ULTRAPERIFERIAS: O eclipse de Mário Nogueira...

30-09-2020
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Nem todo o silêncio é bom e há silêncios que são
ensurdecedores. É o caso do silêncio de Mário Nogueira, o secretário-geral da
Fenprof, que durante o último ano não fez críticas nem agendou protestos contra
medidas adotadas, ou não, pelo Ministério da Educação. Uma mudança de
comportamento que salta à vista dos professores ouvidos pelo SOL e que é
comentada entre os corredores das escolas, onde se recordam os protestos de
grande dimensão organizados pela Fenprof durante a tutela de Maria de Lurdes
Rodrigues e de Nuno Crato. «Ele está afeto ao PCP que está a sustentar o Governo
e, mesmo que queira, não pode dizer mal do Ministério da Educação senão terá
problemas com o partido», diz o presidente da Associação de Diretores de
Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima. A opinião é partilhada
pelo professor e especialista em Educação, Paulo Guinote, para quem Mário
Nogueira «é um quadro disciplinado do PCP» e que por isso «nunca poria em causa
a estabilidade da gerigonça». O professor salienta ainda que «pela primeira
vez, nos últimos 15 anos, a Fenprof está a apostar na estratégia de negociação
e congelou a confrontação nas ruas».

E isso nota-se, aliás, no tom e na frequência dos
comunicados da Fenprof. O ministro Tiago Brandão Rodrigues tinha acabado de
chegar à 5 de Outubro, aos 50 dias de mandato, e a Fenprof enviou um comunicado
às redações a fazer um «balanço positivo» 
da ação governativa. «É como se o Ministério da Educação tivesse
realizado obras de saneamento básico, aliás mais do que indispensáveis... A
nova equipa ministerial limpou o entulho. Agora, há que partir para as medidas
de fundo», salientou no documento o secretário-geral da Fenprof.

«Não me lembro de terem feito isso com nenhum
ministro», frisa Filinto Lima.

E este é apenas um dos exemplos da mudança de tom no
discurso da Fenprof. Mas há outros.  Este
Governo já desenhou dois Orçamentos do Estado e «não há qualquer palavra de
descongelamento da carreira» dos professores, salienta Paulo Guinote lembrando
que esta era uma das principais reivindicações dos sindicatos. Agora «deixou de
ser uma prioridade». Aquilo que «há três ou quatro anos seriam medidas
inaceitáveis e tidas como ataque à classe, neste momento são alvo de negociação»,
acrescenta o professor.

Influência interna no Ministério

Entre os professores ouvidos pelo SOL, há quem defenda
que o silêncio de Mário Nogueira se deva ao facto de ter «demasiada influência
na agenda de Tiago Brandão Rodrigues e nas medidas adotadas pelo Ministério».
Até porque «há muitas opiniões do Mário Nogueira que estão plasmadas  no Ministério», constata um professor. Mário
Nogueira «não é um barómetro da Educação», avisam os professores que frisam: «O
silêncio dele não quer dizer que está tudo bem». Mas há quem veja vantagens no
silêncio do sindicalista. «Talvez sem querer, muitas vezes, acabou por
prejudicar a imagem da escola pública» porque «dizia mal só por dizer, sem
fundamento» e «os sindicatos não podem estar sempre do contra», defende Filinto
Lima. Mas o diretor reconhece que a voz de Nogueira faz falta. A tutela
«precisa de um contrapeso que chame a atenção e que aponte o dedo às questões».
O sindicalista precisa é de «mais moderação» no discurso, remata.

Protestos da Fenprof

Este comportamento contrasta com os apelos e as várias
iniciativas que o sindicato organizou em 2006 ou 2008, durante o Governo de
José Sócrates, sob a tutela de Maria de Lurdes Rodrigues.  Entre 2005 e 2009, a Fenprof organizou 25
protestos, que passaram por greves a exames nacionais do secundário, a
manifestações, a abaixos-assinados. Nessa altura, o sindicato foi o principal
motor de duas das maiores manifestações de professores. A 8 de março de 2008
mais de 120 mil professores saíram às ruas de Lisboa contra o sistema de
avaliação docente que tinha sido desenhado pela ex-ministra. Já antes, em 2006,
a Fenprof tinha trazido à rua mais de 20 mil docentes em protesto contra a
revisão do Estatuto da Carreira Docente (ECD), que previa a divisão da carreira
em duas categorias, com quotas estabelecidas para subir de escalão.  Mas «nessa altura o PS era visto como um
inimigo porque o PCP não estava no Governo», remata Guinote.

Também o ex-ministro Nuno
Crato foi alvo de protestos e em 2013 teve um ‘verão quente’. Em junho a
Fenprof marcou greve, durante quase um mês, às avaliações dos alunos, o que
acabou por atrasar o fim do ano letivo e perturbar o arranque do ano seguinte.
Pelo meio, a 17 de Junho, Nuno Crato teve de gerir uma greve ao exame nacional
de Português do ensino secundário. Mais tarde, a 18 de Dezembro desse ano,
foram várias as imagens que chegaram através da televisão de boicote e de
vidros partidos em escolas, contra a primeira prova de conhecimentos e
capacidades para os professores. Esta prova, que era obrigatória para todos os
contratados com menos de cinco anos de serviço, 
foi ainda alvo de dezenas de providências cautelares. Durante este
mandato, o protesto mais marcante foi anunciado pelo sindicato dos professores
da região centro, afeto à Fenprof, que 
entregou ontem no Tribunal Administrativo e Fiscal de Coimbra uma ação
coletiva contra os horários do 1.º ciclo (Sol,texto da jornalista Ana Sá Lopes)

