resultado a um Plano Individual de Intervenção.

Monitoriza-se o desempenho do utente e é feito o acompanhamento e integração comunitária que se espera que seja duradoura.

Nos três concelhos, o protocolo tem a duração de 18 meses, renovável por mais 18 meses. Após seis meses de apoio a cada utente, o processo é ainda revisto e se necessário, renovável por mais seis meses.

O primeiro apartamento partilhado a inaugurar será o de VRSA, com previsão para dia 23 de dezembro. Em Lagos e em Tavira deverão surgir no início do próximo ano.

Ana Mendes Godinho: «não é preciso mais estratégias, é preciso ação»

De acordo com Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, este é um modelo «para criarmos soluções alternativas de integração para pessoas em situação de sem-abrigo.

Garante, por um lado, uma parceria com as autarquias e um acompanhamento de equipas multidisciplinares para garantir um acompanhamento e uma resposta personalizada a cada pessoa do ponto de vista da sua integração. É uma resposta integrada para encontrarmos formas diferentes de responder à situação dos utentes».

No uso da palavra, a governante admitiu que esta iniciativa «traduz aquilo que temos procurado fazer no âmbito Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA). Em primeiro lugar é preciso fazer. Não são precisas mais estratégias, é preciso ação. Acho que reflete o momento hoje vivemos. Um momento de uma mobilização essencial e necessária de todos para ultrapassarmos isto. Acho que estamos numa fase de mudança e de transformação no ponto de vista até dos modelos que tínhamos instalados. É fundamental conseguirmos encontrar respostas coletivas. Acho que este é um exemplo».

«Estes dois projetos revelam aquilo que temos de encontrar: soluções individuais para cada pessoa e não soluções massivas que depois não respondem à necessidade de cada um. Estas respostas personalizadas e individualizadas fazem a diferença, sobretudo no momento que vivemos, que pede uma capacidade de reação rápida. Não vale a pena mais processos complexos que demoram anos. Acredito na simplificação como um instrumento decisivo para a inclusão. Estamos a fazer história, criámos modelos simples, rápidos, de execução imediata no terreno», referiu ainda.

Por fim, a Ana Mendes Godinho concluiu que os «momentos tão difíceis» da atualidades «são também momentos de transformação para responder ao que não estava bem. Estamos a conseguir num contexto dificílimo estruturalmente, resolver problemas que precisavam de resposta».

Há mais três protocolos em espera

As candidaturas para os protocolos em parceria com as diversas entidades surgiram no mês de julho. Em apenas quatro meses foram ultimados os pormenores.

«O caminho faz-se caminhando e foi assim que em tempo recorde estamos a assinar estes protocolos. Colocámos como meta os seis meses a cada pessoa porque queremos que sejam respostas temporárias e que seja um período que permita, depois, a que a equipa encontre respostas de caráter mais definitivo», disse Henrique Joaquim, que exerce a função de gestor executivo do ENIPSSA desde janeiro deste ano.

«Os resultados, se calhar, são poucos face à dimensão do fenómeno, mas acho que estamos a semear muito e bem, de forma consistente. Se não forem em seis meses, num ano vamos começar a ver resultados muito evidentes e não apenas localmente. O Algarve está a dar esse passo. São três protocolos agora, estão mais três em vias de serem finalizados e está um Centro de Alojamento de Emergência [CAES do MAPS] em vias de ser acabado. Está ainda um aviso da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional [CCDR] do Algarve para sair formalmente a cada momento, o que permitirá reforçar as equipas de rua e garantir que todas as pessoas passem a ter um técnico de referência», adiantou ainda o gestor.

Portanto, «estamos a lançar mão a todas as respostas possíveis para garantir a todas as pessoas, que desde o primeiro dia da sinalização, sejam acompanhadas e depois tenham um processo individual para poderem ganhar a sua autonomia. É um processo que leva tempo, mas levo isto como uma maratona. Se fizermos quilómetro a quilómetro tenho a certeza que um dia estaremos a festejar a meta, sempre com as pessoas primeiro», acrescentou

Realidade de alugueres no Algarve é «assassina»

O presidente do Movimento de Apoio à Problemática da Sida (MAPS), Fábio Simão, aproveitou a oportunidade e dirigiu-se a Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social para lhe descrever o contexto da região algarvia.

«Este canto de Portugal é muitas das vezes esquecido, principalmente nestas áreas. Por vezes somos vistos como mero destino de férias que tem grandes vivendas, grandes piscinas e casas milionárias que fazem com que representemos um Produto Interno Bruto [PIB] enorme no país. Faz com que sejamos vistos como uma zona rica, mas falamos de uma região com 16 concelhos, cidades diferentes e problemas sociais graves. Tão graves como no resto do país, mas infelizmente os apoios e os financiamentos nunca chegam cá, o que torna o trabalho extremamente desafiador», começou por afirmar.

