Quando as normas da DGS "não batem certo com a realidade"

05-05-2020
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A norma da DGS prevê que nas situações em que o teste laboratorial não possa ser realizado antes da admissão na instituição, “o novo residente/utente deve ficar em isolamento até à realização do mesmo, sendo o seu encaminhamento realizado em função da evolução clínica e do resultado do teste laboratorial”. Além disso, deve cumprir um período de isolamento de 14 dias. Mesmo os que saiam da instituição (por menos de 24 horas) para, por exemplo, realizarem exames de saúde nos hospitais, têm de cumprir esse período de isolamento. Se estiverem fora durante mais de 24 horas, deve ser o hospital a assegurar o teste.

Porém, diz Ferreira de Almeida, nem todos os lares têm capacidade logística para isolar utentes em diferentes quartos. Se há lares que se conseguem adaptar — “num, aconselhei a equipa a colocar uma cama num outro quarto, grande, onde já estavam dois utentes, para que ficasse um isolado num quarto” — noutros, esta solução pode não resultar, designadamente por falta de espaço.

Aliás, numa das conferências de imprensa diárias, o secretário de Estado da Saúde, António Sales, foi questionado sobre se o Governo pondera criar espaços próprios para receber utentes dos lares que estejam infetados. António Sales sublinhou que o Governo está “a perceber se os lares, que são estruturas que muitas vezes têm dificuldade em receber doentes Covid, podem desdobrar-se noutras estruturas para poder separar doentes Covid de não Covid”.

A ministra da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, já garantiu que os utentes e profissionais de lares seriam testados — e os testes já chegaram a seis mil trabalhadores, número que deverá chegar aos 50 mil no próximo mês, segundo o ministro da Ciência e do Ensino Superior, Manuel Heitor. Mas Ferreira de Almeida nota um atraso na implementação da promessa — pelo menos nos 215 lares que constituem a ALI — e diz que os testes até têm chegado, mas “muito pontualmente”. Uma decisão que entende se a justificação for a alocação de testes aos lares com situação mais crítica.

O responsável considera, por isso, que Ana Mendes Godinho “se precipitou a prometer material e testes”: “Precipitou-se porque não tem como. Foi preciso o presidente da Câmara de Aveiro ir para a comunicação social falar grosso para, no dia seguinte, aparecerem os testes em Aveiro”, critica. Nesse lar da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro, 15 utentes morreram com Covid-19 e, segundo o presidente da Câmara, Ribau Esteves, só duas semanas após o pedido é que os kits de testes chegaram para funcionários e restantes utentes.

Esta segunda-feira, a ALI recebeu um email do Centro Distrital da Segurança Social de Lisboa para preencher dados sobre os seus associados, de forma a que as autoridades possam começar a programar a distribuição de testes. Ferreira de Almeida espera, por isso, que nas próximas semanas, se vejam mais testes no terreno.

Segundo o presidente da ALI, há ainda falta de máscaras (recomendadas segundo uma norma publicada para os profissionais de lares), de gel desinfetante e de luvas — que, ainda assim, se “vão arranjando, mas com dificuldade”. “Os preços dispararam completamente e cada lar tem de se abastecer”, adianta. Por outro lado, algumas câmaras municipais ajudam como podem com material. “Não é suficiente, mas já é uma ajuda”.

Há cerca de um mês, a ALI foi contactada pelo Ministério da Segurança Social para que fizesse um levantamento junto dos lares associados de forma a informar sobre as necessidades de material de cada instituição. O levantamento foi feito, mas só semanas depois começou a chegar algum material — e também ele de forma “muito pontual”.

Eu percebo as dificuldades no mercado internacional para conseguir fornecedores. O que não percebo é que se faça despertar uma expetativa na cabeça das pessoas e depois, passados estes dias, estamos sem saber se vamos ter material ou não. Recebemos dezenas de emails por dia de lares a dizer que mesmo que queiram cumprir com as indicações da DGS, sem material é muito difícil.”

“As orientações da DGS são muito bem estruturadas, mas depois não batem certo com a realidade. Por muito rigor que haja na implementação e no respeito dessas normas, se depois falham os meios não fica fácil”, aponta Ferreira de Almeida.

Prisões: na Covilhã cada guarda iria usar uma máscara durante 50 dias. Depois, cadeia recuou

O que diz a orientação da DGS: Guardas prisionais devem usar máscaras no “contacto próximo com os reclusos (menos de 2 metros)”

Problema: O “contacto próximo” é praticamente constante e guardas queixam-se da falta de máscaras

Para os guardas prisionais, a DGS recomenda o uso de máscaras no “contacto próximo com os reclusos (menos de 2 metros)”. Como é difícil manter sempre esta distância, sobretudo nas horas de recreio dos reclusos, os guardas estão a usar máscara descartável praticamente sempre. Mas só têm uma por turno, quer estes sejam de oito horas, quer sejam de onze, o que, para Jorge Alves, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP), é insuficiente. “Quando vamos almoçar temos de tirar a máscara, depois voltar a pôr e quem ainda tenha de jantar, tira uma segunda vez. Não é seguro“, diz ao Observador.