Nem todo o silêncio é bom e há silêncios que são
ensurdecedores. É o caso do silêncio de Mário Nogueira, o secretário-geral da
Fenprof, que durante o último ano não fez críticas nem agendou protestos contra
medidas adotadas, ou não, pelo Ministério da Educação. Uma mudança de
comportamento que salta à vista dos professores ouvidos pelo SOL e que é
comentada entre os corredores das escolas, onde se recordam os protestos de
grande dimensão organizados pela Fenprof durante a tutela de Maria de Lurdes
Rodrigues e de Nuno Crato. «Ele está afeto ao PCP que está a sustentar o Governo
e, mesmo que queira, não pode dizer mal do Ministério da Educação senão terá
problemas com o partido», diz o presidente da Associação de Diretores de
Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima. A opinião é partilhada
pelo professor e especialista em Educação, Paulo Guinote, para quem Mário
Nogueira «é um quadro disciplinado do PCP» e que por isso «nunca poria em causa
a estabilidade da gerigonça». O professor salienta ainda que «pela primeira
vez, nos últimos 15 anos, a Fenprof está a apostar na estratégia de negociação
e congelou a confrontação nas ruas».

E isso nota-se, aliás, no tom e na frequência dos
comunicados da Fenprof. O ministro Tiago Brandão Rodrigues tinha acabado de
chegar à 5 de Outubro, aos 50 dias de mandato, e a Fenprof enviou um comunicado
às redações a fazer um «balanço positivo» 
da ação governativa. «É como se o Ministério da Educação tivesse
realizado obras de saneamento básico, aliás mais do que indispensáveis... A
nova equipa ministerial limpou o entulho. Agora, há que partir para as medidas
de fundo», salientou no documento o secretário-geral da Fenprof.

«Não me lembro de terem feito isso com nenhum
ministro», frisa Filinto Lima.

E este é apenas um dos exemplos da mudança de tom no
discurso da Fenprof. Mas há outros.  Este
Governo já desenhou dois Orçamentos do Estado e «não há qualquer palavra de
descongelamento da carreira» dos professores, salienta Paulo Guinote lembrando
que esta era uma das principais reivindicações dos sindicatos. Agora «deixou de
ser uma prioridade». Aquilo que «há três ou quatro anos seriam medidas
inaceitáveis e tidas como ataque à classe, neste momento são alvo de negociação»,
acrescenta o professor.

Influência interna no Ministério

Entre os professores ouvidos pelo SOL, há quem defenda
que o silêncio de Mário Nogueira se deva ao facto de ter «demasiada influência
na agenda de Tiago Brandão Rodrigues e nas medidas adotadas pelo Ministério».
Até porque «há muitas opiniões do Mário Nogueira que estão plasmadas  no Ministério», constata um professor. Mário
Nogueira «não é um barómetro da Educação», avisam os professores que frisam: «O
silêncio dele não quer dizer que está tudo bem». Mas há quem veja vantagens no
silêncio do sindicalista. «Talvez sem querer, muitas vezes, acabou por
prejudicar a imagem da escola pública» porque «dizia mal só por dizer, sem
fundamento» e «os sindicatos não podem estar sempre do contra», defende Filinto
Lima. Mas o diretor reconhece que a voz de Nogueira faz falta. A tutela
«precisa de um contrapeso que chame a atenção e que aponte o dedo às questões».
O sindicalista precisa é de «mais moderação» no discurso, remata.

Protestos da Fenprof

Este comportamento contrasta com os apelos e as várias
iniciativas que o sindicato organizou em 2006 ou 2008, durante o Governo de
José Sócrates, sob a tutela de Maria de Lurdes Rodrigues.  Entre 2005 e 2009, a Fenprof organizou 25
protestos, que passaram por greves a exames nacionais do secundário, a
manifestações, a abaixos-assinados. Nessa altura, o sindicato foi o principal
motor de duas das maiores manifestações de professores. A 8 de março de 2008
mais de 120 mil professores saíram às ruas de Lisboa contra o sistema de
avaliação docente que tinha sido desenhado pela ex-ministra. Já antes, em 2006,
a Fenprof tinha trazido à rua mais de 20 mil docentes em protesto contra a
revisão do Estatuto da Carreira Docente (ECD), que previa a divisão da carreira
em duas categorias, com quotas estabelecidas para subir de escalão.  Mas «nessa altura o PS era visto como um
inimigo porque o PCP não estava no Governo», remata Guinote.

Também o ex-ministro Nuno
Crato foi alvo de protestos e em 2013 teve um ‘verão quente’. Em junho a
Fenprof marcou greve, durante quase um mês, às avaliações dos alunos, o que
acabou por atrasar o fim do ano letivo e perturbar o arranque do ano seguinte.
Pelo meio, a 17 de Junho, Nuno Crato teve de gerir uma greve ao exame nacional
de Português do ensino secundário. Mais tarde, a 18 de Dezembro desse ano,
foram várias as imagens que chegaram através da televisão de boicote e de
vidros partidos em escolas, contra a primeira prova de conhecimentos e
capacidades para os professores. Esta prova, que era obrigatória para todos os
contratados com menos de cinco anos de serviço, 
foi ainda alvo de dezenas de providências cautelares. Durante este
mandato, o protesto mais marcante foi anunciado pelo sindicato dos professores
da região centro, afeto à Fenprof, que 
entregou ontem no Tribunal Administrativo e Fiscal de Coimbra uma ação
coletiva contra os horários do 1.º ciclo (Sol,texto da jornalista Ana Sá Lopes)

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