Do apelo à inveja (2)

10-09-2020
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CGP

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Nem de propósito, o Daniel Oliveira tratou de ilustrar na perfeição o ponto do meu artigo de hoje sobre o apelo medíocre à inveja na discussão sobre os contratos de associação. Atente-se a este texto que o Daniel Oliveira colocou no Facebook.
(…)por tudo o que vou ouvindo, há muito pouca gente com vontade de subsidiar com os seus impostos as propinas de de quem não quer, por escolha sua, pôr o filho na escola pública mais perto. (…) Os filhos estão no início de um novo ciclo e os pais querem escola gratuita? É aquela escola pública que está ali ao lado. Querem colégios privados de borla? Eu que também gostava que a minha filha fosse para Harvard ou Cambridge parece que não me vou safar. O Costa, que é malandro, não paga.
Está tudo aqui: por um lado, o apelo mesquinho à inveja, sem nunca mencionar que os contribuintes também pagam (e em média, pagam mais) pela escola estatal, e que pagarão quando estes alunos forem transferidos para a escola estatal. Por outro lado, a metáfora deslocada com Harvard e Cambridge, como se um curso em Harvard e Cambridge custasse tanto como um curso na Universidade Pública, tal como acontece com os contratos de associação e a escola estatal.
Mas este último paralelo é particularmente interessante porque efectivamente o estado português paga para enviar alunos para Harvard, Cambridge e outras universidades privadas. Apesar de ter uma rede de universidades públicas, o estado português paga para que muitos estudantes de doutoramento e pós-doutoramento estudem em universidades privadas estrangeiras. E não são bolsas baratas: um programa de doutoramento completo para 1 pessoa numa dessas universidades pode custar ao estado português quase tanto como o custo anual de duas turmas (quase 60 alunos) numa escola com contrato de associação. Isto quando existem alternativas nas escolas públicas: há turmas de cursos de doutoramento vazias enquanto o estado paga para alunos fazerem esses cursos fora do país. Pior, há alunos a pagar do seu bolso para fazerem programas de doutoramento nas universidades públicas, enquanto o estado português subsidia cursos 10 vezes mais caros fora do país. O FCT, entidade responsável por pagar a esses alunos para estudarem fora do país, tem um orçamento de mais de 400 milhões de euros. Nem tudo, claro, é gasto a enviar alunos para o estrangeiro. Mas para perceber melhor a dimensão desta discussão, aquilo que o governo espera (optimisticamente) poupar com os cortes com estes contratos não chega a 2% deste orçamento.
Ironia das ironias, um dos beneficiários de uma bolsa para estagiar numa universidade estrangeira foi precisamente Tiago Brandão Rodrigues. Outro beneficiário, precisamente para Harvard, foi Mário Centeno.
(nota: já depois de começar a escrever este artigo, mas ainda antes de o publicar, Daniel Oliveira apagou o paralelo com Harvard e Cambridge do seu post)

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RelatedDo apelo à invejaMaio 23, 2016Em "Política"Escola pública e escola privadaAbril 9, 2014Em "Comentário"Escândalo: tortura e manipulação nas escolas particularesMaio 27, 2016Em "Educação"

Categorias: Educação, Socialismo

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(…)por tudo o que vou ouvindo, há muito pouca gente com vontade de subsidiar com os seus impostos as propinas de de quem não quer, por escolha sua, pôr o filho na escola pública mais perto. (…) Os filhos estão no início de um novo ciclo e os pais querem escola gratuita? É aquela escola pública que está ali ao lado. Querem colégios privados de borla? Eu que também gostava que a minha filha fosse para Harvard ou Cambridge parece que não me vou safar. O Costa, que é malandro, não paga.
Está tudo aqui: por um lado, o apelo mesquinho à inveja, sem nunca mencionar que os contribuintes também pagam (e em média, pagam mais) pela escola estatal, e que pagarão quando estes alunos forem transferidos para a escola estatal. Por outro lado, a metáfora deslocada com Harvard e Cambridge, como se um curso em Harvard e Cambridge custasse tanto como um curso na Universidade Pública, tal como acontece com os contratos de associação e a escola estatal.
Mas este último paralelo é particularmente interessante porque efectivamente o estado português paga para enviar alunos para Harvard, Cambridge e outras universidades privadas. Apesar de ter uma rede de universidades públicas, o estado português paga para que muitos estudantes de doutoramento e pós-doutoramento estudem em universidades privadas estrangeiras. E não são bolsas baratas: um programa de doutoramento completo para 1 pessoa numa dessas universidades pode custar ao estado português quase tanto como o custo anual de duas turmas (quase 60 alunos) numa escola com contrato de associação. Isto quando existem alternativas nas escolas públicas: há turmas de cursos de doutoramento vazias enquanto o estado paga para alunos fazerem esses cursos fora do país. Pior, há alunos a pagar do seu bolso para fazerem programas de doutoramento nas universidades públicas, enquanto o estado português subsidia cursos 10 vezes mais caros fora do país. O FCT, entidade responsável por pagar a esses alunos para estudarem fora do país, tem um orçamento de mais de 400 milhões de euros. Nem tudo, claro, é gasto a enviar alunos para o estrangeiro. Mas para perceber melhor a dimensão desta discussão, aquilo que o governo espera (optimisticamente) poupar com os cortes com estes contratos não chega a 2% deste orçamento.
Ironia das ironias, um dos beneficiários de uma bolsa para estagiar numa universidade estrangeira foi precisamente Tiago Brandão Rodrigues. Outro beneficiário, precisamente para Harvard, foi Mário Centeno.
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