A visão tornou-se mais positiva com o surgimento do novo projeto. «Vamos poder dizer que temos alguma coisa para dar, além de consolo e pequeno apoio. Há anos que o Algarve não via o aparecer de um projeto na área das pessoas em situação de sem-abrigo. Há anos que estamos na rua e que pouco ou nada podemos dar. Isto para nós é um orgulho gigante poder dizer que é o início. Acreditamos mesmo que vêm tempos de mudança e de atenção. Estamos a olhar diferente, para pessoas, sendo pessoas», declarou Fábio Simão.

Até ao momento, e de acordo com o presidente: «há nove camas a sul do país para alojamento temporário, que se encontram no MAPS. A realidade do Algarve para arrendamento de quartos é assassina. Arranjar um espaço para uma família estável é uma cruzada e parece uma missão dos Descobrimentos, quanto mais para uma pessoa que tem poucos rendimentos e que em regra se encontra sozinha. Este projeto é o nosso sonho e o mecanismo que esperávamos há muito tempo».

Tavira soma três dezenas de pessoas em situação de sem-abrigo

No momento da assinatura do protocolo, Ana Paula Martins, presidente da Câmara Municipal de Tavira relembrou o ano de 2019, quando se formalizou o Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA) do concelho. «Tavira é uma cidade pacata e tínhamos poucas pessoas em situação de sem-abrigo, muitas já eram conhecidas. Quando começámos a abrir os olhos para esta realidade já tínhamos duas dezenas. Foi assim que resolvemos trabalhar mais estas questões», recordou.

Os primeiros passos nesse âmbito começaram já a ser dados. «Já tivemos um regulamento de residências partilhadas e já alojámos oito pessoas em situações precárias. Na altura do início da pandemia, alojámos 26 pessoas em modo de contentores para saírem da rua. Foi uma boa experiência partilhada com a Segurança Social e que nos permitiu conhecer melhor estas pessoas e os candidatos a este novo projeto. Temos também uma outra parceria que nos vai permitir dar resposta para oito pessoas num centro de pernoita. Daremos assim resposta às quase três dezenas de utentes que temos no concelho. Também já fizemos o plano de ação para os próximos cinco anos para trabalhar esta problemática que para nós é importante», revelou a autarca.

«TMN» é sonho realizado para Lagos

Para o concelho de Lagos, o «Tua Minha Nossa (TUA)», trata-se de um «pontapé de saída para um projeto que já sonhávamos há algum tempo e que vai permitir que sejamos cada vez mais uma sociedade mais inteira e plena. Nunca seremos verdadeiramente uma sociedade se não olharmos para todos aqueles que dela fazem parte» disse no uso da palavra, Sara Coelho, vereadora da Cultura e Ação Social da Câmara Municipal de Lagos.

«É importante que esta população tenha a oportunidade de regressar à sociedade e dar-lhes acompanhamento. Isto não se faz sem um dos elementos fundamentais da vida, um teto. Sem o apoio psicológico, a reintegração social e uma alimentação tomada num ambiente estável e limpo não se consegue muita coisa. Este é o pilar base para que possamos, em Lagos, resolver aquilo que pudermos», adiantou ainda.

VRSA tem situação «urgente»

Conceição Cabrita, presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António (VRSA), começou por dizer que a resposta social do novo projeto «Renasce» iria apoiar «apenas cinco utentes. Digo apenas cinco porque há mais e lembro-me sempre que qualquer um de nós nunca sabe as contingências da vida e se poderá estar numa situação destas. Com a problemática da pandemia, o número destas pessoas está a aumentar. Neste sentido, para mim é muito importante por agora só termos cinco».

Segundo a autarca, a Câmara Municipal de VRSA está a ter «uma grande luta em termos económicos. No entanto, não podemos descurar esta parte social e sabemos que podemos ir muito mais além. Faremos fazer tudo o que for possível, dentro das nossas possibilidades. Temos pouca habitação social e muita gente a querer concorrer, mas este caso é uma situação urgente. As pessoas em situação de sem-abrigo muitas vezes são vistas como incómodos na rua e que têm de sair dali. Às vezes só precisam de atenção porque a solidão invade-os. Esta uma altura marcante», referiu.

De acordo com os números apresentados pela delegação de VRSA da Cruz Vermelha Portuguesa, em 2018, o concelho tinha identificado 64 pessoas, 45 homens e 19 mulheres em situação de sem-abrigo. 47 estavam sem teto, oito viviam em espaços públicos, 39 em locais precários e 17 em alojamentos temporários.

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