A norma da DGS prevê que nas situações em que o teste laboratorial não possa ser realizado antes da admissão na instituição, “o novo residente/utente deve ficar em isolamento até à realização do mesmo, sendo o seu encaminhamento realizado em função da evolução clínica e do resultado do teste laboratorial”. Além disso, deve cumprir um período de isolamento de 14 dias. Mesmo os que saiam da instituição (por menos de 24 horas) para, por exemplo, realizarem exames de saúde nos hospitais, têm de cumprir esse período de isolamento. Se estiverem fora durante mais de 24 horas, deve ser o hospital a assegurar o teste.

Porém, diz Ferreira de Almeida, nem todos os lares têm capacidade logística para isolar utentes em diferentes quartos. Se há lares que se conseguem adaptar — “num, aconselhei a equipa a colocar uma cama num outro quarto, grande, onde já estavam dois utentes, para que ficasse um isolado num quarto” — noutros, esta solução pode não resultar, designadamente por falta de espaço.

Aliás, numa das conferências de imprensa diárias, o secretário de Estado da Saúde, António Sales, foi questionado sobre se o Governo pondera criar espaços próprios para receber utentes dos lares que estejam infetados. António Sales sublinhou que o Governo está “a perceber se os lares, que são estruturas que muitas vezes têm dificuldade em receber doentes Covid, podem desdobrar-se noutras estruturas para poder separar doentes Covid de não Covid”.

A ministra da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, já garantiu que os utentes e profissionais de lares seriam testados — e os testes já chegaram a seis mil trabalhadores, número que deverá chegar aos 50 mil no próximo mês, segundo o ministro da Ciência e do Ensino Superior, Manuel Heitor. Mas Ferreira de Almeida nota um atraso na implementação da promessa — pelo menos nos 215 lares que constituem a ALI — e diz que os testes até têm chegado, mas “muito pontualmente”. Uma decisão que entende se a justificação for a alocação de testes aos lares com situação mais crítica.

O responsável considera, por isso, que Ana Mendes Godinho “se precipitou a prometer material e testes”: “Precipitou-se porque não tem como. Foi preciso o presidente da Câmara de Aveiro ir para a comunicação social falar grosso para, no dia seguinte, aparecerem os testes em Aveiro”, critica. Nesse lar da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro, 15 utentes morreram com Covid-19 e, segundo o presidente da Câmara, Ribau Esteves, só duas semanas após o pedido é que os kits de testes chegaram para funcionários e restantes utentes.

Esta segunda-feira, a ALI recebeu um email do Centro Distrital da Segurança Social de Lisboa para preencher dados sobre os seus associados, de forma a que as autoridades possam começar a programar a distribuição de testes. Ferreira de Almeida espera, por isso, que nas próximas semanas, se vejam mais testes no terreno.

Segundo o presidente da ALI, há ainda falta de máscaras (recomendadas segundo uma norma publicada para os profissionais de lares), de gel desinfetante e de luvas — que, ainda assim, se “vão arranjando, mas com dificuldade”. “Os preços dispararam completamente e cada lar tem de se abastecer”, adianta. Por outro lado, algumas câmaras municipais ajudam como podem com material. “Não é suficiente, mas já é uma ajuda”.

Há cerca de um mês, a ALI foi contactada pelo Ministério da Segurança Social para que fizesse um levantamento junto dos lares associados de forma a informar sobre as necessidades de material de cada instituição. O levantamento foi feito, mas só semanas depois começou a chegar algum material — e também ele de forma “muito pontual”.

Eu percebo as dificuldades no mercado internacional para conseguir fornecedores. O que não percebo é que se faça despertar uma expetativa na cabeça das pessoas e depois, passados estes dias, estamos sem saber se vamos ter material ou não. Recebemos dezenas de emails por dia de lares a dizer que mesmo que queiram cumprir com as indicações da DGS, sem material é muito difícil.”

“As orientações da DGS são muito bem estruturadas, mas depois não batem certo com a realidade. Por muito rigor que haja na implementação e no respeito dessas normas, se depois falham os meios não fica fácil”, aponta Ferreira de Almeida.

Prisões: na Covilhã cada guarda iria usar uma máscara durante 50 dias. Depois, cadeia recuou

O que diz a orientação da DGS: Guardas prisionais devem usar máscaras no “contacto próximo com os reclusos (menos de 2 metros)”

Problema: O “contacto próximo” é praticamente constante e guardas queixam-se da falta de máscaras

Para os guardas prisionais, a DGS recomenda o uso de máscaras no “contacto próximo com os reclusos (menos de 2 metros)”. Como é difícil manter sempre esta distância, sobretudo nas horas de recreio dos reclusos, os guardas estão a usar máscara descartável praticamente sempre. Mas só têm uma por turno, quer estes sejam de oito horas, quer sejam de onze, o que, para Jorge Alves, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP), é insuficiente. “Quando vamos almoçar temos de tirar a máscara, depois voltar a pôr e quem ainda tenha de jantar, tira uma segunda vez. Não é seguro“, diz ao Observador.

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